quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Explorando os Mythos mais Obscuros - Glaaki, o Habitante do Lago


Glaaki é apresnetado no conto "The Inhabitant of the Lake" por Ramsey Campbell.

Glaaki é um obscuro Grande Antigo que habita um lago próximo a cidade de Brichester, na parte meridional da Inglaterra, parte da região conhecida como Vale de Severn.

Embora muitos teóricos do Mythos defendam que Glaaki se encontra aprisionado nesse local até a conjunção estelar que o libertará, "quando as estrelas estiverem certas", há rumores de que ele é capaz de se manifestar em outros lugares ainda que por um curto período de tempo. Glaaki teria sido visto em outros corpos de água, lagos e lagoas ao redor do mundo como por exemplo o Britain Lake na Nova Guiné, o Lago Taquatihue na Bolívia e o Lago Raquette nos arredores de Nova York. Há rumores que ele também teria sido avistado até mesmo no sistema de esgoto de Londres em certa ocasião. Se esses rumores forem verdadeiros, é possível que Glaaki seja capaz de criar portais e viajar através destes para qualquer região lacustre que desejar. Essa evidência pode explicar o avistamento de vários monstros lendários habitando lagos, dentre os quais o mais célebre sem dúvida é o Monstro de Loch Ness.

Glaaki é descrito como um pesadelo semelhante a uma lesma colossal ou o antepassado de um ouriço marinho, medindo vários metros de comprimento. Ele não possui pernas ou patas e para se locomover desliza lentamente sobre o seu ventre que produz uma substância gotejante de coloração amarelada que facilita seu deslocamento. Essa substância que se desintegra poucas horas após sua passagem evidencia sua presença onde quer que ele vá. Embora no solo a criatura seja bastante lenta, na água ela é capaz de nadar com desenvoltura, mergulhando e flutuando com graciosidade desconcertante para um ser dotado de corpanzil tão volumoso. É possível que ele seja dotado de um sistema natatório que lhe garante poder de flutuação semelhante ao de vários peixes. 

O monstro possui uma espécie de cabeça hedionda onde desponta um aparato semelhante a três talos no qual se projetam olhos de coloração branca leitosa. Ele também é dotado de uma larga boca com lábios inchados e carnudos, repleta de dentes afiados como pontas de faca. Esses dentes se acavalam e acumulam em quantidade tão grande que é impossível para o monstro fechar completamente a boca. Sendo um carnívoro contumaz, as presas afiadas sempre apresentam carcaças e pedaços de vítimas semi-digeridas. O fedor de seu hálito infernal é descrito como nauseante.    

A carne úmida e gotejante, se assemelha a borracha e é extremamente resistente. O dorso da criatura é recoberto por fios ondulados de cabelo endurecido ao ponto de se tornarem tão fortes quanto cabos de aço. Muitos sugerem que esses fios são feitos de metal, mas na verdade os filamentos tem origem orgânica e se transformam em espinhos ocos e pontiagudos que se eriçam quando a criatura pretende investir contra algum oponente. Os espinhos podem ser ejetados do corpo de Glaaki a fim de trespassar um alvo que ele deseja atingir. Esse tipo de ataque tem um alcance limitado a cerca de quinze metros, mas sua precisão é notável. Determinado a atingir um alvo, Glaaki pode ejetar vários espinhos de uma única vez. 

Os espinhos são uma das peculiaridades pelas quais essa abominação é mais conhecida. Essas tenebrosas cerdas quando atingem um indivíduo injetam em sua corrente sanguínea uma substância química que cria uma rede de filamentos entrelaçados que se multiplicam no organismo com alarmante velocidade. Os filamentos aos poucos assumem o controle do sistema pulmonar e circulatório da vítima, controlando a seguir seu sistema locomotor. Em pouco menos de 12 horas, a vítima infectada pela substância passa a ser controlada, ficando suscetível às emanações telepáticas de Glaaki. Como resultado, o indivíduo embora ainda seja capaz de pensar e sentir, não consegue controlar suas ações. Glaaki tende então a compelir suas vítimas, chamando-as para perto de onde ele surge a fim de espetá-las com outros espinhos até provocar sua morte. Mas isso não põe um fim a existência do indivíduo. Ele se transforma em um Seguidor de Glaaki, um morto vivo totalmente sujeito a vontade da aberração.

Os pobres infelizes sujeitos a esse tratamento não são mais do que escravos. Muitos acompanham Glaaki até seu refúgio, outros afundam com ele nas águas estagnadas de suas lagoas para nunca mais serem vistos novamente. Alguns poucos, ele permite que continuem andando entre os homens como verdadeiros zumbis, nada mais do que bonecos manipulados pelas cordas invisíveis do elo psíquico estabelecido. Parece não haver limites para a distância desse controle mental, embora em alguns momentos um servidor controlado por Glaaki, separado de seu mestre por uma grande distância possa ter o elo enfraquecido. Esses servos fiéis se tornam olhos e ouvidos do Grande Antigo entre os humanos. Um simples exame médico determina que os Seguidores não estão vivos, o que pode soar perturbador caso um deles seja capturado e submetido a um exame. 

Na qualidade de agentes de Glaaki, os seguidores são capazes de entoar magias e realizar ações coordenadas pelo Deus à distância. Impiedoso, o Habitante do Lago costuma fazer sentir a sua ira sobre os Seguidores que falham em suas atribuições.


Após um período médio de 60 anos, todos os Seguidores de Glaaki, que durante esse tempo continuam iguais a quando morreram, experimentam uma condição conhecida como Apodrecimento Verde. Esse efeito faz com que o hospedeiro sofra uma gradual corrupção em seus tecidos, acelerada sempre que ele é exposto pela luz do sol. O Apodrecimento não tem cura, e se o Seguidor de Glaaki for exposto ao sol por alguns poucos minutos irá se desnaturar em uma horrível pilha purulenta de matéria esverdeada. Isso faz com que os Seguidores depois de algum tempo se tornem extremamente receosos de sair de seus redutos e covis. A maioria deles, assim que apresenta a condição, mergulha para encontrar seu mestre, outros continuam em ação, mas apenas depois que o sol se esconde. É possível que algumas lendas sobre vampirismo possam ter sido influenciadas por essas criaturas que igualmente temem o sol.

A única forma de evitar que uma pessoa atingida por um espinho se transforme em um Seguidor é extrair o espinho antes que a substância em seu interior entre em contato com a corrente sanguínea da vítima. Agindo rápido, um indivíduo é capaz de remover a cerda, mas a melhor maneira de prevenir qualquer risco é queimar a área o mais rápido possível ou então (se possível) amputar a área atingida. Há rumores que dão conta de que possa existir algum tipo de ritual que previne a infecção, sobretudo nas páginas perdidas do volume IX do tomo intitulado Revelações de Glaaki (livro que trata especificamente dessa abominação). Infelizmente, os poucos volumes de que se tem notícia estão incompletos, faltando justamente esse trecho. É possível que o próprio Glaaki através de seus Seguidores tenha orquestrado a destruição dessas páginas. 

A descoberta de um livro completo contendo essa informação seria extremamente valiosa para qualquer investigador do Mythos.

Alguns poucos estudiosos do Mythos se debruçaram sobre a natureza de Glaaki tentando determinar sua origem. Ele é citado brevemente nas edições mais antigas do Liber Ivonis, chamado pelo nome "O Habitante do Lago" e no único manuscrito existente do incrivelmente raro Monstres and their Kynde que estava em poder do Museu Britânico até desaparecer em 1898. Fora esses dois tomos, Glaaki também é citado no já mencionado nono volume da coleção Revelações de Glaaki.

Esse livro afirma que Glaaki surgiu em um mundo desconhecido, repleto de vulcões, vastos lagos ácidos e vapores tóxicos que cobriam toda a atmosfera tornando-o inabitável para qualquer outra forma de vida. Ele teria sobrevivido a destruição desse planeta após o choque com um cometa. O Grande Antigo teria então se transportado para os mundos de Yuggoth, Shaggai e Tond


Em outra versão sobre sua gênese, Glaaki teria se originado no coração de um cometa que em algum momento mergulhou do firmamento caindo na Terra, supostamente atraído pela Raça Ancestral que um dia habitou a Antártida. Quando o meteoro se chocou com o nosso planeta, teria formado o lago de Brichester onde a criatura passou a habitar desde então. Sujeito às esmagadoras forças cósmicas, o Grande Antigo ficou aprisionado nesse corpo lacustre por milênios até ser capaz de se comunicar com humanos através dos quais ele desenvolveu uma forma de interação.

Alguns insistem que durante o período em que permaneceu supostamente inativo no fundo do Lago Brichester, Glaaki conseguiu se manifestar no Antigo Egito. Esses teóricos sugerem como prova a descoberta de múmias encontradas em 1929 num sepulcro próximo a Tel-Amarna. Esses cadáveres ancestrais tinham em seus corpos  espinhos muito semelhantes aos usados por Glaaki. O fato de que a influência do Grande Antigo em nosso mundo ser praticamente desconhecida nessa região, faz com que alguns acreditem na possibilidade de Glaaki possuir ou ter possuído um "semelhante". Essa teoria no entanto é repudiada pela maioria dos pesquisadores sérios.

Os poderes de Glaaki são minúsculos se comparados ao dos Deuses Exteriores ou outros Grandes Antigos, como Cthulhu e Hastur, não obstante ele é capaz de perturbar qualquer investigador que o encontre.

Achou interessante? Leia outros artigos da série "Explorando os Mythos mais Obscuros":







Segredos do Vale de Severn

E um pequeno update que explica muito bem quem é Glaaki:


4 comentários:

  1. Poxa! Mais um Mythos que não conhecia. Este ser me lembra de alguma forma o Aboleth: monstro do AD&D com uma certa semelhança nos poderes.

    Show de Bolice o texto e as informações.

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  2. Muito legal !

    Depois podia rolar um post sobre Daoloth, que aparece no conto "O Dilacerador dos Véus" do Ramsey Campbell =)

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  3. Excelente!
    Conheço pouco o trabalho de Ramsey Campbell, vou hoje mesmo começar a procurar nas livrarias nacionais e estrangeiras - talvez na Amazon.

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  4. Primoroso! Estou usando a Enciclopédia do Mythos para guiar minhas pesquisas, mas o material aqui está excelente! Vou usá-lo em minha mesa de hoje a noite!

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