Hoje, a pequena cidade de Olalla, a uma curta distância de Seattle, atravessando Puget Sound de balsa, é um lugar praticamente esquecido. Os poucos prédios em ruínas são um testemunho da luta dos agricultores, madeireiros e pescadores que outrora tentavam sobreviver entre as amoreiras e os abetos solitários. Mas, na década de 1910, Olalla esteve brevemente na primeira página de jornais internacionais por um julgamento de assassinato como a região nunca tinha visto antes ou depois.
domingo, 23 de novembro de 2025
A Médica da Fome - Os Horrores da Clínica do Jejum da Doutora Hazzard
domingo, 16 de novembro de 2025
Pilares do Horror Cósmico - Atmosfera Sufocante e Esmagadora
QUARTO PILAR
ATMOSFERA SUFOCANTE E ESMAGADORA
Um elemento central para compreender qual a Atmosfera mais adequado a esse gênero de Terror é partir do princípio que o Horror Cósmico não se mostra, ele se insinua.
- As coisas, ainda que gigantescas e grotescas, jamais são vistas por completo. Ao pressentir que algo habita as fossas marinhas, centenas de metros abaixo da superfície, o que as testemunhas percebem é meramente uma sombra no abismo, bolhas revoltas subindo à superfície, uma perturbação momentânea que sacode o barco em que estão. Mas em seu íntimo, eles sabem que que tais fenômenos não poderiam ser causados por nada, senão uma forma colossal se deslocando nas profundezas insondáveis.
- uma voz quase ouvida - Da mesma maneira, sons bizarros e incompreensíveis podem acrescentar muito ao ambiente que se deseja criar. Imagine um grupo em seu acampamento nas estepes nevadas, tentando descansar após um dia de extenuante atividade. De repente um som gutural, impossível de ser produzido por qualquer garganta humana ou animal, se espalha pela planície como um mau agouro. O que teria produzido aquele barulho horrendo? Qual poderia ter sido a sua fonte? Os personagens não ousam conjecturar o que poderia ser, a única certeza é que não é nada que eles conheçam.
- um significado quase compreendido - Finalmente, permita que o grupo tente buscar uma explicação para o indizível. Se quiser, você, como Guardião, pode até tentar oferecer uma explicação razoável para um evento aliviando o terror momentaneamente, apenas para contradizer a teoria na sequência. Como explicar um brilho repentino no meio da madrugada? Poderia ter sido uma estrela cadente ou uma reflexão da lua, nada além disso. Mas logo em seguida, contradiga essa explicação, mostrando que ela não é razoável. Nenhuma estrela brilharia assim ou a lua está oculta atrás de nuvens. Quando você oferece uma explicação e logo em seguida a contradiz cria uma incerteza gritante de que nada é o que parece ser.
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
Lovecraft visita as ruínas - O local que inspirou o conto "O Cão de Caça"
Em 16 de setembro de 1925, o escritor H.P. Lovecraft pegou um metrô e decidiu conhecer um pouco mais da cidade de Nova York.
Aquela não era uma decisão simples para Lovecraft, um típico yankee, nascido e criado na Nova Inglaterra, orgulhoso de sua herança anglo-saxã. Dizer que ele não gostava de Nova York é trivializar seu profundo desprezo pela cidade para onde havia se mudado.
Lovecraft detestava Nova York e nunca escondeu tal coisa.
O lugar o sufocava, o deixava em estado de alerta, ele não dormia e não conseguia relaxar. Estava constantemente em estado de nervos. Escrevia aos seus colegas e se queixava com a esposa, Sonia Greene, frequentemente. A Metrópole o oprimia: com seu tamanho, seu barulho, seus cheiros... tudo o deixava sobressaltado.
Por esse motivo, quando aquele alto e desajeitado sujeito embarcou na estação de metrô na Clinton Street e saltou no Brooklyn, sua atitude era comparável a de um explorador adentrando terreno desconhecido. Lovecraft, no entanto sabia bem onde queria ir...
Ele desejava visitar a Igreja Reformista de Flatbush, no Brooklyn e conhecer pessoalmente o lugar que seu bom amigo, Rheinhart Kleiner, havia descrito como "absurdamente sinistro". Ele supunha que esse lugar poderia fornecer a inspiração para um de seus contos aterrorizantes.
O autor chegou ao lugar e ficou impressionado pelo cenário de abandono que encontrou. Algo naquele ambiente decadente o deixou imediatamente fascinado. A Igreja em si não foi o que mais lhe chamou a atenção, mas sim o velho e venerável cemitério no terreno contiguo.
Lovecraft pediu licença ao amigo que se manteve na Igreja e adentrou sozinho o terreno, caminhando em meio aos túmulos que adornavam o campo escuro e de aspecto lúgubre. Haviam varias lápides de pedra gastas e cobertas de líquen, raízes brotando do chão e mato crescendo selvagem. Não havia sinal de visitantes recentes. As estátuas tristonhas de anjos se empoleirando sobre as pedras eram as únicas testemunhas de sua visita. Fazia tempo que não havia ninguém ali para depositar flores nas sepulturas e prantear os ossos que ali jaziam.
Algo naquele ambiente soturno o atraía, apelando ao seu senso de antiquário e morbidez. Lovecraft se sentia arrebatado por aquele ambiente que a maior parte das pessoas achariam funesto.
Explorando o local ele conseguiu determinar que lá haviam ocorrido sepultamentos entre 1730 até meados do século XIX. Ao se aproximar de uma das lápides em ruinas — datada de 1747 — ele se permitiu uma transgressão. Lascou um pequeno fragmento de pedra e o colocou no bolso pedindo desculpas ao ocupante do jazigo, cujo nome não conseguiu ler por estar demasiadamente gasto.
Lovecraft depois confidenciou ao amigo que ter feito aquilo causou-lhe um arrepio involuntário. Quem pode dizer se algo não sairia da terra centenária para se vingar da profanação? E, caso tal coisa acontecesse, quem poderia dizer com o que se pareceria esse cadáver?
Ele ficou ali contemplativo por longos minutos até Kleiner vir chamá-lo, interrompendo seus pensamentos. Estava escurecendo e eles deveriam retornar para casa. O autor estava tão absorto em seus pensamentos que nem percebeu o tempo passar. Passara ali horas vagando entre os túmulos.
Ao voltar para sua casa, Lovecraft colocou o fragmento cinzento sobre a tampa da escrivaninha onde costumava destilar em palavras suas tramas macabras. Ele o observou com interesse. Naquela noite, ele pós o fragmento debaixo de seu travesseiro esperando que o pequeno objeto pudesse afetar seus sonhos e trazer inspiração.
Lovecraft escreveu "O Cão de Caça" (The Hound) pouco tempo depois, usando como nome de um dos personagens principais o apelido que deu ao seu colega, Rheinhard Kleiner, "Saint John". Não se sabe o que Kleiner achou dessa "homenagem", sobretudo porque Saint John era um necrófilo interessado em roubar sepulturas e obter troféus para sua macabra coleção.
O túmulo que no conto é fatalmente vilipendiado ficava em um "terrível cemitério em estilo holandês" — uma clara referência à igreja dilapidada de Flatbush ter sido construída no período colonial por imigrantes protestantes vindos dos países baixos.
Lovecraft jamais mencionou ter experimentado outros elementos da história como os uivos de cães diabólicos e uma entidade tenebrosa em busca de vingança contra Saint John e seu amigo (o narrador). Não resta dúvida, contudo que o tempo que Lovecraft passou sentado sobre as lápides admirando o Cemitério de Flatbush e sua antiguidade foram cruciais para o conto se instalar em sua imaginação e dali transbordar para as páginas.
Dessa viagem até Flatbush restaram duas fotografias.
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| Lovecraft posa em frente de seu prédio |
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| Lovecraft ao lado de Kleiner |
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| A Igreja Reformista de Flatbush |
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
Os Pilares do Horror Cósmico - A Loucura é a única certeza diante do Caos
TERCEIRO PILAR
A LOUCURA COMO RESPOSTA
Ademais, há algo de blasfemo na própria curiosidade.
Não se trata apenas de medo diante do desconhecido, mas sim de uma desintegração ontológica na qual o "eu" deixa de ser um ponto fixo, e o indivíduo se vê como um fragmento dentro de um todo incomensurável.
Lovecraft dizia que “a emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte medo é o medo do desconhecido."
Mas como descrever essa degradação além de um sistema de regras?
Sanidade como drama
- Eterno Flashback
- Paranoia Latente
- Lapsos de Memória
- Comportamentos ritualísticos
- Incoerência Delirante
- Mudança Física
As mudanças físicas são uma forma de evidenciar a terrível degradação dos personagens.
A Percepção alterada pela Revelação
Como o Guardião pode usar isso em uma sessão de Chamado de Cthulhu:
- Altere a percepção de tempo e espaço — descreva coisas que não fazem sentido, mas sem tentar se esforçar para explicá-las. O mundo começa a se distorcer conforme a sanidade diminui. Padrões podem ser vistos ou sentidos em pequenas interações nas quais o Caos permeia a realidade.









