segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Caso dos Máscaras de Chumbo - Mistério sem solução no Rio de Janeiro


Os fatos à seguir são verdadeiros. Este caso é considerado um dos maiores mistérios da crônica policial do estado do Rio de Janeiro.

Eu lembro que quando era moleque, "O Caso dos Máscaras de Chumbo" foi apresentado na televisão, se não me engano no programa "Linha Direta" da Rede Globo. A estória era tão bizarra que depois de assistir o programa custei para pegar no sono imaginando o que poderia ter acontecido. Sendo sicero, a coisa ainda me dá arrepios.

Alguns elementos típicos de um autêntico mistério cthulhiano estão presentes nesse acontecimento no mínimo inusitado: mortes inexplicáveis, um possível ritual de invocação que deu errado, rumores sobre forças não-humanas atuando em nosso mundo... dá para tirar algumas boas idéias dessa narrativa.

O Caso

Tudo começou no dia 20 de agosto de 1966, em um sábado, dois homens foram encontrados mortos no alto do Morro do Vintém, no Bairro de Santa Rosa, em Niterói (RJ).

Os corpos, encontrados sem qualquer sinal de violência, estavam um ao lado do outro deitados de costas no chão, em cima de uma espécie de cama feita com folhas de pintombeira (uma espécie de palmeira da região).

Os cadáveres de dois homens, trajando ternos limpos e capas de chuva, já estavam em avançado estado de decomposição, ao lado destes foi achado um marco de cimento, uma garrafa de água mineral magnesiana, uma folha de papel laminado que foi usada como copo, um embrulho de papel com equações básicas de eletrônica e um papel onde estava escrito:


16:30 hs. – estar no local determinado.
18:30 hs. – ingerir cápsula, após efeito,
proteger metais e aguardar sinal, máscara.


As tais máscaras feitas de chumbo estavam ao lado dos corpos. Elas se assemelhavam a rústicos óculos escuros rústicos e na haste de uma fora colocado um anel. Qual o propósito delas ninguém soube dizer.

A autópsia dos corpos, realizada pelo médico legista Dr. Astor Pereira de Melo, não revelou a “causa-mortis”, visto não haver qualquer evidência de violência, envenenamento, distúrbios orgânicos e total ausência de contaminação por radioatividade. os exames toxicológicos nas vísceras, também foram negativos.

Os dois homens, identificados como Miguel José Viana, 34 anos, e Manoel Pereira da Cruz, 32 anos, moradores da cidade de Campos de Goitacazes, interior do Rio de Janeiro, eram sócios e técnicos de eletrônica.


Reconstrução do caso


Manoel e Miguel eram colegas de trabalho e amigos de longa data. Os dois moravam próximos e tinham sociedade em uma pequena oficina que oferecia serviços de manutenção em aparelhos eletrônicos, sobretudo rádios e televisões.

Na noite de terça-feira (16), Manoel disse a sua esposa Neli que iria para São Paulo, juntamente com Miguel, para comprar um carro usado e alguns componentes de eletrônica para o estoque da oficina. Tendo embrulhado cerca de dois milhões e trezentos mil cruzeiros (aproximadamente 20 mil reais em valores corrigidos) para a viagem.

Na quarta-feira, às 09 horas, os dois homens embarcaram no ônibus na Rodoviária de Campos, com destino a Niterói, onde chegaram às 14:30.

Até o instante em que morreram, a polícia descobriu que eles passaram em uma loja de componentes eletrônicos, no centro de Niterói, compraram capas de chuva e em seguida passaram em um bar, onde compraram uma garrafa de água mineral magnesiana, não esquecendo de pegar o comprovante do vasilhame, para devolver quando retornassem. A pessoa que os atendeu, disse que Miguel parecia estar nervoso e a todo instante olhava a hora em seu relógio.

O vigia Raulino de Matos, que trabalhava no local, disse ter visto quando Manoel e Miguel embarcaram em um jipe onde estavam dois outros homens, ainda hoje não identificados. Segundo o vigia, os quatro trocaram algumas palavras e em seguida o veículo seguiu para a subida do morro. O grupo, no entanto, teria seguido à pé já que não existia na época uma estrada que conduzisse ao alto.

O que aconteceu então permanece desconhecido.


Os corpos de Miguel e Manoel foram avistados na quinta-feira (18), por um rapaz que morava nas proximidades, Paulo Cordeiro Azevedo dos Santos. Ele avisou o guarda Antônio Guerra, que servia na radiopatrulha, porém o policial só foi até lá dois dias depois. É possível que o guarda ou outra pessoa tenha revistado os cadáveres para se apropriar de objetos de valor, mas isso não foi comprovado. No sábado (20), a Segunda Delegacia de Polícia de Niterói recebeu nova denúncia sobre dois corpos, e foram feitos preparativos para ir até lá averiguar


No domingo (19) seguiram ao local de difícil acesso a polícia, bombeiros, jornalistas, além de muitos curiosos, para acompanhar o resgate dos corpos. Encontraram os dois caídos em uma clareira na mata envolvidos por um forte odor. Ao lado deles recuperaram as duas máscaras de chumbo que dariam nome ao caso notório. Nos bolsos estavam 161 mil cruzeiros, além de relógios e um cordão de ouro. Nenhum objeto de metal, que segundo o bilhete devia ser "protegido", foi encontrado.

Logo se aventou a hipótese de haver um terceiro personagem na história. O bilhete com as instruções achado no bolso de um dos homens continha uma caligrafia que não pertencia a nenhum dos dois. O sumiço de parte do dinheiro que eles carregavam também indicava que este havia sido entregue a uma terceira pessoa. Além disso, a polícia não encontrou uma faca ou objeto cortante necessário para cortar as folhas de pintomba. A hipótese de um terceira indivíduo sugeria que este teria dirigido a experiência realizada, mas não participado ativamente dela.

As diligências da polícia descobriram no barracão da oficina dos amigos em Campos, o molde e o equipamento usado para produzir as curiosas máscaras de chumbo. Não encontraram remédios ou drogas (as tais cápsulas) mencionadas no bilhete. Há boatos que os detetives acharam alguns livros estranhos, sobre ocultismo e bruxaria entre as coisas dos amigos.

Logo depois dos jornais anunciarem as duas estranhas mortes, moradores das cercanias do Morro do Vintém, informaram que, na noite do dia 17, entre as 19 e 20 horas, avistaram luzes coloridas circundando o morro. A Sra. Gracinha Barbosa e seus três filhos, que viviam em uma casa à cerca de 800 metros do local, disseram ter visto um objeto ovóide, de cor alaranjada, com um anel de fogo de onde saíam raios azuis em várias direções. Esse objeto flutuava a alguns metros do solo e descrevia círculos ao redor do morro. Outras testemunhas corroboraram essas informações e afirmaram que vários "globos de luz" foram vistos voando baixo. A notícia desencadeou uma série de denúncias à policia de pessoas que também teriam visto os objetos luminosos no mesmo local, dia e hora.


Para técnicos da polícia, as luzes nada mais seriam do que raios, já que na noite em questão caiu uma forte tempestade. Para alguns, os homens teriam morrido em função de uma descarga elétrica fatal. O argumento é válido, por estarem em um lugar alto, portando máscaras de chumbo que atrairiam raios. Os corpos teriam sofrido queimaduras, mas estas não foram observadas na autópsia dado o estado de decomposição. O Instituto Médico Legal e o perito que conduziu a necrópsia negou veementemente essa hipótese.


No decorrer do inquérito, a polícia chegou a um suspeito, Élcio Correia Gomes que foi interrogado pelos detetives responsáveis pela investigação. Segundo a esposa de Miguel, Élcio era uma forte influência e os três "viviam de segredos". Ele teria apresentado aos dois amigos o estudo do ocultismo e os introduziu em estranhas experiências paranormais. Élcio se apresentava como espírita, mas segundo rumores tinha envolvimento com feitiçaria.

Os investigadores ressaltaram que tempos antes, Élcio teria se envolvido em uma espécie de experimento na Praia de Atafona, no interior do RJ, que poderia ou não ter contado com a participação de Miguel e Manoel. A experiência resultou numa explosão que foi motivo de investigação por parte da Marinha Brasileira. Na ocasião, nenhuma prova contra Élcio foi encontrada e ele acabou sendo liberado. Durante depoimento Élcio negou qualquer envolvimento nas mortes e apresentou um álibi sólido que o isentou de participação no ocorrido.

Na época, o folclórico Padre Oscar Gonzales Quevedo (sim ele mesmo!), professor de parapsicologia, deu depoimento ao jornal O Globo. Ele informou que as máscaras de chumbo teriam sido usadas em uma espécie de teste de ocultismo, para proteger as pessoas de radiações luminosas que emanavam de outros mundos. Estas luzes podiam afetar o que chamavam de “terceiro olho”, por isso a necessidade da proteção com as máscaras feitas desse material. Nesse tipo de experiência, os envolvidos devendo estar em jejum para provocar o desequilíbrio físico e mental, precisavam ingerir uma quantidade maciça de drogas psicotrópicas que lhes permitiria entrar em transe. Quevedo explicou que essas pesquisas, conhecidas como psígama e hiperestesia, visavam através de nervos super-excitados ampliar a percepção a aspectos sutis da realidade (ou além dela!).


Exatamente um ano depois, os corpos de Manoel e Miguel foram exumados , mesmo sendo feitos testes em São Paulo, para onde foram enviadas amostras de osso, cabelo, pele, roupa, que foram submetidas a campo de bombardeio de nêutrons, nada foi definido. O caso, na esfera policial, ficou insolúvel e foi feito o arquivamento em 1969, por falta de provas.


Houve boatos que um caso semelhante ocorrera quatro anos antes, em 1962. Na ocasião, um técnico de televisão chamado Hermes (sobrenome desconhecido) teria sido encontrado morto, no Morro do Cruzeiro, sem nenhum qualquer sinal de violência, com todos os seus pertences intactos e com uma máscara de chumbo fixada no rosto. Ele teria ido ao alto do morro para captar sinais de televisão, mas não foram encontrados nenhum aparelho eletrônico com ele. Na época, a polícia concluiu que o técnico teria cometido suicídio através de ingestão de medicamentos. A ausência de informações sobre esse primeiro caso impediu que a polícia correlacionasse os acontecimentos.

Em 1980, o cientista e ufólogo francês Jacques Valleé, veio ao Brasil exclusivamente para pesquisar esse evento misterioso. Valleé considerava possível que os amigos tivessem realizado uma espécie de contato imediato com seres extraterrestres. O pesquisador foi levado até onde os corpos haviam sido encontrados e lá fizeram uma descoberta estarrecedora. O local estava limpo de vegetação, como se tivesse sido demarcado com cal virgem. Amostras do solo revelaram que ele fora calcinado e encontrou-se traços de radiação residual. Valleé considerou o caso como um contato extraterrestre em um de seus livros mais famosos "Confrontations" e deu amplo destaque a ele.

As máscaras de chumbo encontram-se atualmente em exposição no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

É provável que o inquietante "Caso dos Máscaras de Chumbo" jamais tenha uma solução adequada. Passados tantos anos provas se apagaram, pistas se perderam e testemunhas morreram. Mesmo assim, e talvez por isso, o caso que envolve mortes misteriosas, rituais de ocultimo e até quem sabe contato alienígena, continua fascinando aqueles que tomam conhecimento dele.

15 comentários:

  1. Padre Quevedo um dos maiores bruxos da atualidade, que é pago pra desmistificar as coisas para os "tapados" da ICAR, falou corretamente deste caso, eles participaram de um teste de ocultismo, tentando trazer a tona uma dimensão paralela através da projeção psiquica de seus corpos na dimensão mental. Havia uma terceira pessoa neste caso que com certeza acovardou-se e correu feito louco do lugar.

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    1. Concordo. Alem de acovardar-se e fugir esta terceira pessoa que já estava se aproveitando da ingenuidade dos dois, pode ter se apoderado do dinheiro dos falecidos.

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  2. Eu lembro deste assunto no Linha Direta. Horripilane.

    Um caso para constar no Brazil Detective Tales - Extended Edition!

    Mamedes

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  3. Escroto o caso, muito estranho, e excelente plot para qualquer mestre!!!

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  4. Não sei se pode colocar isso aqui, mas achei no youtube o programa.
    http://www.youtube.com/watch?v=oLr35V97ttc
    http://www.youtube.com/watch?v=sCMSY8gzOsY
    http://www.youtube.com/watch?v=hqejsKk5SB4
    http://www.youtube.com/watch?v=s-RazG15g-g
    http://www.youtube.com/watch?v=lp4FDlZ0OyY

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  5. "Spooky".

    A quem interessar possa o caso foi comentado no podcast NerdExpress na série sobre "casos insólitos", todos excelentes:
    http://universonerd.com.br/nerdexpress/2010/03/30/s03e12-olhos-e-mascaras/

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  6. Ótimo plot para uma aventura, mas confesso que isso vai me tirar a noite de sono.

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  7. Eu penso em visitar o Museu da Polícia Civil do Estado do RJ uma hora dessas para tentar ver as máscaras de chumbo. Se conseguir coloco aqui a foto.

    Eu perdi o sono algumas vezes com essa estória.

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  8. A estória completa está nesse link:
    https://www.youtube.com/watch?v=PPtL1lRpyww
    Particularmente acredito que foram vítimas de descarga elétrica.
    O restante é fantasia e muita imaginação.

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  9. Faço a mesma pergunta,onde estão os arquivos do caso?

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  10. Essa história é muito HP Lovecraft !!!

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  11. É estranho que quem prática isso o faz em cima de morros e os da matéria trabalhavam com eletrônicos. Coincidência estranha.

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  12. Somos o (GUPC-RJ) Gupo Ufológico Plêiades Campos / RJ, segue nossos contatos para os interessados: Celular / WhatsApp Oficial (22) 9 9613-1266 / E-mail: ufologiacamposrj@yahoo.com.br

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  13. Cara, quando for ao Rio tenho q visitar esse museu

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  14. Essa história é muito parecida com a dos nove montanhistas mortos em 1959 na Russia

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