Os mi-go são uma raça totalmente alienígena para os padrões humanos. Seu corpo extraterrestre é composto de uma estrutura atômica que vibra constantemente como se não estivesse inteiramente em nossa realidade.
A analogia mais próxima para descrever a aparência geral dos mi-go é compará-los a crustáceos terrestres (caranguejos ou lagostas), dotadas de dez pernas dispostas em dois conjuntos de cinco, distribuídas ao longo do flanco inferior. O dorso que pode medir entre 1.20 m e 1,80 m é envolto por uma estrutura quitinosa de coloração perolada rósea cuja função é proteger a parte posterior até a cabeça como uma casca ou exoesqueleto.
Essa proteção é trocado várias vezes ao longo da vida de um espécime adulto, crescendo em camadas por baixo daquela que será descartada. Indivíduos mais jovens possuem um exoesqueleto mais claro, enquanto os mais velhos podem ter uma coloração rósea mais acentuada. Abaixo da quitina protetora a "carne" dos mi-go é esponjosa semelhante a um fungo. Ela é fria ao toque e não parece pertencer a um ser vivo.
Os mi-go são equipados com um par de asas semelhantes a de morcegos em seu dorso. Essas asas finas dobráveis são feitas da mesma estrutura quitinosa que cobre seus corpos. Elas são vigorosas o bastante para erguer o mi-go do solo e sustentar o vôo de um indivíduo a uma velocidade de até 80 Km/h e com uma autonomia de várias horas. Os mi-go voam de forma desengonçada na atmosfera terrestre, mas esse é seu meio preferido de locomoção, mesmo quando tem de percorrer uma curta distância. Assim como as placas dorsais, as asas são naturalmente descartadas de tempos em tempos e substituídas por outras novas.
As pernas dos mi-go são frágeis e terminam em pinças que funcionam como dedos. Os dois braços principais possuem pinças maiores semelhante a garras de lagostas, os demais membros são usados para andar e apoiar o corpo. Estas pernas traseiras são dotadas de micro-filamentos que permitem a aderência em superfícies lisas como acontece com insetos terrestres. Isso lhes permite escalar paredes verticais e se fixar no teto.
As pinças frontais possuem terminações nervosas que permitem agarrar objetos e realizar trabalhos manuais delicados e que exigem precisão como, por exemplo, segurar um bisturi cirúrgico. Os mi-go possuem uma infinidade de objetos que são manipulados por meio táctil.
Uma parte interessante da anatomia dos mi-go é a cabeça elipsoide composta por diversos gomos semelhantes a esporos. Essas estruturas correspondem ao sistema nervoso central e são responsáveis pelas terminações neurais.
Para um ser humano é praticamente impossível compreender o funcionamento da mente de um mi-go. O processo em que ela opera é baseado apenas em causa e efeito, os mi-go eliminam de sua memória todas informações desnecessárias retendo apenas aquilo que é estritamente necessário. Sua mente funciona apenas com um encadeamento de idéias e é incapaz de operar saltos de lógica e fazer uso do que nós conhecemos como criatividade.
A cabeça é recoberta por filamentos finos como cabelos que formam novelos fotosensíveis. Os mi-go se comunicam através de súbitas mudanças de cor nesses filamentos e conseguem compreender um aos outros usando padrões cromáticos com nuances mínimas, imperceptíveis aos sentidos humanos.
Embora não tenham olhos, eles são bastante sensíveis a claridade percebendo-a através da pele. Eles procuram evitar a luz direta do sol saíndo de seus redutos apenas à noite. Seu mundo é perpetualmente escuro e eles não se familiarizam com fontes luminosas naturais ou artificiais.
A base da cabeça dos mi-go (aquilo que poderíamos chamar de pescoço) possui uma rudimentar estrutura bucal arredondada que pode ser alterada cirurgicamente para permitir comunicação vocal. O som da voz dos mi-go se se assemelha a um sussurro ou zumbido. Eles não possuem ouvidos mas captam distorções sonoras através de ondas. Eles são plenamente capazes de aprender idiomas humanos e se comunicar dessa forma com interlocutores.
Os mi-go podem projetar seus pensamentos em uma espécie de telepatia, forma de comunicação usada à distância entre as criaturas. Essa modalidade de comunicação pode ser usada em seres humanos, mas os resultados tendem a ser imprevisíveis. Aparentemente o contato direto entre o cérebro humano e a mente alienígena dos fungos pode deixar sequelas. Estudos dessa natureza foram conduzidos pelos mi-go em espécimes humanos capturados. Como resultado a maioria desenvolveu surtos psicóticos graves.
Internamente o corpo dos fungos é muito simples. Eles não precisam respirar e o sistema circulatório que transporta uma espécie de linfa transparente por cânulas finas é bombeado por um coração de dois átrios localizado no abdomen. O sistema digestivo é muito simplifiado, os fungos de Yuggoth não são capazes de processar alimentos terrestres e carecem de comida trazida de suas colônias espaciais. Os alimentos tem a concistência de uma pasta cujos nutrientes são absorvidos através da aplicação na pele. O sistema escretor é modificado em indivíduos adultos que reservam o material a ser descartado em sacos internos que depois são removidos cirurgicamente.
O sistema reprodutor é atrofiado pela ausência de motivação sexual. Os fungos são naturalmente hermafroditas e sua reprodução é assistida com material genético recolhido e processado em laboratórios. Curiosamente esse procedimento é realizado em cerimônias de cunho religioso devotadas a Shub-Niggurath.
Depois de ser colhido, o material genético na forma de ovos é estocado em grandes tanques com líquido seminal e estimulado artificialmente. As crias se desenvolvem nesses tanques incubadoras até atingirem a juventude (o que leva alguns anos terrestres). Nesse momento a pupa é retirada do tubo e permance agarrada a indivíduos d euma casta específica que servem de babás. Os filhotes permanecem dessa forma até o aparecimento das asas que marca a entrada na idade adulta.
Animais terrestres instintivamente temem os mi-go, talvez por reconhecer que sua natureza é totalmente adversa dos seres normais. Animais domésticos se comportam de maneira arredia quando os alienígenas estão próximos como se sentissem uma presença incomum. Os mi-go emanam um odor característico descrito como frutos apodrecidos e quando estão próximos, seres humanos podem sentir a tênue vibração atômica de seus corpos. Esse efeito causa uma sensação inquietante nas pessoas.
A estrutura atômica dos mi-go tende a se decompor completamente quando o indivíduo morre. Com o cessar das vibrações os restos começam a sofrer um acelerado processo degenerativo que culmina com a dissolução total poucos minutos após a morte. Da mesma forma a vibração atômica torna quase impossível capturar os mi-go em fotografia ou filmagem. O processo de revelação e emulsão fotográfica é incapaz de registrar os mi-go claramente. Talvez por essa razão seja tão difícil obter evidências das atividades dos mi-go.
A estrutura social dos mi-go é destituída de qualquer traço de individualismo. Seus membros executam tarefas pré-determinadas como zangões em uma colméia, e a realização dessas tarefas é executada com precisão por cada indivíduo como engrenagens de uma máquina.
A avançada medicina dos mi-go é usada para construir diferentes castas ocupacionais com suas especificidades, incluíndo soldados, operários e cientistas, cada qual com suas características próprias. Soldados por exemplo, tendem a ser maiores e com garras mais desenvolvidas, operários possuem um abdomen maior e braços vestigiais mais fortes para carregar peso e assim por diante.
O conceito de indivíduo é desconhecido e as realizações de um são compartilhadas com toda a coletividade. O principal propósito do coletivo é absorver conhecimento e acumular sabedoria científica custe o que custar.
Muito bom, eles são as minhas criaturas preferidas que Lovecraft criou. Só tenho um pouco de problema ao descreve-las...
ResponderExcluirAcho que o problema com descrições atinge todos os seres do Mythos, hehehe.
ResponderExcluirÉ sempre bom vir aqui, aprendo muito.
ResponderExcluirCara bichos de colméia me dão arrepios, porque sempre penso, que ao menos UM não é sem mente... e o resto são trilhões de células que tu tem que passar para chegar ao principal...
Concordo que sempre que estamos falando de seres indizíveis teremos problemas de descrevê-los em mesas de RPG.
ResponderExcluirTento claro e artigos como este ajudam muito. Valeu mesmo!
Engraçado, eu pensei que nem todos os mi-go tivessem asas -- segundo Lovecraft, "Apenas algumas espécies possuem as asas resistentes ao éter que caracterizam a variedade do Vermont."
ResponderExcluirEsse trecho de Um Sussurro nas Trevas me levou a crer que nem todos têm asas, mas talvez queria dizer que nem todos possuem as asas "resistentes ao éter" ... conceito que em si é bizarro (ainda mais hoje em dia, em que o éter foi desacreditado), um bicho voando pelo espaço, então como será que as asas ajudam na "viagem dimensional"?
Formulei umas hipóteses, mas ainda estão cruas ...
Opa aedensothis,
ResponderExcluirAté onde sei todos os Mi-Go são alados, ao menos em todas as referências que encontrei eles são dotados de asas. É possível que Lovecraft se referisse a asas capazes de voar pelo éter.
Mas não sei lhe dizer ao certo...
E tem razão, a noção de voar através do espaço é no mínimo bizarra. Na minha concepção os Mi-Go conhecem magias que lhes permite abrir portais. Eles portanto não voariam de um pontopara o outro, mas se deslocariam "saltando" entre os pontos. Acho que é uma hipótese mais aceitável.
Obrigado pelos comentários.
Divido da mesma concepção. No entanto, para mim os Mi-Go abrem caminhos pelo hiperespaço de quatro dimensões. Na versão que eu li da estória Sussurros na Escuridão diz que eles "viajam pelo espaço-tempo não curvado" o que pode confirmar essa hipótese.
ExcluirBastante instrutivo!Por acaso vocês tem algo sobre a arquitetura dos Mi-go,mostrando seus prédios,torres,templos, etc?
ResponderExcluirA parte onde diz que eles se decomponhem minutos após morrer não bate com o relato dos corpos estranhos encontrados nos rios de Vermont após as grandes enchentes...
ResponderExcluirPelas descrições dadas no livro (Sussurros na Escuridão), os Mi-Go não possuiam grande resiliência física, visto que alguns foram subjulgados pelos cães de Henry W. Akeley e pelo próprio. Portanto, os cadáveres encontrados após as enchentes poderiam estar a muito pouco tempo por lá, dado que não necessitaria de tanto dano para levar um deles a morte (também devemos considerar que a morte deles não foi de imediato).
Excluir