segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Empalamento - A origem e história da pior das mortes


O termo árabe "Khazak" significa penetrar ou trespassar e ele é a fonte da palavra "Khauzakah" -  que significa Empalamento.

Não há uma maneira bonita ou delicada de explicar no que consiste o empalamento praticado ao longo de séculos da história humana.

Sendo bem direto: Trata-se de uma prática extremamente sádica que envolvia o uso de uma estaca de madeira com pelo menos dois metros e meio de comprimento, dotada de uma ponta afiada. Esta era inserida através do corpo da vítima, geralmente pela vagina ou ânus. A seguir, essa estaca era cravada no solo para que o corpo ficasse paralelo em posição vertical. A gravidade era então responsável por fazer o corpo escorregar lentamente na estaca que penetrava as vísceras, eventualmente brotando através do ombro ou da boca da vítima.

A morte poderia vir rapidamente ou de forma horrivelmente lenta, dependendo apenas da experiência do executor que realiza o ato de inserir a estaca. O conhecimento de anatomia era muito útil, já que o objetivo desejado era fazer a estaca atravessar o corpo sem atingir nenhum órgão essencial. Se tal coisa fosse evitada, a morte excruciante poderia levar horas. O executor podia passar graxa ou gordura na ponta da estaca ou deixá-la menos aguçada, fatores estes que influíam decisivamente na duração da tortura.

Os executores medievais tinham métodos extremamente criativos de amplificar essa agonia. Por vezes, usavam uma estaca com a cabeça arredondada, o que adiava a morte e preservava a vítima por horas ou mesmo dias. Outra possibilidade envolvia utilizar estacas tratadas com seiva de ervas daninhas que provocavam uma coceira quase insuportável. Parece não haver limites para a perversa criatividade dos verdugos responsáveis por coordenar a execução. 


Um executor profissional era capaz de empurrar fundo a estaca, sem romper as vísceras internas deixando a vítima viva por muito tempo, causando dor e sofrimento insuportáveis. De uma forma hedionda, quanto mais a vítima tentava se mover em busca de uma posição menos dolorosa, mais a estaca afundava, tornando a morte inevitável.

Muitas pessoas confundem o Empalamento com a Crucificação, outro método de execução abominável e relativamente comum na antiguidade. As diferenças entre as punições são óbvias, na crucificação a vítima é presa em uma trave de madeira ou tronco de árvore, através de cordas ou pregos que mantém seus membros suspensos. Dependendo do método escolhido, a vítima pode permanecer viva por muitos dias, expirando pela inanição ou desidratação, ou mesmo através de chibatadas, queimaduras ou apedrejamento. Muitas nações do Mundo Antigo conheciam a crucificação e a reservavam apenas para os mais odiados criminosos. A crucificação era um método lento, dispendioso e que amplificava o sofrimento da vítima que por vezes acabava ganhando a simpatia das testemunhas que assistiam o martírio. Provavelmente criada pelos persas, ela foi refinada pelos romanos que a utilizavam nas execuções públicas, sobretudo de traidores, desertores e rebeldes. A prática se tornou uma parte viva na memória e cultura das sociedades antigas e medievais, sobretudo depois de ter se convertido em sinônimo da execução de Jesus Cristo.

Enquanto a Crucificação envolvia prender um corpo em uma madeira, o empalamento tinha como princípio atravessar a vítima com uma estaca de madeira. Embora ambos fossem terríveis, não resta dúvida que o método da Empalação se mostrava ainda mais severo, invasivo e doloroso para a vítima. 

Mas qual o objetivo dessas mortes tão horríveis? Que mensagem eles queriam passar? Tanto a Crucificação quanto o Empalamento cumpriam um papel que ia muito além de promover a morte da vítima. O objetivo era humilhar, quebrar a vontade, causar sofrimento e enviar uma clara ameaça a todos que pudessem vir a praticar condutas semelhantes. No caso do Empalamento, a humilhação tinha uma forte conotação sexual, especialmente para homens.


A tortura também ocorria com o intuito de disseminar terror e instalar o pânico no coração das pessoas. Exércitos da antiguidade durante suas campanhas militares contavam com executores em suas fileiras, homens especializados em realizar torturas e punições. Muitas colunas romanas realizavam duas ou três execuções assim que chegavam a um assentamento onde suspeitavam, poderia eclodir uma rebelião. Isso servia para abalar opositores ou populações insatisfeitas. Na Idade Média, tropas buscavam em masmorras e prisões indivíduos que pudessem ser usados como exemplo para o restante da população. As torturas, por vezes, eram voltadas a prisioneiros de guerra que acabavam executados diante dos portões de cidades sitiadas, para que a população do lado de dentro se rendesse ou tivesse sua moral abalada.

Os governantes também se valiam dessas execuções como uma forma de intimidação para seus opositores. Por muito tempo, essas execuções ficaram restritas a grupos dissidentes que aos olhos dos poderosos cometiam o mais grave dos crimes - a Traição.

Acredita-se que os Assírios tenham sido o primeiro povo da antiguidade a realizar o Empalamento como punição prevista em leis. Existem murais de pedra entalhados e afrescos nos quais são retratados indivíduos sofrendo essas terríveis punições. A Civilização Assíria era formada por um grupo semítico que se estabeleceu no atual Norte do Iraque. Eles eram conhecidos pelas severas punições impostas aos criminosos e inimigos capturados que não raramente sofriam flagelação, esmagamento, evisceração e imolação nas mãos de seus executores. Os assírios não hesitavam em matar velhos, mulheres e mesmo crianças que transgrediam suas austeras leis. A terrível reputação desse povo os precedia onde quer que eles fossem, seu Império era temido e no auge de sua expansão incluiu o Irã, a Turquia, Síria e Egito. A busca pela primeira citação a um empalamento na história parece ser tarefa impossível, já que a prática parece ter sido realizada há milênios.


Contudo a predileção dos Assírios pela Empalação não significa que eles foram os únicos a empregar esse método brutal. De fato, antes mesmo dos Assírios, é possível identificar métodos semelhantes de execução em obeliscos do Rei Babilônico Hammurabi, em meados de 1750 a.C. A Lei instituía que: "A esposa que causasse a morte de seu marido, deveria ser empalada".

No Antigo Egito existem sinais de que o empalamento era realizado desde a XIII Dinastia (1675 a.C). Uma das execuções mais frequentes envolvia posicionar a vítima sobre uma estaca de madeira afiada. Existem hieróglifos que se referem a essa punição, ainda que a estaca fosse trespassada através do estômago. O Empalamento era também conhecido pelos caldeus, pelos persas e mesmo pelos romanos que praticavam esse tipo de execução ocasionalmente.

Na Idade Média, o Empalamento continuou sendo empregado, tendo sido introduzido uma vez mais após a brutal Invasão dos Mongóis. Ele foi colocado em uso sobretudo no Leste Europeu região que foi assolada por invasores das estepes asiáticas. Posteriormente o Empalamento acabou sendo incorporado como forma de punição por Árabes do Período Abássida, Hordas de Tártaros e Turcos Otomanos que foram responsáveis por aprimorar a técnica.

Os Otomanos realizavam o Empalamento como punição para traidores e desertores do exército. As execuções ocorriam em praças públicas ou mesmo nos famosos mercados onde eram tratadas como verdadeiros eventos que contavam com a presença de grande público e dignatários. O Empalamento continuou sendo uma punição em vigor no Mundo Árabe até meados de 1800.


Mas se há um personagem histórico que está intimamente ligado a esse tipo de execução, este sem dúvida é Vlad Tepes, cujo próprio nome carregava consigo a alcunha "O Empalador".

O Príncipe Vlad III viveu em um período crítico da História do Leste europeu. Após a Queda de Constantinopla para o Sultão Mehmet, toda a região dos Balcãs se tornou uma área de interesse para os Turcos Otomanos e suas tropas. Logo, a pequena Valáquia, o Reino pertencente a Vlad se viu cercada pelos Otomanos ao sul e Húngaros ao Norte, ambos ameaçando a existência do pequeno Principado. Para tornar tudo ainda pior, existia uma violenta disputa entre os príncipes da Valáquia que se enfrentavam tentando obter para si o trono. Os Senhores Feudais conhecidos como Boiardos também disputavam o poder e se aliavam aos nobres que lhes prometessem maiores vantagens. 

É difícil mencionar o Empalamento sem falar em Vlad III, que entraria para a história como Dracula, governante da província localizada na atual Romênia. Dracula era brutal, sanguinário e extremamente perverso. Sua existência se tornou uma lenda que séculos mais tarde iria inspirar Bram Stoker a inventar o famoso personagem de sua novela: O Conde Drácula. 

O Dracula da vida real passou sua juventude na cidade turca de Aderna onde foi mantido como refém para garantir que seu pai continuaria fiel ao Império Otomano. Vlad aprendeu os costumes turcos, o idioma e as leis. Biógrafos comentam que ele costumava andar na companhia de meninos turcos de sua faixa etária, mas que era frequentemente vítima de surras por sua atitude e personalidade desafiadoras. Dracula era forçado a testemunhar execuções desde os 5 anos, assistia centenas delas, em especial as de Empalamento que devem ter afetado sua psique. Parece claro que o menino desenvolveu um profundo ressentimento a respeito dos turcos, que posteriormente se transformou em um ódio virulento que ultrapassava até mesmo o que ele sentia pelos seus arqui-inimigos, os Boiardos.


Dracula governou a Valáquia por um período de 7 anos, um período relativamente curto se comparado ao número de pessoas que ele matou, algo próximo de 100 mil. Em uma carta escrita ao Rei da Hungria ele explicou seus motivos:

"Eu matei milhares de Turcos. Foram soldados, criminosos, camponeses, homens e mulheres, jovens e velhos. Não me arrependo de nenhuma dessas mortes pois elas eram necessárias para manter a ordem e expulsar o inimigo das minhas terras. Cada uma delas enviava uma mensagem aos Otomanos. Nada os afetava mais do que usar o método de execução deles próprios - o Empalamento. Nada levava mais medo ao coração deles que a noção de que eles morreriam lentamente na ponta de uma estaca". 

Por conta dos terríveis massacres promovidos pelo Príncipe da Valáquia, o Sultão do Império Otomano enviou um exército liderado por Hanza Pasha para capturar ou matar Vlad III. Mas tão logo as tropas cruzaram o Danúbio se viram à mercê dos homens de Dracula que emboscaram e atacaram os invasores. Em poucos dias, as tropas Otomanas, conhecidas pelo treinamento e disciplina, se viram aniquiladas. Os prisioneiros empalados nas horríveis estacas que formavam uma verdadeira floresta de mortos apodrecendo.  

A Europa via o Príncipe Cristão como um símbolo de resistência contra o inimigo Otomano que ameaçava o mundo ocidental. Muitos o tinham como um homem honrado e determinado a conter o inimigo, dispostos a ignorar o banho de sangue e horror por ele perpetrados.

Mas o poderio dos Otomanos no fim acabou prevalecendo. Numerosas incursões realizadas por tropas bem equipadas conseguiram ocupar o reino e fizeram Dracula bater em retirada. Mas antes dos Turcos chegarem a Tergoviste, capital da Valáquia, o Príncipe deixou para seus odiados inimigos um presente macabro. Nada menos que 5 mil cadáveres de soldados turcos que haviam sido empalados ao longo da campanha, adornavam as colinas e muralhas da cidade. Historiadores turcos afirmam que o horror desse espetáculo medonho e o insuportável fedor dos cadáveres, fizeram o Comandante Otomano retornar enojado para Constantinopla para relatar pessoalmente o que havia testemunhado. Ele temia que nenhum emissário seria capaz de contar o que ele viu com os próprios olhos.


Dracula acabou se refugiando na Hungria, onde acabou sendo preso. Tudo indica que o homem sofria de sérios problemas mentais já que nos anos que passou em confinamento costumava passar seu tempo empalando ratos, gatos e cães, usando espetos de madeira que ele pedia aos seus carcereiros. Quando lhe perguntavam a razão para fazer aquilo, ele dizia categoricamente que imaginava que os animais eram turcos.

Existem quadros, descrições e farta arte que apresenta Dracula caminhando, inspecionando ou mesmo jantando aos pés de vítimas agonizando durante o Empalamento. É um fato que ele não se importava com o sofrimento alheio e que via nesse uma forma válida de exercer poder e autoridade. A despeito de toda crueldade, Dracula é ainda hoje considerado um herói nacional em seu país de origem, um Cavaleiro que defendeu a independência da Romênia contra inimigos estrangeiros. Até recentemente havia até um plano para canonizar Vlad III e conceder a ele o título de Mártir Católico, o primeiro passo para mais tarde promovê-lo à Santo.

A discussão a respeito do terrível método de execução via Empalamento é longa e desagradável.

Ela constitui uma evidência da familiaridade humana com a brutalidade e injustiça, uma demonstração do que o ser humano é capaz de cometer contra seus semelhantes. Infelizmente ela não parece estar restrita a um determinado povo, raça, nação ou religião, uma vez que inúmeras civilizações a utilizaram em algum momento. A História está repleta de episódios sangrentos e páginas vergonhosas que não podem ser negadas e o Empalamento constitui um capítulo especialmente horrível.

3 comentários:

  1. Realmente é um prática horrível e desumana, seja feita a quem for

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  2. Não, ela foi inspirada na prática medieval de furar suspeitos de vampirismo com estacas pra vazar o sangue e prender o corpo ao caixão(impedindo de se levantar).

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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