Olá pessoal,
Como prometido aqui está a entrevista com Pedro Ziviani da recém-chegada Editora Terra Incónita, que planeja o lançamento do Livro Básico de "O Chamado de Cthulhu" no Brasil.
Ele fala um pouco de sua experiência como jogador, mestre e autor de livros, de como foi obter a licença com a Chaosium, de Call of Cthulhu, do Financiamento Coletivo e dos planos da Terra Incógnita no Brasil.
É claro, está um pouco cedo para algumas informações, mas a medida que elas forem sendo divulgadas, vocês poderão ler aqui no Mundo Tentacular.
Foto enviada pelo entrevistado ao lado de Charlie Krank presidente da Chaosium Inc. |
1 - Pedro, antes de mais nada, parabéns pela iniciativa, obrigado pela entrevista
e por finalmente trazer o Chamado de Cthulhu para o Brasil. Você imagina como
essa notícia alegrou os jogadores brasileiros?
Obrigado por este espaço no seu fenomenal blog! Venho acompanhando o Mundo
Tentacular já há muito tempo. Nós, da Terra Incógnita, somos grandes fãs de Call
of Cthulhu, e é uma honra podermos trazer o jogo ao Brasil. Estamos muito
satisfeitos com a reação inicial de interesse dos jogadores ao anúncio, e
estamos entusiasmados para construir uma grande comunidade de jogadores em torno
de Chamado de Cthulhu.
2 - Como foi a negociação com a Chaosium para conseguir a licença
necessária para a publicação do Livro Básico aqui no Brasil? Foi muito difícil
obter essa permissão?
Já por vários anos venho conversando com a Chaosium sobre adquirir a
licença para publicação do Call of Cthulhu no Brasil, mas a licença não estava
disponível. Quando surgiu a oportunidade de negociar a licença, a Chaosium já
sabia que eu estava esperando, pronto para assinar o contrato. A negociação em
si não foi difícil, mesmo porque eu já vinha trabalhado para Chaosium antes como
escritor freelancer, e assim tenho um bom relacionamento com os diretores da
editora. Na minha experiência, é sempre um prazer lidar com o pessoal da
Chaosium.
3 - O Livro Básico de Chamado de Cthulhu tem um status quase mítico entre
os jogadores brasileiros. É um RPG que muitos ouviram falar, mas poucos tiveram
a chance de conhecer a fundo e menos ainda de jogar. Além disso, há rumores
sobre a sua publicação no Brasil há pelo menos 15 anos. Na sua opinião qual a
razão do interesse que ele desperta?
Quando Call of Cthulhu foi publicado em 1981, ele era não só um jogo
inovador pela sua temática de horror, mas também revolucionário quanto à
experiência oferecida ao jogador. A grande sacada do Call of Cthulhu é a
experiência de se jogar com um personagem que é uma pessoa comum, e assim muito
mais próximo ao próprio jogador do que o grande herói de outros RPGs, e em se
lidar com a questão fundamental "O que você está disposto à sacrificar para
fazer o que precisa ser feito?". Ainda, o universo criado por H. P. Lovecraft é
único e cheio de fascinantes histórias, lugares e entidades; perfeito para
aqueles dentre nós que curtem histórias de terror e mistérios.
4 - Chamado de Cthulhu possui um sistema (o BRP) que mudou muito pouco
desde o seu lançamento há mais de 30 anos. Na sua opinião, qual é o segredo do
sucesso dele?
O segredo do sucesso do sistema BRP é a sua simplicidade, que faz com que
ele seja muito fácil de se aprender e ainda muito rápido em jogo. A base
percentual do sistema é brilhante em sua clareza; não existe maneira mais fácil
de explicar para alguém quais são as suas chances de sucesso em determina ação
do que expressá-las em percentagem. Também, as habilidade são auto-explicativas,
e assim nunca é necessário parar o jogo para se consultar o significado de uma
delas. Essas características fazem com que o sistema seja muito fácil para
introduzir à iniciantes, e que "desapareça" durante o jogo e não atrapalhe a
narrativa que o grupo está construindo. Também, BRP é um sistema modular e muito
fácil de se modificar, remover partes que você não gosta, incluir novas regras,
sem quebrar o sistema.
5 - O que o sistema/ambientação de Chamado de Cthulhu tem a oferecer ao
jogador brasileiro?
Eu acredito que Chamado de Cthulhu tem à oferecer ao jogador brasileiro uma
nova opção de RPG de horror que funciona muito bem tanto para histórias curtas
de uma sessão apenas, quanto para longas campanhas que duram anos com os mesmos
personagens, e regras muito fáceis de aprender.
Chamado de Cthulhu, na minha opinião, é o jogo ideal para introduzir novos
jogadores ao hobby. Sua ambientação, que assume que o personagem do jogador é
ignorante das grandes verdades do universo, significa que não necessário que os
jogadores aprendam sobre o universo do jogo de antemão. O sistema de regras pode
ser explicado em poucos minutos, e personagens criados em dez minutos ou menos.
E todo mundo gosta de uma boa história de mistério!
6 - Call of Cthulhu é publicado em vários idiomas, algumas edições são bem
diferentes da original feita pela Chaosium. Em relação ao Livro Básico americano
haverá mudanças no texto, na arte (interna e capa) ou no layout/diagramação?
Você pode adiantar algumas informações sobre como deve ficara edição brasileira
(cor, tipo de papel, capa etc.)?
Teremos capa e arte interna totalmente novas. O livro terá interior em
preto e branco, e usará elementos de diagramação que remetem ao período clássico
da década de 1920. Revelaremos mais detalhes e previews da diagramação e arte ao
decorrer do trabalho de produção do livro.
7 - Muitos mestres já possuem o Call of Cthulhu Core Gamebook em inglês,
qual seria a vantagem para um Guardião veterano ter também o Chamado de Cthulhu
em português?
Estamos nos esforçando para produzir um livro de alta qualidade, e que até
mesmo Guardiões veteranos vão querer ter para se inspirar com a nova arte e
outros elementos gráficos. Ainda, ter o livro em português, com a ficha de
personagem e termos de regras em português, faz com que seja mais fácil trazer
novos jogadores ao grupo que talvez não dominem tão bem a língua inglesa.
8 - Uma questão que sempre deixa os leitores apreensivos envolve a tradução
do material original. Como ela está sendo feita e quem são os responsáveis? Como
está indo essa parte?
Realmente, H. P. Lovecraft é conhecido por sua linguagem peculiar, e pelo
uso de palavras antiquadas e incomuns, que podem ser difíceis de traduzir. Nós
da Terra Incógnita estamos tomando todo o cuidado possível com a tradução,
conferindo quando possível as traduções já feitas no Brasil, e também o uso dos
termos que já foi estabelecido dentro da comunidade de jogadores brasileiros de
Call of Cthulhu.
9 - Porque vocês optaram pelo lançamento da Sexta Edição de Call of Cthulhu, quando a Chaosium já acenou com uma possível Sétima Edição?
A Chaosium ainda não anunciou oficialmente a sétima edição. Apenas depois da publicação em inglês, que ainda não é certo quando será, ela estará disponível para as editoras licenciadas. E como a sétima será bem diferente das anteriores, eu acho interessante publicar a sexta que é compatível com os mais de cem suplementos que de CoC que já foram publicados.
9 - Porque vocês optaram pelo lançamento da Sexta Edição de Call of Cthulhu, quando a Chaosium já acenou com uma possível Sétima Edição?
A Chaosium ainda não anunciou oficialmente a sétima edição. Apenas depois da publicação em inglês, que ainda não é certo quando será, ela estará disponível para as editoras licenciadas. E como a sétima será bem diferente das anteriores, eu acho interessante publicar a sexta que é compatível com os mais de cem suplementos que de CoC que já foram publicados.
10 - A Terra Incónita optou por um Financiamento Coletivo. O que pode ser
adiantado a respeito de datas, da campanha e do cronograma se ele for um
sucesso?
Ainda não temos data definida para o financiamento coletivo. Faremos um
anúncio em breve à esse respeito.
11 - Também no que diz respeito ao Financiamento Coletivo, o que vocês
pensam oferecer como "add ons" e recompensas para as metas a medida que elas
forem atingidas?
Estamos planejando vários add-ons para a campanha, que ainda não podemos
divulgar. Também, gostaríamos de saber a opinião dos fãs sobre o que eles querem
ver como recompensas e add-ons na campanha de financiamento.
12 - Uma pergunta central diz respeito ao custo. Vocês já tem alguma
projeção de quanto irá custar o livro?
A nossa intenção é produzir um livro seja o mais acessível possível,
enquanto não comprometendo a qualidade que acreditamos que Chamado de Cthulhu
merece em sua edição brasileira. Anunciaremos o preço junto com a data de
financiamento assim que possível.
13 - A Terra Incógnita pretende publicar outros livros do selo Call of
Cthulhu no Brasil? A licença obtida cobre também outros livros/suplementos
publicados lá fora?
A nossa licença com a Chaosium cobre toda a linha de suplementos de Call of
Cthulhu publicada no mercado americano. Temos planos para trazer ao Brasil
vários dos melhores suplementos e campanhas, e também para publicar suplementos
originais escritos por autores brasileiros.
14 - A Terra Incógnita pretende explorar apenas Chamado de Cthulhu ou
existe a possibilidade de publicar outros jogos/sistemas? Não me refiro apenas
aos norte-americanos, mas sistemas europeus, ainda pouco conhecidos no Brasil,
estão nos seus planos?
No momento estamos focados em publicar o Chamado de Cthulhu e seus
suplementos, mas há sim a possibilidade de publicarmos no futuro outros RPGs
americanos e Europeus, assim como RPGs originais.
15 - A Terra Incógnita pode fazer lançamentos/ publicações de material
original para Chamado de Cthulhu? Se sim, está nos seus planos utilizar autores
e artistas brasileiros para livros 100% originais?
Já estamos planejando sim lançar suplementos para Chamado de Cthulhu
escritos por autores brasileiros. Esperamos fazer um anúncio e tanto nesse
sentido em breve.
16 - Pedro, gostaria que você se apresentasse e aos seus colegas da Editora.
Terra Incógnita são três amigos de longa data, e veteranos jogadores de RPG
de mais de duas décadas cada um.
Eu me encontro no momento morando próximo ao polo norte, em um lugar gelado
chamado Hafnarfjörður, cercado por elfos e trolls. Estudei História na Uni-BH,
em Belo Horizonte, e no momento estou cursando Estudos Folclóricos na
Universidade da Islândia. Quando eu não estou trabalhando com a produção do
Chamado de Cthulhu, ou escrevendo para a Chaosium, ou praticando arco e flecha,
trabalho com telecomunicações. Sou autor do Mythic Iceland, um cenário para o
sistema BRP sobre a Islândia na era da Sagas Vikings, publicado pela
Chaosium.
Kairam Hamdan, além de ser dono da maior coleção de RPG já vista em terras
tupiniquins, é professor de Filosofia na PUC/BH e está fazendo, na UFMG, seu
doutorado em algo que nenhuma mente sã consegue entender exatamente. Coleciona
livros, revistas e gibis a mais de trinta anos.
Mauro Lúcio é formado em história pela PUC/BH. Quando não está trabalhando,
passa a maior parte do tempo disseminando o caos e anarquia nas mesas de RPG.
Sua fama com os dados é legendária e levou à completa destruição vários grupos.
Além disso, é um entusiasta de H. P. Lovecraft e Edgar Alan Poe.
17 - Alguns dizem que o Mercado Nacional de RPG está em crise. O que você pensa a respeito dos riscos de mergulhar nessa atividade e quais seus objetivos para a Terra Incógnita?
Eu não acredito que o mercado de RPG no Brasil, ou no exterior, esteja em
crise. É verdade que o mercado já foi maior em termos de número de jogadores, e
pode ser que não veremos novamente o número de jogadores que existia vinte ou
quinze anos atrás, mas o que temos agora é uma variedade muito maior de jogos e
um público dedicado ao hobby que ainda é bem grande. Temos confiança de que
ainda existe no mercado espaço para bons jogos, tanto clássicos como Chamado de
Cthulhu, quanto novos jogos originais.
17 +1 - Finalmente, creio que essa é a pergunta mais importante e por isso deixei para o final: A Terra
Incógnita serve ou tem alguma ligação com o Culto de Cthulhu? Vocês pretendem
conquistar as mentes e almas dos leitores brasileiros levando todos a loucura e
obliteração?
Não podemos confirmar ou negar nossa ligação com um culto à Cthulhu ou
outra entidade inominável. Podemos confirmar apenas que pretendemos conquistar o
mundo! Agora tenho que ir, antes que as estrelas saiam de alinhamento para o
ritual de hoje de encantamento do Chamado de Cthulhu. Iä! Iä!
Que venha esse financiamento!!!
ResponderExcluirEstamos acompanhando com avidez as novidades. Acabei de lançar a campanha Masks of Nyarlathotep nos encontros da RPGArautos e poucas horas depois soube do projeto. Tomara que possa incluir o livro em português antes do grupo inteiro morrer!
ResponderExcluirMuito feliz com a notícia sobre o Chamado de Cthulhu e muito animado com as respostas da entrevista.
ResponderExcluirQue tal uns dos add-ons ser justamente uma mega aventura clássica?
Esta é uma ótima notícia!
ResponderExcluirA quem interessar possa, tenho um blog onde posto ocasionalmente algumas histórias curtas de horror, baseadas em passagens bíblicas.
O endereço http://horrorfantastico.blogspot.com.br.
Cara, que venha logo o financiamento, já quero o meu livro em mãos! Minhas sugestões de recompensa no financiamento são: Escudo do Mestre, fichas de personagens prontas, atestado de insanidade do Asilo Arkham, pôster, dado personalizado, etc... Sucesso e não desistam jamais!!!
ResponderExcluirEsperando ansiosamente pelo livro!
ResponderExcluirQue ótimo, espero que saia logo as notícias sobre o financiamento coletivo.
ResponderExcluirEntre as recompensas sugiro o escudo e quaisquer handouts do período citado (década de 1920).
Sou outro que está ansioso por esse lançamento!! Quero aproveitar e elogiar este blog, já o indiquei a amigos!
ResponderExcluirSempre tive muita vontade de conhecer esse jogo,cheguei inclusive a pensar em importá-lo, mas agora essa notícia não poderia ter vindo em melhor hora! Super ansioso pelo financiamento...
ResponderExcluirA melhor notícia "RPGística" do ano!
ResponderExcluirEstava na hora. Grande Noticia.
ResponderExcluirSó recentemente comecei a ler o livro que recebi como apoiador no financiamento. Olha, sem querer desmerecer o trabalho dos caras, até porque fiquei satisfeito com a qualidade do material, do conceito estético e do livro como um todo de modo geral. Mas os responsáveis pela versão brasileira serem jogadores de longa data de CoC, com o projeto sendo "encabeçado" por um cara que até já escreveu pra Chaosium, e ainda assim terem traduzido o texto usando mais de um termo para a mesma palavra (palavras definidas no contexto das regras), tabelas com termos diferentes dos que foram usados na tradução das regras, passagem com tradução que dá sentido diferente do texto original em inglês, que se contradiz em outro ponto do livro... Questões que fui dirimindo através do texto em inglês.
ResponderExcluirTalvez para um jogador já com experiência com as regras de CoC são coisas que podem ter passado batidas ou até mesmo contornadas, mas pra mim que sou novato foi um tanto frustrante.