Existe um local na parte mais ao norte da costa da Baia de Nápoles que há tempo entrou para a história graças aos seus mistérios, mitos e magia. Conhecido como Campos de Phlegræan, trata-se de um lugar desolado; um deserto estéril coberto de pedregulhos e cortado por respiradouros subterrâneos que vomitam nuvens de fumaça sufocante, vapor cáustico e línguas de fogo. As lendas e os estranhos fenômenos se agarram a esse lugar coalhado de fumaça densa, por isso talvez não seja de se espantar que existam rumores de que lá, haveria um túnel que conduz literalmente para as profundezas do Hades, o mítico inferno greco-romano.
O Campo de Phlegræan é uma espécie de platô que faz parte de uma ancestral caldeira vulcânica não muito distante do famoso Monte Vesúvio. O Vesúvio, é o vulcão conhecido por ter levado à destruição a grande cidade de Pompéia. Essa área de pesada atividade vulcânica, repleta de galerias subterrâneas, fossos de enxofre e até mesmo buracos com magma, era bem conhecida pelos romanos e gregos antigos e associada a portentos de magia e profecia.
Uma das maiores lendas locais, fala da Sibila Cuméia, uma espécie de profetiza, que é apresentada no drama épico de Virgílio, a Eneida que relata a jornada do herói Enéias através da Terra dos Mortos. Essa profetiza toma emprestado o nome de uma cidade próxima chamada Cumae, que por sua vez seria a cidade natal de Dédalo, o pai de Ícaro. A Sibila é descrita como uma mulher sábia, abençoada com a imortalidade pelo Deus Solar Apolo e dotada com a capacidade de ter visões e interpretar o futuro. Sibila Cuméia viveria em uma caverna localizada nos campos devastados que também serviria de entrada para o submundo governado por Hades. Seus poderes são descritos como vastos, e Virgílio a retratava escrevendo suas visões alucinadamente em folhas que cobriam paredes e o chão de sua morada. Uma interessante estória a respeito da Sibila envolve a criação de nove pergaminhos que supostamente delineavam o futuro de Roma em detalhes. Ela teria oferecido esses documentos ao Rei Romano Tarquínio Superbus, também chamado de Tarquínio, o orgulhoso, em troca de uma quantia exorbitante de ouro. Quando o Rei se recusou a pagar a soma estipulada, Sibila começou a queimar os pergaminhos bem diante do governante que acabou aceitando a barganha. Ela teria preservado em seu poder os três últimos documentos, prometendo entregá-los apenas quando chegasse o momento certo.
Apesar dessa estória ser pura fantasia, ela é significativa, já que realmente existiu um Rei chamado Tarquínio e de fato existiram três pergaminhos mantidos em poder dos gregos que vieram a ser chamados "Os Livros de Sibile". Estes seriam parte dos textos adquiridos por Tarquínio e escritos pela Sibila Cuméia com base nas suas visões. Esses manuscritos eram mantidos em segurança em um cofre no Templo de Júpiter, e embora não se saiba se eles realmente continham profecias, os gregos pareciam acreditar nisso, já que eles só podiam ser consultados em tempos de iminente crise ou grave desastre. Os "Livros de Sibile" eram considerados de extrema importância e protegidos a todo custo por uma Legião de Honra, responsável por mantê-los a salvo de qualquer saqueador. Os gregos eram tão zelosos na proteção desses pergaminhos que, quando o Templo de Júpiter se incendiou em 83 a.C, todos os responsáveis pela proteção do documento, que falharam em sua missão, cometeram suicídio. Em seguida, mensageiros foram enviados para os lugares mais distantes da Terra em busca de cópias que pudessem substituir aqueles destruídos pelas chamas.
Apesar dessa estória ser pura fantasia, ela é significativa, já que realmente existiu um Rei chamado Tarquínio e de fato existiram três pergaminhos mantidos em poder dos gregos que vieram a ser chamados "Os Livros de Sibile". Estes seriam parte dos textos adquiridos por Tarquínio e escritos pela Sibila Cuméia com base nas suas visões. Esses manuscritos eram mantidos em segurança em um cofre no Templo de Júpiter, e embora não se saiba se eles realmente continham profecias, os gregos pareciam acreditar nisso, já que eles só podiam ser consultados em tempos de iminente crise ou grave desastre. Os "Livros de Sibile" eram considerados de extrema importância e protegidos a todo custo por uma Legião de Honra, responsável por mantê-los a salvo de qualquer saqueador. Os gregos eram tão zelosos na proteção desses pergaminhos que, quando o Templo de Júpiter se incendiou em 83 a.C, todos os responsáveis pela proteção do documento, que falharam em sua missão, cometeram suicídio. Em seguida, mensageiros foram enviados para os lugares mais distantes da Terra em busca de cópias que pudessem substituir aqueles destruídos pelas chamas.
Se esses intrigantes mitos já não fossem suficientes para alimentar lendas e estórias por gerações, eles serviram para impulsionar almas aventureiras a procurar a caverna que servia como a morada da Sibila Cuméia. Estas pessoas acreditavam que a caverna levaria a uma descida para as profundezas do próprio submundo, o inferno habitado pelos mortos e estavam dispostas a encontrar esse sinistro portão. A narrativa da Eneida, conforme escrita por Virgílio, é tão rica em detalhes que se encaixam na paisagem dos Campos de Phlegræan que historiadores, arqueólogos e folcloristas imaginavam se realmente ela não se referia a um complexo de cavernas existente. Ao longo da história, várias expedições de busca foram organizadas nos Campos de Phlegræan, para determinar a localização da mítica caverna, mas nenhuma teve sucesso na empreitada. Em face da ausência de qualquer prova física que apontasse para a caverna que originou o mito, a probabilidade dela existir parecia na melhor das hipóteses, questionável. Com o tempo, a legendária entrada para o submundo, se tornou não mais do que parte da mitologia.
A lenda da caverna pertencente a Sibila Cuméia poderia permanecer sob o manto dos mitos para sempre, se não fosse por uma curiosa descoberta feita em 1950 na cidade de Baiea um luxuoso resort localizado nos limites dos Campos de Phlegræan, famoso pelos seus spas e fontes de águas termais. Foi ali que o arqueólogo italiano Amedeo Maiuri encontrou algo curioso. Em meio as ruínas de um povoado abandonado há 2000 anos, um dia floresceu um resort romano que atraia visitantes ilustres e dignatários de todo Império. Durante as escavações, Maiuri encontrou um complexo de túneis meticulosamente escavado na rocha vulcânica que parecia levar do centro da cidade até o coração de uma montanha. A entrada em si não passava de uma estreita passagem, soterrada por 4 metros e meio de rochas e vinhas, localizada no porão de um antigo templo em ruínas. A passagem era obviamente resultado de cuidadoso trabalho humano, o que deixou o time de arqueólogos empolgado com a perspectiva de uma grande descoberta, afinal quem escavaria uma passagem nessa profundidade se não fosse por algum motivo importante. Infelizmente eles não conseguiram ir muito longe. Após vasculhar apenas uma pequena porção do túnel, imerso na total escuridão, logo se tornou óbvio que o lugar era perigoso demais, com fumaça venenosa emanando das profundezas e um calor beirando o insuportável. Os arqueólogos abandonaram a exploração temendo algum acidente, mas acabaram retornando em outras oportunidades para tentar cobrir uma área maior do subterrâneo, sem jamais conseguir avançar além de algumas poucas dezenas de metros.
Por fim, as expedições foram suspensas após se constatar que era impossível suportar as terríveis condições adversas. A temperatura interna no túnel beirava os 44 graus célsius, havendo o risco de se inalar vapor super-aquecido ou de sofrer envenenamento por enxofre. Com o tempo, o túnel se converteu em uma curiosidade.
A lenda da caverna pertencente a Sibila Cuméia poderia permanecer sob o manto dos mitos para sempre, se não fosse por uma curiosa descoberta feita em 1950 na cidade de Baiea um luxuoso resort localizado nos limites dos Campos de Phlegræan, famoso pelos seus spas e fontes de águas termais. Foi ali que o arqueólogo italiano Amedeo Maiuri encontrou algo curioso. Em meio as ruínas de um povoado abandonado há 2000 anos, um dia floresceu um resort romano que atraia visitantes ilustres e dignatários de todo Império. Durante as escavações, Maiuri encontrou um complexo de túneis meticulosamente escavado na rocha vulcânica que parecia levar do centro da cidade até o coração de uma montanha. A entrada em si não passava de uma estreita passagem, soterrada por 4 metros e meio de rochas e vinhas, localizada no porão de um antigo templo em ruínas. A passagem era obviamente resultado de cuidadoso trabalho humano, o que deixou o time de arqueólogos empolgado com a perspectiva de uma grande descoberta, afinal quem escavaria uma passagem nessa profundidade se não fosse por algum motivo importante. Infelizmente eles não conseguiram ir muito longe. Após vasculhar apenas uma pequena porção do túnel, imerso na total escuridão, logo se tornou óbvio que o lugar era perigoso demais, com fumaça venenosa emanando das profundezas e um calor beirando o insuportável. Os arqueólogos abandonaram a exploração temendo algum acidente, mas acabaram retornando em outras oportunidades para tentar cobrir uma área maior do subterrâneo, sem jamais conseguir avançar além de algumas poucas dezenas de metros.
Por fim, as expedições foram suspensas após se constatar que era impossível suportar as terríveis condições adversas. A temperatura interna no túnel beirava os 44 graus célsius, havendo o risco de se inalar vapor super-aquecido ou de sofrer envenenamento por enxofre. Com o tempo, o túnel se converteu em uma curiosidade.
Anos mais tarde, no final da década de 1960, um arqueólogo britânico chamado Robert Paget tomou conhecimento a respeito da enigmática entrada do túnel e ficou fascinado por ela. Paget era uma das pessoas que acreditava que a lenda sobre a Caverna de Sibila poderia ter algum fundo de verdade e que poderia estar ligada ao túnel abaixo de Baiae. Ele ficou obcecado pela noção, e determinado a investigar por conta própria o mistério daquela passagem. Na companhia de um colega chamado Keith Jones e um pequeno grupo de voluntários, Paget fez os preparativos para uma expedição que pudesse suportar as condições insalubres e descobrir seus segredos. Usando trajes especiais de amianto e respiradores eles estavam dispostos a ir até o fim da passagem.
Logo ficou claro para o grupo que não seria uma tarefa fácil. A expedição de Paget foi saudada por fumaça vulcânica e um odor pungente de enxofre. A passagem era mais estreita do que eles imaginavam, meras 21 polegadas de largura, ainda que ele tivesse aproximadamente quatro metros e meio de altura. A maior parte do equipamento não poderia passar através dessa fissura e os trajes eram extremamente desconfortáveis. A visibilidade era quase nenhuma. Uma vez entrando, o grupo enfrentou uma temperatura brutal, ainda assim, incentivados pela perspectiva de encontrar algum surpreendente tesouro arqueológico, seguiram em frente. Muito embora a passagem se tornasse mais ampla a medida que eles entravam, o grupo só conseguiu avançar 150 metros através do túnel até que chegou a uma intransponível pilha de detritos que bloqueava a passagem. Além de ficarem maravilhados pelo esforço e engenhosidade dos construtores, capazes de escavar um túnel impressionante com ferramentas primitivas, Paget chegou a conclusão de que o lugar havia sido construído com propósitos ritualísticos. A posição do túnel em relação à entrada e sua orientação com a linha do nascente, servia para determinar a chegada do solstício.
A parede de detritos impedia qualquer progresso além daquele ponto, mas para Paget a promessa de maiores descobertas era irresistível. Conduzido pela sua obsessão para revelar os segredos do túnel, Paget embarcou em um ambicioso projeto que visava vasculhar cada metro do túnel. Na opinião do britânico e de seus colegas, o corredor era parte de um sistema de túneis muito maior e mais intrincado que se estendia por muitos quilômetros abaixo da superfície, criado por razões desconhecidas. Para reforçar a teoria de que o local servia a propósitos rituais, a equipe encontrou indícios ao longo do caminho, como a existência de vários nichos para colocação de velas, incenso e o que poderiam ser oferendas nas paredes. Havia ainda a evidência de passagens secretas, para impedir o avanço de pessoas que não conhecessem o caminho. Esta foram deliberadamente bloqueadas com obstáculos intransponíveis. Parecia claro que seja lá quem tivesse construído o túnel, havia dedicado a ele enorme esforço e cálculo, mas também medidas para dificultar sua exploração.
Talvez, o grande mistério do túnel se encontre nas câmaras mais profundas, o local mais distante que a equipe de Paget conseguiu atingir. Nessas câmaras escuras, salpicadas por camadas ancestrais de enxofre, a temperatura atingia 49 graus e o ar era tão saturado de fumaça sulfurosa existia o risco de sufocamento. Foi nesse lugar infernal que a equipe descobriu uma passagem oculta, que parecia ter sido construída justamente para que o visitante casual não a encontrasse. Quando Paget e Jones descobriram essa passagem - em um ângulo reto, foram confrontados com uma visão chocante: um rio subterrâneo com água sulfurosa e borbulhante que eles mais tarde chamariam de Rio Styx. Levando até esse rio de água aquecida, havia uma rampa, cujo propósito eles não conseguiram determinar. Mais além, do outro lado do rio eles conseguiram discernir outra passagem que levava a uma antecâmara que Paget nomeou "O Santuário Oculto". Por sua vez, essa passagem conduzia a uma rústica escadaria que saía na superfície, justamente nas ruínas dos antigos tanques de água usados pelos romanos em suas piscinas termais.
Talvez, o grande mistério do túnel se encontre nas câmaras mais profundas, o local mais distante que a equipe de Paget conseguiu atingir. Nessas câmaras escuras, salpicadas por camadas ancestrais de enxofre, a temperatura atingia 49 graus e o ar era tão saturado de fumaça sulfurosa existia o risco de sufocamento. Foi nesse lugar infernal que a equipe descobriu uma passagem oculta, que parecia ter sido construída justamente para que o visitante casual não a encontrasse. Quando Paget e Jones descobriram essa passagem - em um ângulo reto, foram confrontados com uma visão chocante: um rio subterrâneo com água sulfurosa e borbulhante que eles mais tarde chamariam de Rio Styx. Levando até esse rio de água aquecida, havia uma rampa, cujo propósito eles não conseguiram determinar. Mais além, do outro lado do rio eles conseguiram discernir outra passagem que levava a uma antecâmara que Paget nomeou "O Santuário Oculto". Por sua vez, essa passagem conduzia a uma rústica escadaria que saía na superfície, justamente nas ruínas dos antigos tanques de água usados pelos romanos em suas piscinas termais.
No fim das contas, Paget e seu grupo exploraram as passagens abaixo de Baiae por cerca de uma década. Durante esse tempo, eles se convenceram de que o sistema de túneis e o rio subterrâneo de água fervente serviam como uma representação do Submundo grego, o Hades mitológico. Após uma década de jornadas pelos corredores, Paget declarou ter encontrado a lendária Caverna de Sibila, ou ao menos, a caverna que ele acreditava ter servido de inspiração para a lenda.
Para comprovar sua teoria, Paget tentou se amparar na Eneida, na qual a viagem de Eneias e Sibila rumo ao submundo guardava uma incrível semelhança com a disposição daqueles túneis. Para Paget, aqueles túneis podem ter servido como referência para Virgílio, levando o poeta a acreditar que eles eram realmente a entrada para o Hades. Uma estimativa, data o complexo de 550 a.C, o que é consistente com a época em que teoricamente a Sibila existiu. Na opinião de Paget e Jones, o intrincado sistema de túneis e passagens foi criado para recriar uma jornada através do submundo, na qual o rio representaria o lendário Styx, no qual segundo a mitologia, o Barqueiro Caronte levaria as almas em sua viagem derradeira. Segundo o arqueólogos, uma representação impressionante do inferno, poderia ser usada por sacerdotes para convencer até o mais incrédulo dos homens da existência do submundo. Paget chegou ao ponto de conjecturar que o próprio Virgílio poderia ter, em algum momento, sido iniciado nos segredos do templo.
As teorias de Paget foram recebidas com ceticismo por parte da comunidade científica que fez o possível para descreditar a maioria dos conceitos sugeridos, em parte porque Paget não era considerado um arqueólogo profissional na época. Como resultado, por muitos anos, as conclusões ficaram sem ser publicadas, e mesmo quando o foram, receberam críticas desfavoráveis. A despeito da campanha de seus detratores e do debate estabelecido, o trabalho de Paget e Jones permanece como a tentativa mais completa de descobrir os mistérios do Complexo de Baiae.
Hoje ainda se sabe muito pouco a respeito dessa caverna, e nós não estamos nem um pouco próximos de compreender o que ele representou um dia. Ainda persistem várias questões: quem o construiu e porque? Seria ela uma representação do Hades? Porque havia caminhos secretos e túneis anexos? Porque o complexo foi abandonado e algumas áreas parecem ter sido lacradas? Como a entrada ficou fechada por tanto tempo? Será que os romanos tinham conhecimento de sua existência? Ele teria sido enterrado pelos romanos? Ninguém realmente sabe a resposta para essas perguntas. O único mistério que parece ter sido resolvido diz respeito a fonte do rio subterrâneo. Na década de 1980, dois exploradores conseguiram mergulhar no rio, usando equipamento especial, e determinaram que ele era abastecido por uma passagem que cuspia água super-aquecida vinda dos Campos de Phlegræan.
O Complexo de túneis de Baiae atualmente está fechado, exploradores precisam de uma autorização do Governo Italiano e da Secretaria Nacional de Arqueologia e História para visitar o local. As autoridades italianas igualmente desencorajam visitantes no Campo de Phlegræan, considerado uma área de constante atividade vulcânica, mas turistas conseguem contratar guias locais para levá-los até o lugar que passou a ser chamado de "Caverna Infernal". Em 1998, dois turistas morreram ao entrar na passagem sem o devido equipamento.
Desde as expedições empreendidas por Paget e Jones, surpreendentemente houve poucos esforços para decifrar os segredos desse mistério do Mundo Antigo. Até que estudiosos consigam adentrar mais profundamente e vencer os desafios impostos, o mistério do Complexo de Baiae continuará sendo um dos maiores enigmas da Antiga Roma.
Materia muito boa. Curto demais esses misterios arqueologicos. Bom trabalho.
ResponderExcluirCurioso mesmo. Qual motivo levara à lacracao de alguns trechos? Seria nao para impedir a entrada de estranhos, mas sim a saída para a superfície de algo abominável?
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