Juramentos e
Diamantes: eternos!
Por Clayton Mamedes
Reconheço
que sou um tanto suspeito para comentar sobre alguma edição da The
Unspeakable Oath, tendo em vista o meu carinho e amor declarado a esta
publicação, já explicitados na resenha do exemplar de número 18. Porém, além de
suspeito também sou teimoso, e novamente estou aqui com a TUO 19, a sua segunda
aparição após o hiato de uma década.
Para
quem não conhece, Oath é uma
publicação períodica, dedicada exclusivamente ao horror dos Mythos, conduzida primeiramente pelo
pessoal da lendária Pagan Publishing,
e conhecida pela alta qualidade de seu material. Só isso.
Este
último número tem início através de uma belíssima capa do grande mestre Dennis
Detwiller, com uma clássica imagem de um simpático cultista em um manto
púrpura. Lembrei dos sacerdotes ghouls das Dreamlands. Desta vez temos
uma revista um pouco mais magra, com apenas 66 páginas (!), cuja terceira
lâmina nos recepciona com o famoso editorial: The Dread Page of Azathoth,
onde Shane Ivey magistralmente começa afirmando: “Call of Cthulhu não precisa
ser assustador. Na verdade é muito fácil fazê-lo parecer com tudo, exceto
assustador.” logo, já é possível sentir o clima deste excelente texto de
abertura, muito esclarecedor e filosófico, cuja conclusão conecta o real horror
com o relacionamento do jogador e o seu personagem. Os editoriais da UO estão cada
vez melhores.
Na
próxima seção existe um resumão de duas páginas sobre Cthulhu Dark, que é um sistema de regras ultra-leve feito por
Graham Walmsley, o mesmo autor do primeiro ciclo de aventuras puristas para
Rastro de Cthulhu. Não tive a oportunidade de testar esse Cthulhu Dark, porém aparenta ser coerente com a sua proposta,
simplificando as regras e tornando a narrativa mais fluída e até mesmo
cooperativa – a moda indie chegou até Cthulhu.
Como
não poderia faltar, Monte Cook assina o primeiro Tale of Terror desta edição (basicamente uma pequena idéia para um
cenário, com três diferentes possibilidades para o que realmente está
acontecendo) chamado Sawbucks, que
descreve um mistério envolvendo cédulas de dinheiro falso. Apesar da premissa
um tanto comum, a facilidade de introduzir uma idéia assim em um cenário já em
andamento é tentadora. Gosto muito da estrutura e conteúdo dos Tales of Terror, desde as primeiras
edições. Sempre fornecem algum material ou idéia para imediato uso em sua
aventura.
Na
seção dedicada às resenhas, a clássica The
Eye of Light and Darkness, existe um achado digno de nota: nesta primeira
parte é citado um Blog, o The H.P.
Lovecraft Literary Podcast, e certamente vale uma visita. Nele dois fãs dos
trabalhos de HPL conduzem uma leitura dramática de suas obras, preenchida com
comentários e críticas. Parece um programa de rádio estilo Eli Correia, mas é
bem bacana.
Na
mesma linha do Tale of Terror
anterior, temos o primeiro Arcane
Artifact: The Dollars of Dagon, por Bobby Derie. Neste pequeno artigo são
apresentadas algumas moedas de ouro do período anterior à Guerra Civil
americana, com pequenas alterações dedicadas aos Deep Ones. Assim, estas moedas funcionariam como imãs para colônias
submersas e itens para magias relacionadas. Rápido e simples. Pode render
algumas boas cenas. Vale lembrar que a proposta do Arcane Artifact é bem similar ao Tale of Terror, com uma sutil diferença: em um temos algum objeto e
no outro é uma idéia mais geral. Nesta edição em que coincidentemente ambos
falam sobre dinheiro, esta diferença se torna ainda mais tênue.
As
próximas nove páginas desta edição são dedicadas à descrição detalhada de um
poderoso NPC para Delta Green, uma
feiticeira disfarçada de antiquária, chamada Bernice Cartfield. Nesta
gigantesca descrição temos histórico do antagonista e uma relação de itens que
podem ser encontrados em sua loja, assim como um sistema de riscos e recursos
envolvendo a reação de Bernice ao personagem. Juntamente com os itens da loja,
existe também a descrição de um novo tomo dos Mythos, chamado Codex Peregrini Nefandae. Em resumo, estas
nove páginas contêm muita informação de forma bem detalhada, possibilitando ao
Keeper utilizar o NPC, a sua loja e itens em sua aventura. O pessoal da UO
encontrou uma maneira interessante de incluir uma grande quantidade de
informação, orbitando em torno de uma única personalidade. Ousado.
O
que vem em seguida é outro Tale of Terror
– Property Values, onde temos a casa de um personagem sendo assolada por
uma série de imensas rachaduras nas paredes. Seriam causadas pela erosão, ou
resultado de algo maligno?
O
primeiro Mysterious Manuscript desta
edição nos apresenta um tomo bem curioso: The
Twelfth Book of Moses, escrito por Willian Delaurence no começo do século
XX. O autor é conhecido pela publicação de textos de tendência “hippie”,
facilmente encontrados em lojas de ocultismo e similares. São trabalhos
modestos, com encadernação barata, recheado por propagandas de outros produtos
místicos de Delaurence. Contudo, o Thelfth
Book é bem diferente: sua encadernação é um pouco melhor e é dedicado a
talismãs de amor e sexo, virilidade e libido, que, segundo alguns, somente a
sua posse (sem leitura do mesmo) já traria benefícios ao proprietário. Impresso
em 1967, uma cópia autografada por Hendrix circulara entre colecionadores. É,
sem dúvida, o único trabalho de Delaureunce que interessa a ocultistas
“sérios”, possuindo conhecimento mágico. Um tomo diferente e interessante para
apimentar a sua aventura.
Dando
continuidade ao tema sexual do manuscrito, temos a apresentação de uma criatura
dos Mythos – Paramour of Y’golonac, que se inicia com uma citação do Revelations of Glaaki:
“Aqueles que me
conhecem, me encontrarão. Aqueles que me servem, mesmo ser saber, me
conhecerão. Eles terão a sua carne testada, e se encontrarem prazer, poderão me
aceitar. Um universo de prazer e dor, livre da morte e remorso, aguarda aquele
digno para ser o meu amante. Estas são as palavras de Y’golonac – Revelações de
Glaaki, Volume 12, 54:57, 9.”
O
Amante de Y’golonac seria uma pessoa aparentemente normal, contudo viciada em
prazeres carnais e sexo, sendo que estas atividades atrairiam as atenções do
Grande Antigo. Primeiramente, esta pessoa seria contatada por um avatar da
entidade, onde seria horrivelmente ferida pelas suas mordidas, que nunca
cicatrizam. Após este breve encontro, algum cultista de Y’golonac se aproxima
do candidato a amante e propõe o acordo: tem as suas feridas cicatrizadas e a
sua beleza ressaltada em troca de servir o Antigo. Assim, após um período de
exposição ao ser, o candidato ressurge incrivelmente belo e com a habilidade de
atrair a atenção das pessoas, servindo Y’golonac, procurando por novos
cultistas e os treinando. Uma interessante criatura para “pescar”
investigadores por ai...
O
próximo artigo deste volume é chamado Cheating
Madness, escrito por Brennan Bishop. Neste texto, ele argumenta que um das
experiências mais chocantes para um investigador é ser internado em uma
instituição mental. Com isto em mente, o autor propõe que sejam gastas algumas
horinhas de jogo com aventuras usando personagens com algum tipo insanidade,
fazendo com que aqueles personagens encostados por baixa sanidade sejam úteis
novamente. São 2 páginas de conselhos e idéias para utilizar tal abordagem em
mesa. No mínimo, curioso.
Nesta
edição ainda temos mais um Mysterious
Manuscript: o porão de Joy Shusterman. Agora, como pode um porão ser um
manuscrito? Simples: Shusterman é um funcionário do governo, pesquisando o
comportamento de prisioneiros. Periodicamente ele recebe um candidato para suas
experiências, que é trancafiado nu, em um cubículo sem janelas no porão da casa
onde Shusterman vive. Através de uma câmera de vídeo e de estímulos externos
específicos, Shusterman pode acompanhar a evolução do comportamento do
prisioneiro. Com o passar do tempo, alguns candidatos começaram a escrever nas
paredes do porão. Aparentemente, coisas sem conexão, mais parecidas com os
rabiscos de pessoas levadas à loucura através do confinamento. Isto era o que
pensava Shusterman, até um dos candidatos desaparecer perante a sua câmera.
Belo potencial, não?
O
próximo conteúdo é uma aventura para Rastro de Cthulhu chamada The Brick Kiln, escrita por Adam
Gauntlett. O grupo de investigadores é convidado por um amigo para um final de
semana de pescaria e passeio em uma propriedade no interior da Inglaterra,
apenas para confrontar o horror. Uma trama bem conduzida e com vários mapas e
dicas para uso das Motivações, porém sem muitas novidades. Boa.
Henry Darger’s
Second Novel é
mais um dos Mysterious Manuscripts
presentes nesta edição de Unspeakabvle
Oath. Neste artigo é descrita a obra real
de Henry Darger, na década de 70, o imenso The Story of the Vivian
Girls, in what is Known as the Realms of the Unreal, of the Glandeco-
Angelinian War Storm, Caused by the Child Slave Rebellion, com mais de
15.000 páginas. Contudo, o autor teria escrito um segundo romance, de igual
opulência, que possibilitaria acesso às Dreamlands.
Artigo interessante, ainda mais sendo baseado em fatos reais.
Adam
Gauntlett assina outro cenário, desta vez para Call of Cthulhu na Inglaterra de 1920, chamado Suited and Booted. Aqui os investigadores são contatados por um
colecionador de arte, para ajudá-lo com algumas pinturas que seriam
amaldiçoadas. Uma aventura básica, com alguns antagonistas interessantes.
Como
de costume, esse volume de Oath
encerra-se com a segunda parte de The
Eye of Light and Darkness,
apresentando novidades sobre o universo dos Mythos. Entre resenhas de Shadows of Yog-Sothoth e Death in Luxor, me chamaram a atenção dois
filmes com temática Lovecraftiana. O primeiro é The Last Lovecraft: Relic of Cthulhu, que retrata a luta do ultimo
descendente de HPL contra o culto de Cthulhu.
Ganhou uma nota 7/10! Já o outro filme se chama Monsters e conta sobre estranhos seres que surgiram na Terra após
a queda de um satélite. Apenas nota 4/10.
E
assim encerra-se mais uma aparição da lendária The Unspeakable Oath, novamente fazendo jus à sua reputação entre
os fãs dos Mythos. Esta edição foi ligeiramente menos inspirada do que a #18,
mas mesmo assim possui material de alta qualidade e é leitura obrigatória para
todo fã de horror ou de uma excelente revista.
The Unspeakable Oath 19
por Shane
Ivey, John S. Tynes e outros
Arc
Dream Publishing – 66 páginas, capa colorida, U$ 5,24.
Essa revista parece excelente, preciso colocar minhas mãos em uma edição...
ResponderExcluirMas, aproveitando a deixa, gostaria de avisar que eu e um amigo somos responsáveis pela primeira tradução de Cthulhu Dark, para o português brasileiro. Para quem tiver interesse, segue o link: http://www.seaandsailor.com/2011/04/10/8/
O sistema também foi publicado no excelente "Stealing Cthulhu", do mesmo autor, que é um livro que trata de como "roubar" as boas ideias dos contos de Lovecraft e aplicar ao seu jogo.
Muito obrigado e parabéns pela resenha!