Um elemento muito presente em várias histórias e lendas ao redor do mundo envolve o conceito do infame pacto com o Demônio, ou alguma outra entidade similar extremamente poderosa e influente. O acordo em geral gira em torno de uma troca de favores: um lado recebe fama, riqueza, poder, juventude, vigor ou habilidades excepcionais e em contra partida o outro abdica da sua alma imortal. Um acordo que na maioria das vezes se mostra injusto e pouco vantajoso.
Ainda que a ideia da existência de forças diabólicas e pactos com elas seja material para mitos, ficção, lendas e folclore, não faltam relatos a respeito de barganhas consideradas reais que despertam curiosidade e fascínio há séculos. Essas são fábulas estranhas a respeito de indivíduos que negociaram com as trevas em busca de benefícios e que pensaram poder levar vantagem sobre o maior dos trapaceiros.
Uma das modalidades de pacto mais frequentes ao longo da história, sem dúvida, diz respeito a atingir grande habilidade e aperfeiçoamento em uma arte, ofício ou profissão. Particularmente popular entre os músicos, eles parecem ser os que mais vezes incidem nesse tipo de barganha.
Não é necessário mencionar o brilhante violinista Giuseppe Tartini que teve sua barganha com o diabo descrita na postagem anterior, contudo o compositor italiano está longe de ter sido o único envolvido em rumores dessa natureza. Por sinal, violinistas são de longe os mais interessados. Muitos anos depois de Tartini, outro violinista clássico criaria ao seu redor notoriedade como alguém que firmou um pacto diabólico em troca do virtuosismo. Estamos falando do italiano Niccòlo Paganini.
É interessante notar que Paganini fez pouco para afastar os rumores a respeito da origem de seu brilhantismo. De fato, ele incentivava os boatos e até os encorajava, por vezes admitindo ter negociado com o demônio que lhe concedeu genialidade invejável em troca da sua alma. As histórias a respeito desse acordo tornaram Paganini extremamente popular e famoso, sem mencionar temido. A fama de Paganini estava no auge quando ele morreu subitamente em 1840. Na ocasião, a igreja se recusou a aceitar seus restos mortais e administrar os rituais fúnebres necessários para um enterro decente. Quatro anos mais tarde, o Papa finalmente permitiu que os restos de Paganini fossem sepultados em Genova, sua cidade natal, mas em um terreno ao lado do cemitério. O corpo nesse tempo todo ficou armazenado em um porão, enrolado em tecidos aguardando um lugar que o recebesse. Demorou mais 36 anos para que os ossos do genial musicista fosse aceito no jazigo da família, onde se encontra, até hoje.
Juntando-se a lista dos compositores clássicos que afirmavam ter barganhado com as trevas, está outro musicista de sucesso, o francês Phillipe Musard (1792-1859). Ele foi um músico incrivelmente bem sucedido que se apresentava em concertos em teatros como atração principal. É possível que Musard tenha sido a primeira verdadeira celebridade do mundo da música, no sentido de atrair fãs, fofocas e publicidade ao seu redor. Diferente de seus contemporâneos, Musard se apresentava em concertos acessíveis para o grande público e adorava os afagos de seus admiradores. Há relatos de que pessoas viajavam grandes distâncias para assistir seus espetáculos e que ele era igualmente popular entre a plebe e a nobreza européia. As histórias que giravam ao seu redor também impulsionavam sua fama como um dos músicos mais adorados de seu período.
Os teatros em que ele se apresentava eram espalhafatosos e chamativos. Musard exigia que o palco fosse ornamentado com móveis, flores, espelhos, velas e até mesmo estátuas que ajudavam a compor elementos cênicos até então jamais vistos em uma apresentação musical individual. Em apresentações em Paris ele chegou a exigir que o palco fosse lavado com água de rosas e perfume que serviria em suas palavras para compor a experiência de sua performance.
O estilo de Musarde se diferenciava do clássico convencional o que agradava a audiência. Por vezes ele incluía dançarinos e instrumentos incomuns para pontuar suas composições. Isso levava seus espetáculos a serem disputados por uma platéia excitada e selvagem, em nada parecida com o público que frequentava esse tipo de apresentação. Além disso, Musarde tinha uma presença de palco notável valendo-se de movimentos bruscos, corridas e gestos arrojados, enquanto os demais artistas permaneciam estáticos ou mesmo sentados.
Essencialmente Musarde era uma espécie de estrela do rock em pleno mundo da música clássica. E seu público o adorava cada vez mais! Ele se tornou um fenômeno de popularidade especialmente em Paris, onde era fácil encontrar pães e chocolates moldados com o seu rosto. Em face da sua excentricidade e desrespeito com a etiqueta da música clássica, ele começou a ganhar fama como alguém favorecido pelo demônio. Esse boato se tornou mais forte quando músicos modernos adotaram o estilo de Musard e passaram a se inspirar no seu carisma. O próprio músico se deliciava com essas histórias e se não as incentivava diretamente, não fazia nada para censurará-las. Musard foi um artista incomum para a época em que viveu e deixou uma marca duradoura na história da música clássica.
Um dos casos mais conhecidos de músico que alegadamente firmou um acordo com o diabo foi a lenda do Blues Robert Johnson (1911-1938). Ocupando o posto de número cinco na lista dos maiores guitarristas de todos os tempos da Revista Rolling Stones, Johnson foi o responsável direto pela popularização do blues no início do século XX, um gênero que mais tarde inspiraria o próprio rock and roll. Guitarristas como Eric Clapton, Keith Richards, Chuck Berry e muitos outros, afirmam que a curta carreira de Johnson serviu como inspiração direta para que eles também se tornassem guitarristas. Johnson foi largamente copiado e admirado e se tornou uma espécie de deus dentro do gênero. É claro, ele também é extremamente famoso pelo rumor de ter vendido sua alma a Satã.
Segundo a lenda, Johnson era um excelente guitarrista, mas só quando completou 18 anos de idade, se tornou realmente conhecido e admirado. Quando atingiu a maioridade ele literalmente explodiu para o estrelato, saindo do nada e conseguindo uma fama com a qual jamais havia sonhado. Seu surgimento como uma estrela em ascensão no mundo da música foi surpreendente e imediato. Sua popularidade entre negros e brancos para alguns tinha algo de sobrenatural e na mesma época ele começou a ser acusado de ter realizado um acordo com o demônio.
Johnson não apenas encorajava essas histórias a seu respeito, mas descrevia como havia feito a barganha. De acordo com ele próprio, na noite em que completou 18 anos, decidiu negociar sua alma em troca de fama, riqueza e o estrelato. Johnson relatou que buscou uma encruzilhada à meia noite e gritou alto para os quatro lados que desejava barganhar sua alma. O diabo apareceu em pessoa e ofereceu os seus termos, que o músico aceitou de imediato. Logo ele descobriu que seu estilo havia se aprimorado e começou a tirar vantagem disso em busca do sucesso.
Alusões ao seu pacto com as trevas estão presentes em várias das suas composições incluindo sucessos como Crossroads Blues (Blues da Encruzilhada) e Me and Devil Blues (Eu e o Diabo do Blues). Para aumentar ainda mais os rumores, Johnson morreu no auge da sua carreira em circunstâncias misteriosas no ano de 1938 aos 27 anos, uma idade que no mundo do show business carrega uma espécie de maldição. Vários nomes famosos faleceram ao chegar aos 27 anos; Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain, apenas para citar alguns. As causas exatas da morte de Johnson permanecem enevoadas, alguns acreditam que ele cometeu suicídio, outros que ele foi assassinado pelo marido ciumento de uma mulher com quem ele estava tendo um caso e outros que ele teria contraído uma doença. Sua morte foi tão repentina e esquisita que não se sabe exatamente se o seu corpo realmente repousa na sepultura que lhe foi arranjada às pressas. Alguns dizem que ele forjou a própria morte, sobretudo porque poucos viram o seu cadáver. Para outros, ele ainda estaria vivo.
Em algumas dessas histórias, o músico no final confronta o demônio e consegue escapar com a sua alma intacta. Em uma história curiosa, uma mulher chamada Raquel Robinson, nascida no Colorado, contou uma assustadora narrativa envolvendo seu tio que era um músico do Novo México. Ele estava a caminho de um clube noturno para uma apresentação quando parou em um posto de gasolina para verificar um ruído estranho no carro. Um atendente explicou que havia um problema no motor e que o carro deveria ficar no posto para reparos. Quando o tio explicou que precisava chegar ao clube um estranho que estava por acaso no posto entrou na conversa e ofereceu carona. Nesse ponto as coisas começam a ficar estranhas.
Uma vez no carro com o estranho, o sujeito começou a contar que costumava andar sempre por ali e que estava de olho em novos talentos. De repente, sem dar nenhum aviso perguntou se haveria alguma coisa que ele gostaria de mudar em seu estilo para ter sucesso. Depois de um momento de silêncio o tio disse que não. O homem misterioso não disse mais nada, apenas colocou uma música no som do carro. A melodia era curiosa e o tio jamais tinha escutado, mas pareceu estranhamente boa. O tio perguntou que música era aquela e ele simplesmente respondeu: "Eu conheço muitas músicas de sucesso". O estranho completou dizendo que aquela música poderia deixá-lo milionário e que se ele quisesse poderia oferecer a letra. O tio respondeu que não tinha dinheiro para pagar, e o estranho sorriu afirmando que "haviam outras maneiras de pagamento".
Eventualmente os dois chegaram até o clube noturno e o estranho resolveu estacionar e ficar para assistir ao show. Em meio ao show, o tio tocou muito bem e recebeu muitos aplausos, de fato, foi a melhor apresentação da sua vida inteira. Quando a banda resolveu fazer uma pausa para descansar entre as músicas o estranho apareceu de repente nos bastidores e disse "se você quiser, todas as noites podem ser assim. E você pode ganhar muito dinheiro e fama. Basta querer...".
Nesse momento, o tio sentiu um arrepio na espinha entendeu o que estava acontecendo. O estranho não era uma pessoa comum e sim o diabo oferecendo uma barganha. Ele sentiu uma súbita vertigem, mas conseguiu se afastar. Mais tarde, naquela noite ele contou o que havia acontecido aos outros membros da banda. Eles obviamente não acreditaram na história. O sujeito pediu a fita de vigilância da casa noturna e em momento nenhum o homem que ofereceu carona aparecia na gravação. Quando ele descreveu o sujeito e o carro que ele dirigia, ninguém lembrava de tê-lo visto. Para todos os efeitos, ele nunca existiu.
Porém, músicos não são os únicos artistas que fazem barganhas em troca de sucesso. No final do século XVII, o pintor austríaco Chistoph Haizmann afirmou ter feito um pacto para pbter enorme habilidade como pintor e uma maneira de abandonar a pobreza. Ele admitiu a história para autoridades depois de sofrer um colapso nervoso em 1677. O pintor disse que experimentava transes e nessas ocasiões perdia o controle do próprio corpo. E quando estava "apagado" ele produzia pinturas sensacionais. A história chegou até o padre católico Leopold Braun, que providenciou um exorcismo para livrar o artista da influência e do seu contrato. Durante o exorcismo, o demônio emergiu e disse que tinha um contrato assinado com Haizmann e que não abriria mão de seu negócio. O padre exigiu que o demônio tinha de mostrar o papel assinado e quando ele não pode produzir o papel, Haizmann voltou a ter o controle de seu corpo. Para todos os efeitos ele acreditava estar livre da influência maligna.
Infelimznete para ele, o episódio não foi o fim de seu sofrimento. Nos anos após o exorcismo, Haizmann experimentou um breve período de paz em sua vida até sofrer um novo colapso. Depois disso, ele passou a produzir telas cada vez mais sinistras e obscuras nas quais apareciam cenas e figuras diabólicas. As telas começaram a aterrorizar o próprio artista que alegava não lembrar de tê-las criado. Ele também afirmava ser visitado pelo demônio em seus sonhos e que nestes era lemrado constantemente da barganha pela qual não poderia se desobrigar. O artista passou por muitos outros exorcismos antes de finalmente se livrar da influência do Demônio. Haizmann passou a ter então uma vida rígida de penitência e profunda religiosidade. Em tempos modernos, especialistas acreditam que ele sofria de um quadro agudo de esquizofrenia, mas é provável que nunca saibamos ao certo.
Nem todos os acordos como Diabo são firmados com o objetivo de receber habilidade ou despertar talentos e reconhecimento. Há também histórias a respeito daqueles que vendem sua alma em troca de poder, riqueza ou ambos. É provável que o caso mais famoso de tal negociação envolva o infame líder e político britânico, Oliver Cromwell (1599-1658), que é considerado como uma das mais misteriosas e controversas figuras da História da Grã-Bretanha. Conhecido pelo seus brutais e sangrentos métodos e pela eficiência nos campos de batalha, bem como sua postura agressiva na política estrangeira no papel de Lorde Protetor, Cromwell é uma das figuras centrais na Revolução Inglesa. Suas campanhas militares eram impiedosas, marcadas por massacres e verdadeiras carnificinas que não poupavam a população civil.
Quando Cromwell morreu de malária em 1658, partidários da monarquia descobriram onde seu corpo estava sepultado, o exumaram e profanaram de várias maneiras, chegando até a encenar um enforcamento e decapitação. Quando religiosos foram chamados para intervir, nem mesmo eles quiseram se envolver, afirmando que Cromwell havia atraído aquele destino sobre si mesmo por ter servido às forças do Inferno em vida.
É verdade que ao longo de sua carreira Cromwell foi várias vezes comparado ao Demônio, a ponto de ser retratado com chifres e patas de bode em cartazes. Seus detratores diziam que sua carreira meteórica , suas muitas vitórias militares e seu carisma só podiam decorrer de um acordo com as trevas. Aqueles que defendiam essa crença mencionavam uma colossal tempestade no dia em que Cromwell morreu, um incidente que ganhou o nome de "A Ventania de Oliver" e que muitos sugeriram ter sido causada pela aparição do Diabo que havia se manifestado para reclamar a alma de Cromwell. Algumas narrativas a respeito dessa tempestade citavam que as nuvens negras tinham o aspecto de figuras sinistras e que os raios jamais foram tão fortes. Nos anos posteriores a sua morte, Cromwell ainda era tão temido que pais usavam sua figura severa para ameaçar seus filhos, como se ele fosse um tipo de "bicho papão".
Haveria alguma verdade nessas histórias fartamente divulgadas na época, ou elas não passam de mera propaganda negativa e superstição? Acordo com o diabo ou não, Oliver Cromwell continua sendo uma das figuras mais controversas e para alguns, malignas, da história inglesa.
Outro comandante militar com um histórico de boatos envolvendo barganhas demoníacas é o General Jonathan Moulton (1726-1787), de New Hampshire, nos Estados Unidos. De modesto carpinteiro, ele se tornou um influente político ativo nas guerras do Rei George, no Conflito Francês e nas Guerras Indígenas, além de ter participado de maneira proeminente na Revolução Americana. Ele começou como voluntário de uma milícia e foi subindo na hierarquia militar até ser promovido a Brigadeiro General por ninguém menos do que o próprio Washington. Quando retornou a vida civil, Moulton recebeu como recompensa uma vasta extensão de terras em North Hampton, New Hampshire, tornando-se um dos homens mais ricos no estado e fundando a cidade de Moultonborough. Não foi muito depois disso que as suspeitas a respeito de uma barganha com o diabo começou a ganhar força.
Uma das histórias mais estranhas surgiu quando a casa de Moulton se incendiou misteriosamente sem que ninguém oferecesse explicação de como aconteceu. Dizem que o General teria comentado com amigos que a culpa era de Satã, furioso por ele ter arranjado uma maneira de cancelar uma barganha feita muitos anos antes. Alguns diziam que o trato original com o diabo era que ele encheria uma bota com ouro em troca da sua alma e que esta seria reclamada quando o dinheiro terminasse. Segundo a lenda, Moulton planejou um esquema no qual retirou a sola da bota e fez com que ela nunca ficasse cheia. Com isso recebeu uma quantidade enorme de ouro antes do diabo perceber que não importava o quanto tentasse, jamais encheria o calçado. Furioso por ter sido enganado, o Diabo queimou a casa como vingança.
Outra parte estranha da história envolve a morte de Moulton. Seu corpo desapareceu e supostamente foi levado a um lugar ignorado para ser sepultado sob uma lápide falsa. Dizem que isso se deveu ao fato de que Moulton exigiu ser enterrado com uma bota cheia de ouro para assim se proteger do Diabo. Ninguém pode dizer ao certo se ele foi enterrado com a tal bota cheia de ouro, mas é fato que Moulton exigiu ser sepultado em local ignorado e mesmo hoje, ninguém sabe onde repousam seus restos.
As pessoas podem imaginar que no mundo dos pactos demoníacos, os últimos a incidirem na prática seriam os religiosos, mas narrativas a respeito de sacerdotes metidos com pactos são lugar comum. Na verdade, um dos mais antigos relatos a respeito de Barganha Demoníaca envolve um sacerdote que mais tarde se tornou santo, Teófilo de Adana, na Turquia no século VI. Segundo a história, Teófilo contratou um poderoso feiticeiro para que invocasse o Demônio e providenciasse um contrato que garantisse sua posição de Bispo em Adana. Quando o Demônio surgiu, ele teria exigido que o Bispo renunciasse sua crença em Cristo e na Virgem Maria, bem como assinasse um contrato com sangue. Theophilus aceitou os termos e logo depois foi feito Bispo.
Em determinado momento, Theophilus se arrependeu de sua decisão e rezou para que a Virgem Maria o perdoasse. Eventualmente depois de jejuar por 40 dias, ela apareceu diante dele. Ele implorou por perdão e ela disse que nada poderia ser feito. Em seguida, o Bispo jejuou por mais 30 dias e resolveu doar toda sua fortuna para os pobres. Ele teve então uma visão na qual a Virgem concedia a ele perdão total pelos seus pecados.
Entretanto, três dias depois de receber perdão, Satã apareceu exigindo o cumprimento de seu contrato. Quando ele disse estar liberado pela intercessão divina da Virgem Maria, o demônio não se mostrou nem um pouco satisfeito e fez uma ameaça na qual mostrava o Fogo do Inferno. Aterrorizado, Theophilus levou até o Bispo que o substituiu um documento no qual havia prometido sua alma. O Bispo disse que o contrato precisava ser queimado aos pés da estátua da Virgem. Segundo a lenda, quando o documento virou cinza por inteiro Theophilus morreu em paz, aliviado por sentir que sua alma estava definitivamente livre.
Finalmente outra figura religiosa que supostamente barganhou sua alma foi o Padre Urban Grandier (1590-1634), Diácono da Igreja de Saint Croix em Loudon, França. Para todos os efeitos, sua conduta não era considerada muito cristã pelo seu rebanho. Sua reputação como mulherengo e como agressor de mulheres já seriam ruins o bastante, mas havia muito mais. Ele havia sido acusado de lançar uma maldição sobre um grupo de freiras de um convento próximo, enviando demônios para aterrorizá-las, incluindo o Demônio Bíblico Asmodeus, que segundo rumores Grandier controlava por intermédios de rituais antigos de magia negra.
As freiras alegavam que o demônio havia estuprado e assassinado algumas noviças e que outras teriam sido raptadas para se tornarem escravas sexuais do Padre Grandier. Essa acusação fez com que a Inquisição investigasse suas ações e mais tarde o prendesse sob suspeita de conluio com as trevas. Durante o inquérito instaurado, Grandier foi torturado e revelou ter assinado um pacto com o demônio para ganhar poder e influência. O contrato precisava ser lido de trás para frente em Latim e era adornado com vários símbolos cabalísticos. Mais grave ainda, o próprio Satã havia assinado o contrato e garantido sua validade.
O contrato instituía que Grandier teria direito a "amar e ser amado pelas mulheres, a deflorar virgens, ganhar o favor de monarcas e o respeito de senhores influentes", tudo isso em troca de sua aliança com os poderes do Inferno. Não se sabe ao certo se o documento foi forjado, mas é fato que a assinatura do Diácomo estava no contrato ao lado da que pertencia a Satã. Diante das provas estarrecedoras, Grandier foi condenado a morte, sendo queimado em uma estaca no ano de 1634.
Será que demônios e o próprio Diabo são reais? E se a resposta for sim, será possível fazer com eles acordos ou pactos em troca da realização de sonhos, usando para isso a alma como moeda de troca?
Seja como for, se alguma dessas histórias tem algum fundo de verdade, é um conceito intrigante a ser contemplado. A promessa de vantagens e benefícios, da realização dos sonhos mais profundos é algo que pode atrair os ambiciosos e aqueles que realmente desejam realizar suas expectativas, custe o que custar. Enquanto existirem religiões com demônios e seres das trevas, provavelmente existirão histórias a respeito de tentações e barganhas prometidas e assinadas com sangue.
Mas na dúvida, é melhor não assinar nada... mesmo que a promessa pareça vantajosa.