Feitiçaria é algo muito antigo e parece presente em todas culturas, desde a aurora dos tempos. O uso de feitiços sempre foi considerado pela maioria dos povos como uma prática condenável na qual magia negra era empregada para atingir objetivos e garantir benefícios indevidos. Seus praticantes eram vistos com reserva, tratados com desconfiança e afastados do convívio da sociedade.
Nas culturas hispânicas, feitiçaria é comumente conhecida como "Brujeria". Seus praticantes eram chamados de "brujas" quando mulheres e "brujos" se fossem homens. Em muitas nações, os praticantes de brujeria eram descritos como indivíduos diabólicos com vastos poderes sobrenaturais e que gozavam da proteção de demônios, espíritos e entidades. Eram pessoas temidas, sobretudo em tempos em que superstições eram muito levadas à sério.
Lendas a respeito de brujas são recorrentes desde os primórdios da América Espanhola. Muitos colonos temiam os costumes e a influência dos povos nativos, cujos rituais muitas vezes eram mal interpretados e vistos como malignos. Outros acreditavam que brujos haviam fugido da Europa com o intuito de se estabelecer no Novo Mundo, uma terra onde o pecado grassava em todo canto. Ordens religiosas chegaram a enviar especialistas para reconhecer, julgar e executar praticantes de Brujeria nas colônias além mar. As chamas da Inquisição crepitaram ferozmente, consumindo homens e mulheres acusados de conluio com as trevas. Essa perseguição vinha carregada de preconceito e estupidez e não é exagero afirmar que muitas pessoas pagaram um alto preço pela ignorância alheia.
É curioso verificar como essas crenças se enraizaram na cultura de vários países, mas é desconcertante perceber como algumas se mantiveram presentes, mesmo em tempos mais esclarecidos.
Um dos casos mais espantosos envolvendo Brujeria, não se deu na Era das Navegações ou no período colonial, mas em meados de 1990. O caso ocorrido na Venezuela envolveu a Família Mendoza que vivia em um povoado chamado Rubio, escondido nas escarpadas Montanhas dos Andes. Os Mendoza residiam ali há gerações e embora não fossem especialmente ricos, possuíam uma bela casa em estilo colonial. Sua vida era comum até que um membro da família acabou enfurecendo uma Bruja.
O homem, chamado Juan, tinha a reputação de ser muito galanteador. O problema supostamente começou em 1994, quando Juan se interessou por Ana, uma jovem e casta moça do vilarejo. Sendo uma católica devota, Ana decidiu manter sua castidade até se casar. Juan não ficou satisfeito com isso e começou a intensificar seus avanços, manipulando e ludibriando a moça, prometendo a ela casamento. Os dois acabaram dormindo juntos, e logo depois o canalha abandonou a jovem, deixando-a envergonhada e humilhada.
Vivendo em uma cidade pequena, com uma sociedade extremamente conservadora, a moça começou a ser vítima de todo tipo de comentário maldoso. Até mesmo seu pai e mãe a expulsaram de casa quando descobriram que ela havia engravidado. Desesperada com a perspectiva do que a esperava e com a própria família e amigos virando-lhe as costas, ela tentou por um fim à própria vida. Ana se lançou de um barranco esperando que assim tudo acabasse. Mas Ana não morreu. Na queda acabou perdendo a criança e ficando gravemente ferida.
Enquanto se recuperava em um hospital, sua tristeza foi se transformando em raiva, até virar uma profunda fúria. A solidão e vergonha deram lugar a um desejo irrefreável por vingança. De acordo com as histórias, foi nesse momento que a moça abandonou de vez sua fé e se entregou a sedução da Brujeria que se apresentava como uma ferramenta para obter a vingança. Tudo o que ela desejava a partir daquele momento era ganhar poder e fazer com que Juan pagasse pelos seus maus feitos.
Ana decidiu procurar uma velha que vivia nos arrebaldes do povoado e que tinha fama de conhecer a mais negra magia. Ela foi recebida e depois de narrar sua história, a feiticeira concordou em ajudá-la. Para surpresa da jovem, ela descobriu possuir uma vocação para as artes negras e aprendeu rapidamente os segredos dos malefícios, das maldições e toda sorte de feitiçaria. Se as histórias podem ser levadas em consideração, Ana se entregou de corpo e alma ao seu novo ofício, aceitando barganhar com as trevas em troca de poder que lhe permitisse destruir seu desafeto.
Alguns anos se passaram e Juan Mendoza quase esqueceu da moça que havia desgraçado. Mas isso não duraria muito tempo.
Estranhos incidentes começaram a acontecer na Propriedade dos Mendoza. Primeiro foram os ruídos no meio da madrugada: batidas nas paredes e um estrondo que parecia vir do telhado da casa. Toda a família ouvia essa comoção, mas quando saíam para verificar do que se tratava não viam nada a não ser telhas quebradas e arranhões nas paredes. Mas as coisas foram piorando em intensidade... além dos ruídos que progrediram para gritos e rosnados ferozes, havia agora um cheiro ocre de podridão exalando em toda propriedade.
Os Mendoza viviam da lavoura. A plantação deles começou a apresentar sinais claros de doença, e as plantas simplesmente secavam e morriam nos campos. Os animais também pareciam estranhos, as galinhas e bezerros definhavam, o leite das vacas talhava e mesmo os cães e gatos domésticos desapareciam como se tivessem detectado algo anormal espreitando.
Certa tarde, Rita, a irmã mais nova de Juan, avistou uma coisa assustadora sobrevoando o telhado. Ela correu para dentro de casa aos gritos dizendo ter visto o que julgou ser um demônio. A Família juntou sua coragem e resolveu ver do que se tratava, já que ainda ouviam o som de telhas se quebrando e algo pesado caminhando sobre suas cabeças. Esperavam encontrar um animal, talvez uma ave de rapina que confundiu Rita e fez ela pensar no pior. Entretanto, quando olharam para fora viram algo que os paralisou de terror.
A coisa parecia um pássaro, era grande como um abutre e negro como uma sombra. Estava pousada sobre o telhado e os observava com olhos avermelhados e uma expressão que transbordava de ódio. Diferente de uma ave, a coisa tinha mãos em forma de garras, um corpo de mulher e uma face que embora distorcida parecia muito com a de Ana, a moça desgraçada por Juan. Nesse momento ela abriu um par de asas negras e em uma lufada de vento ganhou o céu gargalhando como uma louca. Aquela era uma potente demonstração de força e desafio. Ana havia se transformado em uma criatura das trevas e estava disposta a tudo para se vingar, ainda que aquilo pudesse custar sua própria humanidade.
As testemunhas daquela horrenda visão fugiram para dentro da casa e trancaram imediatamente portas e janelas. Enquanto isso, a coisa deu início a destruição de janelas e telhas, batendo nas portas e arranhando os vidros com suas garras retorcidas.
"Me entreguem Juan! Me entreguem esse verme!" ela gritava entre gargalhadas histéricas e rosnados ferozes.
No folclore da América espanhola, brujas possuem incríveis poderes sobrenaturais, sendo que um dos mais fantásticos é justamente a capacidade de assumir através de rituais outras formas. Em geral, isso se refere a animais, mas não raramente os rumores incluem formas monstruosas e bestiais, como a de uma Harpia.
O violento cerco durou várias horas. Conta-se no povoado que a Bruxa continuou atacando a casa durante toda a noite e na manhã seguinte. No começo da tarde, as coisas acalmaram. Decidiram que alguém deveria ir buscar ajuda no povoado e trazer um padre para esconjurar o demônio. Juan não deveria sair da casa, já que a bruja poderia estar espreitando, apenas aguardando que ele colocasse a cabeça para fora. O irmão e primo de Juan saíram cuidadosamente e ganharam a estrada que levava ao povoado alguns quilômetros adiante.
No meio do caminho, avistaram a coisa sentada sobre um muro, devorando galinhas e lançando a carcaça dos animais na sua direção. Ela parecia se divertir com o terror que causava e com o medo que a sua forma bestial despertava. Os dois homens correram em desespero ouvindo as gargalhadas e o som de enormes asas batendo atrás deles. Juraram que havia uma segunda forma acompanhando aquela que se assemelhava à moça. Era uma velha vestida de negro, de aparência cadavérica e olhos brancos que corria em duas pernas, mas às vezes de quatro como um animal. Essa velha chegou a derrubar um dos homens e quando ele estava caído cuspiu em sua face, rindo sem parar.
Quando chegaram ao povoado, quase que por milagre, estavam esbaforidos e aterrorizados. Contaram o que havia se passado e que a Família Mendoza estava sitiada na casa precisando de ajuda.
O Padre da cidade foi chamado e imediatamente um grupo se formou com o intuito de visitar a fazenda. O caminho até a propriedade foi feito com grande receio é temor. O padre ia na frente carregando um crucifixo, atento para espantar o que surgisse no caminho, mas nada apareceu.
Na fazenda o cenário era de desolação. O telhado da casa havia sido todo remetido, muitas telhas foram arrancadas e jogadas no pátio frontal. Havia sinais de arranhões nas portas e persianas, além de animais mortos aqui e ali. Os recém chegados comentaram sobre um fedor distinto, que alguns acharam ser de podridão, mas outros juraram ser de enxofre. Dentro da Fazenda os moradores continuavam aquartelados, protegidos pelas barricadas improvisadas. Juan estava entre eles, temeroso pelo problema que havia criado.
O padre de Rubio benzeu o lugar, usando água benta e o crucifixo para abençoar a Fazenda e seus moradores. Alguns comentaram que o fedor de enxofre diminuiu sensivelmente depois disso e que o ânimo das pessoas melhorou.
Depois que o grupo se foi, os Mendoza ficaram em alerta e ouviram o som das terríveis asas da harpia voando sobre a casa, mas aparentemente a proteção se fez valer e a criatura não tentou se aproximar novamente.
Os dias que se seguiram foram tranquilos, embora boa parte dos moradores do povoado tenham visitado a casa para ver com seus próprios olhos a destruição causada e ouvir a dramática narrativa. Alguns se disseram céticos a respeito do ocorrido, mas mesmo estes se impressionaram com os arranhões que pareciam feitos por garras nas portas e janelas.
Juan só saiu da casa semanas depois, ainda assim receoso e portando uma arma de fogo. Nada aconteceu e tudo indicava que a bruxa havia desistido de sua vingança. Três meses se passaram até que certa noite Juan Mendoza cometeu um descuido fatal. Acreditando estar em segurança ele decidiu voltar para a Fazenda sozinho, após o anoitecer.
Ninguém sabe exatamente o que aconteceu, mas o fato é que Juan jamais chegou a Fazenda. Vizinhos ouviram o som de tiros e alguns mencionaram gritos desesperados, mas ninguém viu nada de concreto.
Grupos de busca se esforçaram para encontrar alguma pista, mas o que acharam foi um rastro de pegadas que julgaram ser de Juan. Estas sumiam repentinamente. Não havia uma explicação razoável a não ser que ele tivesse sido carregado para o ar por algo capaz de voar.
Alguns metros adiante encontraram ainda o revólver que pertencia a Juan, caído num arbusto com três tiros deflagrados. Não havia sinal visível de sangue ou de luta. As buscas duraram dias sem que nada fosse achado, alimentando os rumores de que alguém ou alguma coisa teria carregado o sujeito.
A história poderia terminar nesse ponto, exceto por uma descoberta feita sete anos mais tarde. Um grupo de campistas que passava por uma região a cerca de 40 quilômetros de Rubio cruzava uma área de densa vegetação quando se deparou com algo macabro caído naquele trecho quase intransponível. Eram os restos de um homem que mais tarde foram identificados positivamente como sendo Juan Mendoza. Determinar a causa da morte foi difícil já que o corpo não era mais do que um esqueleto, contudo, as múltiplas fraturas sugeriam que ele havia caído de uma altura considerável.
Uma queda parecia altamente improvável a não ser que o corpo tivesse sido transportado de outro lugar, já que ali não havia nenhuma elevação superior a 5 metros. O legista sugeriu que os ferimentos eram condizentes com uma queda muito maior.
As circunstâncias da morte de Juan continuam sendo um mistério. O responsável pelo homicídio, se é que ela foi decorrente de um crime, também permanece desconhecido, embora no povoado ninguém tenha dúvida do que aconteceu e quem causou a morte.
A história inteira e tão dramática e espetacular que a maioria das pessoas pode achar que se trata de um boato antigo. Até poderia ser verdade, se os fatos não tivessem ocorrido tão recentemente, no final dos anos 1990. Os Mendoza continuam vivendo na mesma propriedade e afirmando categoricamente que os incidentes de fato aconteceram.
Será que existe algo de verdadeiro nessa história de amor e vingança com um toque de feitiçaria? Não há como dizer, mas a narrativa parece comprovar o velho ditado que afirma "não haver fúria maior do que a de uma mulher que sofre uma desfeita".
Gostei da estória, tenho um trabalho cinematográfico no YouTube que pode até interessar a quem gosta desses tipos de "assuntos". Se alguém, quiser transforma-lo em um texto, fica aqui minha permissão.
ResponderExcluirVídeo:https://www.youtube.com/watch?v=q0gXKuybjcI&t=4s