No dia 8 de março de 1857, em Nova York, operárias de uma fábrica de tecidos fizeram uma grande greve de ocupação para reivindicar melhores condições de trabalho.
As demandas eram a redução na carga diária de trabalho; a equiparação de salários com os homens, já que recebiam, em média, 1/3 do salário deles; e pediam, também, o fim do assédio no ambiente de trabalho.
A repressão à manifestação foi de tal violência que as mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. O saldo? Pelo menos 130 tecelãs carbonizadas.
Dia 08 de Março foi escolhido como o Dia Internacional da Mulher, uma data que lembra a luta das mulheres por igualdade de condições e direitos.
O Movimento dos Direitos da Mulher, mudou a sociedade e conseguiu estabelecer inúmeras conquistas, mas o percurso não foi nada fácil.
Muitas pessoas acham que no início do século XX as mulheres já gozavam de vários direitos, mas essa é uma concepção equivocada. Até 1900, mulheres sequer eram consideradas pessoas, tinham a mesma jornada de trabalho nas indústrias e ganhavam menos que a metade do salário dos homens, só podiam herdar os bens do marido se este deixasse um testamento por escrito e não tinham direito de votar. Para aqueles que pensam que essa triste realidade se refere a alguma nação atrasada, pense novamente, esse era o panorama no Reino Unido, considerada a nação mais civilizada da época.
Mas as mulheres na primeira metade do século passado estavam determinadas a se fazer ouvir.
Organizações começaram a ser formadas por mulheres ao redor do mundo como a International Woman Party que possuia sedes em 15 países. Essas associações eram extremamente atuantes, organizando protestos, greves, passeatas e atos públicos em que exigiam seus direitos. Cartazes, livros, discursos e clubes de debate eram usados para conscientizar mais e mais as mulheres a lutar por seus direitos.
Na época, a grande questão era o direito ao Sufrágio Universal. As líderes dos movimentos feministas defendiam que apenas através do direito ao voto as mulheres seriam capazes de decidir o seu destino, pois apenas dessa maneira elas poderiam pressionar os legisladores e políticos para realizar as tão almejadas mudanças nas leis. Nos Estados Unidos a "Liga Nacional de Mulheres pelo Sufrágio" organizou atos públicos, as grandes marchas pelos direitos, nas maiores cidades do país em busca de simpatia, mas conquistou inimigos na imprensa e no Congresso. Suas líderes eram maldosamente criticadas e comparadas a agitadoras comunistas.
Na Grã-Bretanha, a "União Social e Política das Mulheres" foi denegrida pelos jornais tradicionalistas por sua associação aos movimentos sindicais e socialistas. Suas líderes chegaram a ser perseguidas, presas e agredidas em mais de uma ocasião.
O termo "Sufragistas" (Suffragete) foi cunhado nessa época pelo jornal inglês Daily Mail como forma de ridicularizar as manifestações feministas. A escalada de agitação só piorou com ações extremas por parte de algumas associações femininas que invadiram fábricas, coordenaram atos de sabotagem, incêndios e fecharam repartições públicas. A polícia por sua vez, agia com truculência e recebia ordens de dispersar as agitadoras com cacetetes se fosse preciso. Em 1914, a líder feminista Emily Davison morreu em um distúrbio, pisoteada pelos cavalos da policia no coração de Londres.
As coisas só começaram a mudar com a Grande Guerra (1914-1918) na Europa. Milhares de mulheres se lançaram pela primeira vez no mercado de trabalho para ocupar as vagas dos homens que haviam partido para a frente de batalha. Como resultado, as mulheres passaram a desempenhar funções essenciais na engrenagem economica. Ademais as grandes perdas humanas na Guerra fizeram com que as mulheres tivessem de assumir trabalhos tradicionalmente reservados aos homens.
Com o fim do conflito, a demanda pelo voto não podia mais ser ignorada. Em 1920 uma emenda à constituição garantiu direito às norte-americanas de votar. Na Alemanha o direito foi garantido pela Constituição assinada pela República de Weimar um ano antes. As princpais nações da Europa também já haviam concedido o direito ao longo da década.
A exceção foi a Grã-Bretanha que teve um processo bem mais lento. As mulheres receberam alguns direitos, mas o voto só foi conquistado de fato em 1928. Na França, o direito ao voto só foi obtido no final da Segunda Grande Guerra no ano de 1944, enquanto no Brasil ele foi aprovado em 1931.
A luta das mulheres por melhores condições trabalhistas, no entanto, se arrastaria por décadas.
Interpretando Sufragistas
Sufragistas concedem um interessante role para personagens femininas nas ambientações lovecraftianas uma vez que as décadas de 20 e 30 foram um período de ebulição e de luta para mulheres que não estavam mais dispostas a se calar diante das injustiças de um mundo machista.
Criar uma personagem que é membro do Movimento Feminista ou uma Sufragista atuante concede um senso de realidade à ambientação. Feministas nos anos 20-30 eram em geral mulheres que buscavam romper com as convenções sociais e que tentavam encontrar seu lugar em uma sociedade que teimava em repelir seus ideais.
As feministas buscavam se emancipar através do trabalho urbano e tentavam provar que podiam trabalhar em pé de igualdade com seus colegas homens. Não era totalmente estranho encontrar operárias, mecânicas e mesmo motoristas nas grandes cidades.
A partir de 1916 as principais universidades norte-americanas começaram a aceitar alunas em cursos superiores. Em 1920 as primeiras mulheres com educação de nível superior chegavam ao mercado de trabalho. Essa época assistiu o surgimento das primeiras médicas, advogadas e engenheiras.
Jogadores podem assumir o papel dessa primeira geração de mulheres que rompeu a barreira do gênero.
NOVA OCUPAÇÃO: SUFRAGISTA/FEMINISTA
A ocupação opcional Sufragista, não é exatamente uma carreira, de fato bem poucas mulheres podiam se dar ao luxo de se dedicar de forma integral a essa atividade. A maioria delas possui alguma outra ocupação principal, sendo que em 1920 as mais comuns são jornalistas, escritoras, artistas ou diletantes.
As mulheres que se apresentam como sufragistas em geral possuem uma educação acima da média. Seus interesses incluem temas proibidos para as mulheres da época: política, economia e comportamento. Sempre dispostas a dar sua opinião (mesmo quando essa não era solicitada) elas buscavam se manter informadas dos acontecimentos nacionais e internacionais.
Uma sufragista está sempre disposta a defender sua opinião custe o que custar. A principal bandeira do movimento era o direito ao voto, mas na esteira das reivindicações estavam melhores condições de trabalho, igualdade de direitos e maior liberdade.
Elas não se deixavam intimidar diante de platéias agressivas e aproveitavam todas as oportunidades para discursar e distribuir panfletos.
Em Call of Cthulhu uma personagem pode acrescentar o termo "Sufragista" a sua ocupação principal (p. ex: Artista Sufragista). Ela utiliza as habilidades ocupacionais de sua carreira principal, mas tem a opção de substituir entre 2 a 4 dessas habilidades por alguma das seguintes habilidades: Bargain, Credit Rating, Own Language, Fast Talk, Persuade e Psychology.
Contatos e conexões típicas incluem políticos liberais e trabalhistas, jornalistas de esquerda, agitadores sociais, artistas e acadêmicos. Qualquer personagem que seja reconhecidamente uma sufragista tem uma penalidade de -20% em seu Credit Rating a negociar com indivíduos conservadores da sociedade. A penalidade aumenta para -30% em cidades pequenas e do interior.
Em Rastro de Cthulhu (uma ambientação que se passa na década de 30) ainda há lugar para feministas. Embora o voto já tivesse sido conquistado, pioneiras ainda lutavam por igualdade de direitos. Como reflexo da mudança social em apenas uma década, o leque de ocupações femininas é consideravelmente mais amplo. O acesso a educação superior permite que existam mulheres desempenhando atividades que em Call of Cthulhu são exclusivamente masculinas.
O nome da ocupação acessória nesse caso é "Feminista" e fica associada a uma outra ocupação principal da personagem (p ex: Enfermeira Feminista). Uma personagem feminista pode optar por substituir entre 1 e 3 habilidades ocupacionais por outras da seguinte lista: Barganha, Convencimento, Manha e História Oral. Feministas constinuavam a ser vistas com desconfiança e ressentimento por indivíduos conservadores. Para refletir isso, à critério do guardião personagens reonhecidamente feministas podem ter de gastar pontos adicionais em habilidades sociais ao tratar com essas pessoas.
Qualquer motivação pode vir a se encaixar nessa ocupação acessória, mas arrogância, aventura, dever, sede de conhecimento, seguidor, tédio, trauma e vingança parecem as mais adequadas para nortear o comportamento de uma feminista convicta.
Muito bom!
ResponderExcluirSalve!
ResponderExcluirO conteúdo do artigo realmente ficou muito interessante, como sempre! Só gostaria de comentar que essa história de 8 de março de 1857 é, na verdade, um hoax do Partido Socialista Francês que persiste até hoje. Não existe nenhuma evidência sobre essa brutalidade ter realmente ocorrido! De fato, ocorreram outros eventos feministas em dias 8 de março de anos posteriores e a data acabou sendo escolhida.
Caso tenha interesse, dê uma olhada nesse artigo que fala sobre as origens socialistas do Dia Internacional da Mulher: http://www.emancipatie.nl/_documenten/vvnl/doc/2006/KaplanSocialistOrigins.pdf
Bem interessante, vale a pena dar uma lida.
ResponderExcluirOi Sou Ricardo do blog de filmes de horror (of terror),estou aqui para convidar vc para dar uma olhada no meu blog: http://www.ofterror.com.br.tc/
ResponderExcluirEstou seguindo seu blog e seria legal se vc seguisse o meu também se gostar claro.
olaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
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