terça-feira, 16 de julho de 2019

Em nome do Progresso - O Massacre dos Búfalos no Oeste Selvagem



No ano de 1885 as majestosas manadas de Búfalos já não mais cruzavam as planícies da América do Norte.

Houve um tempo em que a paisagem ficava tomada desse magníficos animais até onde a vista alcançava. Segundo biólogos, a população de búfalos pode ter chegado perto de 30 milhões em seu auge. Nos anos que se seguiram à Marcha para o Oeste, seu número foi reduzido drasticamente. Os Búfalos para muitos, eram intermináveis, mas isso não era verdade. Os gigantescos rebanhos, com milhares de cabeças cruzavam as planícies fazendo o chão tremer. 

Infelizmente, os animais foram declarados como um recurso valioso a ser explorado.

Por gerações os nativos americanos caçaram os búfalos que forneciam pele, chifre, ossos, cascos e carne que eram aproveitados pelas tribos. Contudo, a chegada do homem branco transformou o abate sistemático de búfalos em uma Indústria em franco crescimento. Durante o século XIX eles foram caçados impiedosamente, quase até a sua extinção.


Além das indústrias de abate que os caçavam e exterminavam aos milhares, um dos passatempos mais comuns na expansão para o Oeste era a caça. Os animais eram abatidos indiscriminadamente! Caçadores se orgulhavam de abater 10-20 búfalos por dia, a maioria deles meramente pelo prazer de atirar numa grande besta. Os búfalos eram pacíficos, raramente reagiam, o que tornava fácil de serem baleados por rifles e pistolas. Além disso, viviam juntos, um tiro com uma arma potente podia matar ou ferir vários ao mesmo tempo. 

Uma vez abatidos aproveitava-se praticamente tudo do animal, contudo a caça por esporte se limitava a abatê-los e depois abandonar sua carcaça nos campos para apodrecer e alimentar as aves de rapina. Nesse caso, nada se aproveitava!

Para piorar a situação, em dado momento as companhias de estradas de ferro declararam os búfalos como Inimigos do Progresso. Era fato que as manadas, por vezes, bloqueavam a ferrovia, impediam a passagem dos trens e constituíam um risco de acidentes. Para lidar com o problema, os Barões das Estradas de Ferro decidiram que os búfalos deveriam deixar de existir. Para cumprir essa meta passaram a suprir os passageiros com rifles e convida-los a atirar nos animais. Aquele que abatia mais búfalos ganhava uma premiação e os elogios de seus colegas. Essas expedições ferroviárias de caça se tornaram muito populares e sozinhas foram responsáveis pelo extermínio de milhares de animais, por vezes manadas inteiras.


Embora muitos nativos americanos também caçassem os búfalos, o extermínio sistemático era uma profanação absurda aos seus olhos. Incontáveis gerações haviam vivido com os búfalos e muitas tribos acreditavam que eles eram uma espécie de encarnação de espíritos da terra; seres nobres e poderosos. Animais majestosos que simbolizavam a liberdade. Outras baseavam seu calendário na observação das manadas que sinalizava a época de mudar de terras ou de plantar. A morte deles desestruturava seu modo de vida, além de causar um horror inenarrável. 

Em 1854, guerreiros da tribo Cherokee após se deparar um campo coberto de carcaças com centenas de búfalos abatidos decidiram ir à forra contra os caçadores. Atacaram uma expedição de caça e mataram todos os 16 homens que faziam parte dela. Os caçadores foram massacrados e para demonstrar sua fúria, cada um foi devidamente escalpelado e a pele arrancada de seus corpos - alguns enquanto ainda estavam vivos. Para finalizar, os cadáveres foram arrastados até o campo onde estavam os bisões mortos. Muitos deles foram colocados dentro das carcaças dos animais que depois foram costuradas com linha resistente.


O episódio ocorrido no Nebraska resultou em uma reação ainda mais violenta por parte do governo americano. Os responsáveis foram caçados e enforcados, mas a busca resultou na destruição de aldeias inteiras, e na morte de incontáveis mulheres, velhos e crianças, que foram massacradas com requintes de crueldade. A sede de vingança se espalhou pelos estados vizinhos e serviu de pretexto para ainda mais mortandade. 

Depois dessa tragédia, o exército americano se envolveu diretamente na caça aos búfalos.

Incentivados pelo General William Tecumseh Sherman, os militares chegaram a conclusão de que os búfalos estavam intimamente ligados aos índios e que o extermínio deles acabaria também com a estrutura das aldeias e tribos. "Mate um búfalo e afugente um índio" era uma frase comumente repetida pelos defensores desse plano. O objetivo era exterminar os búfalos e assim forçar os nativos a deixar as terras por eles ocupadas, já que não teriam sua principal fonte de caça.

Expedições fortemente amadas foram organizadas e  enviadas para os estados do Norte com ordens de matar o maior número possível de búfalos. Para cumprir a meta, os soldados que abatessem mais animais ganhavam comendas especiais. No sistemático extermínio dos animais, os soldados chegavam a usar rifles calibre 50 (os populares mata-búfalos), munição explosiva, dinamite e até canhões. 


Lendas do oeste como William "Búfalo Bill" Cody, foi contratado para liderar algumas dessas expedições e coordenar os esforços para a matança. "Cada bisão morto é um índio a menos na pradaria" dizia o sujeito que se tornaria mundialmente famoso pelo seu circo de variedades anos depois. Os homens tinham ordens de atirar sem parar e se eles acertassem algum índio durante o tiroteio, "bem essas coisas aconteciam, peles vermelhas e búfalos por vezes andam lado a lado", diziam. 

A medida que os grandes rebanhos começaram a diminuir de tamanho à olhos vistos, algumas pessoas alertaram que os búfalos poderiam ser extintos. A discussão dividiu a opinião pública, muitos militares diziam que a remoção dos búfalos seria essencial para conduzir os nativos para reservas, mas algumas pessoas se levantaram contra a matança. Em 1874, o Presidente Ulysses Grant, cedendo a pressão, ordenou a criação de reservas especiais onde a caça aos bisões era proibida. Isso, no entanto, não impediu que rebanhos ainda fossem caçados por esporte e para exploração econômica sobretudo depois que a indústria de fertilizante passou a usar os animais como matéria prima.

Mas uma tragédia mudaria as coisas.

Em Julho de 1884 uma expedição ferroviária de caça, saiu da Filadélfia levando ricos homens de negócios e empresários para conhecer o Oeste Selvagem. Deveria ser uma das últimas expedições de caça desse tipo e seu objetivo era proporcionar aos passageiros uma derradeira visão do oeste selvagem, com direito a champagne, charutos e muito luxo nos vagões, além da oportunidade para caça aos búfalos. Ao avistar um rebanho, o trem diminuía sua velocidade ou parava para que os caçadores subissem no teto de onde podiam atirar à vontade. Em uma dessas paradas abateram mais de 400 bisões como resultado de uma competição para saber quem acertava mais animais. A expedição seguiu até Omaha, onde fez a volta com destino a Filadélfia. 


Todos estavam felizes e satisfeitos esperando uma nova chance para disparar. Informes por telégrafo haviam chegado a respeito de uma grande manada que poderia ser interceptada pelo trem na manhã seguinte. O condutor recebeu ordens de correr o máximo possível! No meio da viagem noturna, o trem sofreu um acidente, ironicamente ao colidir com um bando de búfalos que estava na linha férrea. O trem descarrilhou e a locomotiva, que estava viajando a grande velocidade explodiu. O resultado foi a morte de 32 pessoas e quase uma centena de feridos. Essa tragédia colocou um fim às Expedições de Caça Férrea. 

O incidente foi explorado pela imprensa que ligou a história a maldições indígenas que teriam atingido aquelas pessoas e custado suas vidas. Nem todos acreditavam naquelas histórias, mas muitos passaram a questionar a moralidade de abater os animais daquela maneira.

De fato, muitas pessoas na Costa Leste já criticavam a matança de Búfalos e demandavam que essas ações tivessem fim antes que fosse tarde demais. Até mesmo Búfalo Bill, um dos maiores patrocinadores do extermínio dos animais se disse enojado pelo que havia feito no passado e passou a advogar pelo fim da caçada indiscriminada. As campanhas surtiram efeito e mais reservas foram criadas, além de órgãos para proteção dos animais.

Mas então as coisas já haviam quase levado os búfalos à extinção. Em 1880, deveriam existir pouco menos de 100 mil deles.


As consequências ecológicas do extermínio dos Búfalos foram significativas. Não apenas as tribos nativas foram afetadas, mas a ausência dos animais que tinham um papel importante no ecossistema ocasionou mudanças no curso de rios, surgimento de pragas, afetou a vegetação e por fim repercutiu na erosão do solo que contribuiu para o fenômeno dos Dust Bowls e Nevascas Negras que na década de 1930 se provaram uma calamidade. 

A partir de 1949, o número de búfalos voltou a crescer na América e eles passaram a ser protegidos por Leis Federais que restringiam a caça e abate. Hoje há reservas em Utah, Montana, Canadá e Alasca onde manadas marcham novamente, mas elas jamais serão iguais ao que um dia foram.

Se no século XIX havia dúvidas a respeito da extensão do impacto que o homem poderia causar na natureza, o quase extermínio dos búfalos provou que nossa influência pode ser um fator determinante. Algo que se mostraria ainda mais verdadeiro ao longo do século seguinte.

sábado, 13 de julho de 2019

Oeste Macabro - Uma lista de Filmes de Horror e Western



Dentre os muitos subgêneros e combinações possíveis para filmes de terror, o Oeste Macabro parece ser uma mistura digna de nos causar pesadelos. O Oeste era rico em elementos assustadores:  o isolamento, o sempre presente temor pela fome, animais perigosos e nativos hostis, acrescido com as condições brutais do deserto, do clima e das superstições... No oeste selvagem, além da fronteira da civilização, a impressão é que tudo, praticamente tudo, conspirava contra você para te ferir, enlouquecer ou matar.

A vida no oeste era dura, brutal, violenta e jogar um punhado de horror nesse ambiente torna tudo ainda pior, de uma forma ideal para o gênero. Que outro lugar ou época fornece um pano de fundo tão adequado para florescer a paranoia, o medo e o terror? 

Bom, sem me alongar muito, aqui estão alguns filmes de Oeste Macabro para assistir e se inspirar.

A CASA DOS PÁSSAROS MORTOS 
(Dead Birds/ 2004) 


Vamos começar com um pequeno filme chamado "A Casa dos Pássaros Mortos", que infelizmente é pouco conhecido.

A história se passa em 1863 e acompanha um bando de desertores confederados nos anos que se seguiram ao fim da Guerra Civil. Depois de roubar um carregamento de ouro enviado para um forte (em um assalto extremamente violento logo no início do filme), os criminosos procura um esconderijo para escapar das autoridades. Eles decidem se esconder em em uma velha fazenda nos arrebaldes do Alabama. O lugar parece ter sido abandonado durante a guerra e cercado por um vasto milharal, eles se sentem seguros. Enquanto esperam a poeira baixar, o grupo começa a experimentar uma série de acontecimentos sobrenaturais e um por um os bandidos começam a temer pela sua sanidade e pelas suas vidas. 

Vez ou outra, você acaba esbarrando em um filme que passou desapercebido e que acaba sendo melhor do que você imaginava. "A Casa dos Pássaros Mortos" é um desses filmes que se transforma numa grata surpresa! Ele oferece uma história simples, mas com uma boa dose de medo, paranoia, desconfiança e terror. 

Lançado direto no mercado de video sem muito alarde, o filme tem um elenco acima da média e uma condução segura, ainda mais se considerar que é o primeiro filme do diretor Alex Turner. Ele tem o mérito de criar uma atmosfera de ameaça, mesmo que tudo que você esteja vendo e ouvindo sejam sombras e ruídos estranhos. Sim, o filme abusa de alguns clichés típicos de casa mal assombrada e de filme de monstro, mas é bem acima da média. E os elementos de western são bastante convincentes. Além disso, a produção consegue superar o orçamento apertado e embora abuse do gore funciona bem.    


OLHOS DE FOGO

(Eyes of Fire/ 1983)



Esse eu assisti apenas uma vez na televisão, faz uns bons anos e acabou me marcando bastante. Confesso que não lembrava o nome e tive que fazer uma pesquisa a respeito para relembrar alguns detalhes da trama.

Esse pequeno filme de baixo orçamento merece destaque nessa lista por fugir do lugar comum. A história mistura drama de época, folk horror e bruxaria tendo como pano de fundo as pradarias americanas bem no início da colonização em direção ao pacífico. É um filme que possui uma aura mística carregada e bem construída, com uma atmosfera invejável para uma produção menor de terror dos anos 80.

Na trama, Will Smythe, um hipócrita reverendo de uma cidadezinha nos cafundós do oeste é acusado de adultério e poligamia. A população local fica tão furiosa que ameaça enforcar o sujeito, mas ele consegue escapar graças a sua protegida (uma moça com fama de ser filha de uma bruxa - e que possui poderes sobrenaturais). Acompanhado de um pequeno grupo de seguidores fiéis, ele foge para uma região deserta e lá convence os demais da existência de uma terra prometida onde eles devem construir seu povoado. 

O grupo acaba encontrando esse santuário em um território isolado, evitado pelas tribos locais que consideram a profanação dessas terras por homens brancos não apenas uma invasão, mas uma grave ameaça. A medida que tentam se fixar no lugar, os colonos enfrentam além do ataque de índios hostis, uma presença maligna que está impregnada no próprio solo, nas árvores e pedras.

O filme explora bem uma faceta pouco comum em produções do gênero Western: bruxaria e magia negra. Tudo parece muito autêntico, em especial a maneira como as superstições, o folclore nativo e o temor diante de um lugar desconhecido, são explorados.

Eu queria muito assistir novamente, mas infelizmente esse filme é extremamente difícil de encontrar.

Apenas um aviso, antes de assistir ao trailer abaixo, já deixo claro que ele não faz jus ao filme. De fato, é uma das piores propagandas de um filme que eu já vi. Parece até que o objetivo era espantar o público. Mas como foi o único trailer que encontrei, assista, mas não pense nele como a tosqueira que esses 2 minutos e 15 segundos sugerem com todas as suas forças. Olhos de Fogo é um filme bem interessante.


ESCAVADORES 
(The Burrowers/ 2006)


Antes de se tornar famoso como criador e designer de video-games, J.T. Petty (responsável pela série Outlast) escreveu e dirigiu alguns filmes de horror e ficção. O mais conhecido deles foi essa pequena produção de Western Macabro de 2006.

Contando com um elenco reunindo Clancy Brown, Doug Hutchison, Jocelin Donahue, e outros, Escavadores é um filme danado de sinistro. Tendo como ambientação as pradarias do Território de Dakota, o filme acompanha um grupo de resgate enviado para uma região agreste em busca de uma família de colonos que teria desaparecido em circunstâncias inexplicáveis. Teme-se que os responsáveis pelo sumiço sejam índios, mas logo fica claro que algo mais sanguinário e aterrorizante está por trás dos acontecimentos. A produção consegue conciliar dois elementos de maneira muito eficaz: temos a tensão racial entre colonos brancos e nativos americanos e a mitologia muito bem construída de estranhos monstros responsáveis pelo terror sobrenatural.

Passando-se em 1879, época de grandes transformações na região, por conta da descoberta de ouro e a chegada de uma multidão tentando fazer fortuna, o filme retrata sem pudores a ambição dos pioneiros que arriscavam tudo em busca de riqueza. A produção é acima da média, com uma excelente caracterização dos personagens e grande atenção aos detalhes do figurino e da direção de arte. 

As criaturas subterrâneas chamadas de "Escavadores" pelos nativos, começam a atacar homens por conta da escassez de alimento provocada pelo abate sistemático de búfalos nas pradarias. Os monstros literalmente nadam sob a terra e surgem do nada para agarrar e arrastar suas vítimas para as profundezas. Ninguém sabe quando e onde eles vão aparecer e isso contribui para uma sensação de insegurança constante. As criaturas até podem lembrar os monstros de "O Ataque dos Vermes Malditos" (Tremors), mas o tom desse filme é bem mais sério, como cabe a um filme de horror.


AMALDIÇOADA
(Brimstone/2016)


"Amaldiçoada" não é exatamente um filme de horror, no sentido que ele não apresenta monstros ou criaturas sobrenaturais como os demais, porém incluí ele por retratar outras faces medonhas do período. O filme de Martin Koolhoven não poupa o espectador de cenas brutais e violentas, com direito a tortura e sadismo, tudo isso para falar de fanatismo e intolerância temas muito presentes na época (e que ainda nos assombram). 

"Brimstone", significa Enxofre e é um termo usado para definir religiosos que em seu sacerdócio adotam um postura severa e exigem de seu rebanho um comportamento austero. Qualquer transgressão é considerada uma falta grave e os desvios de conduta são punidos com todo rigor. A história é pesada, difícil de assistir e repleta de injustiças que fazem a gente ter que parar de vez em quando para tomar um ar.

Com um elenco de primeira, o filme tem como protagonista Dakota Fanning, no papel de uma mulher muda, tratada como amaldiçoada pela comunidade e Guy Pearce como um reverendo que se identifica com um Cão de Caça à serviço de Deus. O embate dos dois chega a soltar faíscas! A personagem de Fanning, Liz, se vê acossada pelo novo reverendo que chega à uma pequena cidade na fronteira e rapidamente impõe sua lei de tolerância zero com tudo que ele considera errado aos olhos de Deus. Temendo pela sua vida e de sua família, Liz se lança em uma fuga desesperada pela paisagem inóspita em pleno inverno, sendo perseguida de perto pela posse enviada atrás dela.   

O filme é claustrofóbico, sufocante e em alguns momentos mais assustador do que muitos de horror mais clássico incluídos nessa lista. Vale a pena assistir muito mais pela reflexão proposta do que pelo entretenimento, além disso, é uma ótima sugestão para quem gosta de filmes densos.
      

NOITE DE HISTÓRIAS DE TERROR 
(Grim Prairie Tales/1990)


"Você quer ouvir uma história"?

Com essa pergunta, o filme "Noite de Histórias de Terror" se desenrola, narrando o encontro entre um jovem e inexperiente viajante do deserto que planeja encontrar sua esposa e um calejado e cínico Caçador de Recompensas que leva sua sinistra presa amarrada no cavalo. Essa dupla incomum divide um acampamento nas pradarias do oeste, e enquanto tentam se aquecer na fogueira, trocam histórias de terror que ouviram em suas andanças. As histórias envolvem uma vingança de nativos contra o profanador de um cemitério, uma pioneira às voltas com uma gravidez em pleno deserto, um pistoleiro assombrado por suas vítimas e uma família forçada a participar de um linchamento e tendo que viver com suas consequências. Como se trata de uma antologia, algumas histórias são melhores que outras, e nem todas são de horror, mas envolvem situações bizarras.

O melhor do filme é a interação entre os dois personagens que contam as histórias. Brad Dourif (o Grima, Língua de Serpente do Senhor dos Anéis) é um baita ator, mesmo em início de carreira e se sai bem como um jovem que sabe muito pouco sobre os perigos do oeste. Já o seu parceiro é ninguém menos que o grande James Earl Jones (a voz de Darth Vader em pessoa) que empresta seu físico avantajado e principalmente o vozeirão empostado para criar a atmosfera de terror.

Eu gosto desse filme, mas é inegável que ele envelheceu um bocado e tem um certo ranço de produto dos anos 1980, ainda assim vale como curiosidade.    

Para quem quiser experimentar, aqui está o filme inteiro legendado, não apenas o trailer. 


HOMEM MORTO

(Dead Man/1995)



E agora, um momento para algo completamente diferente.

Dead Man não é para todos, reconheço isso, mas essa lista não estaria completa sem esse filme pra lá de esquisito. Em preto e branco, contando com um elenco de estrelas em papéis secundários e personagens bizarros, ele deixa um gosto estranho na boca. É daqueles filmes que alguns metidos gostam de chamar de "filme de arte", mas na minha opinião é simplesmente uma das coisas mais estranhas que eu vi em se tratando de western. Sequer sei se dá para chamar ele de "western de horror", embora as situações mostradas sejam bem compatíveis com o gênero.

Na trama, Johnny Depp é William Blake, um pacato contador nascido na Filadélfia que viaja para a fronteira do oeste selvagem onde tem uma oferta de trabalho. Ele está longe de ser alguém preparado para esse lugar ríspido, tanto que todos o olham com uma expressão de reprovação e condescendência. Um mal entendido acaba resultando em um tiroteio, morte, e ele tem a cabeça colocada à prêmio por um rico magnata das ferrovias. Um bando de caçadores de recompensa é incumbido de trazê-lo vivo ou morto e dá início a caçada. Em sua jornada pelos cantos mais soturnos do oeste, ele encontra personagens misteriosos e se alia a um índio letrado que o confunde com o poeta britânico William Blake e passa a acompanhá-lo esperando absorver sua sabedoria. 

Dead man é um filme reflexivo e bastante lento, a história avança em seu próprio ritmo a medida que o personagem de Depp começa a abandonar a civilidade e abraçar a selvageria do ambiente que o cerca. O melhor, no entanto, são as figuras que ele encontra no caminho, em especial o trio de Caçadores de Recompensas mandado em seu encalço, personagens cheios de maldade e dispostos a tudo para cumprir seu contato. 

Um filme um tanto obscuro, mas que vale a pena arriscar.   


MORTOS DE FOME
(Ravenous/ 1998)



Guardando semelhança com o sinistro caso da Passagem Donner, um famoso caso de canibalismo e morte nas montanhas rochosas, Mortos de Fome é um filme no mínimo estranho. Tendo lugar na pouco explorada Califórnia de 1840, a história envolve folclore, mitos dos nativos americanos e uma boa dose de terror (e por que não, humor).

 A chegada de um estranho a um forte, no auge de um inverno especialmente gelado, traz a notícia de que uma família que vive em uma região isolada precisa ser resgatada antes que congele. Há também rumores de desaparecimentos e estranhos relatos de atividade de índios hostis. Um grupo de soldados são enviados para o salvamento, mas estes acabam se perdendo numa nevasca e logo se vêem ameaçados pela presença de um assassino canibal entre eles. O jogo de gato e rato vai se intensificando a medida que uma aura de bizarrice acompanha a jornada pela paisagem deslumbrante do oeste. Mortos de Fome também é feliz ao invocar a sinistra Lenda do Wendigo, o monstro canibal que espreita no norte, e reinterpreta o mito para tirar proveito dele.

Amparado por um elenco de primeira em que se destacam Guy Pearce e Robert Carlyle, a diretora Antonia Bird consegue equilibrar suspense, horror e uma dose generosa de humor negro no roteiro. Reconheço que esse é um filme que foi me ganhando aos poucos. Quando assisti pela primeira vez, achei meio bobo, mas quando vi novamente alguns anos depois, comecei a gostar e hoje ele é um dos meus favoritos dentro do Oeste Macabro.


RASTRO DE MALDADE
(Bone Tomahawk/2015)


Esse filme se destaca quando tratamos do gênero Oeste Macabro.

Rastro de Maldade é um daqueles filmes brutos e impiedosos que não poupa nada e ninguém. Ele demole conceitos e pulveriza qualquer romantismo a respeito do Velho Oeste. A história é seca, com uma narrativa crua repleta de sangue, sadismo e horror. Se você se sente incomodado com essas coisas é bom passar longe, mas para quem adora uma boa gore-fest, esse filme é praticamente obrigatório.

Reunindo um elenco impecável, onde se destacam Kurt Russel, Patrick Wilson e Richard Jenkins, Bone Tomahawk (que se refere a legendária machadinha usada pelos indígenas) é agonizante. O retrato da vida cotidiana dos pioneiros que habitavam os limites da civilização é apresentado sem qualquer glamour. Tudo é rude, áspero e abrasivo ao extremo!

A história é simples, mas funciona muito bem. Um pequeno povoado pelos idos de 1890, ironicamente batizado de Bright Hope (Esperança Brilhante) é atacado por misteriosos nativos que na calada da noite roubam cavalos e sequestram alguns habitantes. O xerife da cidade, organiza uma posse para ir atrás dos nativos e se possível trazer de volta seus vizinhos e entes queridos. A jornada pelo deserto é marcada por condições desfavoráveis, ferimentos e perigos. Mas nada prepara o grupo de resgate para o que eles encontram nas cavernas habitadas por um tenebroso clã de trogloditas responsáveis pelo ataque.

Kurt Russel (que estava filmando "Os Oito Odiados" quase ao mesmo tempo) lidera o grupo em busca de vingança e esbarra em algo inimaginável. Mesmo um bando de pessoas acostumadas com a dureza do oeste não poderia imaginar o horror no qual estão mergulhando! A tribo degenerada é adepta de canibalismo e de rituais sádicos de tortura e sacrifício que são mostrados sem dó nem piedade. Em alguns momentos a riqueza de detalhes soa incômoda, mas isso não atrapalha o espetáculo sanguinolento que é Rastro de Maldade.

Um filme para os fortes, ou para os que querem encarar um legítimo Oeste Macabro.     


O VENTO (The Wind/2019)



Esse filme acabou de sair e vinha sendo aguardado ansiosamente pelos fãs do gênero.

Valendo-se de uma narrativa lenta que vai escalando, saindo do drama de época e adentrando o horror, o Vento tem momentos sinistros e agoniantes. A diretora Emma Tammi aposta em uma pitada de terror gótico, mistério e nuances de um horror incompreensível - e que jamais é explicado, habitando as pradarias.

Na história se passando no final do século XIX, Elizabeth, uma mulher forte e determinada vive em um território praticamente deserto com seu marido Isacc. As dificuldades e o isolamento são esmagadores, por isso eles se alegram quando outro casal, bastante parecido com eles, decide se mudar para uma cabana próxima. A familiaridade acaba juntando os dois casais, mas quando a vizinha engravida, ela começa a reclamar de estranhas entidades que vagam pelo deserto e que parecem interessadas na criança que ela está carregando. Depois de uma tragédia, Elizabeth fica sozinha, tomando conta da propriedade e acaba sendo visitada por essa manifestação diabólica.

O filme é bem interessante, um retrato brutal da dureza da vida na fronteira. Por vezes, não se ouve nada a não ser o vento onipresente que sopra pela pradaria apagando velas e batendo portas, o sinal de que o oponente sobrenatural está por perto. A trilha sonora também se encaixa bem nas cenas e a trama é costurada em flashbacks que narram a história com a cronologia indo e vindo.

Imagino que não seja para todos os gostos, mas sem dúvida é uma produção acima da média que vale a pena assistir.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Regra da Casa - Podcast do "Café com Dungeon" com o Mundo Tentacular

Para quem não assistiu, essa foi nossa participação no podcast do Regra da Casa - Café com Dungeon.

Neste segundo episódio da coluna com o Mundo Tentacular, Rafael Balbi recebeu Luciano Giehl e Thiago Queiroz, para resgatar conhecimentos proibidos de tomos empoeirados e blasfemos, para versar sobre as muitas eras de Cthulhu, dando uma passeada incrível pela história dos mitos, desde antes de Cristo até o futuro distante, comentando publicações e jogos interessantíssimos que cobrem cada período.


Foi uma conversa bem legal e o pessoal do Regra Da Casa tem um excelente podcast!

Para quem quiser ouvir, está aqui:

quarta-feira, 10 de julho de 2019

RPG do Mês: Down Darker Trails - O Horror Cósmico visita o Velho Oeste


"Cowboys e Índios" habitam o coração de nosso hobby.

Um grande roleplaying game lá em sua gênese tentou explicar o que era um jogo de interpretação de papéis traçando paralelo entre roleplay e brincadeiras de "cowboys e índios" (assim como polícia e ladrão) que fazem parte da infância de todas as crianças. Portanto, não causa surpresa que nosso hobby tenha vários jogos que usam a temática do Velho Oeste como pano de fundo para contar histórias. O primeiro foi Boot Hill, lançado pela TSR no distante ano de 1975, mas muitos outros o seguiram. GURPS Old West da Steve Jackson Games, Deadlands da Pinnacle, Aces & Eighties da Kenzer, o Faroeste Arcano, Dustdevils, para citar apenas alguns dos mais conhecidos. 

Jogos se passando no oeste parecem atrair todo tipo de público, provavelmente pelo fascínio que essa época selvagem e violenta naturalmente desperta em todos nós. Ironicamente, não é de hoje, que muitas ambientações centradas no Velho Oeste combinam o ambiente da fronteira bravia com pinceladas de Terror. Deadlands talvez seja o mais conhecido dos jogos que fundem com maestria horror e tiroteios, medo e cavalgadas, cowboys e mortos vivos...

É inegável que a combinação foi bem recebida pelo público e crítica. Deadlands foi agraciado com o prêmio Origins como melhor RPG e tem um público fiel até hoje. Mas embora ele se esmere em misturar Velho Oeste e Terror, nunca houve um jogo que trabalhasse especificamente o Horror Cósmico de H.P. Lovecraft para esse ambiente. Alguns suplementos de Deadlands arranharam a superfície, mais notoriamente o conhecido "Adios, A-Mi-Go" que colocava os jogadores no papel de cowboys enfrentando uma ameaça vinda de Yuggoth. Outros bons exemplos foram as aventuras "The Good, the Bad, and the Utterly Insane" (o Bom, o Feio e o completamente Insano) publicado na revista Worlds of Cthulhu e "Madness Shall Rise to Devour the West" (A Loucura se levantará para devorar o Oeste) um cenário da campanha Red Eye of Azathoth de Call of Cthulhu. Sem esquecer ainda Devil’s Gulch, uma ambientação do Basic RolePlaying se passando em um oeste sobrenatural usando o BRP como plataforma.


Mas foi o suplemento Down Darker Trails: Terrors of the Mythos in the Old West que sem dúvida foi mais longe na tarefa de combinar o Velho Oeste com as criaturas Cthulhianas.

Publicado pela Chaosium em 2018, Down Darker Trails (doravante DDT) é um suplemento oficial da sétima edição de Chamado de Cthulhu. Contudo, ele não é exatamente Call of Cthulhu como conhecemos, uma vez que foi concebido para ser usado - como opção - em Pulp Cthulhu. A ideia é que o ambiente do oeste pode ser usado para cenários de terror sim, mas com personagens capazes de enfrentar essa ameaça em pé de igualdade. Para mais informações, sobre Pulp Cthulhu, vale a pena ler a resenha desse livro aqui no Mundo Tentacular (nesse link colorido). Essa proposta aproxima, DDT mais dos contos e histórias de horror escritas por Robert E. Howard, do que de H.P. Lovecraft. Não me entendam mal, o horror continua lá, firme e forte, mas há espaço de sobra para aventura, exploração, coragem e sangue. Trocando em miúdos, é um jogo de "aventuras sinistras" ao invés de "terror niilista".

Down Darker Trails é uma ambientação para construir histórias no Oeste americano, nominalmente entre 1850 e 1900, quando o Oeste Selvagem chamava por mais e mais pessoas interessadas em domar essa terra selvagem ou morrer tentando. Ele fornece todo tipo de informação sobre o período, cobrindo em detalhes pungentes e crus toda a brutalidade, selvageria e violência antes de mergulhar nos elementos sobrenaturais.


Uma das coisas mais interessantes do suplemento é que ele busca destacar as diferenças existentes entre o jogo clássico que se passa em 1920 e a época de Down Darker Trails. Há um trabalho apurado de pesquisa que ajuda a apresentar com clareza quase didática o ambiente social do final do século XIX. Racismo por exemplo, mostra sua face mais feia no Oeste americano, quando a escravidão havia acabado de ser abolida, nativos americanos ainda eram tratados como selvagens e hispânicos como cidadãos de segunda classe. O livro não tapa o sol com a peneira, ele expõe de forma bem explícita o tratamento dispensado a minorias no período. Também não esconde a brutalidade e violência que fazia parte do dia a dia nas terras da fronteira, onde roubo, vingança, injustiça e assassinato estavam em todo canto. O velho oeste era um lugar perigoso e assustador e apenas os mais fortes conseguiam sobreviver nele.

Um dos aspectos mais interessantes na ambientação é pegar esse lugar já abrasivo e insalubre pela ação dos homens e torná-lo ainda mais assustador, ainda mais aterrorizante, graças a inclusão dos Mythos. Mas sobre isso, falaremos mais adiante.

Os personagens dos jogadores em Down Darker Trails são criados essencialmente da mesma maneira que o descrito no Livro Básico de Chamado de cthulhu sétima edição. O jogador escolhe uma ocupação, rola os seus atributos, distribui pontos em uma lista de habilidades e constrói seu background. O livro introduz 26 ocupações, algumas exclusivas para DDT, como por exemplo Cowboy/Cowgirl, Dilettante/Greenhorn, Jogador Profissional, Fora da Lei. Rancheiro, Rastreador, Caçador de Recompensas, Homem da Montanha entre outras. Um toque genial é correlacionar personagens históricos com as ocupações, bem como personagens da ficção, de filmes e televisão para explicar cada uma das ocupações descritas. Isso ajuda os jogadores e o Guardião a visualizar o tipo de personagem que será criado.




Além disso, algumas habilidades foram alteradas para se enquadrar na ambientação. Por exemplo, a chance básica em uma habilidade como Reparos Elétricos foi reduzida uma vez que nessa época se tratava de um conhecimento recente. Da mesma maneira, a chance básica de outras habilidades, como por exemplo, Cavalgar, foi aumentada já que praticamente todas as pessoas estavam minimamente familiarizadas com cavalos. Novas habilidades também foram adicionadas,incluindo Jogatina, Usar Cordas e Fazer Armadilhas. 

Para os que adotarem a vertente Pulp do jogo - que eu considero especialmente adequada para a proposta do jogo, há quatro tabelas listando Talentos de natureza Física, mental, Combativa e Miscelânea. Outros talentos já existentes no Pulp Cthulhu foram remodelados para se encaixar no Velho Oeste e ter o Flavor da ambientação. Se o Guardião usar o Pulp Cthulhu, pode esperar personagens mais capazes e heroicos, com maiores chances de superar desafios envolvendo tiroteios, sobrevivência no deserto e perigos convencionais. Também terão uma chance um pouco melhor contra ameaças sobrenaturais. Há dicas para construir personagens condizentes e sugestões para trabalhar o background. Outra regra bem vinda contempla criar personagens mais experientes, com uma carga extra de conhecimentos e habilidades, mas com algumas desvantagens atreladas. Por exemplo, é possível criar um veterano da Guerra Civil Americana, com várias habilidades extras obtidas nos campos de batalha, ao custo de cicatrizes físicas, mentais ou emocionais. 

  
Outras regras opcionais que encaixam bem na ambientação inclui aumentar os pontos de vida dos personagens - para diminuir a letalidade de tiroteios e a falta de recursos médicos. Também há regras específicas para simular duelos, atirar com duas armas, lutar além de seus limites etc. No geral, são pequenas mudanças que permitem aos personagens resistir e atuar de maneira mais efetiva. Mas não se preocupe, embora as regras melhorem a capacidade combativa e resistência dos personagens, eles não são imunes aos horrores dos Myhos e seu poder esmagador. Portanto, se por um lado, os personagens conseguem sobreviver a tiroteios e perseguições contra inimigos humanos, por outro eles continuam em franca desvantagem contra as depredações do sobrenatural.

O suplemento apresneta regras específicas para situações clássicas do gênero Western, como perseguições à cavalo, guiar carroças e tem um tratamento especial no que diz respeito a perda de sanidade. O consumo de álcool, algo comum no oeste pode de fato, ajudar a superar o terror e conceder alguma capacidade de lidar com a insanidade. É claro, também há espaço de sobra para regras se referindo a novos equipamentos, armamento e animais de carga.

A história do Velho Oeste começa com a chegada de espanhóis no século XVI e termina com o assassinato do Presidente William McKinley em 1901. O foco do livro, no entanto é o período exatamente posterior a Guerra Civil, com a Guerra recebendo destaque especial como um divisor na vida dos habitantes do oeste americano. O livro no entanto cobre uma vasta gama de temas, tudo, desde Caçada a Búfalos e guiar um rebanho de gado de um estado para o outro, da vida nas cidades e povoados, até a atuação da lei e ordem e aspectos sociais é apreciado de uma maneira muito detalhada. O Guardião não vai se sentir desamparado em momento algum, mesmo que seja alguém que conhece bem pouco sobre o período. As descrições de lugares históricos, das cidades, campos de batalha e territórios é excelente e você sente imediatamente que tudo é fruto de pesquisa e dedicação. De um modo geral, o livro cumpre o papel de apresentar a ambientação e abrir o leque de possibilidades para o Guardião.




O capítulo dedicado às tribos de nativos americanos também é bem completo. Cerca de vinte tribos são descritas em detalhes suficientes para compreender o modo de vida e costumes desses povos. É perfeitamente possível construir personagens que sejam nativos dessas tribos, o que abre a opção de criar uma campanha com nativos. Há um "quem é quem" do período, descrevendo algumas personalidades marcantes do Oeste Americano, incluíndo chefes tribais, generais da Guerra Civil, homens da lei, criminosos e muito mais. Muitos nomes vão soas familiares e as estatísticas desses indivíduos são uma curiosidade bem interessante. Achei especialmente curiosa a inclusão de Ambrose Bierce, escritor americano que escreveu muitos contos de horror e desapareceu misteriosamente no México. 

A seção sobre o Velho Oeste ocupa quase metade das páginas de Down Darker Trails, deixando o restante do livro para revelar os mistérios do Oeste Sobrenatural. Esta seção começa com um exame das criaturas e entidades dos Mythos que podem ser encontradas nessa região. Em geral, muitas das entidades, como os Habitantes da Areia (Sand-Dwellers), Povo Serpente (Serpent People), K’n-yanians, e Yig, são oq ue a maioria dos fãs de Lovecraft esperam encontrar em uma ambientação centrada nessa parte da América. Entretanto, há algumas boas surpresas. Por exemplo, o Deus sem Face (Faceless God), um obscuro avatar de Nyarlathotep, mais conhecido como uma Esfinge do Egito, vaga pelos desertos do meio-oeste… Um pequeno problema é que algumas criaturas e entidades não estão presentes no livro básico e sim no Malleus Monstrorum, um suplemento que está fora de impressão atualmente. Há vários Tomos dos Mythos que podem ser encontrados pelo Oeste Sobrenatural, bem como alguns novos. Além disso, o livro apresenta diversos cultos e sociedades secretas, além de estilos de magia como Magia Rústica e tradições xamânicas.


As coisas se tornam ainda mais estranhas (e bastante pulp) no capítulo dedicado aos Mundos Perdidos do Oeste. Nele, quatro localidades perdidas ou onde os investigadores podem se perder são apresentadas. Duas delas são baseadas em contos famosos: O Vale Perdido de Robert E. Howard e os subterrâneos de  K’n-Yan no qual o conto "The Mound" de  H.P. Lovecraft e Zealia Bishop se baseia. Os outros dois são o "Deserto Sombrio", descrito como uma sinistra dimensão paralela de nosso mundo que pode ser adentrada fisicamente ou através de sonhos, e onde o tempo parece não passar.  As ideias para construir aventuras usando esses lugares poderiam ser um pouco mais elaboradas, mas ele confere algumas sugestões interessantes para uma pequena campanha usando esses cenários. 

Concluindo Down Darker Trails temos a descrição de duas típicas cidades (ou melhor povoados) do Oeste Selvagem, com respectivas aventuras se passando nelas. Pawheton é uma daquelas cidades da corrida do ouro no Território de Dakota, no melhor estilo Deadwood. O lugar é mais um assentamento com tendas e cabanas do que uma cidade estabelecida, enquanto San Rafael é uma cidade de rancheiros na divisa do Texas com o Mexico. A primeira é claramente inspirada na série de TV, Deadwood, enquanto a segunda parece muito aqueles vilarejos empoeirados dos filmes de Faroeste Spaghetti italiano. Uma delas é mais suja e violenta, a outra mais clássica e romantizada. Ambas, no entanto, oferecem opções na forma de segredos, rumores e NPCs, muitos deles relacionados aos Mythos.

A primeira aventura tem o título "Something from Down Bellow There" (Alguma coisa lá de baixo) e pode ser situada em qualquer uma das cidades base apresentadas. Nela os jogadores são contratados para descobrir o que aconteceu a um grupo de garimpeiros que trabalhavam perto da cidade e que desapareceram se deixar vestígios. O desafio aqui é tentar negociar com aquilo que os garimpeiros encontraram enquanto escavavam uma mina. Há um ar de Robert E. Howard na trama. A segunda aventura é "Scanlon Daughter" (A Filha de Scanlon) que se passa em San Rafael. Ela pode ser descrita como uma versão sangrenta de Romeu e Julieta com um acréscimo dos horrores lovecraftianos no caldo. Esse cenário irá demandar planejamento e diplomacia, muito mais do que habilidade com armas, mas é claro, há espaço para um ou dois tiroteios.


Fisicamente DDK é um livro que segue o modelo da Chaosium para a sétima edição de Call of Cthulhu. Ou seja, capa dura, interior colorido e uma bela arte que combina bem com os elementos do texto. De fato, muitas das ilustrações foram pinçadas em compêndios e ilustrações do período e são incrivelmente bonitas e detalhadas. O livro também se vale de muitas fotografias de época de celebridades do período e de localidades famosas. Os mapas são excelentes e o trabalho de cartografia com San Rafael é brilhante. A arte mais recente, feita especificamente para o livro, é comparativamente inferior, não chega a comprometer, mas destoa do restante. O livro tem um texto fluido e gostoso de ler, e quem já gosta do assunto encontrará uma arca do tesouro de curiosidades.  

Ao contrário de tentativas anteriores que buscavam trazer o Velho Oeste para o universo dos Mythos, Down Darker Trails faz o caminho inverso. Ele apresenta o Oeste Selvagem de uma maneira vibrante e detalhada e só então se preocupa em inserir os elementos sobrenaturais nele. Essa mudança de postura faz toda a diferença e trás o contexto histórico para frente da ambientação. O jogo é primeiramente a respeito do Oeste e dentro dele aparecem de maneira mais discreta os elementos de horror cósmico.


Além disso, o livro é muito bem escrito e pesquisado, com referências e uma rica bibliografia que pode servir para futuras consultas. Ele fornece uma base sólida para o Guardião construir sua própria ambientação de horror no Oeste selvagem que pode descambar para uma campanha. Há muitas sugestões e ideias a serem aproveitadas ao longo das páginas. Para os fãs é um suplemento imperdível com ação e aventura nas planícies e uma boa dose de horror além do tempo e espaço. 

O resultado é uma mistura curiosa na qual vale a pena apostar.


domingo, 7 de julho de 2019

O Monge Negro - Uma das mais terríveis assombrações na Inglaterra


Fantasmas e atividade poltergeist não são algo novo, e os estudiosos do paranormal catalogaram incontáveis exemplos desse fenômeno perturbador. Ainda assim, de tempos em tempos, algum caso inexplicável parece vir à superfície apresentando algo novo e aterrorizante que merece destaque. Localizada no centro da Inglaterra, em uma vizinhança aparentemente convencional, existe uma antiga casa de aparência simples que a despeito de tudo isso, desponta como um dos endereços mais assombrados da nação. Nesse domicílio habita uma força antiga, violenta e aterrorizante conhecida como o Monge Negro. 

O ano era 1966 e uma família formada por Jean e Joe Pritchard se mudara para a propriedade com seus dois filhos Phillip de 15 e Diane de 12. Eles haviam escolhido a casa de tijolos vermelhos no número 30 da East Drive, em Pontefract, Yorkshire. Tudo parecia bem e eles estavam felizes. Mas não demorou muito para que eles percebessem que coisas estranhas aconteciam na casa. O que eles não sabiam é que aqueles incidentes, à princípio inocentes, dariam origem a uma das mais apavorantes narrativas de assombração de que se tem notícia.

O primeiro incidente inexplicável ocorreu em primeiro de setembro de 1966, quando o filho mais velho do casal, Phillip, estava na companhia de sua avó Sarah Scholes, enquanto o restante da família havia viajado para Devon. Certa noite, os dois únicos ocupantes da casa sentiram uma estranha sensação de frio, a despeito de ser verão. Estranhando aquela situação atípica, os dois investigaram a casa e descobriram que o frio emanava da sala da frente. Enquanto estavam lá ouviram o que parecia ser passos ecoando no telhado. Quando correram para ver do que se tratava, não encontraram nada, embora ao voltar para casa tenham visto estranhas poças de água que surgiram misteriosamente. As tais poças pareciam ter sido deixadas por uma pessoa entrando no aposento, o que era inexplicável já que não havia ninguém.   


Na ocasião eles pensaram que aquilo não era nada além de algum vazamento ou cano quebrado e resolveram chamar um técnico para fazer os reparos necessários. Entretanto, após uma inspeção cuidadosa, este não conseguiu encontrar qualquer problema na instalação. Estranhamente, apesar do diagnóstico, as poças de água continuaram aparecendo quase todos os dias, desafiando uma explicação razoável.

Dias mais tarde, o estranho fenômeno foi acrescido de outro estranho incidente. A cozinha foi totalmente destruída quando os moradores da casa não estavam. Estranhamente, a porta estava trancada e até onde se sabe ninguém invadiu a propriedade. Não obstante, o lugar parecia ter sido varrido por uma tempestade, como se alguém tivesse furiosamente lançado cada prato e utensílio no chão, quebrado copos, louça e arrancado as portas dos armários e virado mesas e cadeiras. Tamanha era a violência que garfos foram entortados e lâminas quebradas. A geladeira foi arrastada e os alimentos em seu interior espalhados pelo chão. A comida havia se deteriorado rapidamente e nuvens de moscas zumbiam sobre os alimentos estragados. Não havia uma explicação razoável: nada foi roubado e a tranca da porta estava em perfeito estado. 

Enquanto limpavam a bagunça provocada, a família foi interrompida por batidas secas na porta e nas paredes. Ao correr para ver o que provocava aquele estrondo, não havia ninguém à vista. Jean Pritchard percebeu ainda que as plantas que era colocadas no pátio da casa haviam sido viradas e a terra dos vasos espalhada em questão de segundos. 


Esse foi apenas o início de uma longa escalada de atividade sobrenatural na casa. Nos dias seguintes  os objetos na cozinha pareciam vibrar e balançar como se uma força invisível incidisse sobre eles. Gavetas e portas de armários se abriam. Por vezes, os pratos e copos simplesmente rolavam de seu lugar e se despedaçavam no chão, quadros e fotografias não paravam nas paredes. Além disso, as lâmpadas piscavam sem parar, acendiam do nada ou se apagavam sem que ninguém mexesse. Uma cafeteira elétrica esquentou e se incendiou misteriosamente e por pouco a casa não pegou fogo. O ataque mais forte aconteceu quando um pesado armário que ficava no quarto se moveu sozinho e rolou escadaria abaixo causando um grande estrondo. 

A família decidiu deixar a casa temendo pela segurança das crianças. Eles procuraram abrigo na casa de um vizinho e alarmados ouviram o som de objetos quebrando a noite inteira, pancadas na parede e passos pesados. Na manhã seguinte retornaram e encontraram muitos objetos quebrados, mas nenhum outro sinal de atividade paranormal. De fato, tudo parecia estranhamente quieto. Os Pritchard acreditavam que seja lá o que havia atacado seu lar, havia se dissipado tão rápido quanto havia aparecido e que eles estavam livres daquilo.

Demorou mais dois anos para que algo fora do ordinário voltasse a se manifestar na Casa, mas quando aconteceu, foi como se o pior estivesse sendo guardado.  


O longo período de calmaria fez com que o choque fosse ainda mais profundo. As estranhas poças de água voltaram a aparecer na cozinha, móveis se moviam de lugar, uma espuma esverdeada de odor nauseante se formava nas pias, batidas secas e pancadas violentas podiam ser ouvidas a qualquer hora do dia e da noite. As portas não ficavam abertas e o conteúdo de armários eram encontrados espalhados pelo chão. Certa noite, a família encontrou fotografias destruídas como se o papel tivesse queimado. Havia ainda um fedor emanando de todo canto, um cheiro de putrefação que atraia insetos e era absurdamente repulsivo. Diane, então com 14 anos contou ter ouvido um som assustador como se alguém respirasse em seu ouvido e sussurrasse palavras de baixo calão. em outra ocasião, membros da família ouviram o ruído de animais de fazenda. As manifestações se tornaram tão comuns que a família apelidou a força de Fred, para colocar uma face no invasor que os importunava sem parar.

A situação continuou em uma escalada de intensidade, com objetos sendo destruídos por mãos invisíveis e outros flutuando no ar. Testemunhas que visitaram a casa afirmaram ter visto cenas inacreditáveis envolvendo entre outras coisas, um vaso flutuando e uma cadeira sendo atirada repetidas vezes contra a parede até se despedaçar por completo. Eles perceberam que quando pessoas de fora visitavam a casa, os fenômenos se tonavam mais violentos como se fosse uma reação à presença de estranhos. A polícia foi chamada repetidas vezes, assim como o vigário local: todos ficaram impressionados pela atividade poltergeist que se manifestava no lugar. Diane se tornou um alvo recorrente da atividade que parecia se divertir em assustá-la. Ela ouvia vozes, coisas voavam na sua direção e em mais de uma oportunidade ela descreveu algo semelhante a mãos tocando seu corpo enquanto dormia. A entidade parecia interessada em atormentar cada membro da família por vezes empurrando, batendo e socando os moradores que sentiam a presença se tornar cada vez mais agressiva.

O fenômeno parecia agir em círculos, com períodos de grande atividade e depois certa calmaria. Por vezes, a tranquilidade era quebrada por algum incidente menor, mas então os fenômenos voltavam com força. Diante de todos acontecimentos, a Família Pritchard decidiu buscar ajuda na Igreja. Diversos exorcismos foram realizados na casa, mas eles apenas pareciam tornar  espírito mais furioso. Durante um dos exorcismos, um crucifixo foi arrancado da mão de um padre e torcido. Em certa oportunidade uma cama foi arrastada quase dois metros e erguida para então se quebrar no meio. Em outra vez uma cadeira foi lançada contra o padre que estava conduzindo a oração e o homem sofreu um corte no supercílio. Nada parecia deter o fenômeno e parecia ser questão de tempo até alguém ser ferido com gravidade. 


Logo após a realização do quinto exorcismo mal sucedido, algo aconteceu na casa. Uma forma sombria se manifestou de maneira visível diante de Jean e Joe. Era uma forma etérea suspensa a quase dois metros de altura, flutuando próximo do teto. Ela vestia um tipo de manto religioso de cor escura, marrom ou preto, preso com uma corda em volta da cintura. Sua face estava oculta por um capuz pontudo, bem como os braços. Ele parecia um monge medieval, o que lhe valeu o apelido de "Monge Negro".

Depois disso, o Monge passou a ser visto frequentemente pelos membros da família Pritchard. Até mesmo alguns vizinhos afirmavam sentir a presença e em mais de uma ocasião ver o fantasma vagando pelo pátio e pela frente da casa. Para tornar tudo ainda mais sinistro, o fantasma começou a falar com as pessoas e sua voz gutural parecia ecoar elos aposentos vazios. Diane passou a apresentar ferimentos no corpo, arranhões nas cosatas, braços e pernas que pareciam ter sido produzidos por unhas afiadas. Em duas ocasiões ela sentiu o equivalente a uma mordida que deixou marcas claras de dentes na sua pele. Algo também puxava seu cabelo, a empurrava e a chamava de "vadia". 

O desespero da família fez com que eles recorressem a especialistas no sobrenatural. O famoso investigador paranormal Tom Cuniff, começou a fazer pesquisas a respeito da história da área e descobriu que o local havia sido usado no século XVI como prisão para conter religiosos. De fato, uma pesquisa revelou que no exato lugar onde a casa havia sido erguida haviam transcorrido execuções públicas, em especial a de Monges que foram aprisionados pelos homens do Rei Henrique VIII durante a Reforma Protestante. Segundo o levantamento realizado, pelo menos sete monges haviam sido enforcados no local. Cuniff acreditava que o espírito que atormentava a casa pertencia a um monge que havia sido prisioneiro na casa e que posteriormente havia sido executado. 


Estranhamente, a despeito da intensa atividade paranormal que permeava na residência, ela parou por completo certo dia. Os moradores da casa estavam desconfiados de que uma vez mais essa pausa seria temporária, e esperavam que mais cedo ou mais arde o pesadelo se reiniciasse. Mas estranhamente tudo ficou quieto. Os Pritchard eventualmente conseguiram comprar outra casa e se mudaram, enquanto a propriedade se tornou um endereço popular entre investigadores do paranormal interessados em desvendar o mistério do Monge Negro. 

Um casal muito popular de investigadores do sobrenatural, Nick Groff e Katrina Weidman, conduziu um estudo detalhado do local. Eles comandavam um programa de TV chamado Paranormal Lockdown, que decidiu fazer um episódio especial na casa. A proposta era passar um final de semana inteiro na residência e determinar se as histórias sobre ela eram verdadeiras. Tão logo as portas se fecharam, os fenômenos inexplicáveis começaram a se manifestar. Tudo começou com uma sensação sinistra que contagiou a todos. Groff explicou que eles podiam sentir que não estavam sozinhos e que algo ali parecia emanar uma aura de ódio perceptível. Logo portas começaram a bater, sons de passos foram ouvidos e um cheiro de podridão pode ser sentido. Katrina mais tarde contou qual foi a sua impressão a respeito desse trabalho: 

"Tão logo cruzamos a porta de entrada senti que essa seria uma experiência diferente. Havia uma energia negativa na propriedade e era possível sentir que aquela presença, fosse ela o que fosse, não estava satisfeita. Quando você encontra um lugar realmente assombrado, é possível sentir que existe alguma coisa errada. Há um senso de estranheza no ar, você sente arrepios e percebe que alguma coisa está contaminando o ambiente com uma presença que não é natural. Quando entramos na casa do Monge Negro, minha primeira reação foi sair dali e correr sem olhar para trás. Ás vezes, queria ter feito isso..."  

A equipe do programa se recorda de ter ouvido batidas, portas batendo e móveis se mexendo. O fedor onipresente se espalhava por todo ambiente e se tornou tão forte que em determinado momento, um dos cameras começou a passar mal. Contudo, um dos grandes momentos foi quando Nick Groff propôs ao espectro do Monge Negro que movesse um objeto, no caso uma bola de tênis colocada sobre uma mesa. A bola se moveu sozinha, caiu no chão e continuou se movendo como se empurrada por uma força invisível. Em seguida objetos foram arrancados das paredes e lançados no ar violentamente. Um relógio de parede caiu e se despedaçou no chão. 

Outra cena bizarra ocorreu quando Groff perguntou ao espírito: "Você precisa de muita energia para mover objetos"? Por instantes nada foi ouvido, mas então, um dos técnicos de som disse ter captado algo nos microfones que estavam sendo usados para gravar a cena. Ele voltou a fita e o grupo pode ouvir claramente uma voz sussurrar a palavra "Desperata", que significa "Desespero" em Latim.

No auge disso, a temperatura do aposento caiu drasticamente, quase 7 graus segundo os termômetros instalados na sala. De repente uma figura sombria apareceu em um canto do aposento, sendo captada brevemente pelas câmaras. A figura parecia uma sombra amorfa que aparecia em cinco quadros e depois desaparecia como se jamais tivesse estado ali. Para tornar udo ainda mais ameaçador, uma faca caiu na escada e rolou pelos degraus. A equipe também começou a reclamar de sofrer empurrões e arranhões. Finalmente, Katrina soltou um grito. Ela expôs então a barriga afirmou ter sentido uma mordida. E lá estava uma marca perfeita deixada por dentes. 

"Nós podíamos sentir essa presença se movendo entre nós. Ea era invisível, mas sentíamos quando ela encostava ou esbarrava. A temperatura caiu bastante e sentíamos um frio horrível, muito embora do lado de fora a temperatura fosse de 21 graus, lá dentro podíamos ver a nossa respiração criar nuvens de condensação. Eu me considero um veterano nesse tipo de reportagem, já vi coisas realmente estranhas, mas nunca em minha carreira senti tanto medo. Aquilo era assustador, não apenas pela situação que estávamos experimentando, mas por que estava claro que aquela presença era agressiva. Ela queri nos ferir e o faria sem hesitar se pudesse".

Após um final de semana inteiro, a equipe deixou a Casa acreditando que tinham reunido provas suficientes de que a presença na Casa continuava ativa e que era um dos casos mais emblemáticos de poltergeist na história. Infelizmente, muitas pessoas levantaram questionamentos sobre as filmagens alegando que a equipe simulou a maioria (ou todos) os eventos.

Outros pesquisadores tentaram sua sorte na Casa e na maioria das vezes a assombração se manifestou provocando uma sensação palpável de terror. Alguns parapsicólogos expressaram choque com a magnitude da atividade paranormal que habitava a residência, com muitos afirmando que as energias presentes eram tão fortes que conseguiam provocar reações físicas nos visitantes. Isso significa dizer que a assombração era tão forte que conseguia mexer com as emoções das pessoas.


Não por acaso, estudiosos apontaram o Monge Negro como uma das mais violentas e poderosas manifestações sobrenaturais registradas. Outra dupla de investigadores do paranormal, que apresentavam o programa Ghost Dimension disseram:

"Quando cheguei na casa, eu estava animado em conhecê-lo, mas pensava que as histórias deviam ser um exagero. Minhas pesquisas levantaram tantos relatos absurdos que eu pensei comigo mesmo: "Não é possível!" Mas ao entrar pude sentir aquela presença maligna. Eu jamais experimentei um fenômeno sobrenatural tão forte e contínuo".

A causa foi comprada por um homem chamado Phillip Painter e mais tarde vendida para um produtor de cinema chamado Bil Bungay, que pensava em transformá-la em um tipo de atração macabra para turistas. Ele alugou a propriedade para vários programas de televisão a respeito de investigações sobrenaturais e eventualmente permitiu que o filme When The Lights Go Out (2012), dirigido por Pat Holden, fosse filmado na casa. A equipe de produção do filme afirmou que tiveram várias experiências sobrenaturais e que chegaram a filmar algumas cenas em que uma presença fantasmagórica podia ser vista. É claro, como quase sempre acontece, há muitas alegações de que as imagens foram manipuladas para criar um burburinho que ajudasse na divulgação do filme. E de fato, esse pode ser o caso. 

Ainda hoje, a casa continua existindo e de tempos em tempos ela volta a ser objeto de debate e discussão acalorada atraindo curiosos. Muitos que a exploram acreditam que ela é um dos endereços mais assombrados da Inglaterra. O marco zero de incontáveis fenômenos inexplicáveis e ocorrências bizarras.  O Monge Negro é tratado quase como uma celebridade entre estudiosos do paranormal que tentam desvendar seus mistérios. 

Seja lá o que acontece nesse endereço amaldiçoado, uma coisa é certa: a presença continua se manifestando e aparentemente continuará se fazendo sentir, por muito tempo.