Antes de começar a ler isso, é legal avisar que escrevi uma pequena introdução a essa resenha no artigo anterior. Para quem não leu, dê uma olhada.
"A Morte do Demônio" (Evil Dead/ 2013) é um remake do filme original de 1981, dirigido pelo uruguaio Fede Alvarez, com o carimbo de aprovação de Sam Raimi e Bruce Campbell (respectivamente diretor e astro do original) que assumiram a função de produtores. Até onde se sabe, o envolvimento deles na produção foi mínimo, além de injetar dinheiro. Em entrevistas, Raimi afirmou ter dado completa liberdade para o novo diretor agir e mexer na estória como bem entendesse. Eu li uma entrevista do tal diretor (cujo primeiro longa metragem é justamente esse filme) na qual ele afirmava não estar intimidado pelo desafio de apresentar Evil Dead a uma nova geração. "A estória é basicamente a mesma, mas são outros tempos, por isso é preciso fazer algumas mudanças", disse ele provocando arrepios nos fãs.
Uma das primeiras notícias sobre o filme deixava claro que Bruce Campbell não estaria nele e que o personagem Ash (para quem não conhece, o sujeito da mão de motosserra) sequer faria parte do roteiro. O que por si só, faz uma enorme diferença. O personagem do Campbell é para muitos a alma do filme. Sem ele, quem iria dizer "Groovy baby", "Let's Roll" e outras sacadas absurdas em meio a situações absolutamente violentas?
A razão para isso é que o foco da nova versão de Evil Dead seria diferente. A essência do novo filme seria carregar no terror e se converter num "filme sério". Para isso, o roteiro baniu toda e qualquer menção ao humor camp e exagerado que permeou a trilogia original a partir do segundo filme.
Dizem que quando Sam Raimi dirigiu o Evil Dead original de 1981, sua intensão era fazer um filme de horror realmente assustador e chocante. O problema é que ele esbarrou na falta de recursos que acabaram concedendo ao filme um aspecto tosco e involuntariamente engraçado. Quando Raimi praticamente refilmou Evil Dead na "sequência" de 1987, ele abriu mão de fazer um filme de horror "sério" e se deixou levar pelas cenas de humor coalhadas de tensão e gore. Evil Dead 2 é um filme divertido, mas está longe de ser assustador, o medo é diluído por cenas propositalmente exageradas e sanguinolentas que acabam sendo engraçadas. Alguma até com uma estética de desenho animado. Em Evil Dead 3, o clima era o mesmo, diversão e brincadeiras acima de tudo, alimentadas por uma série de piadas culturais envolvendo Ash e sua louca viagem no tempo para enfrentar os demônios na era Medieval.
O que quero dizer é que a trilogia Evil Dead nasceu como um filme de horror, mas aos poucos esse horror foi sendo posto de lado, cedendo cada vez mais espaço para o humor.
A proposta do novo Evil Dead era devolver o filme às suas raízes, fazer com que ele se tornasse um filme assustador. Mas para isso, Ash (e sua postura devil may care) deveriam ser sacrificados na estória.
Lamentos e ranger de dentes se seguiram. Muitos fãs reclamaram e disseram que sem o Ash não dava para chamar o filme de Evil Dead. Entretanto, por mais que eu goste do Ash (e das suas piadas infames e expressões afetadas), seria difícil colocar o personagem em um filme sério de horror. Ele é um falastrão, que fica ótimo em filmes que não se levam muito a sério como "Meu nome é Bruce", uma gozação em cima de seu personagem mais famoso. Além do mais, quem estaria à altura de imitar os trejeitos de Bruce Campbell sem cair no ridículo?
Tendo como meta essa nova concepção, o roteiro do novo Evil Dead começou a ser trabalhado, dando origem a uma versão muito mais obscura e crua que as anteriores.
Os grandes méritos do roteiro na minha opinião foi conseguir quebrar dois dogmas presentes em incontáveis filmes de horror:
Primeiro - O grupo de personagens não está indo para um lugar isolado nas florestas do Tenensee com o objetivo de passar um final de semana de alegria regado a cerveja e sexo casual. Não há espaço para a velha máxima: "um fim de semana de diversão que se torna um pesadelo". Em A Morte do Demônio, os personagens estão buscando isolamento com o objetivo de realizar uma intervenção em um deles e fazer com que a protagonista se livre do seu vício em drogas.
Segundo - Os personagens não são os esteriótipos que se encontra em filmes de horror. Não há jogadores de futebol babacas, geeks bobalhões, virgens idealistas, cheerleaders malvadas e/ou ninfomaníacas, palhaços da turma etc. Os personagens embora bastante jovens são bem mais comuns e por isso verossímeis em suas motivações.
A estória do filme é praticamente a mesma do Evil Dead original com algumas pequenas mudanças para encaixar o contexto da intervenção. Não se preocupem, eu não vou revelar mais do que a premissa básica de "A Morte do Demônio", e não há nenhum spoiler no que vou escrever a seguir. É apenas um pouco mais do que a gente lê na sinopse do jornal.
Um grupo de amigos se reúne em uma casa absolutamente isolada nos arrebaldes de uma floresta erma. O objetivo deles é ajudar na recuperação de Mia (Jane Levy) que entrou em uma rota auto-destrutiva caindo no vício da heroína. Todos sabem que se ela não receber ajuda, vai acabar morrendo. Não é a primeira vez que eles tentam curá-la, e por isso, alguns estão céticos se a coisa vai funcionar a não ser que eles a forcem a continuar. Eric (Lou Taylor Pucci) e Olivia (Jessica Lucas), são os amigos que organizam a intervenção, ele um professor de ciências e ela uma enfermeira. Os dois convidam o irmão de Mia, David (Shiloh Fernandez) para a sessão a fim de ajudá-los. Logo fica claro que os irmãos tem as suas diferenças, agravadas por problemas de família, mas que estão dispostos a se reconciliar. David vem acompanhado de sua namorada Natalie (Elizabeth Blackmore) que parece ter sido arrastada para a roubada e não sabe muito bem onde se encaixar.
O que nenhum deles sabe é que pouco antes de chegarem à casa que pertenceu aos pais de David e Mia, o lugar foi palco de uma cerimônia de exorcismo barra pesada realizada por uns caipiras esquisitos. Na introdução do filme, a gente fica sabendo que um espírito demoníaco libertado por um certo livro diabólico, possuiu o corpo de uma garota e que a coisa terminou de modo sangrento.
Ninguém entrou na casa depois da tal sessão de exorcismo, mas Mia logo percebe que há algo de sinistro com o lugar. A sensibilidade dela, permite que ela sinta que algo maligno está à solta nos arredores da cabana e que o foco desse mal vem do porão. Explorando o local, Eric e David encontram o tal livro e movido pela curiosidade, o professor acaba lendo alguns trechos que libertam o demônio fazendo com que ele seja capaz de tomar o corpo de cada um na casa.
Uma das grandes sacadas do filme é usar o vício de Mia como uma desculpa para que ninguém acredite no terror que ela percebe antes de todos. Quando ela começa a ver coisas bizarras - inclusive um garota coberta de vísceras na floresta, todos acham que ela está simplesmente alucinando devido a privação química. É uma maneira muito inteligente de conduzir os acontecimentos sobrenaturais, fazendo com que a descrença dos demais tenha uma razão de ser, ao invés do simples ceticismo teimoso. E o tormento de Mia nos leva a uma das cenas mais angustiantes do filme, reminiscente do original. É claro, estou me referindo ao "estupro da árvore", sequência que marcou o primeiro filme da trilogia e que não poderia estar de fora da refilmagem. O roteiro usa com propriedade o evento para mostrar como o terror realmente tem início, o que faz com que a cena seja menos gratuita do que na versão anterior.
Com Mia a ponto de enlouquecer agindo sem controle e colocando sua vida em risco, os amigos começam a imaginar se algo sobrenatural não estaria realmente acontecendo. "Nenhuma pessoa em surto age assim" um deles diz assustado. Mas é claro, quando finalmente o grupo decide que é melhor arrumar as coisas e voltar para a civilização, já é tarde demais.
Evil Dead embora seja um remake do filme de mesmo nome, parece traçar sua fonte de inspiração em outras produções de horror, em especial "O Exorcista". Embora ele não busque por explicações teológicas, é inegável que o clássico filme do demônio que possui uma garotinha, é a base para muitas situações ao longo de "A Morte do Demônio". Situações deveras similares, com o espírito maligno fazendo propostas obscenas, ferindo o corpo que habita e vomitando nos outros, acenam no roteiro. As cenas são realmente muito bem feitas usando poucos efeitos digitais, recorrendo, ao invés disso, a truques de cena old-school. O gore, outra marca registrada da trilogia está presente em um sem número de sequências nauseantes, com doses cavalares de sangue, membros decepados com requintes de detalhes e ferimentos assombrosos.
Contado em ritmo de montanha russa a toda velocidade, o filme se desenvolve de uma horrível cena para outra, de forma muito eficiente, com poucos instantes para se respirar. É claro, essa progressão de episódios horrendos encadeados em alguns momentos se torna um pouco repetitiva, mas cada uma dessas sequências é imaginativa, divertida, nojenta e tensa o bastante para segurar o ritmo. E depois de assistir ao primeiro filme em DVD, conclui que o ritmo é exatamente o mesmo, com a diferença que o início de "A Morte do Demônio" é mais bem explicado. Em essência, do prólogo ao até o momento em que as letras sobem, o filme é aquilo que se espera de Evil Dead.
O enorme cartaz vermelho na frente do cinema alerta em letras garrafais: "O filme mais apavorante que você verá nessa vida". Na verdade, "A Morte do Demônio" não é um filme de sustos e calafrios, ou de clima soturno que vai deixando o espectador cada vez mais agitado e o obriga a fechar os olhos quando a música sobe. Não me recordo de nenhum momento em que fiquei realmente assustado, mas isso não é uma falha. O filme busca muito mais, causar choque e tensão em face da crueza das cenas do que através de sustos fáceis. O espectador se sente compelido a assistir e não desviar os olhos, apesar de saber que não vai gostar do que será mostrado.
O elenco, formado por ilustres desconhecidos se sai bem na inglória tarefa de defender personagens que, todos sabem, não irão sobreviver até o fim. O destaque vai para Jane Levy que encara a protagonista Mia, banhada em todo tipo de gosma e sangue, sob maquiagem pesada, e ainda assim capaz de conceder um grau de dignidade assombroso à personagem. Se ela está fadada a se tornar uma espécie de novo Ash em inevitáveis continuações, ainda é cedo para dizer, mas ela parece estar no caminho certo. Ao menos ela empunha uma motosserra com desenvoltura.
Bom, e qual o veredito?
A Morte do Demônio é em essência um filme B, inspirado por um cult de horror que marcou época. Apesar do reforço no orçamento, da produção bem realizada e do acabamento caprichado, ele não aspira ser mais do que isso. Não é um filme para "fazer pensar" ou "refletir", é para os apreciadores do horror, e adoradores de cenas elaboradas de violência que transbordam choque.
No medonho universo das refilmagens, A Morte do Demônio é um raro exemplar que consegue estabelecer um delicado equilíbrio: é uma nova interpretação, oferecendo algo ligeiramente diferente, ainda que honre o espírito do original no qual se baseia. E isso, em se tratando de um remake é muita coisa.
Trailer:
Trailer Red Band:
Tb achei o visual da menina possuída bem semelhante à menina do Exorcista! Agora a maneira como usaram para evocar o demônio do livro foi bem piegas, senão ridícula, um professor pega um livro sinistro onde vê claramente a frase "não leia esse livro" e mesmo assim lê o treco em voz alta? Atestado de burrice pra vc hein, professor? Algumas curiosidades: A inicial dos protagonistas: David, Eric, Mia, Olívia e Natalie forma a palavra DEMON, o carro velho onde Mia está sentada no começo do filme é o mesmo dos Evil Deads anteriores, pertence ao Sam Raimi e já apareceu em Darkman, Trilogia Homem-Aranha de Raimi e outros filmes do diretor. E não percam a cena pós-créditos, ok?
ResponderExcluirEsse filme foi demais depois dos créditos.
ResponderExcluirachei uma droga esta refilmagem, o necronomicom e tratado como mais um livro satanico de 5° categoria, atores fracos e insosos, uma mistura de floresta maldita 1,2,3,4,5,6, e o massacreda da serra eletrica. RUIM e PÉSSIMO.
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