sábado, 29 de janeiro de 2011

O Cérebro no Cilindro - Analisando a Ciência Médica dos Mi-Go

Dentre as várias realizações dos Fungos de Yuggoth, o domínio sobre técnicas cirúrgicas talvez seja o mais impressionante.

Os mi-go são especialistas em procedimentos cirúrgicos envolvendo alterações corporais, introdução de próteses com "melhorias" e remoção de órgãos para re-implante. Dentro da raça, há cientistas extremamente dedicados com um domínio completo de engenharia genética, bioquímica, anatomia e prostética. Curiosamente, os mi-go consideram clonagem como uma profanação à sua deusa Shub-Niggurath. Comparada às técnicas avançadas empregadas pelos mi-go, a medicina humana é tão primitiva quanto o uso de lama e sanguessugas.

É claro, os mi-go conquistaram esses avanços sem precedentes através de pesquisas sem qualquer impedimento moral ou ético. Os Fungos de Yuggoth não se importam de abrir, dissecar, alterar e descartar milhares de espécimes se necessário. Sem uma barreira moral que os impede de cometer aquilo que nós humanos chamaríamos de "atrocidades inenarráveis" os mi-go progrediram enormemente.

A própria sociedade dos fungos se baseia em aprimoramento artificial por intermédio de cirurgias. O código genético de cada mi-go é analisado e estruturado de acordo com as especificações ditadas pelos cientistas. As cirurgias são extremamente comuns e realizadas em enormes instalações no coração das metrópoles. Elas visam o aprimoramento do indivíduo ou a criação de condições para execução de tarefas específicas. Por exemplo, se um mi-go é enviado para a Terra a fim de interagir com agentes humanos ele é alterado cirugicamente recebendo cordas vocais que lhe permitem se comunicar verbalmente.

Os mi-go aprenderam a eliminar sensações como dor e desconforto físico simplesmente desligando suas terminações nervosas o que torna o ofício dos cirurgiões muito mais fácil. Sem precisar se preocupar com o paciente, os cirurgiões mi-go são capazes de realizar façanhas como transplantar uma mente para um novo corpo especialmente construído ou regenerar órgãos e membros avariados.

No passado remoto da Terra, um número incontável de seres humanos e outros animais foram usados como cobaias de estudos pelos cientistas mi-go. O mapeamento do genoma humano, de nosso perfil genético e os avanços evolutivos foram traçados pelos mi-go quando a humanidade ainda engatinhava. Aparentemente esses estudos foram conclusivos o bastante para que os mi-go tenham perdido o interesse imediato em nossa espécie. Na realidade, a maioria dos cientistas mi-go acham os humanos - assim como todas as formas de vida nativas da Terra - incrivelmente simplórias.

Um dos poucos temas que ainda despertam a curiosidade dos mi-go envolve a mente humana e seu potencial psíquico, intuitivo e criativo. Estações de pesquisa dos mi-go em nosso planeta, continuam realizando estudos a respeito do cérebro humano e seu funcionamento. Nessas estações dissecação é algo corriqueiro e os espécimes após o estudo são simplesmente desintegrados. O desenvolvimento de faculdades psíquicas, como telepatia, precognição e telecinese são estimulados por esses experimentos. Alguns espécimes desenvolveram capacidades inatas pela inserção de eletrodos e circuitos cerebrais.

Uma renovação do interesse dos mi-go na humanidade pode representar uma terrível ameaça para nosso futuro como espécie. Por outro lado o nível de conhecimento obtido pelos mi-go a respeito da fisiologia humana se compartilhado ou exposto teria enormes implicações. Sem dúvida os mi-go sabem como eliminar males como o câncer, inocular nosso sistema imunológico contra praticamente todas doenças existentes e prolongar nossa vida além de qualquer limite. Infelizmente os mi-go não tem qualquer interesse em partilhar essas informações conosco.

É possível que civilizações antigas, como os egípcios e romanos, tenham feito experimentos com cirurgia cerebral a partir da observação dos procedimentos dos mi-go. Isso explicaria como a trepanação era dominada por cirurgiões egípcios há mais de 5 mil anos.

Além disso, um dos mais notáveis feitos de alteração corporal realizado pelos mi-go, envolve justamente o cérebro e um equipamento conhecido como Cilindro Cerebral. Este aparelho foi apresentado no conto "Um Sussurro nas Trevas".

Conforme descrito por Lovecraft, o cilindro cerebral tem “cerca de 33 centímetros de altura e um pouco menos de diâmetro, com três curiosas tomadas dispostas em um triângulo isósceles na superfície convexa”. Cada cilindro pesa 20 quilos e é revestido de um metal semelhante a alumínio, porém consideravelmente mais pesado e resistente. Seu interior é preenchido com uma solução de nutrientes que sustenta a vida do cérebro. Uma série de filamentos e eletrodos conectados ao cérebro permite que ele interprete impulsos neurais.

Máquinas especiais ligadas ao cilindro através das tomadas permitem que o cérebro se comunique, veja e ouça o que está acontecendo à sua volta. A interpretação dos sentidos por parte dos aparelhos é limitada, como conseqüência a voz amplificada pelo aparato é projetada em um tom mecânico e frio. A visão é granulada e destituída de cores enquanto a audição não é capaz de reconhecer tons. Quando os aparelhos são desativados, o cérebro cai em um estado de hibernação no qual experimenta “sonhos bastante reais”, ou assim dizia o falso Henry Akeley no conto.

Cérebros removidos de seres humanos após serem acondicionados nos cilindros podiam sobreviver a viagem até Yuggoth com a promessa de serem inseridos em corpos especialmente projetados para recebê-los. Lovecraft jamais mencionou se isso realmente aconteceu com algum cérebro, mas é sabido que os mi-go são plenamente capazes de "construir" corpos humanóides artificiais. Na verdade, há rumores de que, os cinzas, as formas de vida alienígena presentes em relatos de ufólogos, sejam um produto rderivado da ciência médica dos mi-go.

Regras para o Cérebro no Cilindro:

Em cenários envolvendo os Fungos de Yuggoth não é totalmente impossível que os investigadores encontrem esse tipo de equipamento. Também não é impossível que os personagens acabem de alguma forma lidando com cérebros no interior do cilindro ou pior, que o próprio cérebro deles seja removido e colocado em um desses aparelhos.

Quando ativado pela primeira vez, o cérebro no interior do cilindro é incapaz de reconhecer o que está acontecendo. O indivíduo no entanto se sente cansado e entorpecido. Um rolamento bem sucedido de Idea lhe diz que alguma coisa está errada: porque sua voz soa tão estranha, e porque tudo parece tão estranho? Uma vez que um investigador percebe seu destino, o horror da descoberta é maior doq ue muitos podem tolerar. O guardião deve pedir por um rolamento de sanidade com um custo de 5/1d10 +5. Loucura, seja temporária ou permanente é certa.

Investigadores insanos são capazes apenas de murmurar e gemer, implorando por uma morte verdadeira, alguns simplesmente entram em uma profunda catatonia, suplantados por um horror indescritível. Aqueles capazes de se recuperar do choque inicial podem se recuperar o suficiente para interagir com outras pessoas. Um cérebro no cilindro desenvolve uma série de neuroses: amnésia, catatonia, paranóia, depressão, esquizofrenia e múltiplas personalidades. O cérebro também desenvolve um desejo de aprendizado obsessivo e demência. Uma demência especialmente cruel é histeria sensorial: o cérebro sente necessidades que ele não possui mais sofrendo com fome, coceira ou dores nos membros que ele não tem.

A aparente desesperança de se tornar um cérebro cativo em um cilindro pode desmoronar a vontade mais inquebrantável. Para cada mês que se passa nessa condição, o cérebro deve testar INT versus POD na Tabela de Resistência. Se Inteligência vencer, o personagem sofre um colpapso mental e perde 1d3 pontos de sanidade.

O cérebro no cilindro continua possuindo os atributos Inteligência, Educação e Poder (e os respectivos números de Idea, Know e Luck), assim como sanidade. O cilindro possui Size 6. Todos os demais atributos são reduzidos para zero.
As habilidades mentais e acadêmicas continuam funcionais e podem ser exercidas normalmente pelo cérebro. Os aparatos sensoriais não são muito eficientes e fazem com que rolamentos de Listen e Spot sejam divididos por dois.

O cilindro é extremamente resistente, contando com 12 pontos de proteção. Contudo qualquer dano causado tem uma chance cumulativa de 5% de destruir o cérebro em seu interior.

Um cérebro no cilindro não carece de comida, bebida ou oxigênio. A solução de nutrientes anula o processo de envelhecimento, deixando o cérebro virtualmente imortal se o líquido for renovado a cada cinco anos. A solução pode ser sintetizada por um personagem com pelo menos 65% em Química e Biologia e com acesso a um laboratório equipado. Se o fluido não for trocado, o cérebro lentamente começa a sofrer um processo degenerativo que leva a morte.

2 comentários:

  1. Um texto terrivelmente fascinante para todos os fãs de Lovecraft... Uma das ideias do mestre que mais admiro é justamente a de admitir que seres semivegetais, como os Antigos de Nas Montanhas da Loucura, ou mesmo fungos, como os aqui citados mi-go, pudessem ser inteligentes e inclusive construir civilizações complexas e poderosas - eis aí algo que nunca vi outro escritor usar, e, pelo inusitado e exótico da ideia, contribui para criar aquela sensação de coisas alienígenas, bizarras e inimagináveis que é um ingrediente tão essencial na ficção lovecraftiana. Parabéns por esse blog de gelar os ossos!

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  2. Adorei... Gostaria de jogar uma aventura na qual um dos players perde seu corpo logo no início. Frustrante, eu sei, mas muito interessante! hehehehe

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