sábado, 7 de abril de 2018

Todos os que habitam esse corpo - Casos Verdadeiros de Múltiplas Personalidades


Parece bastante evidente que cada um de nós possui um lado obscuro. Uma porção maligna, maliciosa e predisposta a fazer coisas que nós normalmente consideraríamos impossíveis de serem feitas. A maioria das pessoas convive relativamente bem com essa metade negra, sendo perfeitamente capaz de manter essa faceta oculta sob controle bem enterrada no subconsciente. Nós podemos até pensar em certas coisas, mas jamais chegamos às vias de fato. Entretanto, é possível em momentos específicos que a porção maligna de cada pessoa venha à superfície? 

Existem casos mundo afora que atestam essa possibilidade e mostram que pessoas comuns são capazes de cometer atos nefastos quando as paredes da moral e da ética desmoronam ao seu redor.

Uma desordem psicológica que se tornou objeto de estudos nos tempos recentes é a Desordem de Múltipla Personalidade, também chamada de Desordem de Identidade Dissociativa. A psicologia compreende que essa desordem se manifesta quando uma pessoa desenvolve pelo menos duas identidades distintas habitando o mesmo corpo, com casos extremos de indivíduos exibindo mais de 100 alter egos simultaneamente. Cada uma dessas personalidades possui sua própria voz, padrões de comportamento, sotaque, sexo, idade, altura, peso e até diferentes conhecimentos e experiência de vida. Em geral, essas personalidades vem à tona para "proteger" o indivíduo de algo que difícil de lidar ou encarar. Nesses casos a personalidade assume totalmente o controle deixando a personalidade original inconsciente e incapaz de compreender e participar dos acontecimentos. Para todos efeitos, o indivíduo experimenta o que muitos classificam como "apagão" (blackout). Em alguns casos a personalidade alternativa que assume o comando parece totalmente diferente, tomando decisões e agindo de uma forma inteiramente distinta do convencional. Não é estranho que algumas personalidades ingressem em um comportamento reprovável e cometam crimes.

Um dos primeiros casos documentados e amplamente estudados envolvendo múltiplas personalidades envolveu a morte de uma menina de seis anos chamada Suzanne Degnan no ano de 1946. Os pais da menina vinham de uma família de posses e ela foi raptada em uma vizinhança de Chicago enquanto era levada para uma consulta num pediatra. A única pista deixada pelos criminosos na cena do crime foi um bilhete com rabiscos, escrito às pressas, exigindo um resgate de 20 mil dólares em dinheiro. Em seguida, apareceram vários outros pedidos e condições para a entrega do dinheiro, cada um mais estranho do que o anterior, feitos sempre através de telefonemas apressados encerrados abruptamente com o aparelho sendo desligado. Parecia claro que o sequestrador estava sob grande stress e paranoia, acreditando que a ligação seria rastreada. O pai da menina, James Degman, cada vez mais desesperado, desempenhou um papel central nas negociações, inclusive participando de programas de rádio, implorando ao sequestrador que fizesse contato e aceitasse o resgate. Nada funcionava e o caso foi se arrastando com o criminoso no fim, desaparecendo por completo.


Então veio a tragédia! Duas semanas depois do último contato telefônico, um lixeiro fez uma descoberta macabra numa galeria de esgotos próxima de onde a menina havia sido levada. Acharam um braço de criança bloqueando uma grade de coleta de água da chuva. Ao longo dos dias que se seguiram, a polícia vasculhou os esgotos e lixeiras, encontrando várias outras partes da criança. Um exame pericial apurou que Suzanne havia sido estrangulada com um fio elétrico e desmembrada postumamente pelo sequestrador. O crime chocou a todos, mas o pior ainda estava por vir: o assassino deixou para trás uma carta escrita com batom no local onde abandonou a cabeça de Suzanne. No bilhete, preso entre os dentes da menina, lia-se um tétrico apelo: 

"Pelo amor de Deus, apanhem-me antes que eu mate novamente. Eu não consigo me controlar".

Quando a informação chegou até os jornais, o assassino ganhou o apelido de "Matador do Batom". As autoridades seguiram diversas pistas do caso, mas elas resultaram em um beco sem saída e tudo indicava que o crime permaneceria sem solução.

Mais ou menos na mesma época, um rapaz de 17 anos chamado William George Heirens, que havia entrado e saído várias vezes de reformatórios ao longo de sua vida, por uma infinidade de crimes, foi preso uma vez mais por roubo. Quando a polícia vasculhou seu dormitório em uma pensão barata encontrou vários objetos com símbolos nazistas. Dentro de uma caixa com a suástica, os detetives acharam uma calcinha infantil e uma fita de cabelo que supostamente pertenciam a Suzanne Degman.

O suspeito foi levado até o Departamento de Polícia e durante o longo interrogatório, que incluiu pesada brutalidade policial, bem como doses de sódio pentatol, Heirens confessou envolvimento em pelo menos três assassinatos na área de Chicago. Apesar de reconhecer sua participação na horrível morte da menina, ele dizia que um homem chamado George Murman havia sido o responsável direto pelas mortes. A polícia, no entanto, não conseguiu encontrar qualquer evidência a respeito dessa pessoa e nem sequer foi capaz de confirmar sua existência.


A despeito da falta de progresso nas investigações, Heirens continuava dizendo que Murman existia e que era o verdadeiro "demônio responsável pela morte da garota". Segundo o rapaz, ele havia conhecido George quando tinha apenas 13 anos, um sujeito realmente perverso que sentia prazer em roubar e matar suas vítimas. De fato, Heirens dizia que George era responsável por escolher as pessoas e por força-lo a participar de crimes violentos. Os objetos com insignia nazista pertenciam a esse comparsa, que havia lutado na Guerra da Europa e trazido aquelas coisas, inclusive uma baioneta da SS, como espólios recolhidos durante a ocupação.

Apesar de fornecer uma descrição completa de seu comparsa, a polícia acreditava que George Murman não existia. Nenhum soldado com o nome Murman serviu na Europa e não havia nenhum documento oficial a respeito dele. Para os detetives, Heirens estava inventando uma pessoa em quem tentava jogar a culpa. Enquanto isso, a imprensa também começou a procurar pelo homem misterioso, sem nenhum sucesso.

A grande reviravolta no caso veio quando alguns conhecidos de Heirens que reconheceram sua fotografia vieram à público e contaram que o rapaz havia se apresentado a eles com o nome George Murman. Contaram ainda que quando ele usava esse nome se comportava de maneira diferente, assumindo um ar malicioso e perverso. Ele afirmava ter participado do Desembarque na Normandia e que nos meses seguintes havia matado muitos nazistas na Europa. Logo começou a se desenhar um caso notável de dupla personalidade que foi tratado pelos jornais como uma versão real do fictício Dr. Jekyll e Mr. Hyde. A despeito dos protestos de Heirens de que era inocente ele foi julgado e sentenciado a prisão perpétua.

Por muitos anos se debateu se o rapaz teria inventado a personalidade homicida ou se realmente ele sofria de episódios de Múltipla Personalidade. Especialistas em psiquiatria se dividiam a respeito de seu diagnóstico e a dúvida persistiu por muitos anos. Para muitos, o caso de Heirens é um dos mais bem documentados casos verídicos de Múltiplas Personalidades. Ele morreu em 2012, aos 83 anos de idade, um prisioneiro modelo em uma das unidades prisionais mais vigiadas de Illinois.

Há outro caso também bastante impressionante, ele envolve um pintor chamado Kim Noble, que nasceu no Reino Unido nos anos 1960. Noble alegadamente sofreu  de abusos mentais e físicos desde criança, e possivelmente foi o stress que fez com que sua personalidade se dividisse em várias outras identidades. Sua frágil condição mental também a levou a usar drogas e a tentativas de suicídio. Noble foi internada em vários hospícios para tratamento e após anos de tratamento, encontrou uma aparente tranquilidade assumindo a profissão de motorista de entregas. Sem que ninguém soubesse ou suspeitasse nessa época, uma segunda personalidade chamada Julie começou a assumir o controle de sua persona. Julie era agressiva, amarga e vingativa e certo dia, em um ataque de fúria lançou a van que estava conduzindo contra um automóvel que fez uma manobra que ela não gostou.


Depois do acidente, ela correu até o motorista e começou a morder seu rosto furiosamente. O homem sobreviveu com sérios ferimentos em sua face. Levada para uma unidade psiquiátrica, Kim foi diagnosticada como esquizofrênica e recebeu tratamento extensivo por quase um ano. Quando finalmente foi liberada, ela se envolveu com uma quadrilha de criminosos que exploravam pedofilia, ou ao menos foi o que ela contou. Kim tentou denunciar o bando e eles se vingaram incendiando sua casa, tentando queimá-la. A casa queimou por inteiro, mas Kim conseguiu escapar com queimaduras menores.

As autoridades policiais investigaram as acusações de Kim, mas encontraram poucos indícios a respeito da tal quadrilha de pedofilia. Descobriram entretanto que Kim sofria estranhos blackouts, durante os quais nãos e recordava do que havia acontecido ou o que havia feito. Em 1995, psiquiatras diagnosticaram Kim como possuidora de desordem de identidade dissociativa. Em uma entrevista sob os efeitos de hipnose, eles descobriram que ela havia criado várias personalidades que de tempos em tempos assumiam o controle. A mais forte personalidade pertencia a uma mulher de meia idade, calma e focada, chamada Patricia. Outras eram a violenta Julie que tinha tendências ao sadismo e se divertia jogando peixinhos de um aquário no liquidificador, o Espírito da Água, uma personalidade estranha que se dizia uma mistura de homem e peixe, uma adolescente obesa de 15 anos chamada Judy, uma maníaca suicida Rebecca, a libidinosa Bonny que gostava de correr nua, uma garota chamada Hayley que ajudava os pedófilos a encontrar vítimas, um playboy chamado Ken, uma artista de rua que se identificava como Ria e muitas outras identidades que viviam sob a mesma pele. Ao fim de várias entrevistas, a medida que as personalidades emergiam chegou-se a contagem de mais de 100 diferentes identidades diversas.

Essa miríade de identidades pareciam co-existir de forma separada umas das outras, sem que nenhuma suspeitasse da existências das demais e chegando ao ponto de cada uma ter seu próprio endereço de e-mail para o qual as demais não conheciam a senha. Kim afirmava sofrer frequentemente de perda de memória e episódios em que despertava em lugares onde não se recordava de ter ido. Nenhuma das personalidades tinha qualquer lembrança do que as outras haviam feito enquanto estavam assumindo seu corpo. Uma das personalidades chegou ao ponto de acreditar estar grávida e sentir os efeitos da gravidez, comprar roupas de criança e agendar entrevistas de pré-natal. Kim foi convidada para vários programas de auditório e chegou a aparecer no famoso programa de Oprah Winfrey em 2012. Ela  escreveu um livro sobre as suas experiências com o título "Eu por Inteira: Como aprendi a conviver com personalidades compartilhando meu corpo".

Talvez, um caso ainda mais conhecido é o que envolve três estudantes em um campus na Universidade de Ohio que foram raptados, arrastados para uma localização isolada, e violentamente brutalizados ao longo de 12 dias em outubro de 1977. Desde o início as vítimas deram testemunhos que apontavam para mais de um criminoso, uma vez que um deles afirmava ter sido atacado por um homem com sorte sotaque estrangeiro, enquanto outro descrevia alguém aparentemente jovem com um sotaque do meio oeste, finalmente o terceiro dizia ter ouvido alguém que se comportava como uma criança. Confuso como isso pudesse parecer, as análises de impressões digitais deixadas na cena acabaram apontando para apenas um perpetrador, um rapaz de 22 anos chamado William Stanley Milligan, que estava em condicional e tinha uma longa ficha criminal que incluía roubo, estupro e outros crimes pesados. 


Um exame em Milligan, feito por psicólogos e psiquiatras concluiu que o sujeito sofria de uma desordem mental severa que o levava a criar múltiplas personalidades. De fato, duas de suas personalidades eram as responsáveis diretas pelo crime, enquanto o próprio Milligan nem imaginava que a atrocidade havia sido cometida. As personas eram descritas como sendo um homem velho comunista especialista em munições chamado Ragen e uma lésbica de 19 anos que atendia pelo nome de Adalana. Como resultado dessas bizarras descobertas, os advogados de Milligan alegaram insanidade, justificando que o rapaz era inocente e que suas personalidades bestiais tinham a culpa. A imprensa fez um grande estardalhaço com o caso, tratando-o como um verdadeiro acontecimento midiático que mereceu ampla cobertura. 

O estranho julgamento ocorrido em 1978, atraiu enorme interesse da sociedade. Billy Milligan se tornou a primeira pessoa nos EUA a ser considerado inocente em face de múltiplas personalidades, e ao invés da prisão ele foi enviado para uma instituição mental. Durante o período em que esteve sob intenso tratamento psiquiátrico, descobriu-se que ele tinha nada menos do que 24 personalidades diferentes. Ele foi tratado e finalmente liberado em 1988 quando medicamentos e terapia se mostraram suficientes para controlar seu estado. Milligan morreu de câncer em 2014, aos 59 anos. Ele foi a base para o livro "As mentes dentro de Billy Milligan" bem como um documentário, além de ter servido de inspiração para o filme Fragmentado (Split) de M. Night Shyamalan.

Um outro caso que ganhou notoriedade ocorreu no ano de 1979, quando uma faxineira de hotel de 23 anos chamada Juanita Maxwell foi presa sob a suspeita de ter assassinado Inez Kelley, sua supervisora de 72 anos. A vítima foi morta de uma maneira brutal, tendo recebido uma surra e mordidas, e finalmente ser asfixiada até a morte. Maxwell era a principal suspeita  em face de uma mancha de sangue da vítima encontrada em seu sapato. Quando detida, Juanita negou qualquer envolvimento e ficou sem palavras quando o sangue no solado do sapato a incriminou. 

Após um interrogatório, veio a superfície uma personalidade totalmente diferente que se mostrou apenas uma de um total de seis diferentes indivíduos que habitavam o seu corpo. Uma dessas pessoas atendia pelo nome de Wanda e era uma mulher agressiva cujo temperamento volátil se diferenciava totalmente da moça. Quando Juanita foi levada para a Corte em 1981, Wanda assumiu seu papel e confessou como havia matado Kelley com suas próprias mãos. A mudança de personalidade foi tão inesperada que alguns jurados afirmaram que até sua postura e maneirismos haviam mudado por completo.


Juanita Maxwell foi considerada inocente por motivo de insanidade, mas pelo seu histórico criminal, apurado durante o julgamento, ela teve de ser confinada em um manicômio judiciário. Ela foi finalmente liberada quando a personalidade de Wanda enfim foi contida através de drogas e terapia.

Outro caso muito conhecido envolveu o estuprador Thomas Huskey, que entre 1991 e 1992 violentou e estrangulou quatro prostitutas em Knoxville, Tennessee. Apelidado de "Homem do Zoológico" por causa de seu trabalho anterior tratando animais no Zoológico de Knoxville Zoo, Huskey alegava não ter qualquer lembrança dos horríveis assassinatos que lhe eram imputados. Após várias entrevistas, psicólogos perceberam a aparição de uma personalidade chamada Kyle que afirmava ser a responsável pelas mortes. Kyle explicava em detalhes como ele e não Thomas havia enforcado cada mulher. Durante esses episódios Huskey assumia um comportamento totalmente diferente, que incluía sotaque, cadência de fala, expressões faciais e até um tique nervoso próprio. Além disso, ele era canhoto, enquanto Huskey era destro. As evidências atestavam que ele não era culpado e que sua personalidade era de fato a responsável.

O caso sem precedente no Tennenssee foi a julgamento, com advogados alegando insanidade. O procedimento se arrastou por meses e se tornou um dos mais caros da história do estado. O juri ficou em um beco sem saída e não conseguiu chegar a um consenso o que levou as acusações a serem retiradas. Huskey recebeu tratamento e foi inocentado dos homicídios. Muitos especialistas afirmam que ele se aproveitou de uma estratégia e inventou tudo, mas quem pode saber ao certo?

Mas nem todos os casos que vão para a corte de justiça favorecem o acusado. No julgamento de Billy Joe Harris, preso no Texas em 2008 com acusações de ter atacado sexualmente uma idosa nas primeiras horas da manhã, o que lhe valeu o apelido de "Estuprador da Alvorada" as coisas não saíram como ele esperava. Quando ele foi acusado com base em uma evidência de DNA, Harris disse que sofria com apagões e que não se recordava muitas vezes do que fazia. Ele chegou a alegar sofrer com Múltiplas Personalidades em face de abusos sofridos quando criança, e que portanto isso seria um atenuante.


Durante o julgamento, uma personalidade chamada "Bobby"emergiu em vários momentos em que Harris assumia uma postura diferente e uma voz mais abafada. Houve muito ceticismo, uma vez que apenas um dos psiquiatras arrolados pela defesa concordava com a tese, enquanto que os da promotoria concluíram que aquilo não passava de encenação. Apesar disso, as dramáticas aparições de Bobby serviram para impressionar o juri. Nos últimos dias do julgamento a promotoria trouxe um dos psiquiatras mais famosos dos EUA, o Dr. James Bartlet para inquirir Harris e testar a alegada personalidade. Não demorou mais do que vinte minutos para que o psiquiatra conseguisse pegar o réu em contradições que provaram que Bobby sabia de acontecimentos da vida de Harris, o que seria impossível se ele realmente sofresse de Múltiplas Personalidades.

A defesa estabeleceu um novo patamar para as alegações de insanidade e fez com que muitos casos fossem declarados como fraudes e tentativas de ludibriar jurados com espetáculos de encenação. Esse caso foi importante para diminuir a frequência de alegações de insanidade que vinham se tornando cada vez mais comuns.

No fim, Billy Joe Harris acabou sendo condenado a prisão perpétua.

Igualmente sem sucesso foi a tentativa de alegar insanidade de Ernie Allan Hosack, que em 2012 matou brutalmente e desmembrou seu amante, Richard Falardeau. Quando a polícia chegou à casa que os dois dividiam em uma região de classe média da Pennsylvania, encontrou uma cena de crime absolutamente macabra; além de sangue nos tapetes e numa faca que estava na pia, descobriram na geladeira várias partes da anatomia de Falardeau, incluíndo dedos, o saco escrotal, pênis e suas orelhas. O torso havia sido colocado em uma bolsa de viagem e aguardava ser abandonada. Mais cedo naquele mesmo dia, Hosak havia se livrado dos membros e da cabeça que foram deixados em lugares diferentes da cidade.

Quando Hosack foi trazido para interrogatório, ele fingiu desmaiar e quando acordou uma personalidade diferente parecia ter assumido o controle de suas ações. Mais estranho, a figura alegava ser o avô paterno de Hosack, um homem conservador que alegava ter matado o "maldito viado" por não aceitar que ele tivesse um relacionamento com seu neto.


O interrogatório provou ser bizarro além das palavras, com Hosak assumindo no curso do questionamento várias outras personalidades, todas elas extremamente agressivas. Entre as personalidades havia um homem que alegava vir do futuro e que vivia em Marte no ano 2088, um padre que abusava de crianças, uma mulher histérica além de outras tantas personas estranhas. A todo momento a personalidade do avô vinha à tona gritando impropérios e xingando o neto, acusando-o de levar uma vida de pederastia e vergonha. Outra personalidade estranha disse que fora responsável por desmembrar Falardeau e guardar seus pedaços para que mais tarde "fossem usados em rituais de magia negra e bruxaria". 

Apesar do show, os psiquiatras chamados para atestar a sanidade de Hosak concluíram que ele estava fazendo uma encenação e que não sofria de transtornos de personalidade. Além de ser um excelente ator, descobriu-se que ele havia feito uma pesquisa a respeito do assunto que lhe concedeu a base para sua encenação. No fim, ele acabou sendo julgado culpado e recebeu uma sentença pesada.

O que podemos dizer de casos como estes? No fim das contas, a maioria das pessoas se divide entre a veracidade e a invenção em crimes envolvendo múltiplas personalidades. Seriam estas pessoas meramente mestres da manipulação? Haveria outras condições mentais além da esquizofrenia que seria capaz de ocasionar o surgimento de personalidades? Mesmo os especialistas na área de psicologia e psiquiatria se dividem quando o tema envolve múltiplas personalidades. Muitos acreditam que os casos são imensamente raros e que a grande maioria das alegações não passam de tentativas de escapar de punições mais severas. Mas há casos capazes de nos deixar estarrecidos.

A verdade é que a mente humana ainda constitui um terreno inóspito que as ciências comportamentais apenas começaram a mapear. Ainda existe muito a ser descoberto e compreendido, e por enquanto, é justo afirmar que ainda estamos tateando no escuro, tentando entender o que nos cerca.

Um comentário: