Ghroth é uma lenda mesmo entre os estudiosos dos Mitos de Cthulhu.
Sua própria existência é contestada por muitos acadêmicos, ainda que certos livros mencionem essa abominação como uma das mais ameaçadoras entidades a vagar pelo espaço exterior. O Mito de Ghroth é discutido no incrivelmente raro Ethics of the Ether, um tratado do século XIX de autor desconhecido que discorre sobre vida alienígena e deuses que vagam pelo vácuo sideral. O único volume desse estranho livro, considerado absurdo na época de sua publicação, encontra-se na Biblioteca da Universidade de Brichester no Vale de Severn, Inglaterra. A obra não trata especificamente de Ghroth, mas identifica "O Olho Vermelho da Danação" concedendo a essa entidade o status de Mensageiro dos Antigos, um epíteto que geralmente acompanha as descrições de Ghroth.
Existem apenas dois outros tratados sobre essa obscura entidade:
As ancestrais Colunas arruinadas de Geph localizadas nas selvas da costa da Libéria possuem um trecho que menciona um "mensageiro divino que viaja pelo vazio em uma longa peregrinação tocando as esferas do universo", a tradução vai mais longe e cita "o olho vermelho que encara do vazio e causa a obliteração de toda vida". Apenas uma pequena parte das inscrições entalhadas milênios atrás nas Colunas foi devidamente traduzida no início do século XX, pelo arqueólogo Gordon Walmsley em seu Transcrições de Geph. A despeito dos questionamentos de seus colegas, que duvidavam de seu trabalho, Walmsley afirmava que conseguiu decifrar as inscrições usando documentos obtidos em uma mesquita no Norte da África. Infelizmente, Walmsley jamais pode provar suas alegações, ele desapareceu em 1931, durante uma expedição no Marrocos.
O único documento que menciona o nome Ghroth é um manuscrito do século XVII, redigido por Jorge Valdelomar, um padre jesuíta que trabalhou na Universidade de San Marcos, no Peru. Valdelomar tinha conhecimentos sobre astronomia e afirmava ter conseguido com descendentes dos Incas uma placa de argila que mencionava a existência de uma entidade que os nativos chamavam temerosamente de Ghroth, o colosso que vaga pela eternidade. O Mito de Ghroth estava ligado intimamente às lendas sobre destruição e apocalipse inseridas no folclore pré-colombiano. A placa jamais foi vista, supostamente Valdelomar a teria destruído durante uma crise de fé que terminou por ocasionar sua expulsão da ordem jesuíta e recolhimento num manicômio de Lima. O manuscrito, escrito durante seu período de prisão, encontra-se na biblioteca da Universidade de San Marcos, a mais antiga instituição de ensino superior do continente americano. Em 1952, uma equipe de arqueólogos da Universidade de Colúmbia tentou consultar esses documentos, mas foi informada de que eles teriam desaparecido dos arquivos.
O documento de Valedomar que cita Ghroth |
Talvez a maior coleção de informações confiáveis a respeito de Ghroth decorra de raças alienígenas que tiveram contato com ele ou que conhecem sua reptação como arauto de grandes desgraças.
Os Mi-Go parecem conhecer essa entidade e não é exagero afirmar que os Fungos de Yuggoth temem sua aproximação e vigiam o espaço para que, se um dia essa criatura se aproximar de uma de suas bases, eles possam abandoná-la de imediato. Os Mi-Go tem um nome para Ghroth, chamam-no de Precursor da Destruição, um nome bastante correto se todas as façanhas dele forem levadas em consideração. É possível que as placas de argila com conhecimento sobre Ghroth tenham saído de um templo inca, já que sacerdotes dessa civilização interagiam com os Fungos de Yuggoth.
Um dos feitos mais medonhos reputados a Ghroth parece envolver a destruição do mundo de Shaggai. Segundo os mitos dos Shan, a raça vulgarmente conhecida como Insetos de Shaggai, um corpo colossal irradiando uma luz escarlate se aproximou do planeta, movendo-se cada vez mais perto. Três dias depois de ter sido avistado, ele se posicionou na órbita de Shaggai e aniquilou esse mundo em um holocausto de luz e chamas que varreu todas as formas de vida, deixando para traz um mundo morto e estéril. Apenas os insetos que conseguiram se teleportar usando seus templos piramidais conseguiram escapar da hecatombe e instalar colônias em outras esferas. A Queda de Shaggai é descrita na confusa ópera Massa di Requiem per Shuggay, e embora o nome do nêmesis que decretou a destruição do planeta não seja mencionado, no verso sobre a tragédia, reverbera a seguinte estrofe:
"Lamento por Shuggay, que um dia foi majestosa e orgulhosa
Lamento por tudo que um dia viveu sob o brilho esmeralda dos sóis gêmeos
O olho escarlate se abriu e com ele veio a destruição
Infeliz o mundo que atrai o olhar fixo do mensageiro cósmico".
Outras raças cósmicas também conhecem Ghroth e o respeitam. A Grande Raça fala de mundos sendo inteiramente obliterados pela presença do Mensageiro dos Antigos. Filósofos yithianos conjecturaram que o planeta natal dos carnívoros Pólipos Voadores possa ter sido devastado por essa entidade, o que forçou as criaturas a se lançarem no espaço em busca de outros planetas onde pudessem sobreviver. Talvez essa catástrofe tenha levado os Pólipos a se fixar na Terra, ocasionando a extinção da Grande Raça.
Mas o que é Ghroth e porque ele é tão temido?
Todos os relatos existentes se referem a essa abominação como uma força cósmica de poder inquestionável. Ele seria um Deus Exterior, da mesma lavra e amplitude que os Deuses que dançam ao redor do Caos Primordial Azathoth no Centro do Universo. Não se sabe porque motivo, Ghroth tem liberdade para vagar pelo cosmo, enquanto todos os demais súditos do Sultão Demoníaco permanecem presos a seu centro gravitacional, rodopiando como satélites em torno de um planeta escuro. Existe a possibilidade de que Ghroth tenha sido incumbido de uma missão cósmica, talvez pelo próprio Azathoth antes dele perder sua consciência. Essa missão inclui destruir determinadas esferas em um tempo e momento predeterminados. É claro, não há como corroborar essa suposição ou sondar as reais motivações dessa divindade ancestral. Não há também como dizer se a entidade possui inteligência ou se suas ações são decorrentes apenas do cumprimento de diretrizes traçadas no início da criação.
Ghroth é chamado de Arauto Primaz e Precursor do Criador, títulos que se referem diretamente a uma força superior - e que força no cosmo, exceto Azathoth poderia ser superior a Ele?
O propósito cósmico de Ghroth parece ser exclusivamente desencadear a destruição de planetas inteiros, transformá-los em esferas inabitáveis, destituídas de toda e qualquer forma de vida. Quando esse Deus Exterior se move para perto de um planeta, o mundo em questão entra em convulsão como se sentisse sua presença nefasta e se agitasse em espasmos dolorosos. As marés são alteradas, vulcões adormecidos entram em erupção, tempestades se formam, terremotos esfacelam continentes inteiros e ondas colossais varrem a costa, deixando um rastro de devastação. Em outros planetas, a aproximação de Ghroth ocasiona explosões solares violentas capazes de destruir a camada protetora da atmosfera, fazendo com que a vida seja cremada pela radiação solar não filtrada. O resultado final é um mundo arruinado por descargas nocivas que tornam inviável a sobrevivencia de qualquer forma de vida.
Outro efeito de sua presença é o fatídico Despertar dos Grandes Antigos.
Os vitorianos tem outro nome para Ghroth, o chamam de "Arauto dos Cânticos" por ele ser capaz de se comunicar (cantar?) em um tom que os Antigos conseguem ouvir. Essa "Música das Esferas", faz com que os Antigos que hibernam pela eternidade se movam em seus covis e lentamente despertem como se as estrelas estivessem corretas. Uma vez acordados, os Antigos desencadeiam destruição e devastação sem precedente o que cumpre o propósito do Deus.
Ghroth é uma espécie de "Estrela Nêmesis", o anátema de toda vida. Sua forma é simplesmente indescritível sob uma perspectiva humana, uma vez que não há como descrever um horror com suas proporções gigantescas e ainda compreendê-lo como algo vivo. Infelizmente, é exatamente isso que Ghroth é: um PLANETA VIVO, vagando pelo espaço como um corpo celeste com motivação e propósito.
O tamanho de Ghroth varia; ele pode ter as dimensões da Lua terrestre por exemplo, ou ser até menor em algumas ocasiões, mas também é capaz de assumir o tamanho de grandes corpos celestiais, já que sua massa parece se ajustar conforme sua vontade. Quando destruiu Shaggai, os Shan avaliam que Ghroth tivesse dimensões comparativas a Júpiter.
A Entidade é uma esfera de tamanho colossal constituída de gases, cinzas, rochas e metais derretidos que formam uma espécie de massa coalescente. Sua coloração geral assemelha-se a um marrom-castanho tendendo ao ferruginoso, com uma crosta marcada por reentrâncias, fissuras, cânions profundos e escuros que vomitam jorros de lava de seu interior turbulento. Ghroth ocasionalmente permite o surgimento de um "olho" colossal avermelhado, formado por um imenso mar interno que se oculta abaixo da sua crosta exterior. Esse fenômeno é referido como "O Olhar de Ghroth" e ele ocorre quando a entidade fixa sua atenção em um determinado alvo que será invariavelmente objeto de seu escrutínio.
A atenção de Ghroth irradia sinais negativos que podem ser captados por formas de vida inteligentes mesmo em distâncias absurdas. Estas experimentam sonhos premonitórios sobre a chegada de Ghroth e o apocalipse que ele irá desencadear. Pode levar décadas ou mesmo séculos até que Ghroth chegue ao mundo por ele escolhido, mas é bem possível que quando atinja seu destino as formas de vida tenham sucumbido a loucura por meramente saber de sua existência e prever sua fatídica aproximação.
Ghroth é capaz de ejetar de seu corpo porções menores (ou corpúsculos) que mesmo separados de seu corpo maior, ainda podem ser controlados à distância, servindo como verdadeiras sondas de longa distância. Essas massas informes, viajam pelo espaço de forma independente, sendo facilmente confundidas com asteroides vagando a esmo. Ao se aproximar de um planeta que Ghroth pretende observar, eles reduzem sua velocidade e assumem uma órbita permanente, que raramente é detectada. Há rumores que essas sondas biológicas transmitem sinais intermitentes que podem ser captados por tecnologia relativamente baixa. As transmissões podem levar milhares de anos para chegarem ao seu destino, mas elas são um indício de que algo no planeta em questão atraiu a atenção de Ghroth. Não raramente essas esferas estão marcados para um dia receber a visita do Planeta Vivo.
Os rumores sobre o alegado Satélite Black Knight que alguns teóricos de conspiração acreditam orbitar a Terra há milhares de anos enviando transmissões codificadas para o espaço exterior, podem ter ligação com Ghroth. Se isso for verdade, a Terra de alguma forma atraiu a atenção do Deus e é questão de tempo até ele nos visitar.
E nesse dia terrível, nada poderemos fazer.
Achou interessante? Leia então a respeito de outros horrores obscuros:
Anatomia dos Mi-Go
Yuggoth - O planeta dos Fungos
O Cérebro no Cilindro
Invasores de Esferas Distantes
Kuracinth
Anatomia da Cor que caiu do Espaço
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Me passou pela cabeça agora que o Junji Ito se inspirou no Ghroth pra criar seu mangá Hellstar Remina. Ótima postagem. Sempre um prazer entrar aqui.
ResponderExcluirHum, e esse meteoro em que a sonda pousou e detectaram um som quase como um "canto"???
ResponderExcluirisso sim assusta