terça-feira, 14 de abril de 2015

Parasitas Mentais - A Anatomia dos Insetos de Shaggai (parte 1)


Girando em torno de sóis gêmeos esmeralda, na Galáxia de Andrômeda, existiu um dia um pequeno planeta chamado Shaggai (ou Shad-hai para alguns).

Esta esfera inóspita, imersa em uma escuridão permanente, experimentou o surgimento de formas de vida cujo termo "alienígena" seria insuficiente para descrevê-las. A paisagem de Shaggai era por si só aterrorizante: mares negros formados por protoplasma, desertos inteiros cobertos por vidro moído, montanhas cristalinas de coloração púrpura e florestas com uma densa vegetação azulada, habitada por colônias gigantescas de bolores carnívoros.

Presume-se que um tipo de civilização muito antiga habitou Shaggai, antes do planeta sofrer mudanças drásticas. Sobre a natureza dessa raça ancestral nada se sabe, a não ser o fato de que eles ergueram monumentos colossais na forma de pirâmides em seus polos. Curiosos hieroglifos talhados nas laterias dessas construções milenares atestam que estes seres veneravam o Deus Exterior Azathoth. Existem teorias de que essa raça teria abandonado Shaggai rumo ao Centro do Universo para comungar com seu Deus, mas outros acreditam que eles optaram por deixar o planeta após alterações significativas em sua órbita.

Essa alteração orbital, causada possivelmente pelo choque de um asteroide, colocou Shaggai em uma proximidade perigosa de uma das suas estrelas. O planeta passou a ser bombardeado por doses maciças de radiação que destruíram a atmosfera devastando a maioria dos seres nativos. Foram necessários milhões de anos até o aparecimento de novas formas de vida resistentes a essa energia nociva.

Shaggai é notório por ser o planeta natal de uma espécie de insetos dotados de vasta inteligência e capacidade adaptativa. Chamados coletivamente de Sham, ou vulgarmente de Insetos de Shaggai, essas curiosas criaturas foram capazes de se adaptar às constantes emissões radioativas, através da habilidade única de absorver energia eletro-estática do ambiente. Esse requisito foi essencial para seu desenvolvimento num mundo tão inóspito. Existe a possibilidade de que a própria radiação que banhou Shaggai tenha ocasionado sua mutação.

Os insetos tem as dimensões de uma ave terrestre (um pombo é uma boa comparação), com um tamanho aumentado pela envergadura de suas asas quando abertas, podendo atingir assim, meio metro. Eles se diferem instrumentalmente dos insetos terrestres e a própria designação "inseto" soa terrivelmente errônea quando a morfologia desses seres é analisada com mais cuidado. Para começar, eles possuem cinco pares de pernas articuladas. Embora dotados de tantos membros os insetos são desajeitados e se movem lentamente, usando seus membros principalmente para distribuir o peso de seu corpo. Próximo das pernas, eles possuem tentáculos que realizam funções básicas de agarrar e manipular. Uma vez que esses apêndices são prenseis e bastante sensíveis eles são usados como ferramentas tácteis.


Os Sham consideram que o deslocamento pelo solo é uma qualidade das formas de vida inferiores, por isso preferem voar. Os insetos possuem dois pares de asas finas, formadas por um material coreáceo, localizadas na porção posterior de seu corpo. Elas ficam normalmente recolhidas, dobradas e guardadas em nichos abaixo de seu exoesqueleto. Esse mecanismo protege as asas de agentes exteriores e evitam que elas sejam avariadas. Quando voa um inseto de Shaggai é capaz de bater as asas tão rapidamente que elas parecem invisíveis. Em condições normais, essas criaturas podem voar a uma velocidade de até 40 quilômetros por hora e ficar suspenso no ar. A autonomia de vôo depende de cada criatura, mas em geral eles são aptos a usar suas asas por períodos relativamente longos (duas ou três horas ininterruptas).

Insetos de Shaggai não possuem antenas como seria de se esperar em insetos. Ao invés disso eles são dotados de um equipamento capaz de executar a sondagem do ambiente na forma de apalpadores. Esses estão distribuídos ao redor de três bocas arredondadas. Os insetos não se alimentam de matéria sólida, seus orifícios bucais servem principalmente para guardar estruturas longas e tubulares semelhantes a línguas que ficam enroladas no seu interior. Para determinar um odor eles arrastam essas "línguas" sobre o objeto em questão, e as terminações nervosas realizam uma função dupla, correspondente aos nossos sentidos de olfato e tato. Os Sham não tem uma boa audição, mas são capazes de se guiar por variações nas ondas eletro-magnéticas. Seus olhos são multifacetados, distribuídos em dois pares ao longo de sua cabeça, fornecendo uma visão periférica extremamente eficiente. Incapazes de emitir ruídos vocais, eles se comunicam exclusivamente através de telepatia.
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O corpo dos Sham é dividido em três segmentos e protegido por um exoesqueleto de coloração castanha avermelhada semelhante ao dos insetos terrestres. Esta armadura natural os protege de choques e concede um pequeno grau de resistência a condições adversas. Nas costas e na cabeça, esses seres possuem pelos ásperos e compridos que ficam eriçados. Eles são responsáveis por captar radiação luminosa do sol que é convertida em alimento. Inteiramente fotosintéticos, os Sham precisam se alimentar dessa maneira, ao menos uma vez a cada cinco dias terrestres.

Os Insetos são hermafroditas, mas necessitam de companheiros para fertilizar um envólucro contendo seus ovos. Este normalmente é carregado na base de seus tentáculos. Esse saco de ovos, depois de fertilizado é fixado em algum lugar seguro onde os filhotes podem eclodir de seu interior. Cada ninhada gera entre duas e oito larvas. Imediatamente depois de nascer, as larvas devoram umas às outras, até que reste apenas uma. A sobrevivente precisa de alguns anos para desenvolver a capacidade de se sustentar com a radiação solar, até lá ela se alimenta de pequenas criaturas. Atingindo a idade adulta, um Sham pode viver por séculos.

Dotados de três cérebros distintos, os Insetos são capazes de raciocínio rápido e de processar diferentes cenários em sua mente analítica. Com essa vantagem instrumental, eles rapidamente adquiriram os recursos para construir sua civilização avançada. As cidades dos Sham eram erguidas com uma substância protoplásmica reminiscente da matéria gelatinosa que cobria seus mares. Uma vez tratada, essa espécie de geleia formava estruturas globulares que serviam como suas habitações e prédios. No interior das cidades, destacavam-se construções distintas de metal em formato cônico que serviam como templos. As cidades cobriam grandes extensões do planeta e eram o lar de milhões desses insetos.

Assim como as formas de vida ancestrais que um dia habitaram Shaggai, os Sham também veneraram Azathoth como seu Deus único. O Caos Primordial na concepção dos Sham era o responsável pelo surgimento do Universo e um dia será o responsável pela sua destruição final. De fato, muito do que se sabe a respeito de Azathoth, deriva do conhecimento registrado pelos Insetos, uma das únicas raças a prestar adoração ao Sultão Demoníaco e conhecê-lo profundamente. Os rituais religiosos conduzidos pelos Sham envolvem práticas estranhas de adoração através de teoremas matemáticos e hiper-cálculo. Nos templos devotados a Azathoth, reatores nucleares extremamente complexos são utilizados para invocar um avatar do Deus conhecido como Xada-Hgla. Uma vez manifestado fisicamente, os insetos praticam sacrifícios lançando suas vítimas no interior de fornos atômicos para que a sagrada radiação possa ser alimentada. Durante seus festivais religiosos, milhares de formas de vida eram sacrificadas dessa maneira atroz.

Embora os Sham possuam uma ciência avançada, eles vêem a magia como uma forma de comungar com seu Deus. De alguma forma eles encontraram um ponto de equilíbrio entre ciência e magia, entre tecnologia e misticismo. Usando a energia produzida pelos seus reatores nucleares e as invocações que lhes permite conjurar avatares de Azathoth, os Sham conseguiram desenvolver notáveis pirâmides metálicas que os transportam via teleporte para outras esferas planetárias. Usando esses dispositivos, os Insetos conheceram outros mundos, onde aportaram com intenções hostis de conquista e colonização. Supõe-se que no auge de seu movimento expansionista, os Insetos de Shaggai tenham tomado posse de pelo menos uma centena de mundos diferentes. Entre as esferas convertidas ao seu Império, Thuggon, L'ghyx e Xiclotl se tornaram as mais preciosas.

Ao fazer contato com outras formas de vida, os Sham descobriram a capacidade até então desconhecida de habitar matéria orgânica. Tornando seu corpo imaterial, os Sham podem adentrar a mente de seres dotados de inteligência, passando a habitá-los na forma de pensamento puro. Para tomar posse de um corpo, o Sham precisa apenas fazer contato com a criatura escolhida e converter seu corpo em uma forma compatível de onda psíquica consciente. Uma vez nessa forma, o Sham é capaz de persuadir e controlar seu hospedeiro, sugestionando-o a agir da maneira que lhe for mais conveniente. Usando esse recurso, os Sham facilmente tomaram planetas inteiros e submeteram formas de vida muito maiores e fortes a meros escravos de seus caprichos.


O contato mental com uma infinidade de formas de vida, entretanto causou uma reação inesperada na psique dos Insetos de Shaggai. Os Sham são incapazes de compreender sua verdadeira identidade como raça e carecem de outros seres para experimentar as mais básicas sensações. Dentre as sensações mais desejadas, os insetos desenvolveram um gosto peculiar por violência, sadismo e dor. Eles se deleitam com espetáculos de tortura no qual raças alienígenas são expostas a todo tipo de sofrimento físico, mental e emocional. A busca por essas formas grotescas de prazer converteu os Sham em uma civilização decadente que se orgulha de ter refinado métodos de tortura indescritíveis. Nada concede maior satisfação a um Sham do que habitar o corpo de uma criatura consciente sofrendo enorme stress. Com sua natureza abusiva, os Sham não reconhecem qualquer dilema ético ao manipular outros seres, para eles formas de vida inferiores não apenas podem, mas devem ser usadas ao seu bel-prazer.

Graças ao desejo transcendental de submeter outras formas de vida a sua tirania mental, o Império dos Sham passou a se satisfazer com os planetas já conhecidos, freando seu ímpeto de novas conquistas cósmicas. Talvez isso tenha sido uma benção disfarçada que permitiu a outras raças se verem livres desses seres tenebrosos.

(cont...)

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