Baseado no artigo escrito por Walter Langbeim
Na Província de Ica, no Peru, existe um dos mais misteriosos museus de nosso planeta.
Ele é o Museo de Piedras Grabadas de Ica (Museu das Pedras Gravadas de Ica). O Professor Javier Cabrera Darquea (1924-2001) foi seu idealizador e fundador na década de 1960. O Museu é discreto e a maioria dos turistas que visitam Ica por um motivo ou outro tendem a ignorá-lo. Ocupando um antigo sobrado amarelo na Plaza Mayor o prédio pequeno que não parece hospedar um Museu, guarda uma coleção arqueológica inestimável. De fato, tal coleção nem deveria existir sendo demasiadamente fantástica. Mas a realidade por vezes é mais estranha do que qualquer ficção.
Cornelia Petratu e Bernard Roidinger, dois importantes arqueólogos, famosos nos anos 1970 pelos seus trabalhos de campo na América do Sul escreveram em um de seus livros a respeito de Ica:
"À primeira vista, não havia nada na coleção que nos chamasse a atenção ou que nos surpreendesse. Ainda assim, em nosso último dia no local, o Professor Cabrera decidiu mostrar as peças que mantinha em segredo. Suponho que ele estivesse até então reticente em nos apresentar esses artefatos, não sabia ao certo como iríamos reagir, disse mais tarde […] Foi então que ele nos mostrou aquilo que estava trancado no porão, longe dos olhos dos visitantes. Ele chamava aquele lugar de "câmara secreta" e raramente permitia que alguém entrasse. Visitar a coleção privada de Cabrera nos deixou sem palavras e francamente chocados, aquilo que estávamos vendo, bem diante de nossos olhos não tinha precedente, exceto no reino da imaginação. A "Câmara Secreta" de Cabrera continha coisas que despedaçavam as fronteiras do pensamento racional. Mesmo que nós tentássemos explicar o que estávamos vendo, nós não conseguiríamos. Aquilo desafiava nossas noções mais concretas sobre arqueologia, simplesmente estava além de nosso alcance".
O que Cornelia Petratu e Bernard Roidinger viram, e não eram capazes de descrever? Que imagens eram aquelas que eles não conseguiam conceber? Ou, o que eles testemunharam que os impediu de registrar em fotos para serem incluídas em seu livro?
Durante a década de 1970, a existência do Museu de Ica e suas estranhas peças não era exatamente um segredo. Alguns arqueólogos, professores e acadêmicos já haviam recebido a permissão de ir até lá e alguns deixaram escapar a menção sobre que ele guardava, mas informações concretas eram um tipo de segredo compartilhado à boca miúda. Mesmo entre os círculos de estudiosos da Cultura Maia, poucos ousavam revelar algo a respeito. Alguns cientistas evitavam se dedicar a esse tema, achavam que ele resultaria em excessiva controvérsia ou que poderia até mesmo arruinar suas carreiras. Alguns duvidavam que seriam capazes de explicar aquilo e preferiam crer que se tratava de algum tipo de fraude: provavelmente as peças não seriam verdadeiras, constituindo um embuste. O próprio Professor Cabrera não discutia a respeito, ele aceitava as opiniões advindas de seus colegas e não tentava corroborar ou desacreditar aquilo que tinha em seu poder. As peças simplesmente estavam ali... em seu poder.
No outono de 1992, três pesquisadores britânicos viajaram para a América do Sul em uma expedição de seis meses para o Equador e Ilha de Páscoa. Eu os acompanhei afim de registrar sua viagem na qualidade de fotógrafo oficial da expedição. Por um acaso do destino, eles haviam encontrado um colega que estava fazendo um trabalho na Universidade de Quito, o Professor Elliot Gordon de Oxford. Conversaram em um bar e este confidenciou que havia recebido autorização de visitar o Museu de Ica e o Professor Javier Cabrera. Os olhos de meus colegas se arregalaram ante a menção desses nomes.
Gordon, um britânico bronzeado pelo sol equatorial e com forte sotaque de Devon era um conhecido de Cabrera e quando mencionou para onde estava indo, incendiou a curiosidade de meus companheiros. Confesso que eu sabia pouco - ou quase nada a respeito de Cabrera, sobre seu museu e sobre o que ele mantinha lá. Meus colegas, no entanto, estavam impressionados e logo se puseram a pedir - quase implorar, para companhar Gordon até Ica. Nas palavras deles, aquela seria uma oportunidade única e embora Ica ficasse longe de nossa rota, eles simplesmente precisavam visitar o lugar, mesmo que no final das contas a visita resultasse em uma negativa.
Quando perguntei qual era a razão de tanta comoção, eles disseram que o Museu de Ica possuía uma coleção misteriosa e que seu curador, o tal Professor Cabrera raramente permitia visitantes, mesmo aqueles com credenciais acadêmicas. Meus colegas estavam dispostos a visitar o lugar apenas na possibilidade de serem admitidos, o que me parecia loucura, sobretudo por que no dia seguinte seguiríamos para o litoral para aguardar nosso transporte até a Ilha de Páscoa. É claro, acabei concordando pois eles estavam irredutíveis. Se eu dissesse que não iria, provavelmente me deixariam ali sem sequer se despedir.
De comum acordo, acabamos fazendo a tal viagem. Chegamos a Ica exaustos em um dia chuvoso e cinzento, a cidade era pequena e com apenas uma pousada onde nos registramos mais para deixar as malas do que qualquer outra coisa.
Quando nos dirigimos para o Museu para encontrar o Professor Cabrera, todos ficamos amargamente desapontados. O Museu estava fechado e não havia ninguém capaz de nos ajudar. Fomos informados então por um vigia que o Professor Cabrera havia embarcado em uma viagem urgente para a Europa. Que ironia: um grupo de europeus fez a longa jornada até Ica no Peru, para visitar o Professor Cabrera, enquanto ele estava viajando para a Europa. Aparentemente, o Professor havia tentado repetidas vezes contatar Gordon e cancelar a visita, mas os meios de comunicação disponíveis falharam miseravelmente.
Frustrados, resolvemos retornar à nossa pousada e esperar a chuva passar. Os informes que recebemos davam conta que as estradas estavam bloqueadas em face de deslizamentos que impediam o retorno a Quito. Os patrocinadores da expedição ficariam furiosos, provavelmente perderíamos o transporte agendado até a Ilha de Páscoa o que atrasaria o início de nossos trabalhos. Meus colegas estavam especialmente desolados e como nada podia ser feito, resolvemos descer para um bar e afogar nossas mágoas bebendo o que estivesse à disposição. Gordon que estava para retornar ao Equador conseguiu um transporte com um conhecido, mas ele não poderia levar mais ninguém com ele. Sentindo-se culpado pelo ocorrido, ele pediu mil desculpas. arrumou suas malas e partiu antes de anoitecer deixando-nos sozinhos numa mesa da Taverna Quinteros, um antro numa das áreas mais insalubres de Ica.
Enquanto estávamos lá, bebendo, um senhor de meia idade, bem vestido e com um inglês perfeito se aproximou de nossa mesa e se apresentou como sendo Hernan Cabrera Darquea, irmão do curador do Museu de Ica. Ele soube o que havia acontecido e resolveu vir até nós para pedir desculpas pessoalmente pelo transtorno. Hernan era um empresário local e um sujeito agradável que aceitou nosso convite para sentar e partilhar de uma rodada. Após várias rodadas, Hernan candidamente confirmou a existência da coleção secreta mantida no porão do Museu: "Ah sim, eu já vi... Uma coisa que me deu arrepios!" ele comentou entre um gole e outro de Pisco - um aguardente local que descia queimando a garganta e aquecia o estômago.
Finalmente depois de falar um pouco a respeito dos artefatos, ele sorriu e disse: "Vejo que os senhores são pessoas de boa índole. Por acaso, meu irmão deixa comigo a chave para o Museu e da porta para o porão. Não creio que ele negasse seu acesso a coleção", ele disse de maneira simpática, "É claro, se os senhores ainda desejarem visitar o lugar", completou.
Meus diletos colegas ficaram imediatamente sóbrios, todo o álcool em seu sistema evaporou de um instante para o outro.
Meus olhos lentamente se acostumaram com a luz fraca do porão. O ar abafado estava coberto de poeira. Diante de nós se estendia um corredor estreito cujo tamanho nós podíamos apenas supor. À direita e esquerda haviam prateleiras que subiam até o teto do aposento subterrâneo. Era uma sensação claustrofóbica indescritível. Centenas, não, milhares de miniaturas e estatuetas de barro cozido e pedra estavam colocadas ali, lado a lado, cobrindo cada espaço. Estava claro que em diferentes momentos novas prateleiras haviam sido instaladas para criar mais espaço e acomodar a coleção de misteriosos itens.
Centenas de esculturas, estranhas e até certo ponto perturbadoras ocupavam a maior parte da coleção. Nas sombras, iluminadas por lâmpadas penduradas em fios, era impossível precisar os detalhes ou compreender o que estávamos vendo. Meus colegas estavam sem palavras, pareciam náufragos em uma Atlântida mítica de tesouros inestimáveis. Mas mesmo sob a luz pálida e amarelada nós podíamos perceber a importância de tudo aquilo.
O ar seco e poeirento fez com que eu tossisse. Lentamente tomei a frente para dedicar alguns instantes a observar a coleção nas prateleiras com mais cuidado. A maioria delas consistia de figuras humanoides que formavam um grupo grotesco por si só. Em várias delas era possível ver uma figura deitada em uma espécie de mesa e uma segunda posicionada atrás dela "tratando" daquela prostrada diante de si. A variação dessas imagens era mínima, em cada uma víamos uma figura realizando algum tipo de procedimento cirúrgico: abrindo, examinando, removendo órgãos em outra figura em posição de completa subserviência. Em várias cenas, o "cirurgião" realizava a operação em alguém cuja expressão era de inegável terror, de inigualável pavor primitivo diante do desconhecido. Se algo estava claro, e saltava à minha percepção é que aquilo não visava a cura ou o benefício do indivíduo operado. Não se tratava de uma cirurgia com o intuito de ajudar; os motivos sinistros só me faziam detestar aquilo a medida que eu observava.
O que realmente causava um efeito inquietante em mim, e nos demais, não era o fato de que estávamos vendo cenas de cirurgias praticadas na antiguidade, mas que os cirurgiões usavam estranhas máscaras de animais que os deixavam estranhamente... inumanos!
Eram grupos inteiros de indivíduos usando máscaras de sapo, de peixe, de pássaro, de réptil, para praticar sua tarefa sanguinolenta. Dezenas, não, centenas de cirurgias estavam representadas ali. As figuras portavam facas, serras e pedras afiadas de sílex, nenhuma delas transparecendo qualquer sentimento de compaixão médica, ou a menor intenção de livrar pessoas de suas aflições, não, a impressão geral é que eles estavam abusando de seus pacientes (ou seriam vítimas?). Eu não conseguia afastar a impressão de que estes pobres diabos não passavam de cobaias sendo medonhamente dissecadas por pesquisadores com sede de conhecimento e sem o menor resquício de ética.
O pior é que quanto mais nós olhávamos as peças, mais ficava claro que a noção inicial, de que os "médicos" se valiam de máscaras, não era verdadeira. Os cirurgiões em algumas peças não pareciam sequer humanos. Suas feições eram estranhas, exageradas, grotescas e exóticas além de qualquer descrição. Olhos grandes, bocas rasgadas, braços compridos, mãos com múltiplos dedos...
Um de meus colegas se aproximou com cuidado e deixou escapar um sussurro rouco: "Meu Deus! O que é isso..." disse lançando a pergunta no ar sem qualquer esperança de alguém conseguisse responder.
Eu examinei centenas de peças onde figuravam aquelas criaturas. Agradeço que o segredo sórdido da coleção do Professor Cabrera tenha sido revelado naquela luz tênue - se eu pudesse ver tudo, com o auxílio de uma luz mais reveladora, sinto que teria minha sanidade testada até seus limites. As peças estavam arrumadas sem uma aparente ordem e Hernan pediu que nada fosse tocado ou movido de lugar: "São muito frágeis" ele assegurou apontando para uma série de caixas de papelão que serviam para estocar as peças avariadas envoltas em jornal e palha.
Nós concordamos, mas então perguntei se poderia fazer algumas fotografias. Ele pareceu em dúvida a respeito desse pedido. Hernan não tinha certeza se o irmão gostaria que as fotos fossem feitas, e eu assegurei que pediria a ele autorização para divulgar as fotografias posteriormente. Ele pensou por alguns instantes e acenou ainda hesitante com a cabeça.
Boa reportagem mas têm um erro meio grosseiro o artigo se fala sobre os Maias, mas as peças são do sul do Peru, Ica fica próximo da região de Nazca, então as estatuetas poderiam ter relação com civilização pré-Incaica de Nazca
ResponderExcluirEu li sobre transplante de cérebro numa ilustração inca na antiga revista planeta. Para mim, não é novidade este tipo de "arte". O que me impressionou é a quantidade de peças.
ResponderExcluirPode ser que sejam os Anunnaki que poderiam ter feito este procedimento a oito ou doze mil anos atrás. Usando os humanos como cobaias e/ou algum procedimento de "aprimoramento" mecânico em seus "bio-robôs". (Sim, os Anunnaki viam a Humanidade dessa forma, segundo algumas narrativas mitológicas).
Em suma, não foi surpresa para mim este tipo de procedimento com humanos no passado, o que causou surpresa é o número de peças.
Parabéns pelo texto. ^___^b
fontes?
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