Nos dias atuais, o Povo Serpente se viu reduzido a uma população de alguns poucos milhares de indivíduos espalhados pelo planeta. O número exato é desconhecido até para eles mesmos. é razoável assumir que um número considerável deles encontra-se hibernando em câmaras de êxtase, protegidas por sentinelas e armadilhas. Eles aguardam o dia em que serão acordados, ansiosos por condições mais favoráveis. De tempos em tempos alguns despertam, mas ao descobrir o mundo ainda sob domínio dos odiados humanos, decidem retornar para o silêncio de suas câmaras sepulcrais por mais alguns milênios.
Aqueles que permanecem ativos no mundo dos homens por sua vez, são extremamente cautelosos em proteger suas identidades, misturando-se às populações humanas tentando não chamar a atenção. Para esconder sua real natureza, o Povo Serpente geralmente lança mão de magias poderosas de dissimulação que lhes confere um semblante humano. Ao longo das eras, a raça reptiliana dominou essa técnica até se tornarem especialistas em sua utilização. Muitos deles também estudaram o comportamento humano e refinaram técnicas para dissimular e enganar observadores casuais. Alguns no entanto, foram ainda mais longe ao ponto de criar histórias falsas, se cercar de humanos controlados ou até constituir família para preservar seu disfarce. Os feitiços mágicos empregados por eles são quase perfeitos e apenas exames invasivos conseguem revelar a natureza dos que se valem desses métodos arcanos. Encantos de detecção e revelação conseguem romper os feitiços e "ver através" dessas ilusões, fazendo com que a máscara se desmanche. Séculos de perseguição fez com que o Povo Serpente se tornasse muito zeloso de seus disfarces e paranoico quanto a serem descobertos. Quando expostos, eles vão até as últimas consequências para eliminar qualquer testemunha que possa colocar sua segurança em risco.
No passado pré-cataclismo, feiticeiros humanos do Continente Thuriano enfrentaram o Povo Serpente e concatenaram um encantamento capaz de revelar a real aparência das criaturas. O encanto causa uma reação de enorme desconforto no Povo Serpente ao mesmo tempo que desfaz as ilusões ativas. Conhecida como as "Palavras que Desvelam", ela envolve uma litania de poder arcano que pronunciada em voz alta soa como "Ka Nama, Kaa Lajerama". O encanto era citado originalmente no críptico Livro de Skellos e foi usado na Era Hiboriana, mas é pouco provável que ele tenha sobrevivido até nossos dias, exceto em algum tomo incrivelmente raro.
Os membros do Povo Serpente desenvolveram um flagrante desgosto pelo confronto direto e tendem a evitar qualquer situação que possa colocá-los em risco. Sendo imortais pela passagem do tempo, eles se tornaram temerosos de tudo aquilo que possa abreviar sua existência. Isso explica porque muitos indivíduos recorrem a serviçais, guardas ou sentinelas, que os auxiliam na proteção de seus covis e esconderijos. Aqueles com inclinação para a magia preferem utilizar criaturas invocadas, como Andarilhos Dimensionais ou mesmo Horrores Caçadores submetidos a sua vontade, enquanto os que se devotam às ciências tendem a criar serviçais alterados geneticamente para serem seus guardas.
Cada indivíduo do Povo Serpente possui ao menos um Covil para onde podem recuar, se esconder ou curar ferimentos. No passado, eles preferiam locais desertos ou ruínas isoladas, preferencialmente nos subterrâneos, mas nos dias atuais, casas ou propriedades, constituem uma opção válida. Nesses locais eles podem conduzir seus projetos, realizar seus feitiços e renovar seus feitiços de ilusão.
O Povo Serpente é dividido em dois gêneros, masculino e feminino, mas para observadores humanos eles são virtualmente idênticos. Sua reprodução envolve fertilização de ovos, mas sabe-se bem pouco sobre esse pormenor. Em sua forma original eles possuem disposição humanoide e seus corpos costumam ser esguios com os adultos atingindo altura média entre 1,60 a 1,80 metros. O tronco é delgado, enquanto os membros longilíneos são discretamente desproporcionais. Os dedos tanto das mãos quanto dos pés, são particularmente longos, terminando geralmente em protuberâncias ósseas que fazem as vezes de unhas. Eles possuem cinco dígitos, com quatro dedos e um polegar opositor semelhante ao dos seres humanos. As pernas são compridas, mas boa parte deles possui uma cauda musculosa que se arrasta pelo chão lembrando sua herança reptiliana. A cauda funciona como um membro adicional do réptil, embora sem a mesma habilidade dos braços e pernas, contudo ela pode ser usada entre outras coisas para atacar oponentes com grande força de impacto. De uma forma geral, eles são ágeis, mas não particularmente rápidos.
O corpo do Povo Serpente é revestido por três camadas de epiderme, sendo que a mais externa possui escamas rígidas de queratina quilhada que se adaptam a cada região de sua anatomia. No tórax, nas costas e no dorso elas são mais densas concedendo maior proteção, na cauda são mais lisas e alongadas para facilitar o deslize e na barriga permitem a absorção da luz. O sistema de escamas é extremamente eficiente garantindo que elas preservem umidade evitando desidratação. Eles costumam gerar uma substância oleosa que cobre as escamas e as protege, mas a cada 3 anos a pele precisa ser trocada. Uma camada cresce por baixo da que será abandonada e quando ela está pronta, a mais antiga é simplesmente descartada num processo semelhante ao que acontece com as cobras na natureza. A coloração das escamas varia enormemente com predomínio de indivíduos apresentando tons de verde, mas também há indivíduos com escamas amarelas, marrons e pretas, com raros casos de vermelho e azul vibrante. Algumas possuem características clássicas de camuflagem ou ainda ausência total de pigmentação, tornando-se albinos.
Outra característica presente no Povo Serpente é uma crista óssea que decorre de sua coluna vertebral e irradia exteriormente formando uma longa protuberância dorsal. Essa crista por vezes possui extremos afiados que ajudam a protege-los de ataques. Na porção final da crista, surge a cauda, longa e musculosa, que geralmente se arrasta pelo chão. Em geral, tanto a crista quanto a cauda são adornadas com anéis de cobre, correntes de metal e argolas que no passado serviam para denotar o status do indivíduo. O contato prolongado com humanos fez com que muitos adotassem o uso de roupas, com preferência para trajes largos, como mantos e capas de tecido leve ou ainda, seda.
A face desses seres ao contrário do corpo humanoide inclina-se muito mais para sua herança reptiliana. O rosto tende a ser magro e encovado, com um pronunciado formato triangular e com uma espécie de focinho achatado parecido com o das serpentes. A boca é muito larga, com uma mandíbula capaz de se distender para permitir engolir presas inteiras. Eles geralmente possuem duas presas agudas que são usadas para atacar e inocular um veneno estocado em glândulas sob as fossas nasais. As presas peçonhentas são incrivelmente fortes e podem atravessar facilmente a pele e inocular o veneno na corrente sanguínea da vítima. O Povo Serpente usa esse tipo de ataque como recurso final, geralmente com resultados letais. Além das presas, a boca guarda uma língua preta e bífida, que é usada para sondar os arredores e captar odores. A língua sibilante se estende identificando sutis partículas químicas presentes no ar e transmitindo as informações para receptores no céu da boca. É possível que esse apurado olfato explique o vasto conhecimento desses seres na área da química. O Povo Serpente é capaz de se comunicar verbalmente, ainda que, com um pronunciado sibilar nas palavras. Os olhos dessas criaturas geralmente são pequenos, mas perfeitamente adaptados a alterações de luminosidade. Eles diferenciam apenas duas cores (azul e verde), mas conseguem distinguir espectros de calor que lhes garante na prática uma visão noturna.
Alguns membros do povo serpente são capazes de dilatar o pescoço de maneira semelhante ao que faz a famosa Naja Africana. Isso ocorre quando eles estão em perigo ou quando enraivecidos, criando um efeito que visa assustar o inimigo. O trinar sibilante de sua língua também causa um efeito aterrorizante na mente humana.
Carnívoros por natureza, as serpentes que caminham, se alimentam majoritariamente de pequenos animais como roedores, aves e anfíbios. Estes são engolidos com a maxilar se distendendo quando necessário para consumir a presa por inteiro. Uma vez engolido, o sistema digestivo age lentamente dissolvendo o conteúdo ao longo de semanas nas quais ele não precisa consumir praticamente mais nada. No mundo atual, o Povo Serpente mantém ambientes com pequenos viveiros para garantir seu estoque de comida.
O veneno do Povo Serpente perdeu naturalmente sua potência ao longo das eras, em um processo que acompanhou a degeneração da espécie. Contudo, boa parte deles desenvolveram métodos artificiais de potencializar o veneno produzido em seus corpos, usando para isso, manipulação genética. O grau de toxidade do veneno pode variar de indivíduo para indivíduo, contudo, é correto afirmar que as substâncias possuem um elevado grau de letalidade. Em geral, o veneno age como uma neurotoxina de efeito incrivelmente rápido, similar ao da Taipan Ocidental. Após ser inoculado em um alvo, o veneno se espalha pela corrente sanguínea, causando bloqueio neuro-muscular em apenas 10 minutos. Com efeito ocorre a paralisia completa dos músculos. O dano muscular tende a ser extensivo e extremamente doloroso, em alguns casos excruciante, isso quando não ocasiona uma parada cardíaca fulminante. O efeito secundário age dissolvendo as células sanguíneas, causando uma severa hemorragia. A quantidade de veneno estocado nas glândulas sob a peçonha é capaz de matar mais de uma centena de humanos adultos antes de se esgotar. Alguns de seus cientistas conseguiram também desenvolver um método de "cuspir" o veneno a distância.
Além do veneno carregado em seu corpo, o Povo Serpente é mestre na manipulação de toxinas. Eles costumam produzir substâncias com diferentes níveis de toxicidade para serem empregados em diferentes ocasiões conforme a necessidade. Seus laboratórios produzem uma quantidade notável de substâncias químicas, muitas delas, desconhecidas para a ciência humana. Finalmente, o Povo Serpente desenvolveu uma avançada técnica de hipnotismo que lhes permite dominar a vítima. Alguns poucos segundos de observação e uma série de palavras ditas calmamente geralmente são suficientes para estabelecer um transe. Indivíduos submetidos a esse transe não perdem inteiramente seu discernimento, mas se sentem estranhamente relaxados e desatentos. As serpentes aproveitam esse estado para tirar vantagem de suas vítimas.
No que diz respeito aos "Degenerados da Espécie", as mudanças foram bem mais acentuadas. Estes seres se afastaram progressivamente de sua herança humana, com alterações surgidas ao longo de milênios que lhes conferiu uma aparência mais bestial. Braços e pernas sofreram uma atrofia gradual, em alguns casos desaparecendo por completo, fazendo com que eles se tornem seres rastejantes. As escamas, por conseguinte, se tornaram mais resistentes e perderam a melanina. Os sentidos se adaptaram após gerações vivendo em cavernas, garantindo uma visão perfeita na escuridão e um olfato muito apurado. Apesar de serem menores em estatura, raramente passando o 1,45 de altura, os degenerados são predadores contumazes, mais esguios e rápidos que os demais da espécie.
O grande diferencial, no entanto, é o nível de inteligência: eras nos recessos profundos da terra fez com que os degenerados confiassem quase que unicamente em seus instintos. Embora capazes de lampejos, que lhes permite construir ferramentas e armas rudimentares, o Povo Serpente degenerado é bastante primitivo. Os soturnos habitantes da mítica Cidade sem Nome são provavelmente um exemplo de tribos "devoluídas".
O Povo Serpente, embora muito reduzido e cioso de qualquer ação direta, continua sendo uma espécie extremamente perigosa. Aqueles que tem o azar de cruzar o caminho de tais criaturas, atraindo sua atenção, estão frequentemente em grave perigo. Dedicados aos seus planos e estratagemas, nada satisfaz mais essas criaturas do que a perspectiva de eliminar humanos e reconquistar um mundo que é seu por direito.
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