sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

True Detective: Terra Noturna - Episódio 6 - O Amargo (e decepcionante) Final


Bem, True Detective finalmente chegou ao fim.

Por seis semanas, os espectadores não conseguiram desgrudar os olhos do que acontecia na trama tentando encontrar uma solução para o mistério. Quem matou a ativista inuit Annie K? Em que circunstâncias ocorreram as mortes dos cientistas da estação científica TSALAL? Estariam esses dois crimes bárbaros de alguma forma conectados? E qual a relação dos acontecimentos ocorridos no Alasca com os assassinatos na Louisiana? Estaria tudo conectado? Haveria algum nexo causal entre as mortes cometidas pelo maníaco devoto do Rei Amarelo nos pântanos do sul dos Estados Unidos e os incidentes na gelada Ennis?

A showrunner Issa López se debruçou sobre a história original, de longe a mais bem sucedida da série. Ela buscou na primeira temporada elementos interessantes para atrair o público e criar um mistério instigante. Desde o primeiro capítulo, a quarta temporada de True Detective lançou perguntas difíceis de serem respondidas e um enigma embalado por cenas onde o sobrenatural parecia dominar a história. Eram muitos elementos inexplicáveis, desde fantasmas e espíritos inquietos, passando por visões e premonições bizarras, até uma presença espreitando - Ela.

Amparado por um elenco de primeira grandeza, onde se destaca a brilhante Jodie Foster, Terra Noturna começou acertando em cheio no alvo. Crítica e audiência foram unânimes, aplaudindo essa reinvenção do suspense investigativo e procedimental. As terríveis mortes nos forçavam a questionar o que estaria acontecendo. Muito espertamente, o roteiro foi colocando alguns easter eggs aqui e ali, supostamente remetendo a primeira temporada: o pai de Rustin Cohle visto como fantasma, o envolvimento da Família Tuttle e é claro, o Símbolo de Espiral estavam lá novamente. Elementos que os fãs pescavam nas entrelinhas, frases no contexto exato e referências apareciam em todo canto, movimentando as suspeitas.

Por seis semanas, acompanhamos os episódios fazendo recapitulações dos fatos, levantando hipóteses e apostando em um determinado caminho para a conclusão. É inegável que True Detective: Terra Noturna criou algo que fazia tempo, nenhuma série conseguia - gerou enorme repercussão e interesse.

Com tantos mistérios, um dos grandes receios dos fãs era que nem todas perguntas fossem respondidas à contento. Nada pior para uma trama de mistério do que lacunas sendo deixadas abertas.

Bem, True Detective chegou a sua inevitável conclusão e esta dividiu opiniões.

Sim, foram oferecidas explicações para os crimes cometidos e a história teve um fechamento, contudo essas soluções deixaram um gosto amargo de decepção. Se a série conseguiu ser brilhante até o penúltimo episódio, justamente no derradeiro capítulo a coisa degringolou. Para usar uma analogia polar, o trenó de neve saiu da pista, capotou, explodiu e ainda foi soterrado por uma avalanche.

Infelizmente no episódio onde tudo é resolvido, aquela que, até então, vinha sendo uma temporada brilhante que muitos até comparavam com a notável primeira perdeu o rumo. Eu escrevo isso chateado, não apenas por ter ficado frustrado com a conclusão, mas pela sensação de que a série perdeu uma ótima oportunidade de ser grandiosa.

Na minha opinião foram três os pecados capitais do derradeiro episódio de True Detective - Terra Noturna: ele força demais a conclusão, pede para acreditarmos em coisas pouco plausíveis e recorre a saltos de lógica enormes para corroborar os incidentes. A sensação é que foram dadas as peças finais para montar o quebra-cabeças, mas as peças para encaixar precisam ser aparadas, cortadas e marteladas no lugar. Como consequência, a imagem final, é pouco satisfatória, não fecha direito.

A seguir eu vou fazer um recap do episódio, é claro, mergulhando em um mar de SPOILERS. Aqueles que ainda não assistiram a série e seu final devem parar de ler nesse momento. Apenas um disclaimer: eu não sou o dono da verdade, essa resenha é minha opinião e se alguns divergem dela e gostaram do final, fico feliz por eles... não estou escrevendo esse recap para criar polêmica ou fazer uma crítica demolidora de uma conclusão que alguns podem ter gostado (apesar do final). Sendo totalmente franco, eu adoraria ter gostado do final, mas achei ele desastroso, pelos motivos que irei explicar em seguida.

Então vamos lá?

1 - O Túnel de Gelo


No empolgante episódio 5, as Detetives se aproximaram da verdade convencendo Otis Heiss a acompanhá-las até as famigeradas cavernas de gelo onde Annie K havia sido assassinada. Encontrando a cena do crime, elas esperavam obter a pista decisiva para entender o que aconteceu e quem sabe desvendar o restante do caso. 

Com a morte de Heiss baleado por Hank Prior, e a a surpreendente morte deste nas mãos do próprio filho, Pete, a coisa parecia cada vez mais complicada. Danvers e Navarro decidem ir por conta própria vasculhar as cavernas de gelo que as tribos Inuit chamam de "Terra Noturna" e cujas entradas são marcadas com o misterioso símbolo em espiral. Uma busca rápida em um dos lugares previamente assinalados por Heiss num mapa revela a entrada para os túneis. As duas detetives decidem ir até lá por conta própria ignorando o alertas de perigo de desmoronamento dessas cavernas.

No fim das contas, encontrar a entrada para a Terra da Noite nem era algo tão complicado, já que as detetives localizam a entrada mesmo em meio a uma forte nevasca. Alguns golpes de picareta revelam o acesso ao vasto complexo de Cavernas de Gelo pontuado de fósseis de baleia arranjados no formato de espirais. Um lugar sinistro sem dúvida! O lugar se mostra um labirinto, mas as detetives contando com a sorte e com vozes que parecem guiar Navarro acabam caindo em uma câmara mais abaixo onde encontram equipamento usado para perfuração. Danvers inclusive percebe uma broca com a ponta em formato e estrela que sugere ter sido a arma usada para matar Annie K.

Tudo indica que aquela caverna foi onde Annie K viveu seus últimos momentos e onde encontrou seu destino. Enquanto investigam o local as detetives são surpreendidas por ninguém menos do que Raymond Clark em carne e osso.      

2 - Enfim, o elusivo Sr. Clark


No episódio dois ficamos sabendo que Raymond Clark não estava no meio do Picolé de Cadáveres que um dia foram seus companheiros de pesquisa na Estação TSALAL. Clark estava desaparecido e se tornou um dos suspeitos mais convenientes da trama.

As detetives haviam descoberto que Clark não apenas se comportava de uma maneira bizarra como havia estabelecido um relacionamento secreto com Annie K. Relacionamento esse restrito a encontros amorosos num motor-home coberto de fotos, frases estranhas escritas nas paredes e símbolos bizarros - inclusive, a Espiral.

Clark estava sumido e ninguém sabia de seu paradeiro. A polícia de Ennis o procurava há dias e a melhor pista havia sido sussurrada por Otis Heiss que afirmou categoricamente que Clark estava escondido na Terra da Noite. Quem diria, Heiss estava certo!

Infelizmente assim que as detetives o encontram, Clark decide correr. Durante a perseguição Danvers e Navarro acabam se separando e são levadas até uma estranha escada que por sua vez conduz até uma escotilha no interior da Estação TSALAL (!!!)

Ninguém sabia da existência dessa escotilha. Clark a havia utilizado para se esconder bem debaixo do nariz da polícia que o procurou inutilmente nas últimas semanas. Clark consegue prender Danvers em uma sala, a obrigando a quebrar uma vidraça para escapar. A essa altura ele havia golpeado Navarro com um extintor de incêndio, mas a patrulheira logo se recupera e nocauteia Clark e tem que ser contida por Liz para não matá-lo.

Conforme esperado Clark não fala coisa com coisa... está completamente delirante e Navarro decide amarra-lo e obrigá-lo a ouvir os gritos de horror de Annie K quando esta foi assassinada. Enquanto o sujeito se desespera, as detetives aproveitam para conversar já que a nevasca as impede de deixar a instalação.  

3 - A Verdade sobre a Morte de Annie K


Até esse momento, o episódio vinha bem e ainda parecia promissor. O primeiro escorregão vem justamente quando a verdade sobre a morte de Annie K é revelada por Clark quando interrogado pelas detetives.

O sujeito conta que o objetivo de TSALAL era encontrar os fósseis de raros micro-organismos que poderiam auxiliar na obtenção de DNA que curaria uma infinidade de doenças. Clark revela que os cientistas haviam tido sucesso em sua busca e que estavam prestes a recuperar as tão cobiçadas amostras. Para isso, contavam com uma ajuda inesperada. Já era de nosso conhecimento que a Mina Silver Sky estava trabalhando junto com TSALAL, e que ambas pertenciam a famigerada Família Tuttle. Os altos índices de poluentes criados pela Silver Sky tinham, afinal de contas um objetivo. A poluição servia para amolecer a Permafrost e permitir que o trabalho dos cientistas avançasse. Ou seja, sem produzir 11 vezes mais poluição do que o normal, eles não conseguiriam chegar ao seu objetivo. Os fins justificariam os meios, ou ao menos era nisso que os cientistas acreditavam.

[Não vou entrar no mérito desse método para chegar até as amostras, mas me parece algo absurdo. Embora perfurar a crosta gelada da permafrost seja uma tarefa realmente complexa, um dos maiores desafios para esse tipo de prospecção envolve preservar a pureza das amostras. Se os níveis de poluentes foram aumentados tão drasticamente, é óbvio que as amostras acabariam comprometidas. Bastava pesquisar um pouco para saber que esse método é uma tremenda furada. Mas enfim...] 

Annie K aparentemente descobriu essas informações quando estava namorando com Clark e conseguiu acesso aos túneis de gelo em que a extração das amostras acontecia secretamente. Na câmara exatamente abaixo de TSALAL Anne descobre as provas e furiosa com a revelação começa a arrebentar tudo destruindo anos de trabalho. Nesse momento a coisa começa a ficar forçada, e o roteiro pede que o espectador acredite em eventos bem pouco plausíveis.

Primeiro: a presença de Annie é descoberta por Anders Lund, diretor do TSALAL, que não fica nada satisfeito com a presença da ativista no túnel, ainda mais destruindo seu precioso equipamento. Ele imediatamente tenta agarrá-la, mas Annie consegue afastá-lo usando um braço robô (que era essencial para a coleta das amostras). Ela usa o braço como arma afastando Lund momentaneamente, mas ele acaba conseguindo imobilizá-la e feri-la. Os gritos terminam por atrair os demais cientistas da estação que se deparam com a cena de uma mulher ferida e do diretor já a dominando. 

Segundo: Embora Annie estivesse contida, ela ainda resistia. Nesse momento o roteiro força mais uma vez as coisas já que os demais cientistas acabam se juntando a Lund em um verdadeiro linchamento da mulher, com direito a espancamento, surra e punhaladas com as infames brocas com ponta em forma de estrela. 32 punhadas!!! Me parece incrivelmente exagerado querer do público que aceite que TODOS os cientistas, de comum acordo, e sem pestanejar, decidiram que aquela mulher deveria morrer. E pior ainda, que a assassinam de uma maneira tão truculenta sem pensar duas vezes.

Terceiro: Anne K é literalmente trucidada pelos cientistas, mas surpreendentemente ainda está viva. Cabe então ao próprio Clark acabar com a sua agonia a estrangulando com as próprias mãos. Embora o sujeito continue dizendo que amava Annie (e que sempre a amaria), fica claro que ele também preferia matá-la do que permitir que a pesquisa fosse interrompida pela revelação do escândalo.

Quarto: O corpo de Annie K é então recolhido por Hank Prior à pedido dos donos da mina e colocado em um lugar como recado para outros ativistas. A língua dela é cortada (supostamente por Hank) para que todos entendam que ela teria sido assassinada por falar demais (vamos voltar à língua mais adiante, um dos grandes furos do roteiro).

Ok... essa é a explicação para a morte de Annie K. 

A meu ver, é uma explicação que não convence. Eu poderia até entender que a morte dela tivesse sido resultado de um desentendimento entre os cientistas e a ativista. Com certeza as coisas estavam quentes e poderiam descambar em empurra-empurra e numa morte acidental, mas o linchamento promovido é um enorme exagero. Nenhum dos cientistas titubeou por um momento sequer? Nenhum deles tentou evitar a morte dela? Nenhum deles sentiu remorso ou arrependimento? De fato, todos os envolvidos naquele massacre brutal simplesmente continuaram trabalhando na estação como se nada tivesse acontecido. Mais esquisito ainda, embora Clark fosse o único a manifestar algum arrependimento, agindo de forma cada vez mais excêntrica, ele não foi despedido, não foi mandado para outro lugar e nem mesmo eliminado como um possível risco para o projeto. Não... eles o deixaram ficar lá, apesar de sua sanidade claramente cada vez mais deteriorada - outro baita furo do roteiro. 

O roteiro aliás parece querer que o espectador aceite essas explicações absurdas apenas porque as coisas acontecendo dessa forma justificam o que estaria por vir.      

4 - Presas em TSALAL


Após ouvir as revelações de Raymond Clark, as detetives deliberam sobre o que fazer em seguida. Como elas deverão agir e como vão conseguir explicar tudo isso de forma coerente? 

Embora Clark seja testemunha do que aconteceu com os cientistas ele continua dizendo que seus companheiros foram mortos por Annie K que retornou para obter vingança contra eles. Clark é incapaz de explicar como ocorreram as mortes já que ele afirma ter sentido que Annie havia despertado e que aterrorizado fugiu para a escotilha onde ficou escondido enquanto os demais morriam um a um. Clark acredita que algo sobrenatural aconteceu com seus companheiros, e que conseguiu escapar apenas pelo acaso se refugiando na Terra Noturna (os túneis de gelo abaixo de TSALAL). Ao sair dos túneis, Clark acreditava que seus companheiros haviam sido mortos pelo espírito vingativo de Annie K e é essa a explicação que ele oferece para a dupla de detetives.

Danvers e Navarro aliás estão em maus lençóis. Embora tenham descoberto as circunstâncias do assassinato da ativista talvez não sobrevivam para revelar o que descobriram. A nevasca está muito forte e as duas acabam ficando presas na estação que não tem energia para permitir que elas sobrevivam à noite.

Enquanto decidem sobre o que fazer, as duas conversam sobre o que aconteceu no Caso Wheeler, quando Navarro executou o sujeito com um tiro à queima roupa. Danvers admite que era sua intenção ter feito exatamente a mesma coisa, o que não explica porque então a morte de Wheeler acabou causando o afastamento das duas.  

Após uma série de desentendimentos e bate-boca, que culmina com Navarro andando na neve e Danvers caindo no gelo as detetives conversam sobre as visões de Navarro com Holden, o falecido filho de Danvers. O garoto parecia estar querendo desesperadamente se comunicar com a mãe e usava Navarro como interlocutora. A mensagem do menino era muito simples: ele queria que Liz soubesse que "ele a estava observando sempre". Francamente, essa era a mensagem que o menino queria tanto transmitir? Mais uma vez, a revelação soa frouxa e sem grande impacto. 

Enquanto Danvers tenta se recuperar da hipotermia, Clark acaba encontrando seu fim de uma forma semelhante aos seus colegas envolvidos na morte de Annie K. O sujeito acaba saindo na nevasca e morre congelado. Navarro diz que não soltou o sujeito, mas que ele simplesmente conseguiu sair. Suicídio ou morte induzida, Clark morre sem revelar maiores detalhes sobre o que aconteceu em TSALAL. Interessante é que uma de suas declarações, que ecoa as célebres palavras "o Tempo é um círculo plano" acabam fazendo sentido nesse momento. Aparentemente Clark teve uma visão de Navarro (e Navarro dele) onde o cientista percebe o futuro. Ele sofre então uma convulsão que o leva a se proteger na escotilha, escapando assim do que ele acredita ser a vingança de Annie K. Esse trecho é uma ótima sacada e um dos únicos pontos positivos do episódio.
      
5 - Os problemas de Prior estão apenas começando


Enquanto isso, Peter está lidando com as repercussões de seus atos e de suas escolhas. Ele decidiu ficar ao lado de Liz quando teve que escolher entre ela e seu próprio pai. Peter tem a dura tarefa de se livrar do corpo de seu pai e de Otis Heiss para que eles simplesmente desapareçam.

Navarro o instrui a levar os corpos até Rose Aguineau para que ela o ajude a se livrar deles mandando-os para onde está Julia. O plano é se livrar dos mortos e fazer com que eles jamais sejam encontrados. Peter faz a sua parte à risca, limpando as pistas do tiroteio e o sangue de seu pai. Ao longo da série Pete acatou ||à risca todas as ordens de Danvers, mesmo quando elas o faziam bater de frente com os interesses escusos de seu pai. No fim, Peter acaba fazendo novamente o que lhe é dito, embora ele diga à esposa que decidiu por conta própria qual caminho seguir.

Embora fosse um personagem interessante na trama, Pete acaba ficando em segundo plano na maior parte da trama e seu desfecho é um tanto dúbio... talvez se a série tivesse oito episódios (como as demais temporadas) esse personagem poderia ser desenvolvido mais à contento. Infelizmente, ele acaba sendo desperdiçado na história.

Quando Peter se livra do corpo do pai, Rose que havia perfurado os pulmões do cadáver para este não voltar à superfície, explica que o pior ainda está por vir. A parte mais difícil depois de fazer o que fez, será viver com aquilo. O jovem Pete começou a série como um inocente - um cara puxado no centro de um cabo de guerra. No final, ele se torna um homem que carrega um pesado fardo, o de ter um segredo torturante para sempre. 

6 - A Verdade sobre a Morte dos Cientistas


Mas ainda resta uma revelação final e cabe a Danvers descobrir a pista decisiva para desvendar quem matou os cientistas de TSALAL. O testemunho de Clark deixa claro que ele apenas escapou porque se refugiou na escada da escotilha e que o "espírito de Annie K" tentou abrir a porta sem sucesso. 

Danvers tem a ideia de colher digitais do lado de fora da escotilha e improvisando luminol com compostos químicos da base, ela obtém uma impressão perfeita de uma mão feminina onde faltam dois dedos. Aparentemente em Ennis, apenas uma pessoa possui esse perfil: Blair, uma jovem que trabalha na Empresa de pesca de caranguejos e que havia sido vista no primeiro episódio sendo vítima de um sujeito que a espancava frequentemente. Blair não chamou a atenção em nenhum momento da série, portanto, seu envolvimento no crime é uma surpresa. Era sabido que ela trabalhava em TSALAL fazendo a limpeza, mas como ela poderia estar ligada ao caso?

Quando Danvers e Navarro rastreiam Blair até a cabana de Bea, uma senhora que trabalhava com a moça, a coisa começa a ser explicada. E essa explicação é o segundo grande deslize do roteiro de True Detective, pois ele pede mais uma vez que o espectador aceite soluções mirabolantes que além de pouco plausíveis só são obtidas mediante saltos de lógica que beiram o ridículo.

Então vamos lá... 

Bea relata às detetives como ela e as demais funcionárias que faziam o serviço de limpeza e conservação em TSALAL descobriram o envolvimento dos cientistas na morte de Annie K. Vemos em um flashback como Bea encontra por acaso a escotilha que leva às Cavernas de Gelo onde Annie K havia sido assassinada seis anos atrás. Ela decide descer as escadas, movida por uma curiosidade inexplicável que só podemos creditar às necessidades de um roteiro preguiçoso. Bea explora o túnel e em um salto de lógica absurdo conclui que teria sido ali que Annie K foi morta. 

Como ela chegou a essa incrível conclusão? Intuição pura e simples, já que nas suas próprias palavras, até aquele momento todos achavam que Annie K havia sido morta por pessoas da Mina Silver Sky. Não havia nenhum motivo razoável para que ela ou qualquer um suspeitasse dos cientistas, mas inesperadamente ela conclui que tudo teve lugar ali com a participação deles. Não é razoável assumir que os cientistas tivessem deixado pistas claras no local, menos ainda passados SEIS anos. Ainda assim, Bea, uma senhora sem qualquer treinamento investigativo, que apenas posteriormente teve acesso ao relatório policial, correlaciona a infame broca com ponta em forma de estrela, com os ferimentos sofridos pela ativista.


Mas a coisa piora! Como ela concluiu que TODOS os cientistas estariam envolvidos na morte de Annie fica sem explicação! Não há NADA, absolutamente NADA que possa indicar que a ativista teria sido morta por um, dois, três, seis ou todos os homens que compunham a equipe da estação científica. Nada a não ser a necessidade do roteiro indicar isso para justificar o que acontece em seguida.

Determinadas a vingar a morte de Annie K, as mulheres se armam com espingardas e atacam a base rendendo facilmente os homens que simplesmente se entregam sem qualquer resistência. Ora, não seria de se esperar ao menos algum deles reagisse? Mas nenhum, nenhunzinho, esboça qualquer reação e todos, com exceção de Clark (que se escondeu na escotilha) acabam sendo capturados. Em seguida, os cientistas são conduzidos para caminhões e levados para um lugar no meio do deserto de gelo. Mais uma vez, é pouco razoável supor que eles simplesmente aceitaram seu destino, especialmente quando fica claro o que as mulheres pretendem fazer, ao ordenar que eles tirem suas roupas e corram nus pela planície congelada. Não haveria como sobreviver a isso, mas mesmo assim, eles se entregam a esse destino.

É exigir demais que o espectador aceite essa patética cronologia de eventos como algo plausível. Desde o descobrimento do envolvimento dos cientistas, passando pelo plano de matá-los e pela realização do mesmo, tudo é horrivelmente forçado.  

Não vou nem entrar no mérito da cansativa resolução do caso envolvendo cientistas brancos malvados de meia idade que são punidos pela ação conjunta de uma sororidade (já que só há mulheres no grupo) que quando a justiça falha, decide tomar para si a obrigação de punir os transgressores. Francamente, ficou muito, muito, muito forçado.

No fim, as detetives concluem que o "Esquadrão da Morte das Senhoras da Faxina" agiu de forma correta e que a vingança delas deve permanecer em segredo. Já que os legistas de Anchorage apuraram que as mortes foram decorrentes de uma avalanche, então elas não irão questionar, mantendo as coisas como estão.

Ai, ai...
    
7 - Os Casos sem solução


Uma das coisas mais incômodas nessa temporada é que a investigação acaba não dando em absolutamente nada.

A morte de Annie K e dos Cientistas do TSALAL acabam ficando sem qualquer solução. Para todos os efeitos, ninguém fica sabendo quem matou a ativista e quem foi o responsável pelas mortes da equipe. É ainda mais surreal que o grupo de homens era composto por vários estrangeiros. Aparentemente, ninguém se importava muito com eles já que a falta de conclusões não incomoda ninguém. No mundo real, as autoridades cobrariam alguma providência, mas na série, os caras morreram e ninguém dá a mínima. 

Nem mesmo a morte de Clark, que pereceu posteriormente em circunstâncias no mínimo suspeitas acaba chamando a atenção da corregedoria do Alasca que aparece no final entrevistando Danvers quatro meses depois. Que trabalho miserável pessoal! Ela conta que o cara correu para a neve e morreu de hipotermia e ninguém, absolutamente ninguém, questiona. 

O pior, no entanto, é constatar que das 11 mortes apresentadas na temporada, TODAS acabaram sendo acobertadas pelas Detetives. Duvida? 

Então vejamos: 

- A morte de Anne K fica sem solução pois ninguém é apontado como responsável
- A morte de William Wheeler causada por Navarro é acobertada como suicídio
- As mortes dos seis cientistas são abafadas e consideradas um bizarro acidente de avalanche
- A morte de Otis Heiss e de Hank Prior são abafadas pelas detetives com ajuda de Peter
- A morte de Clark é considerada acidental

Caramba... vou te dizer, a Chefe Danvers deve ter muitos contatos para ter sido mantida na chefia da Polícia de Danvers depois de uma investigação tão pífia e sem resultados.

8 - A Conclusão


No fim, os crimes terminam sem uma solução prática. Quatro meses depois dos acontecimentos na noite de ano novo, Danvers dá seu testemunho para dois agentes da Corregedoria que parecem satisfeitos com a versão dela.

A Mina Silver Sky é fechada e encerra suas atividades depois que um vídeo com Clark revelando a liberação proposital de poluentes no meio ambiente vaza na internet. O vídeo havia sido feito por Navarro pouco antes da morte do cientista, apenas não fica claro se por vontade própria dele ou por coação. Com a mina fechada, não se sabe qual será o futuro de Ennis, mas a cidade terá que lidar com essa mudança e se adaptar se quiser sobreviver dali em diante. 

Ficamos sabendo também que Navarro simplesmente desapareceu. Como era esperado, a patrulheira acabou sucumbindo ao que ela própria considerava "sua maldição de família". Ela já havia dado indicações de que preferia simplesmente andar pelo vazio em direção ao esquecimento e é justamente o que ela faz conforme vemos em uma cena de flashback. Embora não fique claro, o destino de Evangeline Navarro, é razoável assumir que ela fez isso por vontade própria.

Anteriormente, durante uma visão, Navarro havia entrado em contato com aquilo que eu assumo ser uma divindade inuit chamada Sedna (embora não seja nomeada assim em momento algum). Esta entidade estende a mão e toca Evangeline transmitindo a ela seu nome inuit Siqiññiaqtuaq (que significa "o retorno do sol após uma longa noite"). Esse encontro e a descoberta de seu nome enfim parecem satisfazer os espíritos que a atormentavam. Navarro cumpre a profecia de sua mãe, de que ela estava sendo aguardada não apenas por ela, mas pela irmã em um lugar onde enfim encontraria sua paz.

Quanto a Danvers, após o caso, ela acaba conseguindo se reaproximar da filha, aparecendo em uma viagem na companhia dela no que aparenta ser um final feliz. Liz Danvers passou por maus bocados durante a série mas supostamente encontrou um equilíbrio para sua vida.

Entretanto. estamos em Ennis, o "fim do mundo", e nesse lugar remoto os mortos sempre estão lado a lado dos vivos. Então não é surpresa ver Evangeline Navarro na porta da frente da casa onde Danvers está passando férias. Talvez ela esteja sempre com ela dali em diante.

E esse é o fim...

9 - Espera aí... mas e a Língua?


Alguém poderia, por favor, explicar como aquele diabo de língua foi parar na TSALAL?

Estou me referindo à língua de Anne K que teoricamente foi cortada por Hank para dar o recado de que ela estava falando demais. Se foi Hank quem cortou a língua, para que ele trouxe a coisa para a base e a deixou lá? O que ele ganhava com isso senão levantar a suspeita de que os crimes tinham ligação?

Mais esquisito ainda, para que ele manteve a língua guardada em um freezer por SEIS FUCKING ANOS?!?!?!?

Por que simplesmente não descartou a língua no meio do nada, jogou em um buraco no gelo ou no meio da estrada. Jesus, que coisa sem sentido!!!!

O que podemos imaginar é que a língua surgiu na base por intermédio de alguma força sobrenatural que assim desejou. Embora no fim o sobrenatural não tenha realmente figurado nos assassinatos, essa parece ser a única explicação. De outra forma temos que aceitar que Hank foi burro o bastante para guardar a língua, manter em sua posse até resolver descartar ela na base e fazer com que Navarro se envolvesse no caso. 

Meu Deus, que furo no roteiro!!!! 

10 - Espera aí... e o pai de Rusty Cohle?


Com tudo que aconteceu nesse último episódio, uma dúvida ficou em aberto. Qual era o papel de Travis Cohle, o pai do Rustin nessa história?

Sério, faria diferença se ao invés de Travis o sujeito se chamasse "João das Couves"?

Nenhuma!!! 

O personagem só estava ali para atrair a atenção do público e fazer os espectadores se perguntarem se em algum momento haveria alguma conexão direta com a primeira temporada. Golpe baixo, Issa López, golpe muito baixo.

11 - Espera aí.... e os Tuttle?


Mais uma bola fora do roteiro.

Parecia ser algo de enorme importância o fato da Mina Silver Sky ser propriedade da Família Tuttle. Da mesma forma, quando se descobriu que o TSALAL era patrocinado pela mesma corporação, a Tuttle United, parecia ser uma informação essencial na trama.

Mas não... se ao invés dos Tuttle, a Mina e o TSALAL pertencessem à família "Silva", daria no mesmo. 

Mais uma vez, Issa López explora elementos da primeira temporada que não resultam em absolutamente nada. Ridícula essa insistência do roteiro em fazer uma conexão que não se sustenta e que não tem qualquer significado para a temporada. 

12 - Espera aí... e as Espirais?


Mas o pior, o pior mesmo, foi o uso das espirais que estiveram presentes ao longo de toda temporada, mas que no fim não tinham qualquer ligação com os casos.

Ao que tudo indica, as Espirais que na primeira temporada representavam a posse do Rei Amarelo sobre uma pessoa ou sobre um sacrifício, não tinham o mesmo significado nessa temporada. De fato, o Rei Amarelo não é citado em nenhum momento. Tudo leva a crer que o que ocorreu em Ennis não tem qualquer ligação com o caso da Louisiana. Absolutamente nada!

Apesar de Travis Cohle viver em Ennis e dos Tuttle serem os donos da Mina e da estação científica, o mais provável é que isso não passe de uma bruta coincidência. Se bobear Travis Cohle nem é o pai de Rustin e os Tuttle citados são outra família com o mesmo sobrenome. O que é RIDÍCULO!

Mas e as espirais. pelo amor de Deus? 

Talvez elas também não passem de uma coincidência. A despeito do símbolo ser exatamente o mesmo, a função das espirais parece ser apenas marcar as entradas para a Terra da Noite que são as cavernas de gelo. Apesar de Rose Aguinou comentar no segundo episódio que sabia o significado das espirais, ninguém lembrou de perguntar a ela qual é (!!!). No fim, ficamos com a explicação capenga de que é algo ruim e muito antigo, mais nada. Que desperdício!

O que posso intuir é que o roteiro quis usar as espirais para atrair os fãs da primeira temporada que ficaram felizes quando viram no trailer o símbolo e elucubraram teorias de como o Rei Amarelo seria usado na Quarta Temporada. Tudo no fim não passava de uma isca para atrair o público. Golpe muito baixo, Issa López! 

*     *     *

Então é isso...

Na minha opinião True Detective: Terra Noturna começou bem, mas foi ambiciosa demais no sentido de lançar muitas perguntas para prender o público e envolvê-lo num grande mistério. O problema é que justo na hora de revelar esses mistério, o roteiro falha, levando a um final absurdo, pouco plausível e tolo.

Uma das minhas maiores queixas é que Terra Noturna deliberadamente usa a primeira temporada como bengala para estabelecer o interesse e atrair os espectadores sob uma premissa falsa de que haveria uma ligação entre as duas histórias. 

Não havia! 

Esse uso indevido e injustificável de elementos chapinhados da outra temporada acabou frustrando expectativas e esvaziando a série na sua conclusão. Não por acaso, Nic Pizzolato, o criador de True Detective criticou enormemente a condução de Issa López e o uso de temas que ele introduziu quando estava à frente da série. 

Mas apesar dos altos e baixos, True Detective retomou o interesse do público, alcançando uma excelente audiência. Com isso, uma quinta temporada deve estar nos planos do Canal Max Prime. Se vai valer a pena assistir ou não... veremos.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

True Detective episódio 4 - O Pior Natal de todos os tempos


Como se a escuridão interminável no Círculo Polar Ártico não fosse suficientemente deprimente, experimente passar o Natal sozinho no Alasca. O Episódio 4 de True Detective: Terra Noturna mostra praticamente todos os habitantes de Ennis passando o feriado do dia 24 e 25 de Dezembro solitariamente enfrentando alguma forma de turbulência pessoal - bem, não seria True Detective sem trauma psicológico e pavor existencial, não é? 

Ao final desse episódio, a impressão geral é que as coisas estão se tornando cada vez mais intrincadas nos casos de assassinato, tanto em TSALAL quanto de Annie Kowtok. Embora True Detective: Terra Noturna esteja se desenvolvendo de maneira muito interessante e consiga manter o interesse, o único receio é que fiquem pontas soltas sem amarrar no último episódio. A série terá seis episódios, dois a menos do que as demais temporadas, então não há mais muito tempo à perder. 

O quarto episódio se dedicou a aprofundar os dramas pessoais dos personagens e conceder camadas adicionais a eles. Foi um episódio muito mais centrado no s personagens do que na investigação e nos procedimentos. Isso não é ruim, mas em um cronograma tão enxuto, faz com que a gente levante uma sobrancelha. 

Apesar disso, não dá para dizer que não tenham havido progressos na trama, preservando o padrão de suspense que a série estabelecer. Em seguida, vamos analisar alguns dos acontecimentos principais do quarto episódio, lembrando a todos que teremos SPOILERS em enorme quantidade daqui em diante.

1 - Pistas no Vídeo de Annie K


O episódio três terminou com a descoberta de um vídeo no celular de Annie K mostrando seus últimos momentos de vida naquilo que parece ser uma caverna de gelo.

Danvers assiste a cena dezenas de vezes, mas como esperado, as imagens não revelam a identidade do assassino da ativista. Seus gritos são o único registro do terrível destino. Contudo, Danvers consegue perceber dois elementos interessantes no pequeno trecho.

Embora não haja nenhuma informação clara sobre onde fica esse local, a detetive percebe a existência de um fóssil na parede congelada da caverna. Tudo sugere que se trata da vértebra de uma baleia pré-histórica, presa no gelo há milhares de anos. Levando essa informação ao Professor Bryce, um geólogo que comenta a existência de cavernas desse tipo nos arredores de Ennis. Estas, no entanto, foram pouco exploradas já que é um enorme risco se meter no interior delas por conta de desabamentos. Tudo indica que foi em uma dessas avernas que Anne foi assassinada, mas que seu cadáver foi carregado posteriormente para o local onde foi descoberto. Eu ainda tenho minhas dúvidas sobre quem fez isso, pode ter sido o próprio assassino com o intuito de intimidar qualquer outro ativista protestando contra a Mina Silver Sky ou pode ter sido alguém que não queria simplesmente abandonar o corpo da mulher naquele lugar remoto.

Seja como for, Liz e Navarro devem buscar o local nos próximos episódios e a cena do crime deve revelar mais detalhes sobre o que aconteceu seis anos atrás.  

O outro detalhe que Danvers percebe é que o interior da Caverna de Gelo parecia ser iluminado por lâmpadas ligadas a um gerador. Ela percebe que essa iluminação é interrompida repentinamente de uma maneira muito similar ao que foi registrado no derradeiro vídeo do TSALAL. De fato, é uma cena muito semelhante, na qual a instalação elétrica apaga por inteiro após faíscas. 

Danvers relaciona esse detalhe ao Engenheiro de Manutenção Oliver Tagaq, que sem dúvida teria acesso a esse equipamento e saberia como cortar a energia e provocar o blackout. Essa informação é interessante pois leva a teoria de que o assassino de Anne pode ser o mesmo que atacou a Base Científica, utilizando o mesmo modus operandi: causar escuridão e gerar confusão. A Chefe Danvers decide enviar Navarro e Pete Prior para entrevistar Tagaq à respeito, o que os leva até a Cabana de Caça uma vez mais.

2 - O Capitão Connely aparece novamente


O superior direto da Chefe Danvers na APF, Capitão Ted Connely, retorna a Ennis com o objetivo de assumir a investigação e enviar as provas para Anchorage. Em teoria, o procedimento de Connely é correto já que uma cidade maior possui instalações e equipamento mais adequado para processar as pistas. O infame "picolé de cadáveres" já derreteu o suficiente para seguir viagem até os legistas mais gabaritados para a autópsia. O que eles vão descobrir pode ou não corroborar as impressões iniciais do veterinário que analisou os corpos à pedido de Pete.

Embora Connely inicialmente garanta a Danvers que não está lá para tirar o caso dela, sua chegada à cidade sinaliza com problemas para os investigadores locais. Nos episódios anteriores ficou claro que agentes da lei como Hank Prior tentaram enterrar evidências em torno do assassinato de Annie supostamente para proteger os interesses dos proprietários da Silver Sky Mine.

Como os assassinatos de TSALAL estão diretamente ligados à morte de Annie, é provável alguém interromper a investigação novamente antes que Danvers e Navarro cheguem ao fundo do mistério. Connely até o momento não agiu diretamente contra a investigação, aparentemente porque acredita que é questão de tempo até o caso deixar a jurisdição de Ennis e seguir para outros detetives. Estariam estes já comprometidos em enterrar a investigação? Nesse caso, a tão aguardada autópsia pode acabar trazendo menos revelações do que o esperado.

Em certa altura, Danvers pergunta ao Capitão Connely sobre o vídeo de Annie K, e ele pede que tudo seja mantido em sigilo. Isso já deixa uma insinuação de que a coisa pode ser abafada. Se os poderosos que controlam Ennis começarem a pressioná-lo, é bem capaz ele amarrar de vez as mãos de Danvers e Navarro as impedindo de seguir adiante coma investigação. 

Não é a primeira vez que vemos corrupção e jogos de poder serem um obstáculo para que a verdade venha à tona, resta saber como elas irão contornar essas barreiras. Em Ennis, um lugar pequeno, onde tudo fica longe e exige deslocamento por estradas mal iluminadas, fica ainda mais difícil manter o controle sobre diligências, entrevistas e coleta de provas extraoficialmente.

3 - Peter encontra outro homem com ferimentos semelhantes ao dos cientistas


Peter Prior realmente está despontando como um ótimo detetive nesse caso. O novato da chefatura de Polícia em Ennis teve mais uma boa ideia no quarto episódio, buscar por outras vítimas que tenham sofrido ferimentos similares aos cientistas de TSALAL.

De um ponto de vista procedimental, essa abordagem é perfeita. Ele está seguindo à risca a cartilha da criminologia que indica analisar as vítimas em busca de pontos comuns. Essa ciência é conhecida como VITIMOLOGIA e constitui uma parte central em qualquer inquérito.

Como diria, a Chefe Danvers, é preciso fazer as perguntar corretas para chegar ao fundo do mistério. A pergunta levantada por Peter é: "Já houve pessoas com ferimentos semelhantes aos dos cientistas"?

E a resposta é um surpreendente sim!

Nesse momento ficamos sabendo da existência de uma peça chave que pode auxiliar na elucidação do caso, um certo Otis Heiss. Um cidadão alemão, Heiss foi encontrado em abril de 1998 com ruptura nos tímpanos, córneas queimadas e marcas de mordidas auto infligidas nas mãos. A mesma lista de estranhos ferimentos dos cientistas do TSALAL. Entender como isso aconteceu com Heiss quase três décadas atrás pode lançar uma luz sobre como a mesma coisa aconteceu com os pesquisadores a algumas semanas.

Infelizmente, as coisas não são tão fáceis. Parece tarefa quase impossível localizar Otis Heiss já que ele não possui registros oficiais do governo, parentes próximos ou mesmo um endereço fixo. Após sofrer seus graves ferimentos, tratados como fruto de acidente na neve, o sujeito se tornou um andarilho e um viciado sem paradeiro conhecido. Ele é um vagabundo em uma região imensa que pode estar praticamente em qualquer canto.

Tenho a suspeita de que esse sujeito vai ser extremamente importante para explicar os assassinatos. Outra suspeita é que ele possa finalmente ser o indivíduo que vai jogar uma luz sobre o envolvimento do Rei Amarelo na trama. Não é totalmente estranho que pessoas desesperadas e que perderam tudo acabem desenvolvendo uma relação direta com o misticismo... no caso desse sujeito, me parece razoável teorizar que ele será a ponte de ligação das detetives com o mundo sobrenatural. Não tenho bases para provar isso ainda, mas me parece uma aposta válida.  

4 - A noiva de Hank não aparece


Desde o primeiro episódio, Hank está falando à respeito de sua noiva russa que virá de Vladivostok.

O sujeito está ansioso aguardando por ela, mas tudo indica que Irina não passa de um golpe promovido por um catfish para tirar dinheiro do detetive. Por um momento até é possível sentir pena de Hank Prior... por um momento.

Chega a ser patético ver como ele arrumou a casa para aguardar sua noiva, pintando a sala, redecorando e cobrindo a cama com pétalas de rosas (imagina quanto custaram essas rosas no Alasca!!!). Quando os passageiros do voo que deveria trazer Irina terminam de desembarcar a expressão desconsolada dele é de enorme tristeza.

"Você não chegou a enviar dinheiro para ela", pergunta mais tarde o filho, já imaginando o que teria acontecido. Nós sabemos que Hank mandou dinheiro para cobrir "despesas médicas" da mãe de sua futura esposa. Pobre diabo, nem a conheceu ainda e já está sendo engabelado.

Contudo a vulnerabilidade de Hank pode acabar beneficiando a investigação

Em última análise, isso pode ajudar na investigação, visto que Hank ocultou intencionalmente algumas informações sobre o caso de Annie K. Ele parece estranhamente "legal" com Peter depois do ocorrido, um misto de vergonha e "coração partido" poderiam regenerar ainda que parcialmente o sujeito? Talvez ele possa revelar quem eram os interessados em acobertar o assassinato e fazer seu trabalho nem que seja apenas para variar um pouco. 

5 - A Irmã de Navarro vai para a Neve


Num dos momentos mais profundos desse quarto episódio, a irmã de Navarro, Julia acaba desistindo de vez e se entrega ao desespero.

Confirmamos nossas suspeitas de que Julia sofria de esquizofrenia, doença que foi herdada de sua mãe que também padecia dessa condição mental. Após uma série de crises agudas, Julia acaba concordando em se internar num sanatório, receber ajuda e remédios para combater o quadro cada vez mais grave de alucinações. Talvez ela até tivesse a intensão de fazer isso, mas a visão de sua falecida mãe de baixo da cama acaba sendo pesada demais para ela suportar.

Aproveitando que a instituição onde ela está tem internação voluntária, ela acaba escapando sem que ninguém perceba. Ela acaba indo para seu esconderijo e de lá decide caminhar para o esquecimento sem roupa no meio do frio extremo. Curiosamente, é exatamente o que Navarro havia confidenciado a Danvers no episódio passado, seu desejo de simplesmente deixar tudo de lado e abraçar o esquecimento de uma vez por todas. 

Navarro fala à respeito de se sentir amaldiçoada depois que fica sabendo da morte da irmã. Ela com certeza teme que a doença que vitimou sua mãe - e agora a irmã possa estar nela também. Sabemos que esquizofrenia pode ser hereditária e o fato de Navarro estar experimentando várias alucinações e visões desde o início do caso, pode levá-la a suspeitar de que estes são apenas os primeiros indícios do que está por vir. Navarro ouviu vozes alertando de que alguém havia despertado, viu um urso polar (que pode ser uma alucinação), teve uma visão do filho de Danvers e mais recentemente recebeu um aviso de Anders Lund. Ela tem todos os motivos do mundo para achar que está perdendo a razão e cedendo espaço para a doença.

Sobre a morte de Julia, há alguns detalhes que chamam a atenção.

Primeiro, não há razões para suspeitar que ela sabia como os cientistas do TSALAL morreram, contudo assim como eles, ela também dobra cuidadosamente as roupas e calçados antes de remover e ir para a neve. É estranho! Uma pessoa prestes a cometer suicídio deixar as roupas cuidadosamente dobradas não faz muito sentido.

Outro detalhe curioso é que ela vê a mesma laranja que Navarro atirou longe e que retornou aos seus pés episódio passado. A laranja que rola de baixo da cama, supostamente empurrada pelo fantasma da mãe fazia parte da alucinação de Navarro. Não há porque acreditar que a patrulheira teria confidenciado isso para a irmã, então é no mínimo esquisito que ela também tenha tido essa experiência.

Finalmente temos a maneira como Julia morreu. Navarro fica sabendo que Julia andou até a costa e caiu no mar, seu corpo foi recolhido pela polícia. Por alguma razão isso me remete diretamente a Sedna, a Deusa Inuit que não apenas rege as vinganças e retribuição, mas também tem no Mar a sua província de poder. Poderia o suicídio de Julia ter elementos de uma espécie de auto sacrifício? Ela teria desistido por não era capaz de suportar as visões que recebia e que não conseguia interpretar?

Rose disse anteriormente que não se deveria confundir doença mental com o sobrenatural. Talvez Julia não fosse capaz de entender onde começava uma coisa e terminava a outra. Talvez as visões fossem avisos e presságios que ela não tinha estrutura para suportar. Ela enxergava esse assédio do sobrenatural, tentando mostrar algo, como um reflexo de uma doença.

Notem que Navarro logo em seguida começa a ter visões semelhantes às de Julia. Talvez, de agora em diante seja Evangeline quem passará a sofrer com esse assédio. Os mortos parecem querer contar algo aos vivos desesperadamente, mas os canais não estão dispostos a ouvir.      

6 - Onde está Oliver Tagaq? 


Mesmo que Oliver Tagaq não tenha sido visto neste episódio, ele ainda é fundamental em uma cena importante. 

Danvers envia Navarro e Pete de volta à casa onde Tagaq está vivendo para investigar o que ele teria a dizer sobre a súbita falta de luz na TSALAL e no vídeo gravado por Annie K. Ele é ao meu ver um dos principais suspeitos no caso de Annie e se eu tivesse que apontar alguém que tem culpa no cartório, esse alguém é esse sujeito.

Mas é claro, quando a dupla chega a cabana, Tagaq obviamente já desapareceu. Segundo os outros inuit no acampamento de caça, o suspeito deixou o local logo depois de ser interrogado por Danvers e Navarro. Embora o comportamento arredio de Tagaq possa ser decorrente de seu receio quanto autoridades, eu ainda acho que ele está envolvido nos crimes até o pescoço. 

Além disso, há uma pista a ser encontrada na cabana, uma que coloca Tagaq no rol dos suspeitos com ainda mais força. Navarro e Pete encontram o infame símbolo em espiral desenhado com carvão na tampa de uma caixa de papelão e esculpido em uma pedra. Ora, parece claro que o engenheiro conhece o símbolo e sabe qual o seu significado. 

A essa altura, Navarro já deveria ter questionado Rose à respeito da origem do símbolo já que ela claramente parecia saber sobre ele (como ficou subentendido no episódio 2). Rose disse que se trata de "algo antigo", "mais antigo que Ennis" e "tão antigo quanto a neve". Nesse episódio ficamos sabendo que Rose é uma ex-professora que em algum momento se sentiu compelida a deixar tudo para traz e se mudar para o Alasca em busca de paz. Há livros e mais livros na casa de Rose e ela parece ser alguém que estudou e que tem um conhecimento abrangente do mundo. Não descarto que ela possa ser uma antropóloga e como tal, possa ter estudado o símbolo do Rei Amarelo. Seria ótimo ver alguns dos mistérios do Símbolo serem esclarecidos de uma vez por todas, quem sabe no próximo episódio.

Mas voltemos a Tagaq. 

A pedra com o símbolo gravado me parece ser algum tipo de amuleto ou pendente, algo que um "devoto" usaria em volta do pescoço. Talvez tenhamos as indicações de que Oliver Tagaq é um cultista dessa manifestação sobrenatural, que eu imagino, talvez nem venha a ser chamado de Rei Amarelo. Possivelmente os povos nativos o conhecerão por outro nome, quem sabe Sedna.

Na saída da cabana abandonada, Navarro pergunta aos ex-vizinhos de Oliver se eles sabem o que significa o símbolo, eles não respondem - seus cachorros começam a latir e eles meio que apenas... olham ameaçadoramente. Ou seria com receio (ou ainda) medo?

7 - Mais sobre a Caverna de Gelo


Danvers e Navarro decidem visitar o Professor de Geologia da escola local para descobrir mais pistas sobre a caverna e os fósseis vistos no vídeo. É incrível como os informantes da dupla de Detetives são pessoas comuns, mas que se provam úteis no decorrer da investigação (que o diga o Veterinário que deu alguns insights muito úteis episódio passado).

O Professor Bryce revela que o fóssil parece ser de uma baleia pré-histórica conforme vimos anteriormente. Quando Navarro e Danvers perguntam sobre a localização da caverna onde a gravação foi feita, ele faz uma breve pesquisa online e descobre que ela fica próxima. E mais, um homem chamado Otis Heiss foi o responsável pelo mapeamento dessa mesma caverna. 

Apenas recordando, Otis é o sujeito que sofreu ferimentos similares aos Cientistas mortos do Tsalal. Parece ser muita coincidência...

Me pergunto se o acidente que Heiss sofreu em abril de 1998 teria acontecido nessa mesma Caverna de Gelo. Se os ferimentos que ele carregava teriam sido deixados por uma experiência nessa caverna, algo que deixou cicatrizes tanto físicas quanto mentais, e porque não dizer, espirituais. Me parece que esse "acidente" foi o que mudou o sujeito para sempre, transformou um cartógrafo em um andarilho drogado. Não deve ter sido pouca coisa.

Fica a questão: Otis teria sido um voluntário nessa experiência que mudou sua vida ou uma vítima de circunstâncias? Ele queria ver algo, queria experimentar algum grau de transcendência ou simplesmente foi colhido por um acidente que gravou o impacto de uma revelação em sua psique?

Eu acredito que Otis teve algum tipo de revelação. Ele experimentou algo que embora tenha lhe deixado cego e quase morto, serviu para "abrir a sua mente" para uma realidade da qual ele não conseguiu escapar. Algo que o condenou a uma vida errante.

8 - Navarro e Danvers visitam as Dragas 


Um pescador local viu um homem com a descrição próxima a Raymond Clark vagando pela neve próximo às dragas nos arredores de Ennis. A testemunha também envia uma foto na qual a figura de um homem veste a jaqueta cor de rosa de Raymond Clark (que antes pertencia a Annie). 

Apesar de estar angustiada com a notícia da morte de sua irmã, Navarro acompanha Danvers até as dragas para tentar encontrar Clark. Mas nem tudo é o que parece ser.

As dragas parecem ser grandes máquinas usadas para dragar o leito de rios e lagos congelados. Navarro comenta que são máquinas enormes, mas que foram simplesmente deixadas para enferrujar naquele lugar. Ao entrar no lugar, o complexo parece uma casa mal assombrada: escura, sinistra, silenciosa.

E como uma boa casa assombrada, o local tem as suas peculiaridades esquisitas.

Primeiro Navarro e Danvers acabam sendo separadas no momento que a primeira tem uma visão da própria irmã morta sendo arrastada pela água. Uma vez separadas, as duas detetives acabam pegando caminhos diferentes.

Danvers revista o local em busca de Clark. Encontra o que parece ser um esconderijo onde há drogas, cobertores e comida. Num canto escuro, Liz acaba achando um sujeito vestindo o casaco rosa com capuz e ordena que ele se renda. Mas então ela descobre que não se trata de Clark, mas de Otis Heiss.

As perguntas dela sobre o paradeiro de Clark são respondidas de forma enigmática. 

O cego se contorce e diz que Clark está escondido na Terra Noturna, o que me remeteu imediatamente a primeira temporada, quando Errol Childress (o assassino da Louisiana) dizia a Rusty Cohle no derradeiro episódio que eles não estavam mais no mundo real, e sim em Carcosa. Seria a "Terra Noturna" o equivalente a Carcosa? Uma espécie de realidade alterada regida por forças cósmicas, incompreensíveis e onde os limites entre os mundos se desfazem?  

Não foi isso que Rose disse sobre Ennis no segundo episódio? Que a "cidade no fim do mundo" está na fronteira entre o físico e o espiritual, onde os limites se perdem. Eu imagino se a Terra Noturna não seria a caverna de gelo, local de revelações e de incidentes inexplicáveis capazes de mudar a vida das pessoas para sempre. Onde Annie K encontrou seu destino, onde Heiss enlouqueceu de vez e onde Clark foi buscar respostas após a tragédia do TSALAL.

Danvers acaba prendendo Heiss e o imobilizando para levar até o que vai ser um interessante interrogatório no próximo episódio, mas e quanto a Evangeline?  
 
9 - Navarro tem outra Experiência Sobrenatural


Enquanto Danvers captura Otis Heiss, Navarro está experimentando sua própria fatia de terror.

Depois de chegar às dragas, Navarro tem a visão de uma mulher morta flutuando no canal de água abaixo deles. Navarro desce as escadas para investigar o que viu e parece encontrar o fantasma de sua irmã morta, reconhecível por seu cabelo azul e pela tatuagem sob a clavícula. 

Depois de capturar o homem cego, Danvers sai em busca de Navarro e a encontra sentada no chão em estado de choque. A visão da irmã a deixou catatônica e seus ouvidos estão sangrando.

Ao redor do mundo, para muitas culturas primitivas, ouvidos sangrando são o símbolo de uma verdade ou de uma revelação sobrenatural transmitida. As pessoas que não estão preparadas para receber essa revelação sentem fisicamente toda carga desta e manifestam ferimentos. Seria isso que aconteceu a Evangeline? Teria recebido uma revelação que não estava pronta para entender que a deixou em choque?

Rose disse anteriormente que os mortos procuram os vivos para compartilhar algum segredo. Me parece que foi o que aconteceu aqui, Julia transmitiu a irmã alguma informação que só ela (agora morta) é capaz de passar adiante. Se Evangeline vai ser capaz de entender ou não o que ela disse, isso veremos no próximo episódio.

 *     *     *

Embora nenhuma dessas “pistas” recém-descobertas faça muito sentido, o final do quarto capítulo de True Detective: Terra Noturna torna evidente a guinada para o sobrenatural em toda série. A Terra Noturna pode ser um mundo que está além da fronteira que separa os humanos dos mortos e estes desejam serem ouvidos. É algo puramente metafísico que vai muito, muito além do drama criminal procedimental que estamos acostumados.

Faltam apenas dois episódios para saber como isso vai terminar.

Fiquem conosco, detetives...

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Falecimento de Brian Lumley - Autor do Mythos e criador de Horrores Modernos


Essa semana soubemos da triste notícia do falecimento de Brian Lumley (1937–2024). 

Brian era um dos mais aclamados escritores fantásticos de sua geração. Ele recebeu o prêmio World Fantasy pelo conjunto de sua obra e o prêmio pelo conjunto de sua obra da Horror Writers Association. Prêmios de grande prestígio concedidos aos mais destacados autores do gênero Fantasia Fantástica.

No início de sua carreira, Brian se dedicou aos Mythos de Cthulhu

Em 1971 ele escreveu "The Caller of the Black", publicado pela Arkham House de August Derleth. A partir dali, passou a escrever peças importantes que ajudaram a expandir a mitologia criada por H.P. Lovecraft, contribuindo para aumentar o repertório de horrores indizíveis. A visão única e inspiradora de Brian a respeito de entidades do Mythos como Azathoth e Nyarlathotep foi desafiadora, inventiva e inspiradora. O ciclo de romances sobre a Terra dos Sonhos (Dreamlands), começando com Hero of Dreams (1986), construiu e expandiu as histórias fundamentais de Lovecraft com entusiasmo adicional e uma pitada de fanfarronice.


As criações de Brian foram rapidamente incorporadas ao RPG Chamado de Cthulhu, notadamente os monstruosos Chthonians, os Grandes Antigos Shudde M'ell e Yibb-Tstll, bem como alguns tomos de conhecimento profano favoritos dos fãs, como Cthaat Aquadingen, G'harne Fragments e Unter Zee Kulten

O conto de Brian, “The Running Man”, também apareceu nas páginas do agora esgotado Green and Pleasant Land, um suplemento britânico de Chamado de Cthulhu produzido sob licença pela Games Workshop em 1987. “The Mirror of Nitocris” de Brian também pode ser encontrado nas páginas da edição 13 da revista Imagine - onde muito conteúdo foi dedicado ao RPG. A base dessa história foi usada em um capítulo da megacampanha Máscaras de Nyarlathotep.

Eventualmente Brian se afastou dos mitos de Lovecraft e criou seus próprios mitos, dedicando-se a um tema que sempre o fascinou: vampirismo. Iniciando com a série Necroscope (1986), ele construiu uma visão única ao tema de mortos-vivos que por sua vez inspirou a criação de um RPG de mesa Necroscope em 1995. As criações de Brian foram fundamentais não apenas em um, mas em dois famosos jogos de RPG.


Além de seus romances, os variados e perspicazes contos e novelas de Brian apareceram em dezenas de antologias e coleções. Um tanto na linha dos heróis de Robert E. Howard, os personagens de Brian tendiam a ser capazes e fortes, e mais propensos a rir diante do perigo em vez de desmaiar ao ver os monstros de Cthulhu.

Infelizmente, Brian Lumley é mais um dos grandes escritores do Fantástico pouco conhecido no Brasil. Quase nada de sua vasta obra chegou a ser publicada por estas bandas e seu nome é quase desconhecido, mesmo entre os fãs do gênero. Para ler as histórias de Lumley é preciso recorrer a livros importados com seu nome ou ter a sorte de encontrar um dos seus contos em alguma antologia. Foi assim que consegui ter meu primeiro contato com esse Mestre do Terror. 

Eu indico "The Burrowers Beneath" romance sobre terríveis monstros subterrâneos como uma de suas obras mais atraentes, mas toda série dedicada ao seu principal herói, Titus Crow, é de primeira grandeza. Burrowers apresenta Titus Crow, Henri de Marginy, a raça Chthoniana, a Fundação Wilmarth e moderniza as criações de H.P. Lovecraft, funcionando para que os recém-chegados entendam todas as referências feitas. É um romance caótico, mas no bom sentido, que trata de grandes questões, conspirações e horrores primordiais. Francamente, poucos autores conseguiram fazer a transição dos conceitos originais de Lovecraft para os dias atuais com a genialidade de Lumley.

Fica a dica para as editoras nacionais que buscam trazer histórias de qualidade e autores consagrados ainda inéditos. Brian Lumley é um mestre inquestionável que vale a pena conhecer.


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

True Detective: Terra Noturna episodio 3 - Segredos e Mentiras no Alasca


O episódio 3 de True Detective: Terra Noturna começa e termina com gritos de uma mulher, ecoando do passado de Ennis ao presente. Os gritos do início acompanham o início da vida. Quando Evangeline Navarro, durante um flashback de antes do caso Annie Kowtok, é enviada para prender Annie por vandalizar a mina Silver Sky. Ela encontra a mulher procurada em um centro de parto não oficial, onde Annie está ajudando uma mãe angustiada em seu parto. Após retirar o recém nascido, Annie bombeia ar para os pulmões do bebê silencioso, trazendo-o à vida após momentos angustiantes. A criança saúda o mundo com seus próprios gritos de boas-vindas.

Os gritos no final do episódio acompanham o encerramento da vida. No presente de Ennis, Annie já está morta há seis anos e a cidade está pior sem ela. Um crime hediondo envolvendo os cientistas da estação científica de TSALAL pode ter ligação com sua morte, mas ainda é cedo para dizer de que maneira. Um telefone pertencente a Anne e encontrado durante a investigação mostra os últimos e brutais instantes de vida da parteira. Seus gritos ressoam do além-túmulo.

A terceira parte de Night Country, que cobre o quinto e o sexto dias de escuridão no Alasca, não contribui muito para avançar na investigação das mortes dos cientistas de Tsalal: nossos detetives não chegam nem perto de rastrear o principal suspeito, Raymond Clark, e muito menos de fechar o caso. Mas o episódio não está isento de grandes revelações. Esta semana, resolvemos alguns mistérios sobre nossos espinhosos protagonistas, enquanto Terra Noturna lança uma luz sobre a Família de Navarro e o incidente que resultou em sua desavença com Danvers.

Vamos investigar alguns pontos do episódio em busca d epistas e indícios no caso.

1 - Hank reteve informações vitais sobre o Caso Anne K


Confirmando nossa suspeita, Hank Prior, o Delegado da Polícia de Ennis está mais sujo que pau de galinheiro. Ele parece ter manipulado informações e ignorado pistas na investigação da morte de Annie K.

Há algo de muito suspeito em suas ações desde o início da investigação. Hank estava com os arquivos e relatórios do caso em sua casa e não parecia muito interessado em devolvê-lo. De fato, se não fosse seu filho, Pete ter recuperado os documentos é possível que eles sequer fossem encontrados. Agora surgiram indícios de que ele tentava sabotar as investigações retendo informações importantes. 

No início do episódio 3, Hank contrata civis para garantir que Raymond Clark seja capturado e até sugere que o matem, se necessário. Mais tarde no episódio, Navarro e Danvers visitam uma cabeleireira, Suzan, que costumava sair com Annie e Raymond. Quando Navarro pergunta por que ela não contou que sabia do relacionamento, ela revela que telefonou para a delegacia e conversou com Hank. Mas a pista JAMAIS foi investigada!

Ou seja, o Delegado sabia do caso de Annie com o cientista da TSALAL, mas preferiu ignorar a informação, alegando que a mulher tinha uma vida pessoal promíscua. É claro, isso não convence ninguém!

Navarro suspeita que Hank pode estar envolvido com as pessoas poderosas que administram a Mina Silver Sky e que desejavam silenciar a ativista. Ela acredita que o delegado pode estar encobrindo rastros deliberadamente com o objetivo de fazer com que o caso jamais seja solucionado. Parece uma suspeita razoável dados os acontecimentos até aqui. 

Há outro detalhe curioso envolvendo o delegado Prior. Embora ainda não tenha sido revelado muito sobre a noiva russa de Hank, algo parece estranho nisso. Será que ele está sendo chantageado por alguém capaz de impedir a vinda dela? Ou haveria algo mais acontecendo?  

Suspeito que essa personagem terá um papel importante a desempenhar no grande esquema, mas ainda é cedo para dizer qual. 

Independentemente do que esteja acontecendo, tudo indica que Hank acabará enfrentando problemas (ou até sendo eliminado como queima de arquivo) se continuar obstruindo a investigação.

2 - Segredos e Mentiras no Caso Wheeler


Quando Peter pergunta a Danvers o que aconteceu entre ela e Navarro, ela hesitantemente conta sua versão da história. Enquanto narra a história de seu desentendimento, nós assistimos um flashback dos eventos que mostram detalhes propositalmente conflitantes.

Na versão de Danvers um homem chamado William Wheeler costumava abusar frequentemente de uma mulher  a submetendo a violentas surras. Por medo, ela não o denunciava. Enfim, um dia a coisa acaba indo longe demais e ele termina por matá-la. A Chefe de Polícia conta que quando ela e Navarro chegaram ao local do crime, Wheeler e a mulher já estavam mortos. Ele teria cometido suicidio. No entanto, o flashback revela que o assassino estava vivo quando Navarro e Danvers apareceram em sua casa.

Essa discrepância na versão da história de Danvers sugere que ela está mentindo sobre os acontecimentos. Fica claro que Wheeler é um crápula sem um pingo de remorso por ter matado a mulher e que isso deve ter feito o sangue das detetives ferver. Embora o que realmente aconteceu permaneça um mistério, é provável que uma delas tenha matado Wheeler no calor do momento. Considerando que logo em seguida a dupla teve sua briga e Navarro terminou sendo  transferida para a Patrulha, é provável que ela tenha executado o canalha à sangue frio.

Não é a primeira vez em True Detective que os policiais matam um suspeito e tentam criar uma situação para acobertar os atos praticados. Na primeira temporada, Martin Hart atira na cabeça de Reggie Ledoux depois de descobrir as crianças que ele vinha abusando no esconderijo no pântano. Aqui parece que temos uma repetição disso, com a diferença de que Danvers, diferente de Cohle, não está disposta a aceitar de bom grado a coisa. Embora tenha acobertado a execução, isso causou um atrito entre as duas policiais.









3 -  Visões no Gelo


Desde o início dessa temporada, True Detective: Terra Noturna tem sido marcado por estranhas visões e premonições de seus protagonistas.

Dessa vez foi o falecido filho de Danvers, Holden (o dono do ursinho polar de um olho), que surge para Navarro e entrega uma mensagem que parece endereçada à sua mãe. Tudo indica que o mundo espiritual está tentando alertar as detetives à respeito de elementos ocultos no caso que elas estão investigando.

Horas antes de ver uma figura correndo no gelo e bater a cabeça ao tentar alcançá-la, Navarro já tinha experimentado um incidente peculiar. Ao atirar uma laranja no meio da neve, a fruta simplesmente reaparece rolando na sua direção indo parar aos seus pés. Há algo estranho em Ennis e os fantasmas parecem desempenhar um papel importante nessa temporada - quase tão grande quanto desempenhavam em Twin Peaks onde auxiliavam diretamente a investigação.

Primeiro foi Travis Cohle mostrando o local onde estavam os cientistas mortos e agora o pequeno Holden. O que os fantasmas precisam tanto dizer? O que eles querem com os vivos? No segundo episódio Rose mencionou que os mortos procuram os vivos por três razões: para compartilhar segredos, para resolver algo que deixaram em aberto ou para buscá-los. Qual seria a motivação deles nos acontecimentos em Ennis?

Outra questão importante: seriam realmente fantasmas, ou eles não passam de alucinações?

Eu continuo cético de que True Detective deu uma guinada tão forte na direção do sobrenatural com a presença de fantasmas em cada episódio. Ainda tenho uma forte suspeita de que algo em Ennis está causando alucinações e desencadeando visões que alguns personagens acreditam ser autênticas experiências sobrenaturais. Imagino que a verdade virá à tona em algum momento, mas até aqui, mesmo as visões mais reais podem ser falsas, criadas pela mente de quem está imaginando o acontecimento. 

4 - Pistas sobre o romance entre Annie K e Clark


A cabeleireira Susan sabia do romance secreto entre Raymond e Annie. Ela fornece algumas pistas valiosas para compreender a dinâmica do casal.

Para começar, Susan deixa claro que Raymond Clark admirava Annie e que jamais foi violento com ela. Ela lembra que os dois se conheceram depois que Annie a acompanhou ao centro de pesquisa TSALAL onde ela ia para cortar o cabelo dos cientistas. Eles se deram bem desde o começo e logo a química evoluiu para um romance. 

Surpreendentemente, Susan acrescenta que foi ideia de Annie manter o relacionamento em segredo, sugerindo que Annie pode ter tido segundas intenções quando começou a namorar Raymond. Tudo indica que ela pretendia descobrir alguma informação sigilosa ou aprender algo sobre os segredos da TSALAL através do cientista.

Existe a possibilidade de Annie ter convencido Clark a revelar algum detalhe escuso, ou relacionar as pesquisas da estação com as atividades da mina que está envenenando o meio-ambiente nos arredores de Ennis e causando graves problemas para a população local. A ativista pode ter encontrado as provas que procurava e que eventualmente levaram à sua morte no que parece ser uma caverna de gelo (mais sobre isso adiante).

Talvez a razão para Clark manter segredo sobre seu caso com Annie, após a morte da ativista, envolva ele ter ficado magoado por ter sido usado. Se Annie estava espionando o TSALAL através de Clark, o que ela descobriu parece ser algo muito grave. Isso pode ter obrigado Clark a ficar de bico fechado, temendo também ser vítima do mesmo assassino. Imaginando que a pesquisa da estação é financiada pela Família Tuttle, podemos imaginar do que eles são capazes. 

Talvez isso explique porque o celular de Annie estava no trailer de Clark onde ocorriam seus encontros românticos. Clark pode ter descoberto o cadáver de Annie na caverna de gelo, onde recuperou o aparelho que registrou a morte da namorada. Também pode ter sido ele quem moveu o corpo para outro local, garantindo que ela fosse encontrada.

Eu francamente penso que Clark é inocente na morte de Annie. Ele não foi o responsável mas pode saber de algum detalhe crucial, inclusive quem a matou e sob que circunstâncias. Me parece que Clark manteve essas informações até recentemente, quando a culpa por não ter ido à público o levou a uma crise. Nessa hipótese Clark poderia ser o responsável pelas mortes no TSALAL, fazendo com que os membros do time terminassem no gelo enquanto ele sumiu. Essa é uma conjectura, mas pode se provar correta.

Um detalhe adicional antes que eu esqueça e que quase passou desapercebido. Susan menciona a tatuagem como símbolo do Rei Amarelo nas costas de Annie K. Ela afirma que Annie sonhou com aquele símbolo por algum tempo e que esses sonhos só terminaram depois que ela mandou fazer a tatuagem. Susan não sabe o que significa o símbolo, mas ela diz que Clark ficou fascinado por ele.

O que podemos tirar disso? Annie foi visitada pelo Rei Amarelo em seus sonhos? Ele exigiu que ela deixasse na própria pele o sinal como forma de permitir a ela ter alguma paz? Sabemos que o símbolo era tatuado em pessoas que se tornavam vítimas do culto na Louisiana. teria sido isso que aconteceu com Annie em última análise? Ela marcou a si mesma como vítima em potencial? 

5 - O Elemento desconhecido 


Talvez a pista mais importante desse terceiro episódio seja a existência de um membro até então desconhecido da equipe TSALAL.

As detetives tomam conhecimento a respeito da existência do Engenheiro de Manutenção Oliver Tagaq graças a Susan que saiu com o sujeito por um tempo. Descobrem ainda que ele deixou o trabalho pouco depois da morte de Annie K, seis anos atrás. Suspeito? Muito, sobretudo porque segundo Susan, Tagaq quis se perder no gelo.

Outro detalhe prá lá de curioso, não há qualquer menção à respeito de Tagaq nos arquivos e nos registros da TSALAL. Nada! É com se o sujeito simplesmente não tivesse feito parte da equipe e não existisse.

Não é fácil achar o engenheiro, mas eventualmente, graças à ajuda de Eddie Qavvik, Navarro descobre seu paradeiro atual. Tagaq vive e trabalha como caçador num lugar isolado e recebe as detetives com uma espingarda no colo deixando claro que ou é um sujeito muito paranoico ou alguém que tem culpa no cartório. Por que esse sujeito está tão preocupado a ponto de se armar para esperar a visita de policiais? O que ele sabe? E o que está ocultando?

Oliver parece sincero em sua surpresa quando Navarro revela que os membros do TSALAL (seus antigos companheiros) morreram em um estranho incidente na neve. Mas é realmente curioso que a primeira coisa que Tagaq pergunta é: "Anvers está morto"?


Ele não pergunta à respeito dos demais, apenas se o líder da expedição ainda está vivo e quando fica sabendo que está hospitalizado e em péssimo estado, se apressa em expulsar as detetives recorrendo a espingarda para isso. 

Por que Oliver Tagaq deixou a TSALAL? Por que ele estava tão preocupado com Anvers Lund? E qual poderia ser o seu envolvimento na morte de Annie K?

Por um lado Tagaq se apresenta como um sujeito preocupado com as tradições inuit, chegando a provocar Navarro questionando sobre seu "nome verdadeiro" e depois a provocando, insinuando que ela própria não sabe, como se a sua descendência fosse algo secundário. Entretanto, isso pode ser uma cortina de fumaça... Tagaq pode ser fiel aos seus empregadores e ter se afastado do TSALAL para não comprometer a estação (e seus patrocinadores, a Família Tuttle) após a morte de Annie K. Vai por mim, aí tem!

Essa aliás é minha teoria favorita no momento: o envolvimento direto de Oliver Tagaq na morte de Annie K.

Mas há algo mais! Uma pista vital parece ter sido sugerida claramente na cena em que Danvers e Navarro discutem sobre entrar na casa onde Tagaq está escondido. Em primeiro plano é possível ver um par de sapatos de neve com pregos pendurado do lado de fora. Esse tipo de equipamento é fixado sobre as botas e usado para facilitar o deslocamento sobre neve fofa evitando que a pessoa afunde. 


No primeiro episódio ficamos sabendo que Annie K morreu em virtude de 32 perfurações em seu corpo deixadas por um objeto desconhecido. Os ferimentos tinham a forma de estrela, ou seja uma perfuração profunda irradiando ferimentos semelhantes a rasgos na pele. Seria de se supor que um legista identificasse ferimentos dessa natureza como provocados por uma faca. Mas o relatório atesta que a arma é desconhecida. Por isso eu digo: foi um sapato de pregos!

Se isso for verdade, a arma do crime estava bem diante do nariz das detetives, pendurada na entrada da cabana de Oliver Tagaq.

6 - A Mãe de Navarro foi assassinada


A história de vida de Navarro revela porque ela deseja tão obstinadamente descobrir o responsável pela morte de Annie K. Não se trata apenas de dever profissional ou admiração pela ativista, há um motivo mais profundo.

À pedido de Navarro,  Eddie Qavvik se dispõe a procurar por Tagaq desde que a policial revele detalhes sobre seu passado. Embora Navarro à princípio se mostre defensiva, ela acaba aceitando trocar informações em um quid pro quo. Ela conta que seu pai costumava abusar fisicamente da esposa, o que a levou a fugir com as duas filhas para o Alasca. Entretanto a saúde mental da mãe começou a declinar cada vez mais rápido e um dia, ela terminou indo embora. Pouco tempo depois, ela apareceu morta, vítima de um assassino que jamais foi capturado.

Sabemos através de flashbacks que a mãe de Navarro sofria de uma doença mental, supostamente esquizofrenia, já que ela mencionava ouvir vozes. Parece haver um componente religioso que ela evitou mencionar no quid pro quo, já que Navarro parece estar em conflito com suas crenças religiosas como vimos anteriormente (quando ela é questionada sobre acreditar em Deus e quando encontra um crucifixo no carro patrulha, o que resulta em dois flashbacks traumáticos.

Tudo indica que a doença mental de Jules, a irmã de Navarro, foi passada de mãe para filha, o que é razoável de se assumir, visto que esquizofrenia pode ser hereditária.

7 - O povo de Ennis está protestando contra a Mina


Continuamos tendo insights à respeito de algo muito grave acontecendo em Ennis.

No terceiro episódio, a crise ambiental ganha contornos bem claros quando vemos uma reunião de cidadãos preocupados de Ennis, majoritariamente formada por nativos, que estão protestando contra as atividades da Mina Silver Sky. Anteriormente ficamos sabendo de pessoas que morreram de câncer causado pelas condições nocivas do trabalho na mina. Também já havíamos ouvido falar da cor da água que saía escura das torneiras nas casas na vizinhança conhecida como "As Aldeias".

Nesse episódio vemos Danvers constatando que os rumores são verdadeiros. A água no banheiro de uma casa sai escura e com um cheiro desagradável. Também é possível ver no background da reunião de protesto fotografias de animais cegos, magros ou doentes, teoricamente sofrendo efeitos causados pela mesma água contaminada. Finalmente, ficamos sabendo de um bebê recém nascido que não resistiu e acabou expiando em face de doenças congênitas.

Está claro que a questão ambiental é central nesse caso! 

Não apenas a ativista Annie K estava em busca de respostas, mas estava disposta a ir ate as últimas consequências para encontrar os culpados e expor os responsáveis. Imagino que possa haver uma ligação direta entre os donos da Mina Silver Sky e a TSALAL. Talvez, o conglomerado Tuttle National seja o real proprietário de tudo e os estudos da estação sejam voltados para outras atividades além das divulgadas.

Talvez TSALAL esteja lá para fazer algum tipo de estudo secreto. Algo que Annie K acabou descobrindo graças ao seu relacionamento com Raymond Clark. Isso aliás parece bastante razoável de ser assumido como uma das causas da morte da ativista e da loucura que parece ter consumido o cientista.

Apenas mais um adendo interessante nessa cena da reunião de protesto.


Na porta do galpão usado para hospedar a reunião vemos o desenho de uma mulher azul com longos cabelos parecendo tentáculos. Eu tenho quase certeza de que o desenho é de Sedna, a Deusa Inuit tratada como uma divindade que rege os mares, mas que também é uma força de retribuição e vingança. Eu continuo apostando as minhas fichas que Sedna é a representação do que as pessoas chamam de "Ela" e que mencionam ter despertado.

Não acho que Sedna irá "aparecer" fisicamente no episódio, mas acredito que as mortes causadas em TSALAL possam ser atribuídas a ela já que todas as vítimas eram forasteiros, possivelmente envolvidos na morte de uma jovem nativa. Para mais sobre Sedna, leiam o artigo sobre o primeiro episódio de True Detective: Terra Noturna.     

8 - Exame de Veterinário


Os fatos sobre a morte dos cientistas só poderão ser obtidos depois que o gelo em que eles estão envolvidos derreter por completo. O legista encarregado da autópsia está sendo aguardado, mas até lá, existem apenas suposições sobre o que matou esses infelizes.

Contudo, algumas destas são bastante interessantes, ainda que venham de um exame superficial feito por Vince, primo de Pete que é veterinário (!!!). Ao menos o sujeito costuma trabalhar com animais de grande porte, o que pode ajudar.

Após analisar os corpos, Vince lança suspeitas de que os cientistas não morreram de hipotermia como todos imaginavam até então; eles parecem ter sucumbido ao medo. Terror extremo pode causar alterações graves e até provocar a morte de uma pessoa através de um ataque cardíaco fulminante. Em geral, condições cardíacas pré-existentes precisam estar presentes, mas isso não é uma regra. O stress cardíaco ocasionado por repetidos choques pode resultar num ataque maciço.   

No primeiro episódio, vimos uma manada inteira de caribous aterrorizada correndo para a própria morte em um desfiladeiro. Poderia essa ser uma metáfora do que ocorreu com os cientistas? Eles foram expostos a algo tão aterrorizante que provocou a morte de todos eles? Teriam sofrido com um surto coletivo, como os animais que acabaram por se suicidar?

Poderia Clark sozinho ter feito algo tão assustador que provocou a morte simultânea de vários homens por ataque cardíaco? Ou será que os cientistas foram afetados por alguma substância ou microorganismo antigo que eles desenterraram do gelo?

Com os indícios que temos, é justo dizer que os cientistas sofreram de uma psicose coletiva que os fez ir para campo aberto, se despir e congelar. O veterinário, no entanto deduz que os pesquisadores, com exceção de Lund, estavam mortos antes de atingir o ponto de congelamento. Ele explica que os animais que morrem de hipotermia geralmente parecem sucumbir em paz, apenas dormem, mas que os cadáveres parecem ter experimentado algum tipo de choque. Basta ver a expressão de terror nos corpos para perceber que eles morreram em meio de um completo desespero.

Embora Vince não seja capaz de explicar exatamente o que causou as mortes, ele suspeita que uma autópsia vai revelar uma série de ataques cardíacos. Muito curioso, sobretudo quando ligamos essa pista às palavras de Anders Lund que diz...


9 - "Ela está lá fora"


Perto do fim do episódio 3, Navarro e Danvers são chamadas para ir às pressas ate o hospital onde Anders Lund está sendo mantido em tratamento intensivo. A condição dele esta piorando e a gangrena se espalhou rapidamente, "não é uma visão bonita" alerta a médica antes de levá-las até o quarto onde o sujeito padece.

Anders esta em condições lastimáveis, teve duas pernas e um braço amputados. Seus gritos de dor ecoam pelos corredores e a enfermeira insiste que ele precisa ser sedadoNo entanto, Danvers tenta fazê-lo falar perguntando quem os atacou e o que aconteceu na fatídica noite na estação. 

Anders não revela nenhum nome, mas diz as palavras "ela está lá fora", o que lembra o "ela está acordada" de Raymond Clark no primeiro episódio. Ele também diz que "ela veio nos buscar no escuro", aparentemente implicando que a tal entidade desconhecida "Ela" de alguma forma despertou em busca de vingança. Tudo sugere que os cientistas foram assustados por essa "entidade" e que ela os fez correr em desespero para fora da estação onde eles encontraram seu fim.

Eu continuo apostando em uma alucinação que causou o surto psicótico, embora não tenha informações suficientes ainda para apontar se isso foi causado propositalmente ou e foi efeito de um acidente.

Mas as surpresas dessa entrevista não param por aí...

10 - "Olá, Evangeline"


Anders Lund é responsável por um dos momentos mais macabros da série até o momento, um que coloca True Detective: Terra Noturna direto no caminho do sobrenatural.

Enquanto Danvers se vê forçada a deixar o quarto para apartar uma briga entre os caçadores que estão em busca de Clark, Navarro acaba ficando sozinha com Lund. Contudo, logo descobrimos que os dois não estão exatamente sozinhos, já que uma presença misteriosa se manifesta possuindo o corpo do ex-Chefe da TSALAL.

O pesquisador de repente senta na cama e assume uma postura ereta dizendo que a mãe de Navarro está esperando por ela. A mensagem é dúbia e a identidade da entidade que tomou o corpo de Lund permanece um mistério. Contudo, lembrando que Navarro teve uma conversa estranha com Danvers na qual dizia que às vezes desejava simplesmente "sumir" e "desaparecer para sempre", a impressão geral é um tanto pessimista.

Estariam os fantasmas dizendo para Navarro que ela em breve irá se juntar a eles? Que ela será bem vinda entre eles? Ou seria algo mais terrível: Um aviso de que ela terá o mesmo fim de sua mãe, uma morte violenta nas mãos de um assassino?

Seja lá qual for a resposta, a cena é carregada de um sentimento de angústia niilistas digna da primeira temporada e dos monólogos iluminados de Rusty Cohle. Uma vez transmitida a mensagem, o corpo de Lund parece não suportar a experiência e ele acaba morrendo.


11 - Os Momento Finais de Anne K


Mas isso não é tudo...

Antes do episódio terminar temos uma última e bombástica informação que nos deixa com a proverbial pulga atrás da orelha. E esta pista vem do telefone celular que pertencia a Annie K, encontrado no trailer de Clark. O aparelho uma vez desbloqueado revela um vídeo gravado pela própria Annie daqueles que podem ter sido os seus últimos instantes de vida.

No vídeo, Annie parece estar andando no interior do que parece ser uma caverna de gelo e afirma ter encontrado algo. Ela não explica do que se trata, mas a voz excitada sugere se tratar de uma coisa muito importante, possivelmente a prova do envolvimento da mina Silver Sky em alguma atividade criminosa. Porém, antes que possa revelar o que encontrou, ela é atacada por alguém. Embora o episódio de True Detective: Night Country termine sem revelar onde Annie estava, o que estava procurando e quem a matou, é possível que alguém reconheça que lugar é aquele - e os investigadores cheguem ao local onde Annie K foi morta.

Na cena final que antecede os créditos, Navarro e Danvers ouvem gritos de gelar o sangue e se perguntam quem pode ser o responsável por esse crime brutal.

*    *    *

Bem Detetives, é isso.

O episódio foi excelente, mas ao mesmo tempo que ele forneceu muitos indícios e pistas criou a sensação de que só estamos começando a arranhar a superfície do mistério. Há muito a ser descoberto e muitas peças que ainda não se encaixaram. Eu apenas espero que todas elas possam ser encaixadas e que a conclusão forneça um fechamento adequado.

Confesso que meu maior temor para essa série é que ela termine com uma solução simples para algo que parece incrivelmente complexo. A terceira temporada, que vinha bem ao longo dos primeiros sete episódios termina de uma maneira pouco satisfatória e frustrante. Espero que aqui seja diferente.

estamos na metade do caminho, fiquem conosco...