segunda-feira, 20 de agosto de 2018

"A Maior Assombração da História Americana" - A Lenda da Bruxa de Bell


O cinema tem explorado a fascinação pelo sobrenatural na construção da América através de produções como "A Bruxa" que ganhou grande fama nos últimos anos. A despeito de imagens assustadoras e do interesse que o filme conseguiu conjurar, algumas vezes, o mundo real é capaz de oferecer coisas ainda mais perturbadoras.

Coisas como a lenda da "Bruxa de Bell"

Essa sinistra figura invisível teria atormentado uma família de pioneiros na fronteira selvagem do Estado do Tennensee entre 1817 e 1821. Diferente de filmes e da maioria das histórias de fantasmas, os incidentes envolvendo a Bruxa de Bell afetaram pessoas de carne e osso, além de um número substancial de testemunhas, observadores e indivíduos que assistiram impressionados o fenômeno estarrecedor. Diversos documentos e manuscritos foram redigidos por essas pessoas, dando testemunho da veracidade dos acontecimentos por mais fantásticos que parecessem. Cidadãos acima de qualquer suspeita afirmavam categoricamente terem experimentado a assombração em pessoa.  Esta diferença marcante, fez com que o respeitado pesquisador do sobrenatural e psiquiatra de renome, Dr. Nandor Fodor, chamasse a lenda da Bruxa de Bell de "A Maior História de Fantasmas americana". 

Vamos falar portanto dessa história fantástica, de um tempo mais simples e puro, quando o trabalho duro e as dificuldades do dia a dia moldavam o caráter e o espírito e quando a família era o bem mais precioso da vida de um homem.

No início de 1800, John Bell se mudou com a família da Carolina do Norte para os arredores do Condado de Robertson, Tennensee. Eles foram pioneiros naquela região agreste que constituíram a comunidade de Red River, nos dias atuais a Cidade de Adams. Bell comprou um terreno e uma grande casa para sua família. Ao longo dos anos seguintes, ele adquiriu mais terra, aumentando sua propriedade para cerca de 328 acres. Com muito esforço a família também limpou o terreno, criou pastos e campos para plantio. A comunidade prosperou junto com os Bell, e o patriarca da Família se tornou um dos membros do Conselho da Cidade e da Igreja Batista local. A Família cresceu, com o nascimento de mais três crianças depois que se mudaram para o Tennensee. Elizabeth (Betsy) nasceu em 1806, Richard em 1811 e Joel em 1813.


Certo dia, em 1817, John Bell estava inspecionando o milharal de que tinha tanto orgulho quando avistou algo estranho se movendo entre as fileiras. Ele ficou chocado com o que viu, uma criatura acocorada e estranha. A cabeça parecia a de uma pessoa, mas com orelhas grandes como as de uma lebre e olhos brilhantes. O corpo escuro se assemelhava ao um grande cão, mas com as patas compridas e finas. A coisa ficou encarando Bell, enquanto o fazendeiro tentava entender do que se tratava. Ele correu para apanhar uma espingarda e atirou. A coisa então fugiu e se embrenhou no milharal onde desapareceu. Bell não pensou mais a respeito do incidente, ao menos até a hora do jantar. Naquele fim de tarde, a família começou a ouvir o som de algo farejando e arranhando as paredes de madeira da casa.      

Os misteriosos sons continuaram, aumentando em frequência e intensidade ao longo da noite. Bell e seus filhos saíam de casa para tentar flagrar o animal que estava produzindo aquele ruído. Mas não encontravam nada! Estranhas marcas foram deixadas na fachada, arranhões produzidos pelas garras de algum animal. As crianças estavam assustadas, ouviam o som do que acreditavam ser um rato muito grande roendo atrás das paredes. Mas não havia nada...

Aquele foi apenas o início!

Noite após noite, algo parecia espreitar à noite. Correndo, arranhando, cheirando e deixando estranhas marcas de pegadas. Os moradores da casa chegavam a ficar de guarda no alpendre, esperando pela coisa, mas não viam nada. A coisa parecia invisível e capaz de atravessar as paredes como um espírito etéreo.


Com o tempo, a Família Bell começou a ouvir outros sons. Sussurros, murmúrios, rosnados e o que pareciam ser os sons de uma mulher rezando muito baixo. Ninguém sabia de onde vinha ou o que estava sendo dito. A mulher de Bell sugeriu que era o som de um hino religioso, a filha dizia que era uma canção de ninar, um dos rapazes achava que era um murmúrio que repetia profanidades. 

Os incidentes continuaram cada vez mais bizarros. A filha mais nova de Bell, Elizabeth começou a experimentar brutais encontros com a entidade. A coisa invisível puxava seus cabelos, arranhava suas costas, a empurrava e até mordia. Em certa ocasião, produziu uma mordida tão forte em sua coxa que deixou as marcas de dentes. Betsy, como era chamada, era o principal alvo da entidade, que em certa ocasião rasgou suas roupas e se insinuou de "maneira imoral".

O fenômeno, que Bell alertou a família, deveria ser mantido em segredo, continuou aumentando e finalmente chegou a um ponto em que os vizinhos tomaram conhecimento. James Johnston, um amigo da família e sua esposa decidiram passar uma noite na casa dos Bell e lá testemunharam os fenômenos apavorantes que vinham incidindo sobre a Família há semanas. Cobertores eram puxados, velas apagavam sem qualquer vento, rosnados eram ouvidos, bem como o ruído de alguma coisa grande andando no telhado ou atrás das paredes. 

Johnston, um homem religioso temente a Deus, apanhou um crucifixo e gritou para a coisa invisível: "Em nome de Nosso Senhor, vá embora! Deixe essas pessoas em paz". Ele sentiu então um tapa violento na face que o jogou no chão. Depois disso, ao menos a coisa parece ter se retirado e o restante da noite passou em relativa tranquilidade.

Mas a assombração sempre retornava. Uma voz parecia surgir em meio aos ruídos e ela começou a ficar cada vez mais discernível. A coisa realmente cantava hinos religiosos, citava as escrituras sagradas, conversava sozinha, repetia as palavras das pessoas com escárnio e xingava. As pessoas que ouviam a voz sentiam um desconforto incontrolável, um medo as dominava, como se aquele ruído os afetasse fisicamente.

Os rumores a respeito desse fenômeno sobrenatural começaram a se espalhar entre as cidades e vilarejos vizinhos, chegando até Nashville, onde o então Major do Exército Andrew Jackson demonstrou grande interesse pelo assunto.

Três dos filhos mais velhos de Bell lutaram sob o comando de Jackson na Batalha de Nova Orleans. Em 1819, Jackson resolveu visitar a fazenda da Família atraído pelas histórias que chegaram até ele. O grupo do Major era formado por vários oficiais e pessoas influentes da sociedade local. O grupo se dirigiu para a propriedade em carruagens, mas quando estas se aproximavam, repentinamente os animais estacaram. Os cavalos não avançavam um centímetro sequer.    


Após muitas tentativas de acalmar os cavalos e puxá-los pelos arreios, Jackson disse: "Nunca vi nada parecido! Deve ser por conta da Bruxa de Bell". Então Jackson disse ter ouvido uma voz feminina sussurrar em seu ouvido que ele poderia seguir em frente. De maneira muito estranha, os cavalos se acalmaram e a carruagem conseguiu seguir em frente e entrar na propriedade. 

A Família recebeu o Major Jackson para o almoço e depois o patriarca se retirou com seus convidados para a sala onde conversaram vários assuntos. Por fim, a história se dirigiu para os acontecimentos sobrenaturais. Um dos homens que acompanhava a comitiva disse ser uma espécie de "domador de bruxas", uma pessoa com experiência em situações inexplicáveis. Jackson pediu autorização do dono da casa para que o homem realizasse uma tentativa de expulsar o mal que existia na casa. Bell concordou com a proposta.

O homem, um dos oficiais  serviço do Major produziu uma pistola brilhante e proclamou que a arma havia sido municiada com balas de prata abençoadas que matariam o espírito se este se manifestasse. O homem também afirmou que o espírito estava tranquilo e não agia desde a chegada deles a propriedade, simplesmente por "temer" a arma letal.

Imediatamente o homem soltou um grito e seu corpo começou a ser sacudido de um lado para o outro por um força invisível. Uma marca grande de mordida surgiu na sua barriga, assim como a forma de um pé nas suas costas, onde ele se queixou d elevar um chute. Furiosa, a entidade se manifestou com murmúrios e xingamentos que aterrorizaram todos os presentes. Ela foi ouvida perfeitamente através de palavras que não pareciam vir de lugar nenhum.

Os homens de Jackson começaram a deixar o lugar, alguns profundamente assustados com o ocorrido. Mas o Major insistiu que deveria ficar e esperar pelo que aconteceria a seguir. Os homens começaram a montar um acampamento na frente da casa, enquanto Jackson e Bell entraram na casa para discutir alguma coisa. Ninguém sabe o que houve então, mas os comandados de Jackson disseram que o Major saiu da casa e ordenou que o acampamento fosse desfeito e que eles se pusessem a caminho de Nashville o quanto antes. Os homens prontamente obedeceram.

Andrew Jackson evitou comentar o ocorrido na fazenda e jamais disse o que transcorreu para que ele decidisse deixar o lugar às pressas contrariando seus planos iniciais. Tudo o que se sabe é que ele teria dito ao se despedir da família:

"Desejo à vocês a melhor das sortes e que Deus interceda por vocês. Estarei rezando por todos".

A assombração continuou atacando a Casa dos Bell nos meses que se seguira, mas com o passar do tempo, os casos foram se tornando mais esparsos. Finalmente Betsy, passou a ser cortejada por Joshua Gardner, um jovem rapaz que vivia nas proximidades. Com a benção de seus parentes, o casal pretendia se casar. Todos estavam felizes com o enlace matrimonial, ou quase... Por razões desconhecidas, a entidade, começou uma campanha para que Betsy não casasse com Joshua Gardner.


Sempre que Gardner ia até a propriedade dos Bell para visitar sua noiva, algo inusitado acontecia. Em uma ocasião um grito de gelar o sangue se fez ouvir quando ele colocou os pés na casa. Em outra, o rapaz sentiu um empurrão e foi atirado para a frente caindo no chão da sala. As perturbações pareciam ser mais frequentes quando Joshua estava próximo e isso se tornou um desafio ao relacionamento. Na Páscoa de 1821, o casal decidiu caminhar pelo campo, e quando retornaram à propriedade descobriram que um galpão havia se incendiado sem razão aparente. Assustado com a perspectiva de viver na casa, o rapaz decidiu romper o noivado.

Nas semanas seguintes, a assombração se acalmou. Mas pouco depois ela voltou a atacar com força total. John Bell foi a vítima dessa vez, sendo mordido na face. Depois disso ele passou a se queixar de não conseguir engolir comida sólida e de sentir a garganta se fechando. No outono de 1820, seu estado de saúde já estava debilitado e ele se viu obrigado a ficar de cama. Em uma noite, o fantasma se aproximou e sussurrou em seu ouvido: "Velho Jack Bell", você estará morto antes do ano novo.

John Bell respirou seu último suspiro em 20 de dezembro de 1820, depois de cair em um estado de coma um dia antes. Pouco depois de sua morte, um de seus filhos descobriu um pequeno frasco de vidro contendo uma substância desconhecida. O filho mais velho, colocou uma gota no dedo e forçou o gato da família a experimentar. O animal morreu imediatamente.

Naquela mesma madrugada, enquanto o funeral do patriarca dos Bell era realizado, uma voz sussurrante teria dito em um tom sarcástico: "Jack Bell agora está aqui comigo! Ele ficará comigo para sempre! Ele manda lembranças para seus filhos e chora pelo seu destino".

O frasco foi destruído na lareira da casa, e a família que viu a cena, disse que quando o frasco foi atirado no fogo produziu um clarão e depois uma fumaça azulada que subiu pela chaminé iluminando a noite.   


O enterro de John Bell foi um dos maiores do Condado de Robertson. Família e amigos o conduziram até o cemitério. No trajeto, a carruagem que carregava o caixão perdeu o controle e correu livremente atropelando cinco pessoas que se machucaram. Na casa, exatamente no mesmo momento, criados disseram ter ouvido uma risada medonha. Ainda, durante o enterro, em dado momento fez-se um silêncio e então o ministro afirmou ter sentido um mau estar súbito que o obrigou a fazer uma pausa para não desmaiar.

Com a morte de John Bell, os ataques da entidade maligna se tornaram menos frequentes. Ao que parece, o alvo principal era o patriarca e com sua morte ela deixou a família descansar um pouco. Até mesmo a lápide de Bell no cemitério local amanheceu certo dia quebrada de lado a lado.

Em abril de 1821, a entidade visitou a viúva de John Bell, Lucy, e disse que voltaria dentro de sete anos. A assombração então desapareceu, voltando em 1828. como prometido. A maior parte de suas visitas se concentravam então em John Bell Jr, o filho mais velho que sucedeu ao pai na administração dos negócios da fazenda. A coisa teria dito, certa noite que uma Guerra muito sangrenta estava se aproximando e que muitos dos filhos de John Bell morreriam antes do final desse conflito. A Guerra Civil americana aconteceria poucos anos depois conforme previsto e alguns filhos de Bell realmente morreriam em decorrência da luta entre a União e Confederados.

A entidade desapareceu, prometendo que retornaria a visitar os descendentes dos Bell depois de 107 anos. O ano seria 1935, e o membro mais próximo era o Dr. Charles Bailey Bell que vivia em Nashville. A família havia se mudado para a cidade e a fazenda foi vendida na virada do século XX. O Dr. Bell, por sinal era um conhecedor da lenda de sua família e chegou a escrever um livro a respeito do ocorrido, que foi publicado em 1934. Ele faleceu em 1945.

A Misteriosa Entidade atormentou a Família Bell por quase 200 anos. Ela foi culpada por vários acontecimentos estranhos na propriedade, mesmo depois que ela passou dos Bell para outros proprietários que arrendaram o terreno e colocaram a fazenda abaixo. Ruídos guturais, sussurros, hinos religiosos e luzes bizarras eram algo que acontecia no lugar com frequência alarmante.

Em uma ocasião, um trabalhador da fazenda teria ouvido uma pessoa chamando para dentro do milharal. Ao entrar, o homem simplesmente desapareceu e nunca foi encontrado. Tratores e máquinas usadas para a colheita décadas mais tarde teimavam em falhar e se desligar como que por encanto. Fotografias tiradas nos arredores da fazenda também resultam muitas vezes em imagens desfocadas, algumas fotos aparecem com estranhas bolas luminosas, nevoeiro e figuras estranhas que não estavam lá quando as fotos foram tiradas. Além disso, em pelo menos cinco ocasiões, silos de estocagem de grãos e depósitos se incendiaram sem qualquer explicação. 


Há uma longa e dramática lista de ocorrências inexplicáveis na Fazenda, fenômenos registrados desde os anos 1900 através de fotos, filmagens e captação de som. O que causa essa manifestação sobrenatural permanece desconhecido, mas não faltam testemunhas para mencionar algo horrível e estranho ocorrendo nos arredores da propriedade rural. O mistério permanece depois de 200 anos. 

Muitas teorias tentam explicar as razões para essa maldição. Alguns acreditam que a bizarra criatura vista por Bell no milharal era uma espécie de animal familiar de uma bruxa que habitava a região e que ao alvejar o animal que se arrastou para o milharal para morrer, Bell acabou ferindo mortalmente também a feiticeira - já que esses animais tem ligação com seus mestres. O fantasma da feiticeira então teria prometido atormentar a Família Bell como vingança.

Outra teoria afirma que uma bruxa realmente vivia nas proximidades da Fazenda dos Bell e que ela teria sido advertida a deixar o lugar pelo novo dono. A bruxa teria usado uma forma não-humana para espionar seus novos vizinhos. Foi quando o tiro disparo por Bell a feriu e terminou por matá-la. Do além túmulo, a feiticeira lançou uma maldição prometendo continuar a atormentar os Bell para todo o sempre.

Uma outra explicação dá conta de que uma das principais vítimas da "bruxa" poderia ser também a responsável pelos incidentes. Há um ramo da Parapsicologia que afirma serem os alegados fantasmas e assombrações, uma energia psíquica desencadeada por pessoas especialmente sensitivas. Nesse caso, Elizabeth Bell poderia ser a causadora das manifestações, externando sem querer, suas aflições e medos através de poderes psíquicos que ela sequer sabia ter. Uma vez que muitos dos incidentes aconteciam enquanto ela estava próxima, Betsy poderia ter algum envolvimento direto no ocorrido sem jamais ter sabido.


A maioria das pessoas que escreveu a respeito da Bruxa de Bell disse que a Propriedade enquanto existiu, causava uma sensação inquietante de medo e desconforto. Muitos simplesmente desmaiavam ao passar diante do portão ou sentiam as energias malignas da Bruxa à distância. A casa foi destruída em 1901 e nada restou da fazenda. 

Hoje o lugar é uma propriedade rural, usada para a agricultura. Os únicos que vivem lá são os zeladores, responsáveis por vigiar silos e máquinas.

A Maldição da Bruxa de Bell entrou para os anais da história americana como um dos incidentes paranormais mais documentados e comentados de todos os tempos. Para muitos, ele é a prova de que quando o mundo sobrenatural decide incidir sobre o Mundo Material, consequências terríveis podem ser desencadeadas.

Em tempo: As imagens desse artigo foram feitas no século XIX e publicadas em jornais e semanários que cobriram os incidentes na Fazenda Bell. Algumas delas são especialmente sinistras e soturnas, deixando claro como o tema era, ao mesmo tempo, fascinante e aterrorizante.

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