Bonecos e representações de pessoas vivas sempre atraíram a atenção de crianças e fascinaram adultos ao longo de gerações. Entretanto, eles também podem ser a fonte de terror e medo.
Existe uma figura dentro do gênero horror, presente desde os tempos das estórias góticas. A clássica imagem da criança manipulada por uma boneca ou por um brinquedo maligno foi explorada exaustivamente em contos de fada e fábulas. Existe uma crença disseminada entre os nativos americanos Cree de que não se deve fazer imagens humanas pois elas são capazes de captar espíritos e encerrar em seu interior forças negativas. A mesma crença existe entre vários povos da Ásia Menor e se traduz na proibição islâmica de construir imagens. No Haiti, a crença encontra respaldo no hoodoo, culto semelhante ao vodu no qual bonecos são usados para conter espíritos malignos que anteriormente afligiam pessoas. Na Europa Medieval, a raiz da Mandrágora, com formato semelhante ao de uma pessoa, era tida como mágica e capaz de assumir um aspecto de vida se devidamente encantada por uma feiticeira.
Seja como for, muitas pessoas ainda hoje se sentem intimidadas por bonecas. Há algo de aterrorizante nos olhos de uma boneca. Eles são mortiços, mas em alguns momentos parecem estranhamente vivos, perturbadoramente atentos, como se fossem capazes de entender o que acontece a sua volta.
A seguir, duas estórias famosas sobre bonecos assombrados e brinquedos supostamente possuídos por manifestações malignas.
A lenda do Boneco Robert
Quando se trata de bonecos assombrados, Robert é sem sombra de dúvida o mais famoso do mundo. Esse boneco exposto em Key West, no estado da Flórida, inspira milhares de turistas a visitá-lo anualmente. A título de curiosidade, foi Robert quem inspirou o roteiro do filme Brinquedo Assassino (Child’s Play) em que o espírito de um assassino em série possui um boneco chamado Chucky.
Robert pertenceu a um famoso pintor e autor chamado Robert Eugene Otto. Em 1906, uma empregada nascida nas Bahamas teria presenteado o filho de seus patrões com o brinquedo. Robert adorou o presente e se tornou inseparável dele, dando seu próprio nome ao boneco. Posteriormente a empregada teria sido dispensada pela família, após uma séria acusação de roubo. Antes de ser levada pela polícia, ela teria lançado uma maldição sobre o boneco. Tão logo a mulher partiu, estranhos acontecimentos começaram a atormentar a Família Otto.
O jovem Robert adorava conversar com seu amiguinho, e alguns empregados repararam que o boneco parecia responder, ou ao menos parecia haver um diálogo entre eles. Alguns também comentavam que a expressão do boneco mudava discretamente de tempos em tempos. Sorrisos maliciosos surgiam em seus lábios desenhados. Também haviam boatos de que o boneco desaparecia e surgia nos lugares mais inusitados. Vizinhos afirmavam ter visto o brinquedo nas janelas da casa quando a família estava fora, e membros da família Otto disseram ter ouvido em mais de uma ocasião uma risada tétrica vindo de algum lugar onde não havia ninguém, exceto o brinquedo.
O boneco Robert assustava as pessoas durante o dia, mas a noite ele focava a sua atenção no jovem Robert Otto. O menino sofria de pesadelos e acordava no meio da madrugada, gritando de medo, a medida que móveis e objetos voavam pelo quarto e se espatifavam nas paredes. Robert parecia sempre apavorado, mas jamais contava o que estava acontecendo. Ferimentos e arranhões começaram a aparecer em seu corpo. Tufos de cabelo branco manchavam seus cabelos escuros.
Em duas ocasiões o menino, na época com seis anos, desfaleceu e um médico foi chamado para examiná-lo. Averiguou-se então que ele apresentava marcas de estrangulamento no pescoço. Seus pais achavam que algum empregado pudesse estar por detrás dos ataques e mandaram todos embora. Mas os estranhos ataques continuavam acontecendo. Em uma noite, o menino foi encontrado de baixo da cama, estava paralisado de horror. Havia uma marca de mordida em seu pescoço. Quando finalmente despertou, o pai exigiu saber o que havia acontecido e aos prantos o menino respondeu: "Robert fez isso! Robert fez isso!"
O boneco foi removido e os ataques imediatamente cessaram. Os jornais na época deram grande destaque a esses acontecimentos.
Robert Otto faleceu em 1974, anos antes de sua morte, o boneco foi encontrado e repórteres tentaram falar com ele a respeito de suas experiências. Ele jamais quis falar sobre o assunto. Robert foi achado no porão da casa de campo dos Otto, vendida em meados dos anos 1950. Seu dono encontrou junto com o sinistro brinquedo, um caderno com recortes a respeito de sua estranha estória. Ninguém sabe quem reuniu os recortes. Posteriormente o brinquedo foi vendido a um colecionador (que segundo rumores morreu em um estranho incêndio) e finalmente doado para o museu.
Atualmente, Robert se encontra em uma exposição permanente atrás de um armário de vidro no museu de Fort East Martello, na Flórida. Diz a tabuleta ao lado do vidro que o boneco amaldiçoa qualquer um que tire sua fotografia sem a devida permissão. Segundo a tradição, essa é concedida com um leve menear de sua cabeça. Os visitantes que esquecem desses costume devem pedir desculpas. O grande número de câmeras que misteriosamente deixam de funcionar no exato momento em que o boneco é fotografado, ajudou a sedimentar a crença.
A Boneca de Porcelana
Embora Robert tenha ganhado fama conquistando um lugar de destaque nas manchetes dos jornais sensacionalistas, atiçando nossa imaginação, ele não está sozinho. Centenas de estórias sobre bonecas assombradas figuram em blogs e fóruns sobre fantasmas na web. Um dos relatos mais famosos vem de
Moundsville, do estado de West Virginia nos EUA.
Em 1961, Kate Nelligan tinha apenas 9 anos de idade e estudava no colégio público de Moundsville. Ela tinha uma colega de escola chamada Emily de quem se tornou amiga e com quem passava a maior parte do tempo. A casa da família de Emily ficava numa área afastada da cidade e sempre que visitava o lugar, Kate não conseguia afastar um mau pressentimento. Era como se aquela casa tivesse uma "aura estranha" que a deixava arrepiada. Emily também não conseguia esconder essa sensação e confessou que não gostava de viver ali. De todos os lugares da casa, o sótão era de longe o mais enervante para as meninas.
“Quando eles se mudaram para a casa, o sótão já estava completo, mas havia um cheiro no ar. Era como se o lugar fosse ruim e vazio...” contou Kate, mais de 30 anos depois. “Era sempre frio, a despeito do calor no verão. O sótão era grande com quatro pequenos aposentos, e um deles estava repleto de bonecas. Dezenas delas!”. A mãe de Emily havia herdado uma enorme coleção de bonecas de porcelana de uma tia e embora não gostasse delas, não achou respeitoso jogar tudo aquilo fora. Ao invés disso, decidiram colocá-las em um dos aposentos no sótão - onde elas ficariam longe dos olhos, até alguém decidir o que fazer com elas.
Certa tarde, as meninas estavam brincando no sótão quando a mãe de Emily as chamou para fazer um lanche. Quando deixavam o quarto, uma das bonecas estava encostada na porta. Era uma boneca muito antiga, com a face branca, lábios vermelhos, os olhos de um azul pálido e cabelos armados encaracolados. O rosto tinha uma rachadura como uma feia cicatriz. As meninas não tinham autorização para brincar com aquelas bonecas e correram para colocá-la de volta na estante antes que alguém a visse ali. Emily ficou muito assustada e não quis mais brincar.
Dias depois, Kate visitou a amiga e ela contou assustada que aquela boneca costumava sempre aparecer onde ela menos esperava. Ela contou que a boneca, chamada Beatriz, sempre aparecia fora do quarto. Kate disse que a amiga estava inventando tudo aquilo, mas ela parecia realmente assustada.
Nas semanas seguintes, Emily parecia cada vez mais estranha e quando Kate a visitava, sua mãe dizia que ela estava cansada e não podia brincar. Logo ela começou a faltar ao colégio. Kate ficou preocupada com a amiga, até que um dia a visitou novamente e conseguiu entrar em seu quarto. A primeira coisa que notou foi que Emily estava pálida e nervosa. A boneca estava sobre a cama. Emily colocou as mãos nos lábios e disse em um sussurro que não podiam conversar ali, pois "ela" podia ouvir. As duas desceram até o pátio da casa onde Emily contou que Beatriz falava com ela à noite. Segundo ela, a boneca era má, dizia que ela não tinha que fazer coisas horríveis com seus pais e depois fugir de casa. Kate ficou preocupada com a amiga, ela parecia fora de si. Mas Emily insistiu que era tudo verdade.
Dias mais tarde, circulou um rumor por Moundsville. Alguma coisa havia acontecido na casa da família de Emily, mas os pais não queriam contar aos filhos: "Naquela época as crianças eram muito protegidas e os adultos não davam a elas satisfações". Quando Kate quis saber o que havia acontecido, sua mãe foi clara: "Eu devia esquecer que um dia tinha sido amiga de Emily. Nunca ouvi minha mãe falando daquele jeito e fiquei apavorada". Depois de chorar e implorar para que sua mãe contasse o que havia acontecido, ela finalmente revelou em um tom sério: Os pais de Emily haviam sido envenenados. Alguém havia misturado à comida deles veneno para matar rato e por pouco os dois não morreram. Na época, Emily era a única que estava na casa e tudo levava a crer que ela havia sido a responsável.
"Eu não podia acreditar que minha amiga havia feito aquilo. Não fazia sentido. Mas alguns dias depois eu vi a fotografia de Emily no jornal, sendo levada por um assistente social. O rosto dela era de uma criança apavorada diante do que a aguardava, mas o que mais me deixou assustada foi que na foto, era possível ver que ela levava em suas mãos uma boneca: Beatriz. E a face dela, com aquela horrível cicatriz parecia sorrir satisfeita".
Kate nunca esqueceu sua amiga e tentou encontrá-la anos mais tarde e saber o que havia acontecido com ela. Tudo o que ela descobriu é que o pai de Emily jamais se recuperou do envenenamento sofrido e que passou vários anos até morrer no hospital local.
De Emily e Beatriz, ela não soube mais nada.