sexta-feira, 26 de abril de 2024

Um Monstro Marinho do mundo real - O terrível Mosassauro Thalassotitan


Entusiastas de histórias de monstros marinhos nem sempre são levados à serio. Nem todas pessoas aceitam as teorias, por vezes inusitadas, sobre a existência factual dessas criaturas. De fato, muitos acham que tais seres habitam apenas o Reino do Imaginário.

Entretanto, recentes descobertas feitas por paleontólogos no Marrocos apontam para a existência de uma criatura monstruosa bem similar aos monstros das lendas. As ossadas sugerem se tratar de uma criatura que viveu nos rios que floresceram há centenas de milhões de anos atrás no que hoje é o norte da África. Muitos fósseis de plesiossauro - um réptil marinho de pescoço longo, já haviam sido encontrados nesse mesmo sítio. No passado remoto a paisagem hoje desértica era formada por uma bacia pantanosa, quente e com vegetação exuberante.

Curiosamente os ossos datam de um período posterior à grande extinção dos dinossauros ocorrida 66 milhões de anos atrás. Os plesiossauros parecem ter encontrado um refúgio lá apesar das mudanças climáticas devastadoras para as demais espécies.

Entretanto, antes dos plesiosauros também serem extintos, eles encontraram um adversário para sua sobrevivência tão grande quanto o clima. Este era um réptil marinho maior, mais feroz e mais implacável do que qualquer plesiosauro. Estas feras caçavam e comiam qualquer coisa que estivesse ao seu alcance. Nada nos oceanos pré-históricos estava à salvo desses enormes predadores. 

Um novo estudo feito por pesquisadores no Marrocos descobriu aquele que pode ser a maior e mais terrível espécie de Mosassauro - um verdadeiro monstro que pode ser o predador definitivo... ameaçando até mesmo outros Mosassauros. 


Batizado Thalassotitan, essa criatura era o equivalente a um pesadelo no mundo real, capaz de andar, correr, nadar e matar com enorme facilidade. Acredite, era algo que você positivamente não iria querer encontrar.

"O Thalassotitan era um animal terrível. Imagine um Dragão de Komodo misturado com um Tubarão Branco, com a ferocidade de um Tiranossauro e o vigor de uma baleia assassina. Todos esses elementos faziam dele o incontestável Rei dos pântanos e águas pré-históricas".

Nick Longrich, um paleontólogo e biólogo evolutivo da Universidade de Bath liderou o grupo de pesquisa que encontrou os fósseis do Thalassotitan atrox – o maior mosasauro que já nadou nos mares da Terra. Como ele explicou em uma publicação recente no Journal of Cretaceous Research, o Marrocos foi um ambiente rico em seres marinhos a cerca de 55 milhões de anos, oferecendo um habitat seguro para todo tipo de monstruosidade.

Os Mosassauros, como sabemos, estavam no topo da cadeia alimentar. Embora fossem classificados como lagartos marinhos, não há nenhuma criatura atualmente na natureza que seja semelhante a ele. É surpreendente que o parente mais próximo deles não sejam os crocodilos modernos, mas iguanas e anacondas. 

O solo rico em fosfato do Marrocos ajudou a preservar os fósseis de muitas espécies de Mosasauros com mandíbulas titânicas repletas de dentes capazes de rasgar e dilacerar peixes e lulas, além de esmagar animais com escamas. Os Mosasauros comiam de tudo - peixes, cefalópodes, tartarugas, pássaros, megalodons e até mesmo outros mosassauros. Eles eram bestas sempre famintas que caçavam solitariamente. O Thalassotitan era uma máquina de matar que não parava diante de nada, o predador definitivo. 


"O Thalassotitan, tinha um crânio enorme medindo 1.80 metros e seu corpo podia crescer até atingir 16 metros de comprimento, maior que qualquer crocodilo moderno. Ainda que muitos mosassauros tivessem uma mandíbula longa e dentes finos para agarrar peixes, o Thalassotitan tinha um focinho mais curto e dentes cônicos como das baleias orca. Isso permitia a ele uma força de mordedura ainda maior capaz de dilacerar os ossos de suas presas com uma única bocada".

Os dentes desses monstros eram adaptáveis, eles rachavam e cresciam novamente mais fortes que antes, capazes de atravessar a couraça de répteis marinhos, inclusive outros mosassauros. Nada que caía na bocarra do Thalassotitan sobrevivia à sua voracidade. A mordida era tão potente que superava a do atual crocodilo de água salgada em aproximadamente 18 vezes. Fragmentos de fósseis encontrados perto de ossadas de Thalassotitan incluem os restos de peixes predadores, cascos de tartaruga Marinha partidos e até a cabeça de um plesiosauro - arrancada com uma única mordida e semi-digerida antes de ser regurgitada.

Os fósseis de presas também incluíam as mandíbulas e dentes de outras espécies de Mosassauro o que demonstra o espírito competitivo da espécie. Marcas deixadas em ossos revelam que os Thalassotitan lutavam frequentemente entre si, disputando comida ou parceiras para a procriação.

"Nos 25 milhões de anos antes do meteoro se chocar com a Terra, os Mosassauros estavam se tornando mais e mais diversos. Adaptados e especializados em dominar o meio em que viviam. Sem falar que seu tamanho continuava aumentando. Se não tivessem sido extintos, quem sabe até que tamanho poderiam chegar".

Embora a descoberta desse predador alfa do Período Cretácio constitua uma descoberta fascinante, a verdadeira revelação vinda dessa câmara de tesouros de fósseis é a constatação de que esses animais não estavam em declínio como acreditavam alguns estudiosos. Longrich discorda de que os Mosassauros estavam em decadência mesmo depois das mudanças climáticas deflagradas pelo choque do meteoro na Península de Yucatan que decretou o fim de seu reinado. 


"Os fósseis de Mosassauros mostram que o ambiente não estava se deteriorando, pelo contrário, estava em expansão".

Até onde sabemos, a região que hoje compreende o Marrocos possuía vida marinha em abundância. Os mosassauros que lá viviam, inclusive o Thalassotitan tinham muita comida, muito espaço e perspectivas de sobrevivência. O que aconteceu é que as outras espécies não conseguiram se adaptar tão bem quanto eles e começaram a desaparecer.

Longrich supõe que os Mosassauros em um determinado momento de seu reinado ficaram sem presas que pudessem satisfazer seu apetite voraz. "Eles literalmente comeram todos animais que estavam à sua volta e tiveram que lutar uns contra os outros por comida. Era comer ou ser comido!"

No fim, o que colocou fim ao domínio desses monstros marinhos foi a sua própria incapacidade de conter seu apetite voraz. Eles esgotaram o seu ambiente paradisíaco e quando não encontraram mais nada capaz de lhes satisfazer disputaram uma arena na qual restaria apenas um deles. E este inevitavelmente também acabaria perecendo sem comida.

É divertido pensar em criaturas como o Thalassotitan vivendo nos dias atuais ou despertando para reivindicar os sete mares, mas para o bem ou para o mal tais monstros marinhos estão extintos há muito tempo. Ainda assim, nos faz pensar o que aconteceria se tal criatura nadasse em nossos mares.  

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Segredos de Kingsport: O Culto de Tulzcha, o Fogo Esmeralda


Nos meandros de Kingsport, sonhos e realidade se misturam.

A Cidade das Brumas esconde um sem número de segredos e mistérios. Ocultos sob as névoas cinzentas permeiam horrores e maravilhas impronunciáveis que escolheram se abrigar nesses recantos lúgubres e cenários idílicos. Este é o lar de pescadores e de artistas, marinheiros e empreendedores. De pessoas atraídas por sonhos e de outras prisioneiras de pesadelos. Alguns encontram consolo nos sonhos, outros acham neles tão somente terror e morte.

Em Kingsport convivem cultos ancestrais de feiticeiros, coisas profanas que habitam a fronteira dos sonhos e personagens peculiares de um passado remoto, cuja existência se estende de modo não natural por décadas à fio.

Os membros mais antigos daquilo que muitos chamam de Culto de Kingsport chegaram a essa terra por volta de 1640, acompanhando os primeiros colonos que se estabeleceram na região. Essas famílias originalmente habitavam as Ilhas do Canal Britânico, mas eram provenientes do sul da Europa. Sem que os vizinhos soubessem, eles haviam sido expulsos de sua terra natal após sofrer perseguições pelas suas crenças nefastas. Eles cultuavam uma divindade obscura e maligna: um Deus de chamas esmeralda que habitava um grande complexo de cavernas abaixo da Lombardia e do Languedoc (respectivamente na Itália e na França).

Esses devotos haviam aprendido rituais e práticas que os levaram a uma trilha de completa corrupção, não apenas da alma, mas da própria humanidade. Tal corrupção promovia a liberdade das limitações do corpo e da mente, além de sedutoras promessas de vida eterna. Eles honravam os poderes negros da Chama Esmeralda com celebrações tão blasfemas quanto nauseantes. Haviam aprendido com seus ancestrais a arte da necromancia e dos augúrios da morte. Eram feiticeiros poderosos detendo em suas mãos ambiciosas o poder de perverter a natureza para operar milagres de magia.


O Deus Exterior a quem rendiam devoção era chamado de Tulzcha. Ele se manifestava na Terra como um imenso pilar de fogo vivo com uma coloração verdejante doentia. Nas chamas rodopiantes surgiam faces cadavéricas e formas dantescas. Auxiliado por uma congregação fanática disposta a honrar seu Senhor com sacrifícios e rituais pérfidos, Tulzcha obtinha sustento, drenando energias necróticas que lhe eram ofertadas. Para isso usava vermes que se alimentavam da carne dos mortos que apodreciam em suas tumbas. Onde quer que o Deus se manifestasse, esses vermes pálidos e inchados o seguiam em quantidade absurda brotando do solo como uma infestação apocalíptica.

Em troca de sua nutrição, Tulzcha recompensava os seguidores com uma existência longa e sobrenatural. Quando um cultista finalmente morria e era considerado valoroso pela divindade, seu corpo era levado a um dos fossos onde pululavam seus Vermes. Após passar por um extenso ritual de preparação, o corpo era mergulhado nesse fosso para que as criaturas cobrissem e devorassem inteiramente a carcaça. No processo simbolicamente também se alimentavam de sua alma e espírito. Em seguida, esses vermes que haviam digerido o cadáver por inteiro eram misticamente conectados desenvolvendo autoconsciência e conservando as memórias do morto. Eles se arrastavam para fora do fosso como uma horrenda nova forma de vida composta de milhares de pequenas criaturas, cada uma carregando uma parcela de sua vivência. Assumindo uma forma mais ou menos humanoide, esses horrores genericamente conhecidos como "Aqueles que Rastejam" podiam se passar por humanos vestindo mantos para esconder suas feições hediondas.

Não por acaso essas práticas repulsivas inspiravam revolta e faziam com que o culto fosse expulso mesmo da terra dos etruscos onde uma infinidade de seitas, cada uma mais medonha que a anterior, floresciam. Tornaram-se párias sem uma terra e por isso acabaram se estabelecendo nas Ilhas do Canal Britânico. Quando a notícia de que uma vastidão territorial havia sido descoberta, os cultistas da Chama Esmeralda se misturaram ao fluxo de colonos que desejavam tentar a sorte no Novo Mundo. Ao menos três famílias de devotos empreenderam a viagem e ajudaram a fundar a Vila pesqueira batizada como Kingsport.


Não demorou para que estes cultistas encontrassem as cavernas existentes abaixo do Monte Central. É possível até que eles tenham sido levados até elas por sonhos ou projeções mentais de Tulzcha que ansiava por firmar raízes nessas terras inexploradas. O interior oco, repleto de passagens estreitas que levavam às entranhas da terra, era ideal para seus propósitos. Nesse antro subterrâneo os cultistas renovaram suas práticas e invocaram a Chama Esmeralda uma vez mais. Tudo isso acontecia enquanto posavam de respeitáveis cidadãos, comparecendo às missas e reuniões sociais da cidade, jamais fornecendo aos seus vizinhos motivos para suspeitas. A medida que as gerações passavam, membros da seita casavam e se misturavam com as demais famílias de Kingsport permitindo ao culto se expandir. Por volta de 1692, aproximadamente um em cada dez pessoas vivendo na cidade, tinha envolvimento com o Culto.

Mas nem sempre as coisas funcionavam conforme eles desejavam.

Um cultista que virou as costas para a seita foi um navegador e explorador chamado William Haines, descendente das famílias fundadoras de Kingsport. Durante uma viagem às Índias Orientais ele descobriu a existência de Seitas similares à que operava em sua cidade natal e se sentiu enojado por algumas práticas extremas. Em 1690, Haines retornou de viagem, vendeu suas terras e denunciou os cultistas para autoridades religiosas no povoado vizinho de Salem. A reação foi imediata, os pastores se sentiram ultrajados com as denúncias e exigiram uma investigação. Oito mulheres foram presas, acusadas de conluio demoníaco, contudo provas só foram encontradas contra quatro. Metade delas foram sentenciadas à morte e as demais libertadas.

Embora a população estivesse assustada, ela era bem mais tolerante que seus vizinhos de Salem. Após as execuções, a comunidade não tinha estômago para novas mortes. Declarou-se que o mal havia sido extirpado do seio da comunidade e que não havia mais razão para perseguições de qualquer tipo. Mal sabiam que os cultistas ainda estavam vivendo secretamente entre eles, dando margem a planos que começavam a frutificar.


Ainda que a maior parte da população ignorasse as práticas que ocorriam no povoado, era inegável que havia algo sinistro na cidade. Temiam o cemitério do Monte Central considerando um lugar maldito. Passaram a enterrar seus mortos mais além, num terreno a oeste, permitindo que o complexo de cavernas ficasse totalmente à mercê dos cultistas. Havia suspeitas de encontros sinistros ocorrendo nesse lugar e para dissimular as atividades, os cultistas ordenaram a construção de um templo - a Igreja Congregacional cuja fachada era de um tabernáculo convencional de inclinação protestante. Contudo, abaixo da Igreja haviam túneis e caminhos tortuosos que se conectavam ao Monte Central e às câmaras onde ardia a Chama Esmeralda. Dezenas de cultistas se reuniam ali sem chamar a atenção e sem serem perturbados.

Apenas em meados de 1720, rumores sobre uma Seita Secreta vieram à superfície novamente. Uma das acusações era que pessoas que participavam do culto tinham uma existência incrivelmente longa, com muitos sendo octogenários ou nonagenários sem no entanto aparentarem ter mais de 50 anos. Outra suspeita surgiu quando uma epidemia de estranhos vermes eclodiu do solo escuro ao redor do Monte Central chocando a população.

No inverno de 1722, durante uma celebração com as portas fechadas na Igreja Congregacional, algo maligno foi testemunhado por vários cidadãos. Eles descreveram o surgimento de uma nuvem verde pestilenta que se manifestou nos céus de Kingsport como uma presença diabólica. Dela emanava uma luz verdejante que se derramava pelo firmamento com um brilho espectral. Esse fenômeno foi acompanhado de sons guturais e tremores vindos das profundezas do Monte Central. Um contingente de bravos voluntários - membros da milícia, marinheiros e pescadores - foi reunido pelo prefeito Eben Hall e estes cercaram a Igreja armados com mosquetes. Na manhã seguinte, quando os cultistas abriram as portas receberam ordem de prisão. Levados sob custódia, três dúzias de pessoas - muitas delas, cidadãos acima de qualquer suspeita, foram acusados de práticas anticristãs, roubo de sepulturas e outras práticas perniciosas. Multas, prisão e banimento foram as penas impostas, uma punição leve, mas que serviu para quebrar a espinha dorsal do culto.

Certos livros estranhos e outros itens suspeitos foram confiscados e destruídos em fogueiras após analisados, enquanto outros foram encaminhados à autoridades acadêmicas em Arkham para serem avaliados. A estrutura da Igreja Congregacional foi cuidadosamente explorada e os túneis subterrâneos de onde emanava um fedor nauseabundo foram selados com paredes de tijolos. As criptas, apinhadas daqueles horrendos vermes inchados também foram lacradas para que ninguém tivesse acesso a elas. A despeito das acusações nenhum acusado chegou a enfrentar a pena capital e um número surpreendente deles continuou a viver em Kingsport, ainda que fossem vistos com desconfiança. A influência de Tulzcha diminuiu, mas não desapareceu por completo. Embora apenas um pequeno grupo de cultistas ainda atendesse às reuniões secretas no Monte Central, eles conseguiram preservar sua religião profana agindo de forma muito discreta.


Por volta do século XIX, a história sobre a existência do culto se converteu em uma espécie de rumor quase que inteiramente apagado da memória dos habitantes. A Igreja Congregacional foi convertida em uma Igreja anglicana tradicional que assumiu o controle do local, ainda que boatos sobre sons estranhos e o surgimento de vermes pálidos fossem reportados de tempos em tempos.

Traços do velho culto ainda se fazem presentes em Kingsport para quem quiser ver.

Reuniões clandestinas na calada da noite continuaram acontecendo nos túneis e por vezes a comunidade se mostrava chocada com a descoberta de sepulturas violadas. O rumor de que algumas famílias antigas descendem de idólatras e satanistas é uma espécie de tabu local. Fala-se que alguns clãs importantes possuem bruxas e feiticeiros entre seus antepassados, mas a maioria desconsidera essas lendas como mera fofoca. A sétima casa à esquerda da Green Lane, uma construção da época colonial supostamente foi o lar de um poderoso membro do Culto - considerado um feiticeiro. Os supersticiosos de Kingsport afirmavam que a casa é assombrada e que algo não humano vive no porão espreitando na escuridão. Em 1890 houve uma tentativa de desmanchar a casa, mas a ordem de demolição não foi cumprida.

As frequentes inundações de atormentam Kingsport revelaram coisas estranhas enterradas no solo escuro, abundantes ossadas de crianças e até bebês infestam aterros. Alguns suspeitam da existência de um velho cemitério que recebia ossadas de bebês abortados e crianças não batizadas, mas alguns suspeitam de coisas mais sinistras. Os marinheiros falam sobre luzes esverdeadas vistas de longe, como auroras boreais que iluminam o céu noturna e pintam as névoas com um tom venenoso. Em 1905, agentes de saúde que estavam na cidade para combater a epidemia de febre tifóide notaram a presença de vermes de aspecto bizarro brotando nos arredores da Igreja Congregacional. Quando uma sepultura coletiva foi escavada para dispor dezenas de vítimas da Gripe Espanhola de 1922, esses mesmos vermes, alguns de tamanho surpreendente foram achados no solo e outro local foi escolhido para a realização do enterro.

O Culto existe ao longo dos anos 1920-30, ainda que em um nível bem mais discreto.


Apenas alguns membros do Culto do Fogo Esmeralda residem em Kingsport, talvez menos de duas dúzias de indivíduos. Muitos deles viajam pelo mundo buscando obsessivamente satisfazer suas vontades e servir seu senhor. Os membros do Culto raramente se reúnem, reservando esses raros momentos para ocasiões em que algum Ritual vital precisa ser cumprido. O Festival de Solstício, uma as datas mais solenes para o Culto, tende a atrair centenas de cultistas até Kingsport para um enorme ritual que ocorre bem abaixo do Monte Central. Nele, necromancia e necrofilia do pior tipo tem lugar em câmaras subterrâneas iluminadas por luz verde e cobertas por um tapete de vermes de cemitério se contorcendo.

Dois tipos de cultistas existem em Kingsport. A maioria deles são humanos comuns que descendem de uma longa linhagem de seguidores fiéis. Eles seguem as crenças de seus ancestrais, pois foram criados com esse intuito. Alguns forasteiros que descobriram o Culto acidentalmente ou pesquisando a história da cidade também já foram convidados a se juntar ao grupo e aceitaram. Esses indivíduos auxiliam o culto reunindo informações, viajando ou lidando com ameaças menores. São membros que ainda estão estabelecendo seu papel no culto e conhecem seus segredos mais superficialmente. Eles precisam ganhar a confiança dos membros mais antigos para escalar na hierarquia da seita. Conhecimento arcano, a promessa de benefícios e vida eterna podem ser oferecidos para mantê-los motivados a servir seus mestres.

Os membros mais influentes do Culto do Fogo Esmeralda provaram seu valor perante Tulzcha e receberam uma ou mais de suas recompensas. Muitos deles morreram há séculos e foram trazidos de volta à existência física como uma massa coalescente de vermes. Estas abominações renascem com um conhecimento profundo dos segredos mais funestos da vida e da morte, também recebem poderes místicos e são capazes de viver eternamente. É claro, eles não podem transitar livremente pela cidade sem chamar a atenção e por isso ficam ocultos comandando seus asseclas. Nas raras vezes que deixam seus covis subterrâneos, eles usam pesados mantos sobre seus corpos convolutos e máscaras de cera que disfarçam feições humanas. Estes feiticeiros tem uma existência guiada pelo desejo de poder e de controlar quem está à sua volta. Eles servem o Fogo Esmeralda com uma dedicação inquebrantável e são implacáveis em todos os seus atos. Desafiá-los constitui, portanto, imenso perigo.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Bem vindo a Kingsport - Conhecendo a Cidade das Brumas


Localizada no litoral do estado de Massachusetts, apenas a alguns quilômetros de Salem, Kingsport fica a pouco mais de 10 quilômetros ao sul de Arkham. A cidade pode ser acessada a partir da Peabody Avenue no sentido oeste da cidade por intermédio da rodovia interestadual A1. É uma viagem tranquila com belas paisagens de praias e rochedos.

A cidade está aninhada em uma depressão em formato de ferradura que margeia a Baía de Kingsport com suas águas profundas e escuras. Para o norte se ergue uma cadeia de penhascos rochosos que culminam na estonteante Kingsport Head (o ponto mais alto da cidade). Para o oeste e sul da cidade há um bom número de montes. O maior deles, chamado Monte Central, é onde os antigos cidadãos enterravam seus mortos e a base para um sem número de lendas e superstições. A pouco mais de dois quilômetros mar adentro jaz o Recife de Jersey que protege a cidade das devastadoras ondas do Oceano Atlântico.

As ruas de Kingsport são estreitas e sinuosas, torcendo-se abruptamente através de aclives para formar um labirinto de passagens e caminhos difíceis de navegar. Edificações estão alinhadas em diferentes alturas e ângulos, distribuindo-se ao longo das ruas lado a lado. Boa parte desses prédios e casas são antigos, remontando ao período colonial, particularmente no Monte Central e nos distritos ao norte do porto e das docas. Muitos deles tem o típico estilo de construção inglesa do século XVII com arquitetura georgiana do período.

Digna de nota é a estranha casa de um cômodo que se ergue no alto da Kingsport Head em uma altura considerada inacessível para os habitantes. Pergunte a qualquer morador e ele dirá que a casa sempre esteve lá, pendendo perigosamente no alto de uma ravina. Desde que Kingsport foi fundada, ela existe. Quem a construiu, como e com qual propósito, é tema de debate. Fala-se de um eremita misterioso que teria erguido a casa, de uma congregação de bruxas que lá se encontrava e de um misterioso ancião que viveu, e ainda viveria lá à despeito da passagem dos séculos. Apesar das muitas teorias, a casa continua lá, e muitos defendem que sempre estará. O marco é famoso pelas muitas lendas e pelas histórias que a cercam.


Kingsport tem um clima similar ao de Arkham, mas tende a ser mais fria graças aos ventos oceânicos soprando do mar aberto. O sempre presente nevoeiro e a maresia tornam o ambiente ainda mais úmido. O nevoeiro aliás é uma das marcas registradas de Kingsport: denso e onipresente, ergue-se do litoral e se derrama sobre as praias, ganhando ruas e casas. Dizem que na calada na noite, as névoas cinzentas são tão volumosas que um andarilho não habituado pode se perder ou se descobrir estranhamente transportado de um lugar para o outro. Exagero naturalmente, mas fato é que as névoas são muito famosas e concedem a Kingsport o apelido de "Cidade das Brumas".

No auge do inverno, as temperaturas podem cair consideravelmente chegando a zero, mas durante o dia é difícil que baixem dos 10 graus. A neve costuma chegar em meados de novembro criando um tapete branco nas ruas da cidade e se acumulando pelas ruas. No verão e primavera, Kingsport tem uma temperatura aprazível, com média de 25 graus, havendo registros de ondas de calor de 30 ou até mais. Essa temperatura elevada tende a atrair turistas e visitantes que buscam a cidade como um destino preferido para férias.

Kingsport é um balneário muito popular na Nova Inglaterra. As paisagens marinhas são atraentes e o cenário bucólico parece o ideal para quem deseja paz e tranquilidade. Nos meses de maio até julho multidões de visitante chegam para aproveitar as praias de areia escura e as águas de temperatura agradável. Pensões e Hotéis oferecem acomodações das mais sofisticadas até as mais modestas, enquanto restaurantes e cafés abrem suas portas para receber os turistas. A cozinha de Kingsport favorece um vasto menu de frutos do mar e peixe fresco pescado diariamente. Reservas feitas com antecedência tendem a ser necessárias para os meses de maior movimento, ainda que nos demais a procura caia vertiginosamente e alguns estabelecimentos fechem as portas com o fim da temporada. Considerada uma estância hídrica, Kingsport possui fontes minerais com propriedades terapêuticas. A lama escura das praias também ajuda na recuperação de várias enfermidades e não é estranho ver turistas se cobrindo de lama ou se enterrando até o pescoço na areia. Os locais olham incrédulos para os turistas enlameados abanando a cabeça negativamente.


Existe uma hierarquia social bem estabelecida em Kingsport. No topo da pirâmide estão as famílias mais antigas e tradicionais, incluindo sobrenomes notáveis como Norton, Weiss, Cabot e Pickering. Todos estes fizeram suas fortunas com a indústria pesqueira que ainda constitui a atividade principal da cidade e a principal fonte de lucro. Mais recentemente os Turner, outra família proeminente, construiu fortuna com comércio, enquanto os Mercer ergueram um império com construção naval. Os membros mais antigos da sociedade se orgulham da história de seus antepassados e são capazes de traçar sua árvore genealógica até o velho continente. Muitos deles vivem nas decadentes mansões e casarões que pertenceram a gerações de seus antepassados.

Há uma pequena e afluente classe média formada por profissionais liberais, com advogados, engenheiros e médicos que foram atraídos pela estabilidade financeira de Kingsport. A oferta de emprego é generosa e os salários tendem a ser satisfatórios. Essas pessoas vivem na parte alta da cidade em casas confortáveis com solários que deram origem a uma das vizinhanças mais atraentes da cidade. Aqueles que conseguem se acostumar com os ares provincianos fincam raízes na cidade, mas alguns acham os modos dos locais um tanto quanto estranhos.

No extremo oposto, próximo ao porto e das docas, residem operários e trabalhadores em pequenas casas de madeira que mais parecem cabanas. Os residentes com sobrenomes yankees são mais afortunados - tendo chegado primeiro, puderam escolher as áreas da cidade baixa que não estão sujeitas aos frequentes alagamentos. Os irlandeses, espanhóis e holandeses, seguido de italianos e portugueses disputam as áreas menos nobres formando pequenas comunidades etnicamente fechadas. Há poucos negros na cidade e menos ainda descendentes de asiáticos. Quase todas essas pessoas trabalham na indústria pesqueira, com cerca da metade deles fazendo a pesca propriamente dita e a outra parte tratando, limpando e empacotando frutos do mar.


Nas últimas décadas o ambiente cênico começou a atrair uma nova classe de habitantes que se estabeleceram na pequena cidade. São artistas de todos os tipos - de pintores a poetas, de escultores a musicistas que se sentem compelidos a buscar inspiração no balneário e que decidiram ficar e se tornar habitantes permanentes. Não é estranho encontrar nas ruas cavaletes com telas parcialmente completas ou grupos tocando violões ou dançando nas ruas. Alguns residentes locais se animaram com essa pequena comunidade, mas outros os veem como uma presença perniciosa e indesejada. Alguns os encaram como boêmios na melhor das hipóteses e como vagabundos, na pior.

Diferente dos muitos assentamentos soturnos que pontilham a geografia antiga da Nova Inglaterra, Kingsport parece um lugar consideravelmente mais amistoso e menos opressivo. A presença de turistas serviu para diminuir, ao menos em parte, a desconfiança intrínseca que é um dos traços do povo local. Em Kingsport é possível encontrar pessoas mais simpáticas e joviais, mas ainda assim, a cidade guarda sua parcela de estranheza e bizarrice. Com aproximadamente 30 mil habitantes, o balneário é um lugar pitoresco.

Mas nem tudo é o que parece ser, como veremos através da história de Kingsport.

Kingsport foi originalmente fundada em 1639 por fazendeiros e pescadores vindos do sul da Inglaterra e das ilhas do Canal Britânico. Um povo menos rígido que os puritanos que fundaram Salem, eles eram vistos como mais abertos e receptivos. O assentamento pioneiro surgiu na margem norte do porto, mas não demorou até outro se formar nas áreas mais elevadas e protegidas no entorno do Monte Central. Apesar da maior tolerância religiosa, os colonos de Kingsport também se viram dominados pela febre da caça às bruxas. Em 1698, apenas quatro anos depois da loucura que se espalhou por Salem, oito mulheres foram acusadas de feitiçaria, sendo que metade delas foram executadas. Conluio diabólico era a acusação principal.


Apesar desse evento traumático, a cidade seguiu se desenvolvendo, passando de um pequeno vilarejo pesqueiro a um centro de construção naval e porto de comércio marítimo. O comércio com a Europa trouxe riqueza para algumas famílias empreendedoras, mas as taxações impostas pela Coroa Britânica eram um obstáculo para o desenvolvimento da cidade. Os Capitães de Kingsport, um bando de destemidos homens do mar se aventuravam em jornadas distantes para os mares do sul em busca de novos mercados. O comércio com as Índias Orientais, China e África abriu as portas para enormes fortunas despejadas nos portos na forma de mercadorias exóticas trazidas do outro lado do mundo.

No final do século XVII e início do XVIII, o vilarejo se tornou um movimentada centro que se estendia por toda orla da baia. A margem sul foi aos poucos sendo ocupada e as pequenas casas deram lugar a enormes propriedades, chácaras e sítios. As empresas de fundo de quintal também cederam espaço para indústrias pesqueiras. Galpões de madeira se transformaram em enormes depósitos ladeando as docas apinhadas de marinheiros morenos falando várias línguas e dialetos. No porto, veleiros e cargueiros com bandeiras de nações distantes disputavam espaço para descarregar suas mercadorias. Foi uma época de grandes oportunidades para os bravos e empreendedores.

Durante os anos da Guerra Revolucionária, Kingsport foi o centro de muita atividade. Servindo como porto para vários corsários, os navios locais foram responsáveis pelo afundamento e captura de mais de cinquenta embarcações britânicas. Isso, combinado com o fato de que novos navios estavam sendo construídos rapidamente em Kingsport, fez com que o Rei George atacasse a cidade. Em 1778 uma armada de Navios de Guerra Britânicos bloqueou a cidade e abriu fogo contra o porto. Uma dezena de embarcações que estavam ali ancoradas foram destruídas, bem como alguns prédios que ruíram com a barragem de artilharia. Os patriotas de Kingsport, liderados por um corsário chamado Argus Blaine posicionaram canhões nos montes da cidade responderam ao ataque expulsando os invasores. Embora o porto tenha sido avariado pela batalha os navios de Sua Majestade foram obrigados a retroceder. Até os dias atuais bolas de canhão ainda são ocasionalmente desenterradas na cidade ou na lama das praias.


Após a Guerra, Kingsport teve um período de grande desenvolvimento com a Indústria Pesqueira que trouxe ainda mais fortuna para uma classe de hábeis capitalistas. À luz da Revolução Industrial, a cidade começou a desenvolver outras atividades mercantis com o surgimento de empresas explorando tecelagem, confecção e aviamentos. Kingsport, entretanto, continuou casada com o mar, confiando largamente na pesca e comércio marinho como fonte primária de sua riqueza.

O século XIX trouxe os primeiros sinais de revés para a economia local. Numerosas restrições mercantis impostas pelo governo criaram obstáculos para os negócios com a Inglaterra e França. Com o comércio estrangulado e sanções para os que tentavam burlar as leis, muitos capitães locais se entregaram a pirataria criando uma péssima imagem para os navegadores locais. Em 1816, a marinha bloqueou a entrada da baía em perseguição a capitães acusados de terem se tornado piratas. Alguns homens do mar foram capturados, julgados e enforcados nas docas para horror da população local.

Em 1835 veio um grande golpe que impactou a economia local de forma decisiva. A construção de um grande porto em Gloucester desviou parte das embarcações para essa enseada mais tranquila que se tornou um enorme mercado para o rentável negócio de caça de baleias. Pouco depois, o Porto de Boston também foi expandido e modernizado fazendo com que Kingsport se tornasse cada vez mais obsoleto. Por algum tempo considerou-se trocar o nome da cidade para Georgetown, mas a ideia foi abandonada, sobretudo depois que muitos residentes se mostraram ressentidos coma forma como eram tratados pelo novo governo.


Para piorar as coisas, desastres naturais se somaram aos problemas econômicos. Fortes tempestades varreram a costa em 1847 e 1852 destruindo parte da frota pesqueira e arrasando a indústria que já se encontrava decadente. Tempestades estranhas, que pareciam se erguer repentinamente atingindo com vigor a cidade passaram a ser uma ocorrência frequente e alguns dos marinheiros supersticiosos culpavam a ousadia de alguns capitães audaciosos que exploravam os mares em busca de riquezas.

A Guerra Civil deu um novo alento a Kingsport, e nos dias do conflito entre os Estados a cidade contribuiu com a causa da União fornecendo embarcações que foram reforçadas e guarnecidas de canhões. Um total de 17 homens perderam suas vidas, todos eles travando batalhas em alto mar. Nos anos que se seguiram à guerra, parecia que o mar havia virado suas costas para Kingsport. Uma nova série de poderosas tempestades causaram grandes danos entre 1878-1888. Muitos prédios foram avariados e alguns cidadãos perderam suas vidas em inundações.

No início do século XX, a má sorte de Kingsport parecia continuar. Em 1905, uma devastadora epidemia de febre tifoide que começou em Arkham atingiu a cidade colhendo várias vítimas. Em 1920, foi a vez da Gripe Espanhola mostrar sua face nefasta. Hospitais foram construídos às pressas e sanatórios surgiram para combater a doença. Um dos únicos lados positivos é que eles foram mantidos posteriormente e se tornaram institutos de ponta.

Nos últimos anos, o desenvolvimento do turismo deu um alívio à combalida economia da cidade e atraiu investimentos. Mesmo nos anos austeros da Grande Guerra, Kingsport manteve sua recém conquistada estabilidade. Embora a pesca ainda seja a atividade principal, discute-se que o turismo possa nos próximos anos se tornar a fonte principal de divisas.


Mas essa é apenas a história conhecida de Kingsport.

Há segredos fervilhando e acontecimentos aterrorizantes tanto no mundo desperto quanto nas sendas oníricas da Terra dos Sonhos. Lugares ermos, assombrados e tenebrosos, além de indivíduos perigosos, cultos e sociedades secretas operando nas sombras. Kingsport é um lugar de maravilhas e horrores inenarráveis, como veremos na continuação desta série sobre a Cidade das Brumas.


quinta-feira, 11 de abril de 2024

Lutando até o último homem - A lenda dos corajosos 21 Sikhs


"Em menor número e cercados
Ainda assim eles seguiram lutando
Com teimosia e orgulho pelo qual
Os Sikhs ficariam conhecidos".

A notável defesa de uma pequena, ainda que essencial fortaleza em Saragarhi é um dos maiores e mais famosos relatos de bravura da historia militar do povo Sikh. A resposta feroz e a coragem de um grupo de 21 homens que mantiveram posição contra uma força esmagadora de inimigos talvez seja o maior exemplo da lendaria capacidade desses soldados.

Na India, a façanha ganhou status de lenda e se tornou um feriado nacional lembrado desde então. Assim como a resistência ferrenha dos Espartanos na célebre Batalha das Termopilas, a insana história de 21 guerreiros enfrentando uma horda de inimigos na Ásia Central recebeu contornos de mito, sendo relembrada em canções, poesias e mais recentemente filmes. 

Tudo aconteceu no final do século XIX, quando o Império Britânico era conhecido como "O Império em que o Sol jamais se põe", uma vez que dada sua extensão territorial e possessões, sempre havia um lugar onde o sol brilhava. Ao menos um quarto do mundo pertencia a Rainha Vitória que impunha sua vontade pela força de sua Marinha e Exército.

De todas as colônias britânicas além mar, a possessão mais valiosa era a Índia. O Raj Britânico governava a Índia extraindo dela incontáveis riquezas que fluíam diretamente para a metrópole inglesa. Navios mercantes faziam a rota do Oriente trazendo mercadorias inestimáveis que ajudavam a encher os cofres da Coroa Real. Por terra, os limites do subcontinente eram defendidos por uma série de fortalezas distribuídas ao longo das montanhas que faziam fronteira com o atual Paquistão e Afeganistão. 


Embora não fosse uma Fortaleza bem guarnecida e protegida, o Posto Avançado em Saragarhi era vital para manter as comunicações entre duas regiões ocupadas pelos Britânicos. Ele era ainda uma posição defensiva vital contra os clãs de Orazakai e Afridi, tribos de guerreiros ferozes que habitavam a Ásia Central. Famosas pela sua selvageria, essas tribos eram conhecidas por saquear além da fronteira, por matar homens, sequestrar mulheres e crianças para servi-los como escravos. Embora ainda estivessem restritos a armamento como lanças, espadas e eventuais armas de fogo ultrapassadas, eles eram um problema constante, sobretudo quando se encontravam em maior número. A tropa estacionada na fortaleza era bem treinada e disciplinada, formada em sua totalidade por soldados da etnia Sikh, um povo reconhecido pela sua seriedade e disciplina, considerado, não por acaso soldados extremamente valiosos para o Exército Colonial.

Os Sikhs já eram bastante prezados pelas suas habilidades marciais. Oficiais britânicos se referiam a eles como guerreiros implacáveis que lutavam com bravura e que jamais se  rendiam, mesmo diante de desvantagens evidentes. Tudo isso já era bem conhecido, mas a capacidade dos Sikhs seria testada ao limite quando as tribos inimigas celebraram uma aliança cujo objetivo era obliterar o controle do Raj e submeter o Oeste da India à sua vontade.

Na manhã do dia 12 de setembro de 1897, um vigia chamado Gurmukh Singh do 36o Regimento Sikh observou o horizonte e para sua surpresa viu um regimento de homens marchando sob bandeiras tremulantes com as cores de vários clãs inimigos. A multidão era assustadora. Um mar de homens levantando nuvens de poeira, conduzindo animais e bradando gritos de desafio para os soldados no pequeno forte. Qualquer soldado ficaria apreensivo diante dessa visão, ainda mais considerando que as tribos da Ásia Central não costumavam fazer prisioneiros, executando todos aqueles que caiam em suas mãos. Singh manteve a sua calma e correu para seu oficial imediato para dar as notícias. Quando perguntado quantos homens se aproximavam, ele disse de forma direta: "Mais do que eu consegui contar".


O oficial de patente mais alta era um sargento chamado Havildar Ishar. Ele subiu até a torre e observou por conta própria, estimando que a massa deveria contar com aproximadamente 20 mil homens. De forma atípica o bando estava equipado com rifles e canhões adquiridos para impulsionar o avanço pelo território do Raj. A guarnição estacionada no forte e comandada pelo sargento contava com apenas 20 homens.

Havildar convocou a guarnição para uma reunião de emergência. Diante dele, no minúsculo pátio cercado por um muro de barro e pedra, estavam os membros do 36º Destacamento Sikh. Calmamente, sem demonstrar qualquer sinal de medo em sua voz, o suboficial contou às suas tropas que elas eram provavelmente o único bastião de defesa entre aquela multidão fervilhante de guerreiros sedentos de sangue e o coração da Índia. Os 21 soldados eram a única coisa capaz de conter uma invasão coordenada que certamente pegaria o Raj de surpresa e que causaria estragos em todo o país. Havildar disse que embora a guarnição estivesse em desvantagem colossal, ele não estava disposto a entregar a posição, ainda que eles não tivessem chance de sobreviver. Sendo um comandante justo, ele deu aos homens uma  escolha: aqueles que quisessem tentar fugir poderiam fazê-lo escapando por uma passagem no portão.  Mas aqueles que ficassem para defender a Índia contra esta invasão teriam a chance de morrer bravamente em batalha. Ele colocou a questão em votação para seus comandados.

Todos os vinte homens decidiram ficar.

A calma que antecedeu o avanço foi marcada pelos Sikh se preparando para empreender uma resistência ferrenha. Os soldados se distribuíram pelas muralhas com cartuchos de munição que haviam sido entregues na semana anterior e que deveriam ser distribuídas por outras guarnições na região. Os soldados dispunham de rifles Martini-Henry, a arma mais eficiente do exército britânico na época, além de um estoque considerável de munição. Uma semana antes a guarnição havia recebido um carregamento de pólvora e balas que seriam compartilhadas com as demais guarnições servindo ao longo da fronteira. O Regimento tinha treinamento com essas armas e sabia bem como utilizá-las no máximo de suas habilidades.


Um ultimato exigindo a rendição da fortaleza foi transmitido por um mensageiro. O sujeito se aproximou envergando uma bandeira branca com a intenção de descobrir quantos soldados estavam mantendo a posição. Ele teria gargalhado quando constatou que eram apenas duas dezenas de homens e que eles dispensavam sua proposta. O mensageiro retornou aos seus chefes afirmando que os defensores deviam ser loucos ou que estavam alucinando.

Por volta das 9 horas, o primeiro movimento de ataque foi sinalizado. Havildar Singh emitiu a ordem para que seus soldados atirassem à vontade, e os 21 homens do 36º Sikhs deram início a uma das resistências mais épicas da história militar. Um soldado do exército regular disparava uma média de 7 vezes por minuto, mas acredita-se que os Sikhs conseguiam executar até 16 disparos em menos de 60 segundos. Junte a isso uma precisão mortal que maximizou os danos produzidos.  

Os Orakazai e Afridi fizeram o tipo de coisa que você esperaria de uma força esmagadoramente superior atacando um pequeno posto avançado com uma vantagem absurda. Eles atacaram ao estilo do Imperador Xerxes, tentando atropelar os defensores lançando onda após onda de homens contra as paredes. Essa horda gigantesca de fanáticos imaginou que iriam arrasar completamente os Sikhs. Mas não foi bem isso o que aconteceu!

Contrariando toda a lógica, os defensores conseguiram conter a primeira onda de guerreiros abatendo centenas deles. Os Orakazai se lançaram contra as muralhas de Saragarhi, usando escadas e cordas para tentar escalar o paredão de 9 metros de altura. Os chefes tribais não queriam gastar munição e por isso enviaram a tropa sem apoio de artilharia e com poucos rifles. Esse foi seu maior erro!

Com os soldados atirando sem parar de suas posições defensivas, a ofensiva acabou sendo rechaçada. Em meio a confusão, os invasores começaram a recuar tropeçando em cadáveres e feridos que se amontoavam sangrando e engasgando. A nuvem de fumaça produzida pela pólvora deflagrada criava um fog cinzento que pairava no alto das muralhas.


Os Sikh ganharam confiança e bradaram desafiadoramente para os inimigos. Um soldado chamado Gurmukh que era sinaleiro da guarnição se destacou. Ele se posicionou no alto da torre de vigília com um rifle de mira telescópica, uma tecnologia recém criada e uma sacola com 500 projéteis. De lá começou a alvejar os chefes tribais que observavam de uma distância que julgavam segura - mas que se provou ilusória. Segundo testemunhas, ele teria abatido mais de 50 homens com disparos precisos sempre visando a cabeça de seus alvos.

A segunda investida veio algumas horas depois, iniciada por uma salva de canhões que visava derrubar as muralhas. Felizmente para os Sikhs, as paredes da fortaleza se provaram extremamente resistentes e resistiram. Em seguida, uma unidade de ataque avançou recebendo cobertura de atiradores. Mas apesar de contar com armas modernas as tribos não tinham muita familiaridade com esses rifles e se mostraram pouco eficientes. Os defensores atiravam sem parar e novamente, contrariando toda lógica, conseguiram conter o segundo avanço expulsando os inimigos.  

Claro, eles sofreram algumas baixas, mas mesmo os feridos continuaram a dar apoio atrás das ameias carregando armas, arremessando bombas de pólvora preta ou derrubando as escadas que eram escoradas nas paredes. O mensageiro veio novamente ter uma conversa com os defensores, elogiando sua bravura e prometendo que eles seriam poupados se depusessem as armas. A resposta partiu de um dos defensores que estourou a cabeça do negociante como um melão.

Sem um acordo, a terceira investida veio cinco horas mais tarde com uma enorme multidão de guerreiros furiosos avançando feito um enxame.

Eventualmente, os Sikhs acabaram sendo dominados pelos inimigos atacando de todos os lados. Um bando conseguiu transpor os muros de uma seção menos protegida e deu início a um incêndio. Com as posições cobertas por uma densa fumaça e os Sikhs preocupados em extinguir as chamas, o restante das tropas inimigas conseguiu romper os portões do forte e invadir o pátio.


Mesmo com as paredes da fortaleza desmoronando e fumegando num verdadeiro inferno, os Sikhs não se renderam. Havildar Ishar ordenou que os homens que ainda estavam lutando recuassem para a seção interna do forte, barricassem as portas e continuassem a disparar contra os atacantes que agora pululavam pelas muralhas. O próprio sargento não conseguiu se refugiar - em um esforço para ganhar tempo para seus homens, ele sacou sua espada curva e se lançou contra a horda morrendo em combate corpo a corpo.

Mesmo com o comandante morto e o forte em chamas, os Sikhs continuavam a combater com todas as suas forças. Não demorou muito para que o inimigo encontrasse um ponto fraco nas defesas internas – um frágil portão de madeira. Mas mesmo assim, quando os homens da tribo abriram uma brecha para invadir a defesa final, se depararam com um punhado de sikhs furiosos com baionetas fixas e expressões determinadas. A luta ali dentro atingiu novo grau de selvageria. Os guerreiros tribais decidiram então retroceder e atear fogo ao prédio. Num último ato de coragem, os seis Sikhs que ainda restavam deixaram a construção em chamas bradando "Deus é a Verdade" num derradeiro avanço. 

Todos eles morreram, mas venderam caro sua derrota. Quando o último deles tombou morto, havia uma montanha de inimigos retalhados, baleados e chocados pela resistência empreendida.

A defesa foi tão ferina que os guerreiros tribais tinham medo de entrar no forte e investigar as ruínas em busca de sobreviventes. Espalhou-se o boato de que os Sikhs não eram simples homens, mas Rakshasas - espíritos diabólicos com poderes sobrenaturais, tamanha a sua motivação.

Os defensores de Saragarhi foram vencidos, mas mantiveram sua posição por um dia inteiro atrasando o avanço massivo por tempo suficiente para que os britânicos reforçassem suas posições. Depois de Saragarhi, os Orakazai seguiram para o vizinho Forte Gulistan, mas o atraso custou-lhes o elemento surpresa - os homens no Forte Gulistan seguraram o ataque enquanto a recém-chegada artilharia pesada era preparada. Algumas centenas de projéteis explosivos bem no meio da horda inimiga acabou por frustrar o ataque.


Mais tarde, quando as tropas britânicas chegaram à Fortaleza semi-destruída encontraram os cadáveres dos 21 sikhs e algo entre 500 e 800 guerreiros tribais mortos. O número é debatido porque quando os britânicos apareceram, houve uma segunda rodada de combates pelo forte, e foi difícil dizer quantos inimigos foram mortos entre as duas lutas, mas presume-se que os Sikhs praticamente esgotaram seu estoque de munição e que cada um tinha pelo menos 400 disparos.

Quando a história dos defensores Sikhs de Saragarhi foi narrado no Parlamento, eles foram aplaudidos de pé por todos os membros do governo britânico. Todos os 21 Sikhs receberam a Grande Ordem de Mérito, a maior condecoração militar disponível para eles na época, e cada uma de suas famílias recebeu um terreno e uma recompensa em dinheiro pelos serviços prestados. 

A história é mencionada pela UNESCO como uma das oito grandes histórias de bravura coletiva na história da humanidade, e até hoje, todo dia 12 de setembro, o povo da Índia celebra o Dia de Saragarhi.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Relíquia Sagrada - Seria o Cálice de Nanteos o verdadeiro Santo Graal?


Talvez não haja busca maior de artefato na historia da humanidade do que a do Santo Graal. Ele é uma fonte de mistério bíblico, devoção transcendental e o exemplo máximo do desejo de possuir uma parte significativa da história. 

O Cálice Sagrado, esteve relacionado com Jesus Cristo em dois momentos de sua vida. O Graal seria o lendário copo no qual se acredita o Salvador teria bebido na Última Ceia com seus discípulos. Segundo a tradição, ele também teria sido usado por José de Arimateia  para coletar o sangue de Cristo enquanto ele padecia na crucificação. O Graal portanto estaria ligado a dois  momentos muito importantes da cristandade. Sua descoberta não apenas comprovaria a existência de Jesus, mas de dois momentos chave para todo devoto.

O Graal desapareceu na história e se tornou objeto mítico de busca, ambição, debate e pesquisa desde então. O Santo Graal é tão desejado e elusivo que o seu nome se converteu em sinônimo de descobertas inatingíveis ou impossíveis e, ao longo dos séculos, conseguiu confundir todos os que o procuraram. 

É claro que surgiram muitos cálices e taças que foram apresentados e reivindicados como sendo o verdadeiro Graal ao longo dos séculos. Há um boato de que mais de uma centena de supostos Cálices Sagrados foram encontrados e estes ainda adornam igrejas, museus e coleções privadas ao redor do mundo, cada qual com sua própria história e suposições por parte de quem os encontrou e de quem neles acredita.  


Contudo, talvez não haja nenhum candidato tão promissor ou tão misterioso a ser o verdadeiro Graal quanto um cálice de aparência humilde que foi trancado e mais de uma vez esquecido, apenas para ser achado novamente e se tornar alvo de acalorados debate sobre sua origem. 

O cálice em si é bastante simples e não chamou tanta atenção quando foi encontrado originalmente. Ele parece uma simples tigela rasa de madeira, sem alças, sem decorações, e desgastada, lascada e fortemente danificada por séculos de idade. Seu estilo e o modelo de confecção conferem com o que se esperaria de um cálice usado na Galileia do século primeiro. No entanto, esta pequena taça de madeira gerou sua quota de mistério e possui uma longa e conturbada história.

Tudo começa com a missão do Rei Henrique VIII, no século XVI, de separar a Inglaterra da Igreja Católica e destituir o Papa da sua autoridade absoluta em questões de fé em seus domínios. Com isso em mente Henrique fez com que todos os funcionários eclesiásticos renunciassem à autoridade do Papa em 1536. Mais que isso, para garantir seu desejo ele perseguiu todos aqueles que se negavam a reconhecer sua reforma e que continuavam a obedecer ao Vaticano. Uma das medidas da reforma foi combater os focos de resistência e confiscar artefatos que eram considerados valiosos para os católicos. Em determinado momento, os reformistas aliados do Rei bateram na porta da Abadia de Glastonbury, que não havia renunciado ao Papa.


De alguma forma, o Abade soube de antemão por intermédio de informantes que os homens do Rei estavam à caminho e começou a esconder o máximo que pôde de seus tesouros, incluindo um simples cálice de madeira que estava em poder da abadia. Alguns acreditavam que aquela peça, trazida da Terra Santa durante as Cruzadas era o verdadeiro Santo Graal. Ela havia sido doada por um cavaleiro cujo nome havia se perdido e era parte do relicário da Abadia há séculos. Não há muitos detalhes sobre a origem da peça, mas ela sem dúvida era tratada como uma relíquia legítima.

O Abade e seis monges selecionados por ele decidiram fugir para a Abadia de Strata Florida, em Cardiganshire, no País de Gales. O cálice e alguns outros tesouros foram escondidos sob tábuas do piso da capela-mor. No entanto, o esconderijo não iria durar muito, pois os homens do rei capturaram os clérigos e exigiram a entrega de todos os seus artefatos. Alguns religiosos, o Abade inclusive, foram submetido a torturas, mas não revelaram nada.

Eventualmente o único clérigo remanescente do grupo foi incumbido de recuperar o cálice de seu esconderijo e mantê-lo em segurança. Ele fugiu com os homens do Rei em seu encalço e acabou encontrando um refúgio seguro com a importante Família Powell, que residia numa mansão em Nanteos. Os Powell eram católicos devotos, algo muito perigoso na época, mas como gozavam de influência na corte, isso os manteve imunes contra as perseguições religiosas. 

O jovem clérigo decidiu transferir a posse da relíquia aos Powell quando contraiu uma doença repentina. Ele legou a eles, em seu leito de morte, o artefato, revelando que se tratava do verdadeiro Santo Graal tocado pelas mãos do Salvador. Os Powell aceitaram a incumbência de proteger a peça que foi guardada na mansão, passando-o de geração em geração por centenas de anos como um tesouro particular.


Foi durante esse período que surgiram os primeiros rumores de que o Cálice possuía miraculosas habilidades, sendo capazes de sanar ferimentos, anular venenos e curar doenças daqueles que bebiam dele. O cálice se tornou um bem precioso da família, sendo chamado de "A Taça de Cura Tregaron", e mais tarde "O Cálice de Cura Nanteos". Verdade ou mentira, é inegável que os membros da Família Powell sempre foram conhecidos por sua invejável saúde e pela notável longevidade. Na árvore genealógica da família, há numerosos membros que viveram além dos 100 anos, uma marca impressionante. 

Em 1878, um dos descendentes dos Powells originais e herdeiro da propriedade situada em Nanteos, George Ernest John Powell, aceitou colocar o Cálice em exposição e permitiu a análise de um membro da Sociedade Arqueológica Cumbriana que escreveu à respeito dela:
"Supõe-se que o cálice possuía poder de cura, que só poderia ser chamado de milagroso. Foi enviado para a casa de um doente, e algum objeto valioso foi deixado como penhor para garantir seu retorno seguro. O paciente bebeu vinho depositado em seu interior e apresentou uma impressionante cura, apesar de desenganado pelos médicos. A fonte de suas alegadas virtudes reside no fato dele supostamente ter sido usado pelo próprio Jesus Cristo. Acredito não haver dúvida de que grande parte de seu pedigree é verdadeiro, pois remonta à posse dos cistercienses em Strata Florida. É provável que tenha sido preservado como uma relíquia sacra à qual foram atribuídos poderes taumatúrgicos. A veneração que lhe é concedida na vizinhança e, ainda mais decididamente, o respeito da sua origem leva nobres e camponeses a acreditar ser ele genuíno. Os monges de Glastonbury e de Strata Florida tem grande crença na sua veracidade. Se os relatos são verdadeiros, a relíquia é extremamente interessante, como exemplo da sobrevivência da crença medieval e de valores cristãos".
Depois disso, o Cálice ganhou enorme reputação sendo mencionado por religiosos, estudiosos e pesquisadores do Graal. A Família Powell permitiu em certos momentos que peregrinos bebessem dele, registrando uma infinidade de efeitos milagrosos. Há alegações de que o artefato teria curado o câncer, a lepra, a cegueira e permitido que aleijados voltassem a andar. À medida que essas histórias sobre a taça surgiam, ela se tornou uma grande candidata ao título de verdadeiro Santo Graal. Legados oficiais da Igreja Católica chegaram a visitar Nanteos para analisar o artefato e se disseram certos de que se tratava de uma peça legítima.  


Nesse ínterim, o último descendente dos Powell faleceu em 1952 e a taça passou para as mãos da família Mirylees, que a levou para Herefordshire e a depositou em um cofre do Lloyd's Bank e se recusou a exibi-la ou mostrá-la novamente. Ao longo dos anos, a família Mirylees se mostrou extremamente reservada em relação à taça, protegendo-a zelosamente do mundo exterior e apenas concedendo breves entrevistas sobre ela. 

Ela foi colocada em exibição apenas uma vez em 1977 na Biblioteca Nacional do País de Gales, e novamente em 2001.

A família ocasionalmente emprestava o copo para aqueles que consideravam especialmente necessitados de seus poderes milagrosos, e foi em uma dessas ocasiões que o valioso artefato desapareceu em 2014. O Cálice havia sido emprestado a um idoso doente que residia em Weston-on-Penyard, no Condado de Herefordshire. Foi relatado que ladrões invadiram a casa e roubaram o cálice e cobraram um resgate de £20.000 por seu retorno seguro. 

A taça foi devolvida aos seus proprietários no ano seguinte, deixada em terreno neutro após uma reunião pré-agendada que garantiu que nenhuma prisão seria feita. Não houve pagamento de resgate até onde se sabe. Ela foi a partir de então colocada em exposição pública permanente e lá permanece desde então.

Nos últimos anos, tem-se falado muito sobre se o Cálice de Nanteos é real e se ele é realmente o Santo Graal das lendas. A historiadora galesa Juliet Woods ofereceu uma visão mais cética ao dizer que não há registro de tal cálice mencionado em quaisquer inventários ou registros da Abadia de Glastonbury e nem da família Powell até o século XVIII. Em algum momento, o Cálice simplesmente começa a ser mencionado, séculos depois dele supostamente ter sido legado aos Powell. 

Seria esta taça danificada e em desintegração o verdadeiro Santo Graal? Será que realmente abriga os poderes que lhe são atribuídos? É difícil dizer já que o Cálice de Nanteos encontra-se guardado e as respostas que procuramos continuam a ser evasivas.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Lovecraft Land - Parque de Diversões baseado em Lovecraft abrirá em 2028


Essa notícia é nada menos do que sensacional!

A Blackstone Entertainment um conglomerado gigante do Entretenimento Norte-Americano, responsável entre outros pelo Parque Busch Gardens em Tampa, anunciou a criação de um novo Parque de Diversões que será construído na cidade de Providence, estado de Rhode Island.

LOVECRAFT LAND (Terra de Lovecraft), será um Parque temático diferente de todos até então. A ideia é que ele seja um tributo a vida e obra do autor H.P. Lovecraft que nas últimas décadas ganhou reconhecimento pelas suas criações aterrorizantes. 

O Parque será construído em uma área gigantesca de 250 hectares na parte oeste de Providence e contará com instalações hoteleiras completas e um complexo de diversões dos mais modernos. A criação do Parque será coordenada pela Aldar Properties, a mesma empresa responsável pela construção das instalações do Ferrari World de Abu Dabhi e do Parque Luna em Madri. As construções devem se iniciar em Outubro de 2024, mas a abertura do parque deve ocorrer apenas em 2028. Os custos com a construção do Parque Lovecraft Land não foram divulgados, mas acredita-se que sejam expressivos.


A divulgação das atrações foi um dos pontos altos da Conferência aberta à imprensa nessa sexta feira. O Diretor executivo da Aldar Properties Richard Masters e o Presidente da Blackstone Entertainment, Kenneth Norris, falaram do que pretendem oferecer ao público.

"Teremos grandes atrações! Buscamos conciliar entretenimento e surpresas na forma de atrações que realmente consigam captar a aura das histórias de Lovecraft e do horror cósmico", disse Masters em sua palestra. "Não pouparemos custos para fazer de Lovecraftland uma atração interessante, agradável e inesquecível para todos visitantes".

Dentre os projetos mencionados está a construção de uma Cidade Cenográfica reproduzindo em detalhes a cidade de Arkham, um dos locais mais importantes dentro da obra de Lovecraft. 

Arkham USA, será uma cidade da década de 1920 reproduzida nos mínimos detalhes, minuciosamente concebida para parecer uma cidade dos turbulentos anos 1920 com direito a casas, bares clandestinos, ruas onde irão transitar automóveis de época e atores devidamente vestidos como pessoas do período. A Cidade cenográfica contará com livrarias, cafés, hotéis (onde os visitantes poderão se hospedar) e lojas onde memorabilia, colecionáveis e antiguidades poderão ser adquiridos. Além disso, Arkham USA trará reproduções de lugares icônicos da cidade lovecraftiana como a Casa da Bruxa, a Mansão Crown and Shield, o Cemitério do Impronunciável e, é claro, a Universidade Miskatonic.


Em alguns destes prédios funcionarão atrações especiais. Na Casa da Bruxa por exemplo, os visitantes poderão aproveitar um passeio assustador guiado por ninguém menos do que Keziah Mason (a Bruxa em pessoa) e Brown Jenkin (seu rato familiar!). Durante o passeio os visitantes tem a chance de vasculhar a casa assombrada e experimentar belos sustos. No prédio dedicado a Universidade Miskatonic, os visitantes poderão encontrar o Reitor Armitage e conhecer os mistérios do Museu da Universidade e lidar com ameaças espectrais que ameaçam escapar.

Mas Arkham USA é apenas uma das atrações do Parque Temático.

Em "Ilha de R'Lyeh", os visitantes farão um passeio pelo mar até chegar a uma Ilha fantasmagórica onde terão a chance de encontrar o próprio Grande Cthulhu. A criatura será criada pela equipe de Jim Henson (responsável pelos Muppets) e será um animatronic de 30 metros de altura. R´Lyeh será uma das atrações principais de Lovecraft Land e espera-se que a experiência estabeleça um novo patamar de excelência no uso de modelos animados computadorizados.

Já em "Montanhas da Loucura", os visitantes poderão conhecer um espaço climatizado com temperatura de -5 graus, que os forçará a usar casacos e roupa polar. No interior suprido com neve artificial, o público poderá esquiar e patinar no gelo. Mas é claro, os mais aventureiros terão a chance de descer em um tobogã a altíssima velocidade enquanto conhecem o interior da Cidade dos Elder Things. A descida de tobogã, segundo os projetistas terá tudo para colocar a tradicional Space Mountain na Disneyland no chinelo.


Outra atração que chamou a atenção foi "Raid of Innsmouth", um brinquedo no qual os visitantes participam dos eventos envolvendo a invasão e batalha para tomar a cidade costeira de Innsmouth das garras de perigosos monstros marinhos. Uma das partes mais empolgantes será uma viagem a bordo de um submarino no qual poderá ser avistada uma cidade das profundezas. A atração será diversão garantida para todas as idades!

O Parque oferecerá ainda salas de Cinema IMAX em 3D com um filme exclusivo chamado "Horror de Dunwich", nele o grupo terá arrepios ao caçar um monstro invisível e ter as sensações de tremores, ventanias e outros efeitos especiais. Em "A Cor que Caiu do Espaço", simulador de realidade virtual o público participa de uma investigação, acompanhando policiais de Arkham que tentam deter um monstro invisível. Finalmente na "Corrida de Kadath", os visitantes poderão conduzir a Nau Branca através dos céus e da longa viagem até a Dimensão Onírica de Kadath. Mas cuidado, o traiçoeiro Nyarlathotep tentará derrubar sua embarcação.


À meia noite, haverá um desfile toda noite pelas ruas da Arkham cenográfica no qual poderão ser vistos vários personagens icônicos. A atração se encerrará com um show de fogos de artifício e pirotecnia com direito a biplanos e dirigíveis enfrentando Mi-Gos nos céus iluminados.

Além dessas e de um total de 14 outras atrações (entre as quais, a Montanha Russa de Nyarlathotep e o Parque Aquático de Dagon), os visitantes poderão desfrutar de restaurantes e lanchonetes como o Necronomicon Café, a Casa das Delícias de Abdul e o Restaurante cinco estrelas, Chave de Prata. Em se tratando de acomodações, o público poderá se hospedar em qualquer um dos 5 hotéis de redes famosas que estarão instalados no parque. Atenção para o "Miskatonic Hotel" (da Rede Sofitel) e o "Kingsport Inn" (da Rede Hilton) que oferecerá atrações próprias depois da meia noite, como a "Rave de Whateley" com boite e pista de dança até o dia clarear.


Lovecraft Land é um empreendimento de risco, os custos para construção e gerenciamento serão consideráveis, mas os envolvidos esperam que ele atraia um grande número de visitantes anualmente para Providence. A cidade aliás será bastante beneficiada pela atração turística que aquecerá a economia local. 

O passaporte de 3 dias para visitar e aproveitar todas as atrações no Parque custará US$ 450,00 para adultos e US$ 370 para crianças até 10 anos de idade.

Eu já estou preparando minhas malas!