Alguns mistérios são difíceis de inserir em uma categoria.
Há casos de misteriosas criaturas e aparições onde é impossível discernir se você está olhando para um típico enigma da criptozoologia, para um assombração ou para algo que remete ao fenômeno alienígena, ou então, algo totalmente diferente.
Certamente nesse contexto, encontra-se o curioso incidente ocorrido num recanto afastado, o Monte Bandai, localizado no centro do Japão. Trata-se de um caso no qual a população de um pequeno vilarejo se viu acossada pela presença aterrorizante de uma criatura desconhecida e maligna que permanece até os dias de hoje, não identificada.
Os residentes da região do Monte Bandai, uma área de atividade vulcânica no distrito de Tohoku nos arredores de Fukushima, estão familiarizados com desastres e ocorrências estranhas. A montanha é mais conhecida pela sua erupção em 1888, que deixou 477 mortos, milhares de feridos e desabrigados, um dos mais severos desastres vulcânicos do Japão.
Mas antes dessa tragédia, no final do século XVIII, um incidente pouco conhecido mas não menos assustador ocorreu no Vilarejo de Tohoku, aos pés do monte Bandai. Uma terrível criatura, um monstro como nunca antes visto, apareceu repentinamente e deixou um rastro de morte e caos.
O incidente começou quando aldeões relataram o avistamento de uma estranha criatura espreitando no bosque nos limites do vilarejo. Esse monstro, segundo as testemunhas parecia um grande primata, com uma boca cheia de dentes afiados, garras e pelo comprido avermelhado. Ele era visto geralmente depois do anoitecer, especialmente na alta madrugada, e seus olhos brilhavam refletindo a luz. A besta segundo relatos vagava furtivamente, como se estivesse espionando os moradores e evitava a luz das tochas como se as temesse. A criatura se escondia nas sombras de árvores e arbustos para observar as pessoas, como se estivesse curiosa de suas atividades. O único sinal de sua presença eram os olhos reluzindo na escuridão. Quando percebia que havia sido vista, a coisa rosnava e corria para a floresta, deixando no ar um guincho diabólico.
Com o tempo, os avistamentos foram se tornando cada vez mais frequentes. A coisa parecia estar cada vez mais confiante e ousada.
O monstro não ficava mais satisfeito em observar à distância, ele agora se aproximava do vilarejo. Ruídos guturais e claramente inumanos podiam ser ouvidos à noite, como se um grande animal estivesse próximo. Por vezes uivos medonhos também eram ouvidos na madrugada, um som que fazia os animais domésticos reagir com terror primitivo. Os camponeses estavam tão apavorados que não saiam de suas casas, trancavam as portas e se mantinham vigilantes. Certa noite, uma presença sombria adentrou o vilarejo, andou pelas ruas desertas e antes de partir tentou forçar a porta de uma casa. As pessoas lá dentro gritaram e a coisa fugiu para a floresta. Na manhã seguinte, os camponeses viram rastros de enormes pés inumanos na lama e marcas de garras na porta que a criatura tentou derrubar.
O pânico tomou conta de Tohoku. A ameaça daquele monstro na floresta e o fato dele ter entrado no vilarejo eram a certeza de que não demoraria até ele atacar. Os habitantes decidiram que deveriam enviar um grupo de homens para a cidade mais próxima, com o objetivo de pedir ajuda. Infelizmente, o lugar mais próximo ficava há dois dias de viagem, justamente através da floresta onde o monstro se escondia durante o dia. Apesar do temor, os homens partiram carregando a esperança dos demais habitantes.
Dois dias se passaram, três, quatro... e nenhum sinal do monstro ou dos homens que deveriam trazer ajuda.
No quinto dia, um camponês que havia ido buscar água no riacho próximo ouviu um ruído estranho e ao se voltar, deparou-se com o monstro em pé num tronco. Ele correu para o vilarejo aos gritos e depois de contar o que tinha visto, aceitou retornar acompanhado de um grupo armado com paus e foices. Ao chegar lá, o monstro havia sumido, mas no exato local onde havia sido visto, os camponeses acharam objetos que pertenciam aos homens que haviam partido em busca de ajuda.
Foi então que o pesadelo do pequeno vilarejo realmente teve início.
Nos dias seguintes, o terror se espalhou rapidamente. A criatura - tratada como um monstro, uma assombração ou um demônio maligno, passou a visitar Tohoku regularmente. Mais agressiva e ousada do que antes, como se o cheiro do medo a deixasse mais forte. A coisa não retrocedia mais quando vista, ela rosnava e atirava pedras sempre que encontrava alguém. Os habitantes de Tohoku conseguiam ouvir o monstro do outro lado da porta, respirando pesado, rosnando ou guinchando. Ela também passou a escalar muros e pular em telhados, deixando as pessoas dentro das casas petrificadas de medo.
Homens com tochas ficaram responsáveis por proteger o vilarejo em um esforço para manter o monstro afastado. O plano não surtiu o efeito desejado, pelo contrário. A criatura não foi intimidada, ao invés disso, reagiu furiosa quando os guardas gritaram e agitaram suas tochas diante dela. O monstro avançou contra dois deles, que apavorados abandonaram sua posição para buscar refúgio numa casa. Por pouco não foram alcançados pelo monstro que furioso tentou derrubar a porta, deixando as marcas de suas garras na madeira.
Ninguém mais queria servir de sentinela. O monstro passou então a atacar os animais que não ficavam protegidos - porcos e galinhas desapareciam toda noite. Um fazendeiro e sua família acordaram com uma algazarra vindo do galinheiro nos fundos da propriedade, na manhã seguinte, descobriram que todas as aves haviam desaparecido, restando só penas e manchas de sangue. O desaparecimento de animais continuou ao longo das noites e ao invés de esconder os animais, os fazendeiros agora se contentavam em amarrá-los nos limites do bosque para que o monstro assim se desse por satisfeito e não entrasse no vilarejo.
Numa das ocasiões em que levavam uma cabra para a entrada da vila, como sacrifício, o monstro foi avistado. A criatura perseguiu os camponeses e alcançou um deles saltando sobre as suas costas. Em seguida, o arrastou para a floresta aos gritos. O corpo do homem foi achado na manhã seguinte, estripado e semi-devorado pela besta.
A escalada de horror continuaria ao longo de um mês inteiro.
Numa noite, o monstro conseguiu ganhar acesso a uma das casas; depois de subir no telhado de uma cabana, este cedeu com o seu peso. Uma vez lá dentro, o monstro matou quatro membros de uma mesma família: pai, mãe e duas crianças, escapando em seguida. A violência do ataque foi tamanha que os habitantes de Tohoku, quando se depararam com aquela cena de massacre, sequer cogitaram enterrar os cadáveres, preferindo atear fogo na cabana e nos restos da carnificina.
Segundo a lenda, o pesadelo só terminou quando um grupo de caçadores que passava pela região chegou em Tohoku. Eles haviam ouvido rumores sobre a presença de uma criatura que fora avistada nos arredores de um vilarejo vizinho e se aproximaram para perguntar se eles sabiam de algo. Os camponeses relataram sua horrenda estória e imploraram para os que caçadores matassem a besta sanguinária. Bravamente o grupo se embrenhou na floresta num esforço de encontrar o covil da criatura. Durante a caçada o monstro foi avistado repetidas vezes, se esgueirando e observando o bando. Sempre que eles tentavam acuá-lo, a criatura escapava. Próximo do anoitecer, os caçadores decidiram que era melhor retornar para a vila, do contrário teriam de acampar ao relento.
No caminho de volta, quando já estava escuro, a criatura surgiu diante deles no meio da estrada, avançando furiosa com intenção de matar. Um dos caçadores conseguiu erguer o mosquete e disparar, a bala atingiu a criatura no ventre, mas mesmo assim, ela continuou avançando se atirando sobre o homem que a feriu. Os outros caçadores tinham facas e lanças e começaram a apunhalar o monstro que mesmo ferido continuava lutando. Finalmente depois de causar vários ferimentos com suas garras e presas, o monstro parou de se mexer. Os caçadores para não correr nenhum risco, descarregaram suas armas uma vez mais para ter certeza que ele estava morto.
Os caçadores então arrastaram a carcaça do monstro para o vilarejo a fim de apresentar o resultado de sua caçada aos camponeses. A criatura foi descrita como um tipo de macaco com um metro e meio de altura, que andava curvado, mas que corria de quatro. Seu corpo era coberto de cabelo vermelho e sujo, sua grande boca era cheia de presas. O corpo havia sido horrivelmente mutilado durante o feroz confronto contra os caçadores, a cabeça tinha sido arrebentada por golpes sucessivos de porrete. A coisa não se parecia com nada que os aldeões ou caçadores, já tivessem visto antes ou depois. Ao longo de suas costas haviam tufos de pelos, duros e afiados como os de um porco-espinho. O nariz era comprido e suas patas terminavam em unhas resistentes e afiadas. A carcaça exalava um fedor rançoso, extremamente desagradável. Os aldeões acharam melhor atear fogo no monstro temendo que ele pudesse voltar à vida.
Com isso, os avistamentos, ataques e visitas noturnas cessaram por inteiro.
O caso do monstro de Bandai é um dos mais estranhos e famosos do folclore nipônico, contudo é pouco conhecido fora do Japão. A descrição da criatura não combina com nenhum demônio, fantasma ou monstro mitológico de sua rica cultura.
Com a descrição dada pelas testemunhas e pelos caçadores - supostamente veteranos conhecedores de vários animais, é difícil imaginar que a fera fosse um animal mundano, simplesmente confundido com um monstro. Não existe nada nas florestas do Japão sequer próximo da coisa descrita pelas testemunhas. Não há também qualquer outro relato de avistamento de uma criatura semelhante em parte alguma do país. O incidente em Tohaku parece ter sido único na história do país. O caso é considerado uma lenda nos dias atuais, mas até o século XIX era um tabu falar a respeito dele.
O que teria aterrorizado aquele pequeno vilarejo rural aos pés da montanha? Seria um animal desconhecido de algum tipo? Se sim, de onde ele teria vindo? Será que a fera era uma espécie de urso trazido de terras distantes? Será possível que o vilarejo tenha sido tomado por uma histeria coletiva que fez todos acreditar que algo sobrenatural estava espreitando na floresta?
Infelizmente, considerando que esses eventos se deram em meados de 1780 e que a carcaça da criatura não foi preservada ou examinada, tudo o que se tem da besta de Bandai é um rico relato que vive através dos séculos e que provavelmente permanecerá como um enigma, para sempre.
Lenda muito interessante, deu pra visualizar bem a criatura como algum tipo de Oni bizarro.
ResponderExcluirPela descrição, o que eu achei mais parecido foi o mapinguari, do nosso folclore, e mesmo assim nem é tão semelhante.
ResponderExcluirPela descrição me parece um babuíno extremamente agressivo e anormal.
ResponderExcluircom certeza era um babuíno anormal, uma aberração!
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