Uma milícia religiosa fundamentalista, conhecida como Ombatse vem agindo na Nigéria central trazendo medo e o temor de genocídio para a região. Em sua última ação, membros da seita atacaram uma patrulha policial a 10 quilômetros da cidade de Lafia.
O grupo, composto de pelo menos 40 homens armados com fuzis, rifles e pistolas abriu fogo contra os veículos que seguiam para o vilarejo de Abeleyo com intuito de cumprir um mandato de prisão contra o líder do culto Ombatse. A acusação inclui assassinato, sequestro, cárcere privado, estupro e tortura.
"Os policiais estavam em missão oficial, as ordens eram de entrar no templo Ombatse e realizar prisões, principalmente do sacerdote chefe do culto e de seus seguidores mais próximos, que são acusados de torturar e executar membros da própria igreja, que eles consideravam pouco leais a seita" disse Abayomi Akeremale, chefe de polícia local, "nós recebemos informações de que os membros do culto também são responsáveis por ataques e incêndios realizados em mesquitas e igrejas na área".
O Ombatse é uma religião nativa, difundida entre o povo Eggon que habita a região de Nasarawa, um dos mais problemáticos e rebeldes estados nigerianos. Trata-se de um povo extremamente fechado que não tolera a presença de outras crenças religiosas e combate duramente os costumes ocidentais. Até pouco tempo, livros eram queimados por serem considerados uma contaminação estrangeira. As principais vítimas são as mulheres, proibidas de ler e escrever, tratadas com enorme agressividade, elas não podem sair de casa ou falar com outras pessoas. Consideradas propriedade dos maridos, muitas são obrigadas a realizar dolorosas mutilações genitais como sinal de fidelidade. Os Eggon possuem um dialeto próprio, não usam dinheiro e casam apenas com membros de sua própria etnia.
"Eles renegam música, jornais, informação, até mesmo remédios e vacinas" relatou Akeremale, "tudo para eles é contaminado e por isso optam por se fechar em suas crenças. Eles passam o dia em rituais e fazendo sua feitiçaria".
Os fundamentos do Ombatse são obscuros, sabe-se que ele mistura vários elementos tribais e folclóricos. A base da crença é que eles aguardam uma espécie de arrebatamento e o retorno de forças espirituais que irão causar o fim do mundo. Dentre as 250 etnias que compõem a Nigéria, a crença é praticada apenas pelos Eggon. Ela foi banida por outros povos, por ser considerada extremamente violenta e incorporar escarificações, mutilações e outros sacrifícios que supostamente demonstram a devoção. Para vários povos que tiveram contato com a crença, o Ombatse equivale a feitiçaria, com rituais sangrentos envolvendo magia negra.
Os membros da seita são acusados de incitar a violência em Lafia, maior cidade da região e de conduzir ataques em diversos vilarejos. No mais grave em 2010, uma igreja foi destruída em um incêndio criminoso que vitimou 12 pessoas que estavam em seu interior. Um sacerdote muçulmano também desapareceu em um povoado próximo, ele teria sido sequestrado por seguidores da Ombatse e executado em um ritual no templo. É muito difícil deter os culpados pois as testemunhas, temendo represálias não se apresentam para acusá-los formalmente.
"Há um regime de medo na região imposto pelo Ombatse" reconheceu Akeremale, "as pessoas temem que poderão ser sacrificadas se falarem contra o culto".
Na atual conjuntura, eles não estão totalmente errados. Em março desse ano, uma professora que testemunhou contra a ação de membros da Ombatse, que haviam destruído a escola onde ela dava aulas, desapareceu depois de prestar queixa. Segundo os rumores, a mulher foi sequestrada e levada até o templo onde foi morta em uma "Cerimônia Ju-Ju".
O "Ju-Ju", a magia negra africana, é praticada pelos Ombatse como forma de coerção e para aterrorizar seus inimigos. Segundo o folclore, pessoas sacrificadas em um desses rituais se tornam escravos no mundo espiritual pela eternidade. Nesse crime, ninguém foi preso ou processado.
"As pessoas na região estão assustadas com a escalada de violência do culto. No início eles apenas intimidavam e se reuniam na frente de igrejas e mesquitas a fim de coagir os fiéis. Mas agora a coisa está muito pior" comentou Sani Musa Mairiga, da AFP News, rádio afiliada da BBC. "Os membros do Ombatse sempre foram agressivos, mas desde que adquiriram armas estão se preparando para promover uma limpeza étnica de tudo o que consideram errado".
Um contingente militar foi enviado para Lafia para manter a ordem na cidade, mas estes tem ordens de não se aproximar do templo Ombatse até que sejam realizadas negociações com os chefes do culto.
"Nós encontraremos os responsáveis por essa chacina" disse Akeremale que afirmou que a emboscada Ombatse resultou na morte de 23 policiais, pelo menos 10 ficaram feridos e oito veículos foram incendiados na ação.
Ombatse significa no dialeto Eggon "o momento está chegando".
* * *
Não sei quanto a vocês, caros leitores, mas esse artigo me lembrou muito o conto "The Call of Cthulhu" pelo menos a parte sobre a batida policial nos pântanos de Nova Orleans, quando os policiais se deparam com um culto apocalíptico e selvagem disposto a realizar sacrifícios para seus "deuses obscuros".
Além de ser um Culto nos mesmos moldes do conto, praticante de "feitiçaria" e "magia negra", esses Ombatse esperam pelo "retorno de espíritos" e se identificam com a frase "o momento está chegando".
Basta trocar os espíritos por "Grandes Antigos" e "o tempo está chegando", por "quando as estrelas estiverem alinhadas" e pronto, todo esse horror se encaixa perfeitamente em uma perspectiva lovecraftiana.
Por vezes, a ficção por mais inacreditável que seja, lança as bases para uma investigação do mundo real.
Quem poderia dizer que em pleno século XXI milícias fundamentalistas dessa natureza ainda estariam agindo por aí, planejando e conspirando a destruição de seus inimigos.
Em alguns cantos do planeta, parece que estamos sendo arrastados para uma nova e temível Idade das Trevas e nem é preciso que as forças do Mythos existam para isso...
P.S. - Eu sei pessoal que algumas dessas imagens foram retiradas do video-game Resident Evil 5, mas convenhamos, a notícia não lembra, ao menos em parte a crise no jogo?
Achou interessante? leia também:
Feitiçaria sul-africana
Misteriosa Doença na África
Algo Cthulhiano no Zimbabue
Secrets of Kenya
P.S. - Eu sei pessoal que algumas dessas imagens foram retiradas do video-game Resident Evil 5, mas convenhamos, a notícia não lembra, ao menos em parte a crise no jogo?
Achou interessante? leia também:
Feitiçaria sul-africana
Misteriosa Doença na África
Algo Cthulhiano no Zimbabue
Secrets of Kenya
A realidade é mais terrível que a ficção! Um pelo empurrão inicial para um cenário na África.
ResponderExcluir