quarta-feira, 23 de maio de 2012

Stuart Gordon em Porto Alegre - Diretor de Re-Animator no Fantaspoa 2012 (Parte 1)



Escrito por Leo Dias

Quando Howard Phillips Lovecraft escreveu seus fantásticos contos e criou o horror cósmico que hoje permeia todo um gênero de ficção, não poderia imaginar o quanto se tornaria clássico em todo o planeta. Sua obra hoje domina os quatro cantos do mundo e atinge um incontável séquito de seguidores e apreciadores. Inclusive muitos daqueles cuja visão de mundo do autor acharia repugnante ter entre sua base de fãs. Hoje é impossível retirar os Mitos do DNA do horror moderno, eles estão em todo lugar, mesmo quando não são literalmente adaptados.Ao longo das décadas sua obra foi interpretada pelos mais diversos cineastas e artesões de nosso estimado tema, levando o rico universo do autor a novas gerações, mas muito poucos o fizeram tão bem e comungaram o evangelho de Lovecraft como Stuart Gordon.

Quantos de nós, beirando na média dos 30 anos conheceram Lovecraft em obras primas cinematográficas como Do Além e Re-Animator? Quase todos, eu diria.

Boa parte da obra do diretor presta homenagem ao universo Lovecraftiano, raramente seguindo contando a história exatamente como fora escrita, mas sempre preservando sua essência e humor sutil, a demência é uma constante, a atmosfera densa.Transportados para a atualidade, os versículos do abismo expandiram os Mitos na película da mesma forma que o autor estimulava seus colegas escritores a faze-lo na página.

Impregnado de erotismo e humor negro, o cinema de Stuart Gordon foi um dos homenageados na mais recente edição do Fantaspoa, o festival de Cinema Fantastico de Porto Alegre. Para delírio de cinéfilos e leitores, no programa constavam Do Além (From Beyond), Dolls, Castelo Maldito (Castle Freak), Dagon, A Fortaleza (Fortress), Perversão Assassina (Crawlspace), Piratas do Espaço (Space Truckers), O Poço e o Pêndulo (The Pit and the Pendulum), Robot Jox, Em Rota de Colisão (Stuck), além do ultra clássico Re-Animator!

A notícia da vinda do diretor a Porto Alegre causou comoção total entre fãs, como se o próprio Cthulhu estivesse prestes a despertar. As sessões foram concorridíssimas, e duas delas, Dagon e Re-Animator, tiveram presença da lenda viva em um debate animado após a projeção. Gordon, legítimo exemplar de carisma e simpatia, parecia incansável, sempre solícito com os fãs, pronto a tirar uma foto e assinar seu autógrafo para legiões de criaturas das mais diversas formas, pessoas que meteriam horror no próprio Lovecraft. Gente do Brasil inteiro peregrinou a capital gaucha para estar presente nos cultos, isso sem contar os demais diretores presentes no festival, como David Schmoeller (Puppet Master, Tourist Trap), Todd E Freeman (Cell Count), Zack Parker (Scaleno), além de diretores brasileiros e argentinos diversos.

A primeira das sessões comentadas foi Dagon , pequena obra-prima realizada na Espanha e que transporta nossa amada Innsmouth para Inboca, um vilarejo sombrio e enevoado onde um casal de náufragos vai parar e da de cara com a Ordem Esotérica de Dagon. Sempre achei interessante a forma como Gordon expandiu o alcance da narrativa e sugere que ao redor do mundo poderiam haver muitas vilas de pescadores onde os Old Ones haviam deixado suas marcas. A Atmosfera e estética do filme é maravilhosa, Gordon insistiu para que permanecesse chovendo durante o filme todo, o que é um transtorno que dificulta imensamente qualquer filmagem, mas que trouxe uma carga dramática formidável. Contando com a mesma equipe de efeitos especiais de O Labirinto do Fauno, Dagon tem uma maquiagem relativamente simples e um bom número de efeitos em CGI. O diretor e a produção debateram quanto a mostrar Dagon ou não, e finalmente optaram por mostrá-lo por 3 segundos, no clímax do filme.

Idealizado para ser o filme seguinte a Re-Animator, e também com Jeffrey Combs no papel principal, Dagon nunca encontrou apoio dos produtores nos anos 80. Segundo Gordon, a idéia de contar a história de homens que viram peixes lhes parecia ridícula, no entando, caso fosse um filme de lobisomens, tudo bem!

Outro detalhe é que o diretor havia recusado um orçamento duas vezes maior do que acabou tendo quando finalmente fez o filme. Segundo ele um de seus maiores arrependimentos na carreira.

Mesmo assim, Dagon é um de seus melhores filmes e captura perfeitamente a atmosfera de Innsmouth, provando que não é preciso um orçamento milionário para adaptar Lovecraft. Talvez o melhor "cala a boca" para o falatório e conseqüentes desculpas de Guillermo Del Toro para não fazer nas Montanhas da Loucura. Até o momento, ninguém filma Lovecraft como Stuart Gordon!

Sempre optando por estimular a imaginação, e, se possível, utilizando efeitos práticos, ele acha que efeitos digitais ainda falham em inserir o espectador no que está assistindo.

Na sessão comentada também foi citada a obra teatral do diretor e hoje em Los Angeles está em cartaz um musical de Re-Animator, além disso, Gordon também já teve uma peça onde Jeffrey Combs encarnava Edgar Allan Poe.

(continua)

foto por Kasha

3 comentários:

  1. muito bom artigo! o Stuart eh muito gente fina, humilde e engraçado, vi ele apenas na entrevista após re-animator, mas deu pra ver que é muito simpático, e conversou com os fans respondendo tudo com humor e mostrando que é um fan como nós.

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