Notícias como essa sugerem que a resposta para essa pergunta deve ser afirmativa.
Essa reportagem foi extraída da edição eletrônica do Jornal New York Times e comprova que por vezes o Horror da Ficção não chega aos pés dos Horrores Reais que encontramos no dia a dia.
HORRÍVEL DESCOBERTA: 250 FETOS ENCONTRADOS EM FLORESTA
Na Sibéria, um sombrio mistério teve início quando um pescador da aldeia de Lyovikha atravessava a floresta da região no domingo de 22 de julho e se deparou com algo que mal conseguiu distinguir.
Espalhados perto de seus pés e esparramados para fora de barris industriais de alumínio estavam 248 corpos minúsculos, os restos mumificados de fetos humanos, muitos deles com uma etiqueta na qual estava escrito um sobrenome. Abalado com o acontecimento, a ponto de passar o dia seguinte inteiro lutando contra náuseas, segundo seus amigos, o pescador voltou para a aldeia e chamou a polícia.
A polícia confirmou que essa não foi a primeira vez que teve de lidar com um acontecimento bizarro nos arredores de Lyovikha, uma aldeia que se afundou no alcoolismo e na criminalidade após o colapso da União Soviética, quando a mina de cobre local que empregava a maioria de sua população masculina fechou.
Cinco anos atrás, um cão estava farejando em torno de algumas árvores descobriu 15 corpos em decomposição de mulheres e meninas com uma média de 13 anos de idade, sequestradas da cidade vizinha de Nizhny Tagil por uma gangue de homens locais com o objetivo de forçá-las a se prostituírem.
Mas, apesar do perturbador número de corpos, especialmente preocupante foi o quão pouco a polícia aparentemente havia feito para procurar essas mulheres, desaparecidas há anos – uma dentre as muitas casualidades do colapso de uma economia industrial. As autoridades haviam tratado o acontecimento com notável descaso.
Desde a chegada da polícia ao local dos fetos abandonados na semana passada, a polícia emitiu novas atualizações sobre a desagradável descoberta.
Uma comissão especial anunciou que os fetos foram doados para a Academia de Medicina dos Montes Urais para fins de pesquisa. Entretanto, os fetos maiores tinham cerca de 22 a 26 semanas de idade, já além do limite de 12 semanas para o aborto conforme as leis locais, e não excluíram a possibilidade de que nasceram prematuramente.
Existe a possibilidade de que os fetos tenham sido comprados por grupos de traficantes que negociam com empresas cosméticas e farmacêuticas o uso desse tipo de material biológico em pesquisas. Estórias como essa parecem estar se tornando cada vez mais comuns na Rússia, um país onde tratamentos médicos experimentais são oferecidos por oportunistas e charlatães usando todo tipo de método questionável e anti-ético.
Algumas clínicas clandestinas prometem tratar pacientes usando células-tronco extraídas de fetos para combater doenças neurológicas como a esclerose múltipla, doença de Parkinson, lesão medular e Alzheimer. Eles afirmam ter curado de tudo, desde paralisia cerebral a alergias usando métodos sobre os quais pouco se sabe.
Não há dados científicos para apoiar que a injeção de células-tronco pode resultar em benefício para os pacientes que se submetem a esse tratamento. Muitos acreditam
erroneamente que operações ilegítimas usando células fetais possam ter um efeito "regenerativo" ou curativo.
O turismo médico cresce com essas afirmações falsas e se torna cada vez mais comum na Rússia.
Embora não exista nenhuma conexão direta entre os dois achados, ambos demonstraram o desespero das pequenas cidades do cinturão da ferrugem (antiga área de indústria pesada) da Rússia após a queda da União Soviética.
Muitos moradores da aldeia de Lyovikha imediatamente assumiram que os fetos descobertos no domingo estavam sendo usados no tráfico de seres humanos, possivelmente para fornecer matéria-prima para procedimentos estéticos ou médicos, fato que não gerou qualquer surpresa ou consternação.
Lyovikha é um povoado que está condenado a uma espécie de morte lenta. Sua entrada é estampada com o slogan "Glória ao trabalho! Glória aos mineiros!", mas a mina está desativada há anos deixando a população sem recursos e cada vez mais empobrecida. Os moradores atualmente vivem com pensões que o governo paga aos idosos, que é suficiente para abastecê-los com vinho barato.
A dura realidade desses pequenos povoados no passado prósperos, demonstra como eles estão atualmente submersos em crime, miséria e desespero.
Quando H.P. Lovecraft escreveu o conto "O Horror em Dunwich" (The Dunwich Horror) em meados de 1928, ele tentou criar um ambiente medonho para o pequeno povoado no interior da Nova Inglaterra.
Seu objetivo era tornar Dunwich uma cidade decadente e soturna, habitada por pessoas que sabiam pertencer a última geração que viveria naquele povoado cada vez mais deslocado em seu isolamento. Dunwich estava morrendo lentamente, irrevogavelmente condenada.
Lovecraft relatou em uma carta a um de seus correspondentes que Dunwich devia ser um lugar absolutamente tenebroso para se viver, sem esperança e ausente de calor humano, consciência ou conforto. Onde a vergonha por segredos negros de família e acontecimentos traumáticos havia se apagado e se transformado em resoluta aceitação. "As coisas são como são e nada pode ser feito para mudar esse panorama". A população havia desistido de condenar práticas que seriam reprovadas na maioria das sociedades e repudiadas pela maioria dos homens civilizados.
Ele escreveu sobre o povoado fictício:
"Era difícil evitar a impressão de sentir um tênue odor maligno a permear as ruas do vilarejo, como se fosse um persistente cheiro de mofo ou de decadência impregnado ali há séculos".
Eu me pergunto o que ele acharia desse povoado, Lyovikha, cujo povo não se impressiona com coisas tão horrendas ocorrendo próximo de suas casas...
Se Dunwich existisse no mundo real, sem dúvida seria algo parecido.