quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Rosto Retorcido - O Mistério do "Gurning Man" de Glasgow


O mistério do "Gurning Man", cuja tradução poderia ser algo como "O Homem do Rosto Retorcido", tem relação com estranhas aparições e o desaparecimento de um estranho indivíduo em pleno ar. Seria um louco? Uma ilusão de ótica? Um viajante do tempo ou talvez de uma realidade paralela? Quem quer que ele tenha sido, com toda certeza semeou o medo em todos aqueles que tiveram o azar de encontrá-lo.

As primeiras aparições do "Gurning Man" datam do final da década de 1970. A maioria dos encontros com o estranho ser tiveram lugar em Glasgow, na Escócia, nos arredores do distrito de Crosshill, na parte antiga da cidade, em um horário compreendido entre as 19 e 22 horas.

De maneira completamente inesperada, mulheres começaram a relatar a aparição de uma figura parecida com um homem de média estatura, mas com o comportamento de um lunático. Os avistamentos foram reportados ao longo de três anos (entre 1976 e 1979) e muitas das testemunhas estavam tão traumatizadas que resolveram deixar a região em que viviam e se mudar para lugares diferentes, quanto mais longe melhor. Outras escolheram nunca mais passar por aquelas ruas, tamanho o trauma deixado pelo encontro.

Uma dona de casa de cinquenta anos que vivia com esposo e filhos, foi a primeira pessoa a mencionar a estranha criatura. Ela despertou no meio da noite e percebeu uma sombra sentada na beira da cama de seu quarto. Parecia um homem com as mãos pousadas sobre o rosto e por um momento, ela achou que se tratava de seu marido. Ele parecia chorar ou rir de forma maníaca, o peito arfando profundamente. Quando ela se moveu para perto dele, a figura removeu as mãos do rosto e ela conseguiu ver que se tratava de uma face totalmente retorcida, como se estivesse borrada e fora do lugar. 

A mulher tentou gritar mas não conseguiu emitir nenhum som e acabou desmaiando enquanto buscava a porta para fugir. Ela foi encontrada caída no chão do quarto, e quando retomou a consciência horas depois, contou o que havia acontecido. A casa não apresentava nenhum sinal de arrombamento e a única coisa da qual ela sentiu falta foram alguns pratos, uma cortina e alguns talheres que sumiram da cozinha, nada de valor. 

Felizmente ela não foi ferida, mas sempre que tentava descrever o invasor era acometida de uma crise histérica incontrolável, sobretudo quando falava de sua face retorcida. A mulher foi dissuadida pelos filhos e pelo marido de prestar queixa e apenas meses mais tarde, quando outros casos chegaram aos jornais, ela procurou as autoridades.


O avistamento poderia ser facilmente descartado como uma brincadeira de mau gosto, mas foi apenas o primeiro de múltiplos relatos, sempre de mulheres que viviam na mesma região de Glasgow.

Alguns dias mais tarde, duas adolescentes tiveram um encontro igualmente horrível com a bizarra criatura que surgiu na porta da casa onde elas moravam a pouco mais de 500 metros da primeira vítima. Enquanto voltavam para casa depois de uma festa, perceberam um sujeito sentado nas escadas da entrada de seu prédio. Segundo a descrição, era um homem de idade, com pelo menos 50 anos, com alguns poucos cabelos brancos, extremamente magro e vestido com uma roupa fora de moda. O sujeito parecia agitado e seu peito arfava como se estivesse sofrendo um tipo de ataque. 

Ele permanecia com a cabeça baixa e por vezes respirava alto produzindo um tipo de ronco roufenho quase como uma respiração asmática. As garotas perceberam ainda que as luzes dos postes que deveriam iluminar a rua estavam apagados e por isso não conseguiam discernir ao certo a expressão do homem.

A medida que se aproximaram, tiveram uma sensação estranha, descrita como um "temor incontrolável". Uma delas se virou e pôs-se a correr na direção contrária, a outra ficou paralisada assistindo enquanto o estranho se levantava e caminhava vacilante na sua direção. Segundo a testemunha, a figura era baixa e atarracada, movia-se com um tipo de ginga desajeitada como se as pernas não fossem do mesmo tamanho. Mas o pior era o rosto aterrador: todo retorcido com uma boca larga, bochechas cavadas, olhos desproporcionais e um nariz achatado. O cabelo branco e desgrenhado, com fios longos corria pelo escalpo. Ele deu três ou quatro passos em sua direção e parou a alguns metros apenas quando ela encontrou sua voz e pôs-se a gritar desesperadamente. Nisso a criatura fez algo ainda mais estranho, começou a imitar os gritos da jovem, enquanto ria sem parar.

A moça contou que ficou em choque, sentiu que ia perder a consciência. Quando olhou novamente o "Gurning Man"  havia desaparecido como se nunca tivesse existido. Os gritos atraíram vizinhos e a polícia que colheu os depoimentos. Um dos detetives que respondeu ao chamado, relatou atônito que aquele era o terceiro informe a respeito de um homem estranho de face retorcida e comportamento bizarro. Assim nascia a lenda do Gurning Man.


Nos meses seguintes, outras mulheres viram a bizarra aparição. No total 17 mulheres afirmaram ter cruzado o caminho da figura de face retorcida na área de Crosshill entre 1976 e 1979. Onze dos encontros ocorreram no meio da rua, enquanto outros seis tiveram lugar dentro da casa com algum morador acordando ou se deparando com ele. Todos os testemunhos descreviam o homem da mesma maneira: um idoso com aproximadamente 50 anos, quase calvo, exceto por alguns fios esparsos de cabelo branco, extremamente magro, vestindo uma roupa antiquada. Seus movimentos eram agitados, sua respiração falhava, produzindo um ronco frequente que lembrava um ataque de asma. A face parecia se desmanchar, como se a pele estivesse derretendo e escorrendo pelo rosto como uma máscara de lama ou uma vela derretida. Os olhos eram pequenos e azuis segundo a maioria, a boca larga e rasgada com dentes se projetando nos cantos. Ele andava de maneira desajeitada, mas isso não o impedia de correr e empreender perseguições em mais de uma ocasião.

Contaram ainda que ele ria e que sua risada talvez fosse a pior coisa a seu respeito. Era como uma risada de velho, ofegante e abafada, entremeada por ruídos de pigarro seco. Era acima de tudo uma risada de escárnio, pois ele sempre se divertia quando a testemunha se via incapaz de escapar ou gritar. Aliás, esse era um detalhe perturbador presente em vários relatos. As mulheres se mostravam incapazes de reagir, sentiam náusea, tontura, vertigem e um medo paralisante. Muitas ficavam tão aterrorizadas que estacavam, não conseguiam se mover e eram encontradas inconscientes, tomadas de um horror tamanho que as fazia desmaiar.

Nenhuma entretanto, chegou a apresentar ferimentos físicos. Mesmo aquelas que relataram ter sido tocadas pelo desagradável ancião enquanto se encontravam paralisadas, afirmaram não terem sido machucadas por ele. Muitas no entanto perceberam que algo lhes faltava: um lenço, um sapato, uma chave, uma revista ou um estojo de pó compacto. Algumas carregavam carteiras ou objetos de valor, mas estes não eram levados, ao invés disso, itens corriqueiros tendiam a sumir.

Outro elemento curioso era o fato do Gurning Man simplesmente desaparecer no ar. As testemunhas que o encontravam não conseguiam explicar como se dava esse desaparecimento, ele simplesmente estava lá em um determinado momento, e no seguinte, havia sumido sem deixar rastro. Durante o auge dos avistamentos em 1977, grupos de vigilância se formaram para trazer à justiça a incômoda aparição, mas ninguém conseguiu encontrar sinal dele. Ainda assim, o Gurning Man continuava aparecendo para as mulheres que escolhia aparentemente ao acaso.

Em outubro de 1979, ele fez a sua última aparição em um parque de Crosshill. Duas amigas relataram que a estranha figura surgiu próxima a um banco e se aproximou delas em passos vacilantes com seu movimento característico. As duas conseguiram conter o pavor que ameaçava dominá-las e fugiram gritando por socorro. Um grupo de pessoas que estava em um pub correu para acudi-las e em seguida para o parque onde contaram ainda ter visto um sujeito correndo. Mas ao seguir na mesma direção não acharam sinal dele.

Ao longo dos anos, surgiram suposições sobre a identidade do homem. Alguns supunham que ele pudesse ser um interno de uma casa de repouso que ficava no distrito próximo. Outros achavam que pudesse ser um morador de rua que se escondia durante o dia no subterrâneo da cidade usando as galerias de esgoto como sua casa. Esses suspeitavam que conhecendo os corredores subterrâneos ele podia facilmente "sumir" e reaparecer em outros cantos da cidade. Diaiam que ele usava uma máscara de látex para esconder o rosto, uma máscara que lhe deixava com uma aparência de velho.

Finalmente, alguns ofereceram explicações mais metafísicas, alegando que o Gurning Man poderia ser o espírito de um homem que viveu naquela vizinhança séculos antes e que morreu em um incêndio que destruiu várias casas. O rosto desfigurado poderia ser resultado de um acidente, talvez de uma queimadura. Defensores de teorias envolvendo viajantes dimensionais afirmavam que a misteriosa figura poderia ser alguém que em um momento de crise acabou rompendo o véu do tempo aparecendo em uma época que não era sua. O pânico e o desespero deflagrado pelo incêndio teria causado essa fissura que permitia a ele cruzar para nossa linha temporal. Isso explicaria a respiração típica de alguém que inalou fumaça, seus ferimentos e o fato dele usar roupas condizentes com alguém que viveu no século XVII. 


Parapsicólogos tentaram provar essa última teoria, pesquisando o passado de Crosshill e descobrindo uma velha história a respeito de um habitante da vizinhança que teria sofrido queimaduras horríveis durante o tal incêndio e que por isso saía apenas à noite. Infelizmente não conseguiram qualquer comprovação a respeito dessas narrativas.

O mistério do Gurning Man de Glasgow jamais foi solucionado. Sua última aparição deixou um vácuo de perguntas sem respostas. Quem era ele? Seria produto de uma alucinação coletiva ou uma pessoa real? Seria alguém que ingressou em nosso universo por acidente e se viu impedido de partir?

Quem quer que tenha sido, as pessoas em Glasgow ainda se recordam da figura e de seu nome, um nome que ainda evoca terror após tantos anos.

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