domingo, 16 de junho de 2019

Aqueles que observam das trevas - O Círculo de Vampiros do Zimbabue


Ao longo da história surgiram inúmeras lendas a respeito de vampiros, caçadores de vampiros e criaturas espreitando nas sombras e atacando vítimas inocentes para satisfazer sua sede de sangue. Tal fenômeno, curiosamente encontra eco em várias partes do mundo.

Um dos lugares onde vampiros são considerados muito mais do que lendas e tidos como ameaça real fica na África. Na nação soberana do Zimbábue, vigora uma profunda crença, entranhada nas tradições e costumes tribais a respeito de vampiros. Nesse lugar, as pessoas temem aquilo que se esconde na escuridão e que habita um lugar muito além de nossa compreensão. Lá, os horrores sobrenaturais são parte do dia a dia, e a população faz o que for preciso para se manter segura desse horror.

Recentemente uma série de crimes ocorridos no Zimbábue lançou medo entre a população local criando uma onda de paranoia sem precedentes. As pessoas acreditavam que uma misteriosa figura que estuprava, matava e bebia o sangue de mulheres, não podia ser outra coisa, além de um vampiro. Os jornais e meios de comunicação intensificaram ainda mais o medo, relatando histórias colhidas com testemunhas que falavam desse monstro. Os ataques tiveram início em 2015, mas eventualmente o culpado foi capturado. O acusado era Alois Tapiwa Nduma, um homem de 26 anos, preso pela polícia enquanto perseguia uma mulher. Os policiais relataram terem ficado horrorizados quando detiveram Nduna e este quando recebeu ordem de prisão, vomitou um jato de sangue. Em seguida, o vampiro se ajoelhou no chão e começou a lamber a massa sangrenta que havia regurgitado.

Sob interrogatório, Nduna confessou ser um vampiro e satanista. Ele revelou fazer parte de um culto de vampiros que existiria no país vizinho, Zambia. O alegado vampiro relatou seus crimes para os investigadores atônitos: ele calmamente revelou ter estrangulado e matado 11 mulheres para em seguida beber seu sangue. O vampiro costumava atacar na cidade de Mvuma, acossando mulheres que estivessem sozinhas nas ruas. Ele contou o seguinte:

"Eu seguia as mulheres e esperava que ficassem sozinhas em um lugar onde ninguém as ajudaria. Eu as agarrava por trás e mordia o pescoço com força. Meus dentes afundavam na garganta e eu segurava com força, movendo a cabeça de um lado para o outro, até rasgar a garganta. O sangue então jorrava e eu bebia enquanto elas perdiam a consciência. Eu bebia até me fartar e depois abandonava o corpo. Em geral elas sangravam até morrer".


O julgamento de Mduna ocorreu em 2016 e ele foi condenado a 27 anos de cadeia pelo assassinato de suas vítimas. Durante seu confinamento na Prisão de Khami, houve grande apreensão a respeito do alegado "vampiro assassino". O homem ganhou notoriedade e passou a aterrorizar não apenas os seus colegas de prisão, mas os guardas. Ele arranhou o número 666 em sua própria testa e andava pelos corredores e pavilhões da prisão como uma presença maligna sendo evitado por todos. O homem também rosnava como uma fera, falava em uma língua gutural e virava os olhos como se estivesse possuído.  

Um dos guardas da prisão contou a respeito de Nduna:

"Os guardas sabiam a respeito desse prisioneiro que estava preso em Khami. Ele tinha o hábito de vomitar e depois lamber o sangue. Certo dia, ele foi detido na solitária e suas mãos presas com algemas, mas na manhã seguinte os guardas perceberam que ele tinha um pentagrama arranhado nas costas. Não sabemos como aquilo apareceu,  já que ninguém entrou a cela e ele próprio não seria capaz de alcançar o local onde o símbolo surgiu. O homem ficava sozinho em sua cela o tempo todo, ninguém aceitava dividir o local com ele. Quando alguns homens foram obrigados a entrar, se revoltaram. Tinham muito medo! As paredes estavam cobertas de sangue, que ele usava para escrever e desenhar. Ele escrevia coisas estranhas, trechos da bíblia e outros mais estranhos. Rabiscava símbolos bizarros e números. Dizia que aquela era a escrita do inferno e que estava escrevendo uma espécie de evangelho satânico". 

Nduna alegava que ao ingerir sangue humano, ganhava força, resistência e o dom de visões. Ele foi detido depois de atacar dois outros prisioneiros e mordê-los no pescoço. O vampiro era temido e evitado por todos na prisão e a maioria dos internos acreditava que ele tinha poderes sobrenaturais. Havia o rumor de que ele podia se transformar em fumaça e que assim deixava a cela para beber o sangue de outras pessoas. Alguns acreditavam que ele podia enviar pesadelos à distância e afetar o sono das pessoas deixando-as loucas. Além disso, haviam as ocasiões em que ele vomitava sangue que depois ingeria de volta num espetáculo macabro.

Os guardas temiam o vampiro, e com razão. Em certa ocasião, ele aproveitou o descuido de um carcereiro que cometeu o erro de dar-lhe as costas. Nduna agarrou o guarda e o mordeu na face repetidas vezes. Como resultado, o homem ficou permanentemente desfigurado.


Depois desse incidente, uma petição de justiça pediu que Nduna fosse considerado insano e transferido para uma instituição especial para tratamento e isolamento. A legislação do Zimbabue é bastante ampla no que tange a tratamentos para criminosos com doenças mentais, que inclui em casos extremos - como o do vampiro, procedimentos similares a lobotomia pré-frontal. Segundo os registros da instituição o vampiro teria sido sujeito a uma intervenção cirúrgica como essa, continuando posteriormente a ser um interno da Colônia Psiquiátrica em Mocha

Mas o que dizer das bizarras alegações do Nduna de que ele era apenas um dos membros de um grande Culto de Vampiros? Obviamente, as autoridades não estavam muito propensas a acreditar nas loucuras relatadas por Nduna , contudo em 2017 um outro caso envolvendo vampirismo levantou o questionamento de que os relatos do vampiro poderiam ter algum fundamento. Em fevereiro de 2017 houve um trágico caso de atropelamento na pequena vila de Neta, no Distrito de Mberengwa. O acidente vitimou nada menos do que quatro crianças. Enquanto os cadáveres permaneciam caídos na margem da estrada, houve relatos de que quatro pessoas vestindo roupas pretas surgiram repentinamente. Esses estranhos, que jamais haviam sido vistos naquela região, agiam de forma suspeita e em determinado momento se aproximaram dos cadáveres e começaram a lamber os ferimentos produzidos. As testemunhas que assistiram a cena foram incapazes de reagir e muitos horrorizados demais com o que presenciaram simplesmente fugiram. Outros, apanharam pedras e jogaram nos vampiros até que estes cessassem aquela violação. Uma testemunha contou a seguinte história a respeito do incidente:

"A morte dessas quatro crianças deixou os camponeses sem saber o que fazer. Muitos choravam e se desesperavam.  E quando aqueles quatro desceram sobre os corpos como abutres as pessoas ficaram apavoradas. Felizmente eles foram escorraçados por alguns moradores revoltados com aquilo. Após o funeral, o Chefe Bvute pediu uma reunião e disse que era necessário chamar um Caçador de Vampiros (Tsukamutanda) que poderia identificar quem eram aquelas pessoas que beberam o sangue das crianças.  O povo de Neta concordou e um tsukamutanda chamado Banda chegou ao vilarejo para cuidar do situação". 

"O caçador era muito experiente, continuou uma testemunha, "ele conseguiu rastrear o covil dos vampiros, e onde eles estavam escondidos. Segundo a polícia que foi chamada para auxiliar na captura do bando, o esconderijo ficava em uma casa abandonada onde encontraram uma coleção macabra de imagens satânicas, objetos de aparência estranha e outras estranhezas". 

As pessoas detidas estavam de posse de objetos usados em rituais de magia negra e feitiçaria: Cabeças de babuínos, patas de hienas, garras de animais selvagens e  línguas de leopardos. Eles também estocavam sangue em garrafas de refrigerante e supostamente esse estoque era usado para saciar sua sede obscena. Eles foram presos pela polícia e conduzidos para uma delegacia onde se descobriu que todos eram estrangeiros provenientes de Zambia. Os indivíduos foram presos e posteriormente deportados para Zambia. Mas seriam eles membros do mesmo culto bizarro do qual Nduna afirmava fazer parte?


No mesmo ano, dois cidadãos do Congo também foram presos em Zimbabue acusados de fazer parte de um círculo satânico e de praticar atos horrendos que incluíam beber sangue humano. George Rene Longange, de 41 anos e Ngezi Ngendo Bragston de 37, afirmavam ainda ser parte de um Culto de Vampiros sediados em Zambia. Diferente dos demais acusados, os congoleses afirmavam que jamais haviam matado ninguém e que o sangue colhido era ofertado por membros do culto ou pessoas simpáticas a ele. Ironicamente, os dois acabaram se tornando refugiados políticos e foram aceitos legalmente no país.

Ano passado, outro caso chocou o país, dessa vez envolvendo um homem de 34 anos chamado Christopher Sibanda, que foi capturado enquanto bebia o sangue de uma mulher que ele havia assassinado. Sibanda alegou ter atacado a vítima, Subusisiwe Sigauke, com um porrete e depois cortado seu pescoço com uma faca para em seguida beber seu sangue. Ele foi detido por populares que o pegaram em flagrante, com o rosto e a boca cobertos de sangue. Interrogado por policiais chamados para prendê-lo, ele contou ser um vampiro que ganhava poderes ao beber sangue humano, embora ele não tenha dito nada a respeito de fazer parte de um culto.

Haveria uma conexão entre os casos ou apenas um tipo de alucinação coletiva atingindo essas pessoas? A despeito de todas as suspeitas e alegações a respeito de uma confraria de vampiros em Zambia, ironicamente nenhum caso de vampirismo foi reportado naquele país. As autoridade negam veementemente que poderia haver um culto atuando no submundo. Será possível que esses casos não passem de incidentes isolados alimentados pelas superstições locais? Ou haveria algum tipo de conspiração oculta tão bem urdida que ninguém encontrou sua presença?

É difícil saber ao certo o que motivou essas pessoas a insistir em relatos tão bizarros e abraçar a noção de que eles mesmos seriam seres sobrenaturais. Entretanto, em uma terra exótica, onde as superstições ainda reinam supremas, as crenças produzam monstros com sede de sangue.

Um comentário:

  1. Puts! Muito sinistro isso! E a história serve muito bem como ponto de partida pra criar alguma história envolvente vampiros Asimani no RPG Vampiros Mitológicos (da Daemon Editora).

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