Cinema Tentacular: A Autópsia de Jane Doe (The Autopsy of Jane Doe, 2016)
Ela não vai receber nenhum prêmio pela sua interpretação como o cadáver não identificado em "A Autópsia de Jane Doe", mas a jovem atriz Olwen Catherine Kelly - que permanece nua e imóvel em uma mesa de metal durante toda duração do filme - vai ser lembrada por todos que assistirem esse filme. No início ela parece mais um adereço de cena do que um personagem, mas aos poucos o corpo pálido e gelado de Kelly se mostra o centro de um terrível mistério.
O roteiro de Autópsia de Jane Doe esteve rolando por Hollywood desde 2013 em busca de algum produtor que o aceitasse na íntegra. Uma das condições dos roteiristas era que o filme fosse produzido sem mudanças em seu texto, NENHUMA!
Talvez esse grau de comprometimento tenha gerado grandes dificuldades, afinal de contas, "Jane Doe" não é um filme fácil d elevar para a tela. Ele se passa inteiramente em um único ambiente, com uma personagem completamente nua e no decorrer de uma sangrenta (e detalhada) autópsia. Ainda assim, ele atraiu os ótimos atores Emile Hirsch e Brian Cox que assinaram o contrato para estrelar o filme sem pestanejar. É provável que eles tenham sido influenciados pela escolha do diretor, o norueguês Andre Ovredal de Troll Hunter. Em 2010, esse pequeno filme que marcou a estréia do diretor se tornou um inesperado sucesso de crítica e público ao redor do mundo. [Leia AQUI a nossa resenha de Troll Hunter.]
Ovredal aliás, mostra nesse seu primeiro trabalho fora da Noruega que o sucesso de Troll Hunter não foi sorte de principiante. Ele consegue criar um filme instigante e aterrorizante na medida certa. Como bom diretor do gênero, ele sabe bem que o coração de todo filme de horror é a atmosfera, aquela sensação angustiante na qual os espectadores vão sendo envolvidos e da qual não conseguem desgrudar os olhos. A personagem título não precisa mover um único músculo para causar sustos de verdade e criar uma sensação de claustrofobia ao longo de seus 99 minutos.
A história bem amarrada começa quando a polícia se depara com uma sangrenta cena de crime nos subúrbios de Grantham, Virgínia. Quatro pessoas foram assassinadas em uma casa, e cada um deles parece ter sido morto enquanto tentava escapar. As coisas ficam mais estranhas quando os detetives descobrem o corpo de uma mulher meio enterrada no porão. Ela não aparenta ter sofrido nenhuma violência e ninguém sabe qual a sua ligação com a chacina.
Desesperado por respostas que possam ajudar a elucidar o crime, o xerife local envia o cadáver para o legista mais conceituado da cidade, que comanda uma funerária que é o negócio da família há gerações. O delegado quer que o legista Tommy Tilden (Brian Cox) e seu filho Austin (Emile Hirsh) trabalhem no corpo, ou seja o abram e descubram alguma pista que ajude no caso. Há muitos questionamentos a respeito do cadáver, cuja identidade permanece desconhecida. Quem é ela e por que estava enterrada no porção? Qual foi a causa da sua morte já que ela não aparenta ter qualquer ferimento? Por que a sua língua foi cortada? O que fez seu sangue não ter coagulado? O que são as marcas em seus órgãos internos? Qual a ligação dela com os outros mortos?
Todas essas perguntas e muitas outras vão sendo respondidas ao longo de uma noite escura e com uma terrível tempestade ser preparando para despencar.
Aproveitando o ambiente sinistro em que se passa a história, o diretor explora cada centímetro da Casa Funerária da família Tilden em todo seu potencial macabro. Tommy e Austin, pai e filho, trabalham em um ambiente propício para a ocorrência de coisas bizarras, mas habituados ao ambiente sinistro eles demoram a se convencer do pesadelo no qual estão embarcando. Entre indícios preocupantes que incluem ratos mortos, quedas de energia e uma música antiga que fica se repetindo no rádio, as coisas avançam de mal a pior, antes mesmo deles fazerem a primeira incisão.
Um aviso honesto: "Jane Doe" não economiza nas cenas de autópsia com direito a muito sangue e tripas. É um tal de bisturi cortando, serras rachando e instrumentos perfurando que você se sente num episódio hardcore de Plantão Médio. E essas cenas com procedimento médicos mostrados em detalhes tornam o filme ainda mais enervante por serem extremamente realistas.
A medida que os legistas começam a descobrir as pistas doentias escondidas no corpo, uma mais bizarra que a anterior, um panorama perturbador começa a ganhar forma e nenhuma explicação parece se encaixar, exceto a que aponta para uma força sobrenatural.
A dupla de protagonistas compartilham de uma química invejável no papel de pai e filho e conseguem vender perfeitamente a ideia de que são parentes. A hesitação de Austin em aceitar assumir os negócios da família e as esperanças de Tommy em passar a tocha adiante fornecem um pano de fundo para que eles desenvolvam suas personalidades. Os atores conseguem uma sintonia invejável e você se importa com eles e torce para que escapem da situação em que se meteram.
O mistério que cerca a personagem título de "Autópsia de Jane Doe" é tão intrigante que ficamos nos questionando a respeito dela mesmo após o fim do filme. A história absurda sugerida por um dos personagens para explicar o que está acontecendo jamais é corroborada e fica aquela sensação de que pode haver mais coisas ocultas. Seria a garota apenas mais uma vilã macabra de filme de horror ou uma trágica figura que se tornou maligna em face das terríveis injustiças pelas quais passou? O filme deixa pontas soltas e não vou me surpreender se ele tiver uma sequência que explore mais a fundo a identidade de Jane Doe.
Existem outros elementos a serem louvados no filme além do roteiro e atuações. As imagens são escuras e elegantemente sinistras, a edição rápida tem um ritmo impecável com enquadramentos estranhos e a direção de arte dá um show ao recriar em detalhes uma casa funerária. Está tudo lá: as gavetas de guardar cadáveres, a mesa de dissecação, os instrumentos afiados que chegam a dar nos nervos e é claro cadáveres. A música também contribui para criar o clima certo para os sustos.
O filme começa devagar, mantendo um fogo lento que vai cozinhando o público, mas lá pela metade a coisa pega fogo com situações de limite e insanidade. Os personagens se veem presos num pesadelo do qual não conseguem despertar e de onde não parece haver escapatória. E quando você acha que já está ruim, pode acreditar: piora!
É claro, nem tudo é perfeito. Em certos momentos, o diretor não resiste a apelar para alguns sustos baratos, como o irritante clichê do gato que salta do nada, mas há também sustos genuínos, muito bem orquestrados, como por exemplo um sininho colocado na cintura de um dos cadáveres que começa a produzir um som apavorante na escuridão. Esse é de uma tensão impressionante.
Tem muita coisa boa em "The Autopsy of Jane Doe" mas não posso (e não vou) falar demais para não estragar a diversão e dar spoilers. Os fãs do gênero não vão ficar desapontados e aqueles que procuram por um entretenimento um pouco mais durador do que os esquecíveis filmes da temporada passada - dos quais só se salvou "A Bruxa", vão se surpreender.
Se você está procurando por algo para assistir com os amigos em uma noite escura de tempestade, então essa é uma excelente opção para saciar sua sede de sustos e arrepios.
O Horror moderno, com pouquíssimas exceções, não me atrai. Sinto falta de algo que me faça gelar o sangue... Estou muito ansioso pelo THE VOID (2016), que aparenta ser um belo exemplar do Horror Cósmico: https://www.youtube.com/watch?v=mAh1khwyBbg Lá pelo 1:18 do trailer, aparece uma criatura, que achei idêntica à uma ilustração do Paul Carrick http://2.bp.blogspot.com/_EcPIkSX_XIU/SyFjwNom__I/AAAAAAAABJE/u0_3IHS6rFM/s320/N1haunter.jpg
Tem outro que também parece ser interessante: https://www.youtube.com/watch?v=5gPjXFjoa5Y
Vlw Luciano. Estava caçando algo novo pra ver, mas como tudo é uma porcaria pior q a outra até desanima. Mas seu review me atraiu, já temos algo pra ver nesse feriadão
Cara, fantastica dica! O filme merece respeito, especialmente nos 30-40 minutos inicias, onde se desenrola mais o mistério. Acho que ele talvez tenha se perdido no desenrolar do tema, mas a premissa é maravilhosa!!! Tive altas ideias para Cthulhu!
O Horror moderno, com pouquíssimas exceções, não me atrai. Sinto falta de algo que me faça gelar o sangue...
ResponderExcluirEstou muito ansioso pelo THE VOID (2016), que aparenta ser um belo exemplar do Horror Cósmico:
https://www.youtube.com/watch?v=mAh1khwyBbg
Lá pelo 1:18 do trailer, aparece uma criatura, que achei idêntica à uma ilustração do Paul Carrick
http://2.bp.blogspot.com/_EcPIkSX_XIU/SyFjwNom__I/AAAAAAAABJE/u0_3IHS6rFM/s320/N1haunter.jpg
Tem outro que também parece ser interessante:
https://www.youtube.com/watch?v=5gPjXFjoa5Y
Vlw Luciano. Estava caçando algo novo pra ver, mas como tudo é uma porcaria pior q a outra até desanima. Mas seu review me atraiu, já temos algo pra ver nesse feriadão
ResponderExcluirOpa tá ai uma coisa interessante para ver hoje à noite.
ResponderExcluirCara, fantastica dica! O filme merece respeito, especialmente nos 30-40 minutos inicias, onde se desenrola mais o mistério. Acho que ele talvez tenha se perdido no desenrolar do tema, mas a premissa é maravilhosa!!! Tive altas ideias para Cthulhu!
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