quarta-feira, 1 de maio de 2013

Noites Alucinantes - Falando um pouco de Evil Dead e do legítimo horror dos anos 80


Dando um tempinho nos horrores Lovecraftianos para falar de outros horrores, esta deveria ser uma resenha do remake de Uma Noite Alucinante (Evil Dead), mas virou algo um pouco diferente.


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Por onde começar uma resenha sobre o filme "A Morte do Demônio"?

Bem, como diria o esquartejador, vamos por partes...

Antes de mais nada: se me permitem, vou chamar o filme pelo título original "EVIL DEAD". Não é purismo besta ou anglofilia (a tradução está corretíssima e é muito melhor que "Uma Noite Alucinante"), mas é que eu cresci chamado o filme de EVIL DEAD. E chamar ele pelo título atual parece simplesmente errado.  

Segundo ponto: antes de abordar diretamente o novo Evil Dead, essa resenha merece uma pequena introdução.

Eu já escrevi várias resenhas aqui no Mundo Tentacular, e muitas vezes mencionei minha devoção aos filmes de horror/ terror dos anos 80 e começo dos 90. Quando eu digo que cresci assistindo filmes de Horror não estou exagerando. Aqueles que, assim como eu, estão na casa dos 30 e vários (tiozinho é a PQP!), e que portanto foram adolescentes nos inesquecíveis anos 80 (repito, tiozinho é o teu pai!) sabem do que estou falando: foi uma época dourada para os fãs de filmes de horror.

Haviam muitos filmes que marcaram época. Nem todos eles GRANDES filmes (é bem verdade!), mas muitos deles acabavam caindo nas graças da molecada. Sexta Feira 13, A Hora do Pesadelo, O Massacre da Serra Elétrica, Re-Animator, Amytiville, Grito de Horror, Brinquedo Assassino, O Enigma do Outro Mundo, Hellraiser e vários outros menos cotados... todos são dessa mesma época. 

Quem lembra desse bonitão?
Foi a década que definiu o gosto pelo sangue sem pudores, quando o pessoal torcia pelos monstros gosmentos e pelos assassinos em série, para que eles aniquilassem os estudantes salientes de Cristal Lake ou chacinassem os jovens sonhadores da Elm Street. Em comum, havia o baixo orçamento, a elevada taxa de óbitos e as reclamações dos pais que não entendiam porque a gente passava horas assistindo aquela festa de sangue e  vísceras espirrar na tela da TV. 

Naquela época existiam revistas especializadas em horror, quem lembra da "Fangoria" e da "Splatter!", ou das edições da extinta Set que tinha os especiais Horror e Ficção? Elas traziam comentários sobre futuros lançamentos de filmes e deixavam a gente ansioso para assistir as novidades. E nas locadoras, era sempre uma disputa danada reservar os filmes (na maioria das vezes havia UMA única fita) e conseguir ver antes dos outros. Contar vantagem e explicar porque a sexta parte de Sexta Feira 13, era a melhor de todas. Putz, por algum tempo eu tive um poster de Fred Kruger no meu armário e me orgulhava de uma máscara de Jason que uma tia trouxe de presente dos EUA. Minha avó tinha um periquito que eu batizei de Pinhead, sem que ela jamais entendesse porque. E até hoje eu tenho uma Configuração dos Lamentos adornando a minha estante de livros.

Como eu disse, essa foi a época de ouro do horror e deixou marcas.

O roteiro dos filmes era repetitivo e a fórmula explorada exaustivamente. Um grupo de estudantes com aparência de comercial de pasta de dentes ia para algum lugar isolado, sobre o qual pesa uma maldição ou acaba se metendo com forças sinistras que invariavelmente elimina um a um dos personagens. E sempre de forma sanguinolenta, apelativa e cruel (isso se o filme fosse bom!).

Ou desse?
Mas é claro, a fórmula não iria durar para sempre! Chegou um momento que ela começou a dar mostras de desgaste, afinal não havia mais maneiras inovadoras de mostrar Jason decapitando ou Fred Kruger fatiando suas vítimas com sua luva de metal. Com o tempo, o horror foi se adaptando a outras tendências e buscando novos espaços e franquias. Tivemos a época dos filmes de mutantes medonhos (A Mosca, Criação Monstruosa), a hype dos Filmes de Horror/Comédia (A Hora do Espanto), as brincadeiras espertas com serial killers (Pânico), a invasão do horror oriental (O Grito, Ringu) e os slasher movies com doses cavalares de tortura, sofrimento e dor (que ainda estão rendendo continuações como Jogos Mortais e Cabin Fever).

Mas mesmo com a mudança de tendência e um novo público, o horror ficou tão marcado pelos anos 1980 que a maioria das franquias acabaram sendo trazidos de volta. Em alguns casos o resultado foi decente, mas em outros tantos - na verdade, na maioria esmagadora, algo parece ter se perdido no caminho. Pegue remakes recentes, como por exemplo, "A Hora do Pesadelo", "The Last House on the Left" ou "Halloween" e você percebe como esses filmes soam bobos diante dos originais. Como falta carisma e substância a eles, empolgação, vigor...

O que ocorre em geral é que os novos filmes se rendem a fórmula de ser um tributo ao original. Há um respeito desmedido e uma busca por calçar os sapatos do anterior, mesmo que o tamanho e o formato seja outro. No final das contas o remake não consegue se sustentar e falha miseravelmente tanto na proposta de homenagear, quanto no ideal de se reinventar. Não é à toa que a maior parte dos remakes de horror, baseados nas produções dos anos 80, não agradaram ou sequer tiveram retorno financeiro que justificasse apostar em continuações. Quem assistiu o novo Sexta Feira 13, não tem o menor interesse em ver esse Jason, o mesmo valendo para a última encarnação do fraquinho "A Hora do Espanto" ou a insossa nova versão de "A Hora do Pesadelo".

Talvez esse seja um aviso: "Certos filmes não devem ser refilmados". 

Talvez os tempos sejam outros, o politicamente correto quem sabe venceu ou ainda, o público atual considera esses clássicos "velharia". Não sei qual a razão, mas acho que o terror nos últimos tempos perdeu a capacidade de fazer o que deve: de impressionar ou meramente causar desconforto no espectador. Isso talvez explique por que muitos dos filmes atuais recorrem a cenas cada vez mais gráficas de tortura, como se esse fosse o recurso final, o último fôlego para garantir a atenção de uma platéia cada vez mais insensível. 

Mas porque toda essa introdução?

Bom, é simples... Dos filmes que marcaram o gênero Horror na década de 1980, EVIL DEAD talvez seja um dos mais cultuados pelos fãs do gênero.

O poster original do primeiro Evil Dead
O primeiro Evil Dead é de 1981 e era bem artesanal em seu pioneirismo, a parada era meio tosca mesmo por falta de verba e poucos recursos técnicos. Ouso dizer que era isso que garantia o interesse na parada. A tosqueira, os baldes de sangue e os efeitos pré-históricos em stop-motion. Se não estou enganado, o primeiro Evil Dead sequer chegou a sair nos cinemas daqui. Mas vou contar uma estória que talvez mostre o impacto que Evil Dead II (lançado em 1987) teve em quem viveu essa época.

Quando o filme estava para ser lançado no cinema, foi feita uma propaganda em horário nobre, durante o intervalo do Jornal Nacional. Eu assisti o anúncio, que durava, no máximo uns 10 segundos e surtei. Imediatamente sai correndo para telefonar e falar com um amigo do colégio. É claro, estava ocupado, pois ele já estava ligando para algum outro colega, que por sua vez estava ligando para outro e assim por diante... sem internet, a divulgação dos filmes era no boca a boca e a coisa corria rápido.

Eu nunca mais vi essa propaganda, mas acreditem ou não, eu lembro dela até hoje!

EVIL DEAD 2 - Dead by Dawn, que recebeu o absurdo título "Uma Noite Alucinante" foi um acontecimento. Mas é claro, não pude assistir o filme no cinema. Lembro que até tentei, junto com uns colegas tão birutas quanto eu, mas com 12 anos fui barrado na porta do Cine Bruni Copacabana. O único filme em que não pude entrar até hoje! (e olha que no mesmo ano eu vi Hellraiser no Cine Jóia!)

Mas nem tudo estava perdido! Alguns dias depois da tentativa fracassada, um colega apareceu com uma fita pirata do filme que (sabe lá Deus como) se materializou do nada em suas mãos. Supostamente era uma filmagem já de outra fita e ele comprou uma cópia. A qualidade era tétrica! Sem legendas e com a cor sumindo em alguns momentos. Mas não importava! Era EVIL DEAD!

E Evil Dead era tudo o que a gente esperava! Não sei dizer, mas acredito que a expectativa e o caráter absurdo, totalmente clandestino de como conseguimos a tal fita catapultou o filme imediatamente para a minha lista de prediletos. Curiosamente apenas um ano depois, descobri que aquele filme que assistimos como sendo "Evil Dead 2", era na verdade o "Evil Dead" original.

Groovy Ash

Mas chega de falar de antigamente.

Diante de tudo que escrevi, vocês podem imaginar o quanto eu estava ansioso por esse remake, e o quão preocupado me encontrava. Tá bom, "ansioso" e "preocupado" são um GRANDE EXAGERO. Para ser sincero, nos últimos anos, EVIL DEAD perdeu um bocado de seu brilho (faz tempo que não é um dos meus filmes prediletos e nem lembro quando o assisti pela última vez). Mas caramba, ele continua sendo uma lembrança querida da minha infância-adolescência. E é claro, eu queria, torcia para que esse remake, mais do que qualquer outro, desse certo.

E foi com um misto de nostalgia e descrença que dei um jeito de escapar mais cedo do escritório para assistir "A Morte do Demônio" (2013) no cinema de um shopping em plena segunda-feira. Francamente, era quase necessário haver certa clandestinidade para marcar a ocasião. Nem que fosse em nome dos velhos tempos...

E o que eu achei?

Digamos que essa resenha vai ficar muuuuuuito extensa se eu começar a escrever sobre o filme nesse momento, portanto, as impressões virão na continuação desse artigo. Para quem está curioso, fique conosco...

3 comentários:

  1. Bom eu imagino o que vem por ai pelas impressões que tive quando fui assistir no domingo passado... Assim como tu, eu fui marcado pelo filme, não tinha idade nem para pensar nele quando foi lançado, mas ele foi uma das coisas que me motivou a trabalhar na área que trabalho e cara, tenho que dizer, o que salvou meu domingo foi ir ver homem de ferro 3 e mesmo assim, mesmo assim, durante a exibição de Tony Stark e suas armaduras, ainda me via pensando se esse filme, que não chamo de remake, tenha que ser minha maior decepção no cinema...

    Mal posso esperar para ler a resenha

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  2. Damn it!!! Estava esperando as impressões do filme, agora vou ter que voltar aqui, rss... Eu vi o remake e a galera no cinema ficou angustiada nas cenas de suspense e riram bastante tb! Eu prefiro o original que sempre me prendia nas noite em que era exibido na Band, cult é apelido. Pena que não continuaram com o Ash. Ah, vcs viram a cena pós crédito?

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  3. Cara, esse foi um post/introdução muito fera, pude recordar de impressões que tive sobre filmes de terror quando era moleque! Excelente! Parabéns pelo texto.

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