Em meados da década de 20, um novo tipo de mulher estava nascendo. Ela fumava, bebia, dançava e votava. Seu cabelo era cortado bem curto, ela usava maquiagem, e participava de festas até altas horas. Ela era alegre e corria riscos que para suas mães e avós seriam inconcebíveis. Essas mulheres avançadas para sua época ganharam um nome: Flappers.
O termo "flapper" apareceu primeiro na Grã-Bretanha após a Grande Guerra. Até então ele era usado para descrever jovens que ainda não haviam atingido a idade adulta, mas que gostavam de se vestir e se comportar como mulheres mais velhas.
A imagem das Flapper consistia em uma dramática -- por vezes chocante -- transformação no guarda roupa e penteado feminino. Praticamente todas as roupas eram modificadas para permitir a apreciação da silhueta e para garantir liberdade de movimentos. Uma grande mudança, considerando que apenas uma geração antes as mulheres estavam sob a opressiva ditadura dos espartilhos.
"As garotas estacionaram seus espartilhos e pantalonas para poder dançar" diziam os jornais da época. A nova e vibrante Era do Jazz estava no ápice e as mulheres precisavam estar livres, leves e soltas. Hollywood mostrava o caminho e as atrizes mais populares eram justamente aquelas que adotavam o perfil das flappers: Louise Brooks, Clara Bow, Constance Talmadge ditavam a moda naqueles tempos.
O cabelo das flapper com o característico penteado "a la garçon" ("rapazinho"), foi criado pela famosa modista francesa Coco Chanel. Em alguns lugares da América, o cabelo curto e pintado de preto, causou tanta comoção que algumas jovens eram proibidas de entrar em certos ambientes. As saias também começaram a baixar e em 1927 algumas moças mais avançadas já a usavam acima do joelho causando polêmica. Da mesma forma, maquiagem pesada, um recurso raramente usado por "mulheres de bem" foi incorporado pelas flapper para realçar seus traços.
Atitude Flapper
Mas nenhuma mudança estética se comparava a mudança de atitude adotada pelas flapper. Elas não se conformavam com tratamento diferenciado ou condecedente. A Flapper queria ser tratada de igual para igual, por isso falava o que vinha a mente, discutia temas controversos e eram liberais quanto ao comportamento sexual, posição que causava ainda mais choque na sociedade puritana da época.
Elas queriam antes de tudo romper com o senso de opressão que vigorava. Então faziam tudo aquilo que até então eram proibidas de fazer. O comportamento rebelde das flapper não estava limitado a um discurso, suas ações eram ainda mais ruidosas. Flappers bebiam, e em uma época em que os Estados Unidos haviam banido o álcool (foi a Era da Proibição), jovens mulheres se aventuravam em bares clandestinos -- os speakeasies em busca de diversão. Champanhe, bourbon e mesmo gim de banheira corriam soltos e as risadas provocadas pela embriaguez ecoavam.
Após toda experiência traumática desencadeada pelas milhares de mortes e o sofrimento imposto pela Grande Guerra, os ares de liberdade e desapego tinham um efeito de verdadeira catarse nas pessoas.
Esse pensamento se refletia na música. Os anos 20, ficaram marcados como a Idade do Jazz e este ritmo vibrante criado pelos negros americanos se tornou uma espécie de hino das flapper. Danças como o charleston, black bottom e principalmente o fox-trot eram consideradas selvagens e incompreensíveis pelos mais velhos, não obstante os salões enfumaçados viviam lotados. Para as flapper o jazz se encaixava perfeitamente no estilo de vida acelerado que tanto desejavam.
Pela primeira vez as mulheres estavam livres para ir onde quisessem, sem a necessidade de acompanhantes ou guardiões. Henry Ford e sua magnífica invenção, o automóvel, prestaram um enorme favor às flapper. Fazia parte da atitude se arriscar, e o que poderia ser mais arriscado do que dirigir velozmente
Foi uma época de mudanças, liberdade e loucura. Mas quando os anos 20 estavam terminando, a queda da bolsa afundou o mundo na Grande Depressão. A frivolidade e desapego foram forçadas a terminar de forma abrupta, era como se uma longa e barulhenta festa estivesse chegando ao fim. Os Loucos anos 20 terminavam, os duros anos 30 se iniciavam...
Flappers em Ambientações Lovecraftiana
Interpretar uma flapper requer mais do que fazer uma personagem com o modelito típico dos anos 20. Cabelo preto muito curto, um longo colar de pérolas, saias acima dos joelhos, meias de nylon, tudo isso identifica uma flapper, mas é atitude o principal requisito.
A principal característica de uma flapper é não impor limites. Agir de forma impulsiva e rebelde para abalar a sociedade. Tomar decisões impensadas e não medir consequências aceitando os resultados não importando se estes são bons ou ruins.
Flappers são perfeitas para aventuras pulp, são as típicas mocinhas à frente de seu tempo. A mulher que teima em não ser a donzela em apuros esperando para ser resgatada. A atitude da flapper é tomar a tommy gun das mãos do herói e disparar uma rajada contra os vilões sem olhar para onde vão as balas. Da mesma forma, ela pisa fundo no acelerador para atropelar seus perseguidores ou rasga a barra da saia para poder saltar de uma janela.
Flapper não é exatamente uma ocupação, está mais para um modo de vida.
Em Call of Cthulhu uma flapper teria as seguintes habilidades: Bargain, Fast Talk, Persuade, Psychology e mais três habilidades envolvendo alguma ocupação profissional de sua escolha. As ocupações mais adequadas para flappers são jornalista, escritora, artista, diletante, fotógrafa, secretária...
Em Rastro de Cthulhu, as flapper não seriam mais tão comuns. Mas isso não significa que elas teriam desaparecido, algumas moças, em especial aquelas que conseguiram manter seu patrimônio, podiam se dar ao luxo de participar de festas mesmo com a econômia em ruínas. As habilidades par as Flappers em Rastro seriam as seguintes: Bajulação, Barganha, Convencimento, Arte (possivelmente música ou dança) e mais 4 outras habilidades à escolha do jogador que possam refletir alguma profissão que a flapper venha a ter.
Especial: Uma flapper pode utilizar pontos em Bajulação para acessar algumas informações privilegiadas à respeito da cena noturna da cidade em que vive. Por exemplo, uma flapper pode usar pontos para saber onde fica o speakeasy mais próximo, onde acontecem as festas mais quentes e sobre as últimas fofocas envolvendo um membro da alta sociedade. O mestre pode permitir que a flapper, mediante alguns pontos, tenha ouvido falar de uma festa esquisita dada por um congressista onde haviam homens de manto tocando flautas ou quem sabe saber que o chefe de polícia está envolvido romanticamente com uma corista do cabaré local.
Fantástico artigo... Sem querer depreciar qualquer outro estilo de RPG, mas essa é mais uma prova de que Suplemento de Call of Cthulhu são livros e artigos de história!!!
ResponderExcluirCoC também é cultura!!!
eliAndreoli
Assino embaixo!!
ResponderExcluirMamedes
Concordo Eli.
ResponderExcluirUma das coisas mais legais de Cthulhu é justamente o fato dele fazer parte do contexto de uma determinada época.