A polícia dinamarquesa anunciou no início de outubro a descoberta
de restos humanos, que pertenciam à jornalista sueca Kim Wall, que
desapareceu em meados de agosto, quando pretendia realizar uma reportagem a
bordo de um submarino projetado pelo inventor Peter Madsen. Ela havia viajado
para a Dinamarca com o intuito de conduzir uma entrevista especial para seu
programa.
Kim, de 30 anos de idade, era uma profissional bastante conhecida
na Suécia, respeitada pelas suas reportagens investigativas nos países
nórdicos. Wall era tida como uma das principais jornalistas da Suécia, âncora de dois
programas de variedades com grande audiência e ganhadora de diversos prêmios.
Ela residia na Suécia, mas era contratada de emissoras norte-americanas para quem prestava serviços de correspondente internacional nos países nórdicos.
O desaparecimento da repórter vinha sendo investigado pela polícia
dinamarquesa, que pediu auxílio da Interpol para tentar elucidar o caso.
Temia-se até mesmo por possíveis retaliações, da parte de grupos criminosos e
neonazistas, que haviam feito ameaças contra a vida da repórter. A medida que as investigações progrediam, a verdade se mostrou ainda mais bizarra e perturbadora.
Kim teria desparecido após um encontro com Peter Madsen. O
inventor afirmava que os dois haviam realizado uma entrevista preliminar a bordo
do submarino experimental de Madsen, mas que esta seria repetida a pedido da
repórter na semana seguinte. Ela não entrou mais em contato depois desse
suposto encontro e não respondeu a nenhuma tentativa de contato por parte da assessoria de Madsen.
Os primeiros indícios de que algo sinistro havia acontecido foram encontrados cinco dias após o sumiço da repórter, quando um saco contendo
roupas, mais tarde identificadas como pertencentes a Wall, foi achado numa
praia. As roupas estavam enroladas junto com uma faca e dois tubos de metal
pesado para que afundassem. Sinais de sangue sinalizavam uma tragédia. O saco
plástico foi lançado pelas ondas numa praia isolada na Baía de Koge, cerca de
50 quilômetros ao sul de Copenhague.
A polícia decidiu manter a descoberta em segredo enquanto conduzia
buscas com mergulhadores contratados para vasculhar todo litoral. Análises da
maré determinaram onde um corpo poderia aparecer com maior probabilidade. Três
dias mais tarde, os mergulhadores descobriram um par de pernas enrolados em uma
lona, junto com pesos de chumbo que forçaram seu afundamento.
Antes mesmo do exame de DNA ser realizado, os mergulhadores
encontraram uma sacola de viagem contendo uma cabeça de mulher. Um dentista
legista confirmou que se tratava da cabeça de Kim Wall. O torso foi achado
alguns dias mais tarde enterrado em uma praia na mesma região, os membros
haviam sido deliberadamente seccionados, segundo a necropsia, com o uso de uma serra.
Para a polícia, o principal suspeito do crime, desde o início, era
o engenheiro naval Peter Madsen, um pioneiro na pesquisa e desenvolvimento de
veículos submarinos privados. Foco da matéria que a repórter estava produzindo,
Madsen, de 46 anos, se diz inocente, apesar de todas as evidências reunidas
contra ele. Tratado como uma espécie de celebridade na Dinamarca, o inventor
foi o responsável pela construção do Náutilus, o maior e mais moderno submarino
particular do mundo. O veículo experimental com quase 20 metros de comprimento
foi totalmente desenvolvido por Madsen, que havia firmado um contrato com
importantes empresas para exploração submarina.
Três dias após o suposto encontro com a repórter, Madsen foi
resgatado pelas autoridades dinamarquesas em Oresund, entre a costa da
Dinamarca e Suécia, após o inesperado naufrágio do Nautilus. A polícia acredita que o
inventor provocou o naufrágio propositalmente para ocultar pistas que
poderiam ser encontradas a bordo do veículo. A embarcação foi localizada e
erguida à superfície, mas a perícia não foi capaz de encontrar evidências à
bordo dos compartimentos que foram totalmente alagados.
Detido logo após a confirmação de que a cabeça pertencia a Kim
Wall, Madsen foi indiciado por assassinato e atentado a integridade de um
cadáver.
Interrogado a respeito de seu envolvimento, o inventor à princípio
negou saber de qualquer coisa, mas posteriormente mudou sua versão, afirmando
que durante a entrevista com a repórter dentro do Nautilus, esta sofreu um
"acidente fatal". Uma porta de escotilha pesando mais de 70 quilos
teria atingido a cabeça de Kim, fraturando o seu crânio. Temendo a repercussão
negativa, o inventor decidiu lançar o corpo ao mar próximo da Baía de Koge. De
acordo com seu relato, o cadáver estava intacto, sem qualquer outro sinal de
violência.
A perícia, no entanto, examinou a cabeça e ressaltou que o crânio
não apresentava qualquer sinal de fratura causada por choque.
O caso se tornou ainda mais bizarro quando a vida pessoal de Peter
Madsen começou a ser esmiuçada pelos investigadores. Rico, casado e
bem-sucedido, Madsen havia sido acusado na juventude de violência sexual, mas o
delito foi removido de sua ficha criminal por ter sido cometido quando ele era
menor de idade. Ele não se envolveu em nenhuma outra atividade criminosa desde
então. Testemunhas que tinham uma vida próxima de Madsen vieram à público afirmando que ele tinha um comportamento considerado peculiar quanto a uma série de temas. Algumas colegas o consideravam misógino e agressivo, sobretudo ao tratar com mulheres.
A acusação alega que o inventor assassinou Kim Wall para
satisfazer uma série de perversões sexuais e que, em seguida, desmembrou e
mutilou o corpo para que este não fosse descoberto. O exame pericial
estabeleceu que a causa da morte foi perda maciça de sangue, o que pode indicar
que a vítima foi desmembrada ainda viva! Foram encontrados, além disso,
múltiplas mutilações infligidas na área genital da vítima e sinais de violência
sexual.
A polícia relacionou os ferimentos sofridos, inclusive incisões
genitais, cortes profundos e queimaduras por cigarro, com ferimentos
encontrados em cadáveres de mulheres achados em alto mar. As investigações
apontam que Peter Madsen pode ter feito várias outras vítimas e que ele
costumava se livrar dos corpos, desmembrando-os e depois lançando-os ao mar enquanto
testava seu submarino. Restos humanos, pertencentes a mulheres, sobretudo
prostitutas, em condições similares à sofrida pela repórter, foram encontrados
nos últimos cinco anos. Investigadores dinamarqueses já suspeitavam da ação de
um assassino em série, mas não tinham ideia do modus operandi dele.
Não está descartada a possibilidade de que Madsen usou o
Nautilus como palco para este e muitos outros assassinatos. Supõe-se até que o
assassino levava as mulheres para o interior do submarino, que servia como um
local seguro para sessões de tortura e morte e onde, mais tarde, era realizada
a vivisseção dos cadáveres. A notícia bombástica repercutiu na Dinamarca e
causou embaraço para várias celebridades da política e negócios, uma vez que o
acusado era amigo de pessoas influentes.
O mais chocante ainda estava para ser descoberto.
A polícia descobriu que Peter Madsen possuía uma casa alugada com
nome falso no litoral de Koge e que costumava passar algumas noites no imóvel
sob pretexto de estar trabalhando. Um computador foi apreendido dentro da casa
e nele os peritos descobriram um disco rígido contendo várias horas de
filmagens com torturas, cirurgias e decapitações. As vítimas nas filmagens,
descritas como abomináveis pela Promotoria de Copenhagen, eram todas mulheres,
algumas já identificadas como vítimas cujos restos apareceram na área.
Policiais que tiveram acesso ao conteúdo do computador afirmam que
o material fetichista é aterrorizante e denota que Madsen vinha agindo há muito
tempo, certo de sua impunidade. Nas imagens, o responsável pela tortura não
pode ser identificado por usar máscara o tempo todo.
O inventor nega que o computador fosse seu e alega que está sendo
vítima de uma campanha de difamação em face de seus contratos estabelecidos. No
momento ele se encontra preso sob a acusação formal de assassinato. Ele vem
sendo mantido isolado para que sua integridade seja preservada, já que foi
ameaçado de morte por outros detentos.
Os restos do cadáver da jornalista foram enviados para a Suécia.
Amigos íntimos acreditam que Kim Wall poderia suspeitar da participação de
Peter Madsen em atividades criminosas e que a reportagem a respeito do
submarino pudesse ser uma desculpa para se aproximar do inventor e avaliar suas
suspeitas. É possível que, em algum momento, suas intenções tenham sido
descobertas pelo criminoso. Outra possibilidade é que ela tenha tido apenas o
azar de ter sido mais uma vítima de um monstro.
Horrível em cada aspecto e implicação, a morte de Kim Wall mostra que monstros, cruéis e sádicos, podem surgir em qualquer lugar e se esconder sob uma máscara de normalidade e genialidade. Mas que quando esta máscara ;e removida, tudo o que resta é o horror.
Muito interessante. Parabéns pelo texto e mantenha o ótimo trabalho!
ResponderExcluirQue horror! Triste fim para essa competente repórter. Que Deus a tenha em bom lugar. E que esse monstro pague por seus crimes!
ResponderExcluirOtimo artigo, e mostrando como a realidade é terrivel.
ResponderExcluirMas senti falta de datas. Quando aconteceu tudo isso?
Terrível, simplesmente terrível.
ResponderExcluirExcelente artigo. Nao sei porque, mas essa história me lenbrou o livro Millenium: Os Homens que não Amavam As Mulheres. A real
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