segunda-feira, 2 de julho de 2012

Harry Price - A Vida e os feitos do primeiro "Caçador de Fantasmas"

Escrito por Troy Taylor


Quem já ouviu falar de Harry Price? Hoje o nome pode estar um tanto esquecido, mas houve um tempo que ele foi considerado o maior e mais respeitado pesquisador do paranormal no mundo.

Nas décadas de 20 até meados dos anos 40, nenhum jornal ou artigo de revista sobre alegados casos envolvendo fantasmas ou assombrações, ou programa de rádio à respeito de poltergeists, estaria completo sem a participação e a opinião abalizada de Price. Ele foi um talentoso e prolífico escritor, jornalista, ensaísta e promotor das suas próprias façanhas. Ao longo de uma carreira com quase quatro décadas, Price visitou inúmeros mediums, investigou centenas de fenômenos estranhos e explorou todo tipo de casa assombrada da Inglaterra (e não foram poucas!).

Ele chegou a fundar uma instituição devotada a pesquisar tais fenômenos, o Laboratório Nacional de Pesquisa Psíquica, uma espécie de base de operações cujo propósito era examinar o mundo paranormal à luz da ciência. Seu laboratório juntou milhares de documentos e formou uma notável coleção de livros e textos sobre ocultismo, magia, filosofia e religião. Ainda hoje, a Biblioteca Price serve a estudantes e pesquisadores interessados em conhecer os mistérios das Ciências Ocultas.

Ninguém se dedicou mais do que Harry Price a desvendar os segredos da chamada "era de ouro" do espiritualismo. Igualmente respeitado e detestado por muitos desafetos, não há como negar a influência de Price como uma das figuras mais proeminentes do estudo de assombrações no século XX. Com sua personalidade brilhante e carismática, ele se converteu no que poderia ser chamado de "caçador de fantasmas", embora o termo "celebridade paranormal" não esteja muito distante. O maior mérito de Price talvez tenha sido trazer o tema ao público em geral. Ele compreendeu que fazendo do seu objeto de estudo algo empolgante e misterioso atrairia a atenção das massas e conquistaria um lugar sob os holofotes. Talvez por causa disso, após sua morte em 1948, colegas ressentidos pelo seu sucesso tenham atacado o seu legado, tentando manchar sua reputação.

Por muitos anos, pesquisadores o consideraram um embaraço e um charlatão. A despeito das opiniões polêmicas, é inegável que Price deixou sua marca. Embora de fato ele não tivesse treinamento ou educação formal que o qualificassem como um doutor em parapsicologia, é inegável que seus métodos e habilidades fossem autênticos. Harry Price era além disso um ilusionista e um expert na detecção de fraudes, capaz de apontar truques e desmascarar falsos mediums. Seu sucesso era um tapa no rosto dos pesquisadores  tradicionais.

O trabalho de Price era inovador e seus métodos envolvendo pesquisa e o levantamento histórico de fenômenos ainda são usados nos dias de hoje. Sua investigação da casa fantasmagórica conhecida como Reitoria Borley (Borley Rectory) tornou-se a primeira investigação paranormal moderna de uma casa mal assombrada. 

A CARREIRA DO CAÇADOR DE FANTASMAS

Harry Price nasceu em Londres em 1881, o filho de um vendedor itinerante. Seu interesse no paranormal se iniciou em 1889 quando ele assistiu pela primeira vez a apresentação de um ilusionista. A partir de então ele se tornou um mágico amador e começou a realizar seus primeiros truques de palco para divertir parentes e amigos. Desde cedo ele compreendeu que truques podiam ser usados para surpreender as pessoas e que "o ilusionista apenas guiava o público para que eles vissem o que ele desejava mostrar".

A primeira investigação paranormal na qual Price se envolveu, ocorreu quando ele tinha apenas15 anos. Ele e um amigo obtiveram a permissão de passar a noite em uma velha propriedade supostamente assombrada. Price contou anos mais tarde que a experiência foi inquietante e que ele teria ouvido sons inexplicáveis e murmúrios assustadores. Esse evento sacramentou seu interesse em assombrações e em fenômenos estranhos.

Após se graduar no ensino médio, Price experimentou vários trabalhos, tendo se destacado como jornalista. Em 1908, após se casar com uma rica herdeira, ele começou a se devotar inteiramente ao ofício que passou a chamar de "caçador de fantasmas". Nessa época, ele já fazia parte da Sociedade de Estudos Psiquicos (Society of Psych Research, ou SPR) , e escrevia artigos à respeito de famosas assombrações britânicas.

Em 1918, Price já visitara dezenas de casas assombradas e participara de inúmeras sessões espíritas com o objetivo de expor charlatões que abusavam da crença alheia. Ele havia se tornado um mestre ilusionista e sua experiência com truques de palco permitiam que ele apontasse qualquer embuste. Assim como o famoso Harry Houdini, Price era um Debunker (um ilusionista que desmascarava fraudes espirituais). Sua fama cresceu e não demorou para que ele se tornasse o mais famoso membro da SPR.

Uma das primeiras investigações de Price expôs o fotógrafo William Hope que estava fazendo fortuna tirando fotografias com espíritos flagrados por suas lentes. O "caçador de fantasmas" examinou o equipamento de Hope e descobriu que ele ele utilizava lentes previamente preparadas para criar a ilusão de que fantasmas estavam ao redor das pessoas. O caso ganhou certa notoriedade nos jornais e Hope foi processado, enquanto a fama de Price em Londres aumentava dia após dia. Até o início da década de 20 ele já havia desmascarado pelo menos 10 falsos médiuns.

A mudança de caminho na carreira de Price ocorreu em 1920, quando ele conheceu uma jovem enfermeira chamada Stella Cranshaw que se dizia assombrada por um espírito há anos. Ela afirmava que uma mesma manifestação fantasmagórica causava sons estranhos, fazia objetos levitarem no ar e produzia uma queda acentuada na temperatura sempre que surgia. Atraído pela narrativa de Stella, Price começou a estudar o fenômeno acreditando se tratar de uma fraude muito bem engendrada. Uma série de experiências foram realizadas na sede da Aliança Espiritualista de Londres e Price se mostrou muito impressionado com o que viu.

O espírito guia, identificado como "Palma" se comunicava através de Stella e respondia perguntas, além de bater portas e lançar objetos contra as paredes. Durante as experiências, Price registrou súbitas mudanças de temperatura ambiente. Até onde o "caçador de fantasmas" podia inferir, a mediunidade de Stella Cranshaw era autêntica. Disposto a registrar o fenômeno cientificamente, Price convidou a jovem para outra sessão em que utilizou instrumentos capazes de analisar o que estava acontecendo. Nessa sessão vários objetos foram erguidos da mesa e voaram pela sala, os aparelhos de Price registraram tudo e ele foi capaz até de tirar várias fotografias de instrumentos levitando ao redor da medium.

Price foi muito criticado pelos seus colegas da SPR por defender o dom de Stella Cranshaw. Ele argumentava não ter sido capaz de identificar qualquer truque ou ilusão nas sessões em que participou. Além disso, a própria srta Cranshaw não explorava seus poderes com o objetivo de enriquecer, e afirmava que cada sessão era cansativa e extremamente desgastante. Price conseguiu convencer Cranshaw a realizar uma sessão espírita na sede da SPR, diante de seus colegas mais céticos, a fim de provar seu ponto. As duas sessões, no entanto, foram um fracasso, nenhum espírito se materializou para jogar objetos pelo ar ou bater as portas.

Stella alegou que a incredulidade dos presentes fez com que "Palma" se negasse a manifestar sua presença. Os membros da SPR, é claro, afirmaram que a fraude não podia ser encenada diante de uma platéia especialmente treinada. Price continuou pedindo para que Stella provasse seu dom, finalmente em 1926 os dois tiveram uma séria desavença. Price continou até o final da vida a afirmar que o dom de Stella era autêntico enquanto a moça sumiu no anonimato de uma vida comum após se casar em 1928. Até onde se sabe ela jamais explorou sua alegada mediunidade em benefício próprio.


Apesar do episódio, a credibilidade de Price não foi arranhada. Ele continuava sendo respeitado e citado como uma autoridade quando o assunto versava sobre o mundo paranormal. Seus colegas na SPR não aceitavam sua associação com a Aliança Espiritualista de Londres o que acarretou em seu desligamento da Sociedade de pesquisa científica.

Em 1928, Price iniciou a construção do Laboratório Nacional para Pesquisa do Paranormal, que visava reunir documentos e narrativas sobre manifestações sobrenaturais. O arquivo do Laboratório foi desde o início alimentado por recortes de jornal, narrativas, dossiês e cartas vindas do mundo inteiro. Além do arquivo, uma vasta biblioteca começou a se formar à medida que incentivadores e interessados no tema enviavam para Price livros sobre o assunto. Contando com o apoio de seguidores fiéis, Price abriu as portas de seu Laboratório para qualquer pessoa interessada em consultar os livros e arquivos. Nessa época ele escrevia artigos em várias revistas especializadas em espiritualismo, paranormalidade e enigmas sobrenaturais. Ele também era figura frequente em programas de rádio que exploravam o tema e relatavam acontecimentos fantasmagóricos.

Em meados de 1929, Price recebeu um convite para viajar pelo continente europeu e conduzir experiências que provassem (ou não) a veracidade do dom de vários mediuns. Em Munich, na Alemanha ele estudou os alegados poderes mediúnicos de Willi Schneider e ficou impressionado pelo que testemunhou. Willi era capaz de não apenas manifestar espíritos mas responder perguntas, fazer objetos levitarem e assumir a aparência e trejeitos de outras pessoas vivas ou mortas que jamais havia conhecido. O foco de Price nesse ponto havia se convertido em uma busca por verdadeiros espiritualistas e não pela exposição de fraudes. Ele escreveu o livro "Revelations of a Spirit Medium" em que relatava todas as fases da investigação sobre o fenômeno da mediunidade.

Dando continuidade a sua viagem pela Europa, Price se interessou em estudar a base do ocultismo na Alemanha. Ele realizou pesquisas sobre magia negra, satanismo e feitiçaria. E segundo biógrafos se envolveu com grupos que professavam serem capazes de realizar magias verdadeiras. Price teria inclusive participado de uma cerimônia cujo objetivo era transformar um homem em um bode (experimento que falhou miseravelmente!)

Perto da Romênia, ele foi levado até uma menina camponesa chamada Eleonora Zugan, que experimentava um violento fenômeno poltergeist. A menina foi resgatada por Price de um asilo para mentalmente insanos onde estava internada e levada até Viena onde se consultou com importantes psiquiatras. Segundo o pesquisador, Eleonora manifestava "stigmatas" em seu corpo, ferimentos condizentes com as chagas sofridas por Jesus Cristo em sua via cruxis. Price realizou vários experimentos e determinou que os ferimentos surgiam espontaneamente no corpo da jovem, mesmo quando ela estava dormindo.

Fascinado pelo tema, ele recebeu permissão da Igreja para consultar os Arquivos no Vaticano que relatavam casos semelhantes ao redor do mundo. O fenômeno de Eleonora se tornou um dos casos de stigmata mais bem documentados da história, contando inclusive com trechos captados em filme. Aos 14 anos, pouco antes de entrar na puberdade, as manifestações que atormentavam a jovem cessaram abruptamente.

No início da década de 30, Price passou a estudar o caso de Rudi Schneider, o irmão de Willi, cujas habilidades supostamente até superavam as do irmão. Rudi viajou até a Inglaterra e foi testado por Price no Laboratório. As capacidades psíquicas do rapaz foram determinadas através de leituras e circuitos elétricos projetados pelo pesquisador para medir habilidades paranormais. Entre as capacidades do jovem alemão, Price destacou sua notável capacidade de criar massas de ectoplasma que eram moldados na forma de rostos e membros humanos. Ele documentou o fenômeno através de estudos e fotografias declarando que ele era "absolutamente genuíno", uma prova cabal da existência do sobrenatural.

Ao longo da década de 30, Price se envolveu com outros tantos campos de estudo paranormal. Ele uniu forças com psiquiatras e estudiosos do comportamento humano para analisar casos de clarividência e psiquismo. Também trabalhou com o pesquisador Nandor Fodor, um especialista em casos de fantasmas agressivos e responsável por popularizar o termo poltergeist (fantasma barulhento). Os dois estiveram juntos em uma investigação envolvendo um espírito inquieto que assombrava uma família em Surrey.

Um dos casos mais estranhos da carreira de Price emvolveu Gef, uma espécie de fuinha falante que vivia em Cashen Gap, na Ilha de Man (sim, era o caso de um animal falante!). O incidente que começou a ser discutido em 1931, atraiu a atenção de Price em meados de 1936 quando a fama do tal animal falante já se espalhava por toda Inglaterra causando comoção. Price se dirigiu ao local onde o magnífico animal aparecia, e acompanhado de R.S. Lambert, o editor de um popular programa de rádio chamado "The Listener" tentou entrar em contato com a criatura, mas este se negou a aparecer. O programa registrou um público recorde e a estranha entrevista conduzida por Price com várias perguntas dirigidas a um roedor falante rendeu um dos momentos mais bizarros de sua carreira.

A carreira de Harry Price teve uma nova reviravolta a partir da segunda metade da década de 30, quando o já famoso "caçador de fantasmas" deu início a suas investigações sobre casas e lugares assombrados. Talvez sejam esses casos que tornaram seu nome mais conhecido e criaram fama ao redor do mundo. Price já havia se envolvido com o tema anteriormente, mas a exploração de uma famosa casa mal assombrada no condado de Essex, conhecida como Reitoria Borley -- a mais assombrada casa da Inglaterra, lançou seu nome ao estrelato e estabeleceu um novo patamar para os investigadores do sobrenatural.

Após concluir a exploração da Borley Rectory, Price lançou vários livros sobre sua experiência como "Caçador de Fantasmas". Seus trabalhos se tornaram bastante populares e ele jamais deixou de ser publicado nos últimos 60 anos.

Durante a Segunda Guerra, Price alegou ter sido procurado por oficiais do governo britânico para conduzir experimentos que visavam localizar submarinos inimigos no mar do norte. Ele também foi consultado à respeito de astrologia e revelou ter sido pago para revisar o mapa astral de líderes inimigos, entre os quais o próprio Adolf Hitler.

Harry Price morreu em 1948, vítima de um ataque cardíaco fulminante aos 67 anos de idade. Ele continuava trabalhando em seus casos no Laboratório e planejava uma viagem para a América. Até o dia de sua morte ele costumava investigar pessoalmente acontecimentos sobrenaturais que apareciam nas manchetes dos jornais.

4 comentários:

  1. Incrível! Adorei o post. Harry Price devia ter sido um indivíduo fascinante. E excêntrico.

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  2. Realmente um caso impressionante.

    Parabéns pelo post.

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  3. Parabéns pelo post.

    HARRY PRICE COM CERTEZA FOI UM HOME EXTRAORDINÁRIO COMO EU GOSTARIA DE TER VIVIDO NESSA ÉPOCA SO PRA TER O PRAZER DE TER O CONHECIDO.
    JÁ Q SOU UMA GRANDE ADMIRADORA DE HISTORIAS SOBRENATURAIS.

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  4. Li em algum lugar que o neto de John Nevil Maskeline tentou mostrar a Harry Price como o Rudi Schneider fazia seus truques. Mas Harry não ficou impressionado: Rudi fez o que sem sem preparar NADA. Enquanto o mágico precisou preparar TUDO para reproduzir o que o médium fizera... Assim não vale.

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