Quer saber um pouco a respeito de Literatura Decadente?
Sobre o Rei Amarelo e a coleção que ajudou a inspirar o gênero Horror Cósmico?
Eu sei que você quer, pois se você gosta do Rei Amarelo e da Mitologia de Hastur, o Impronunciável, vai adorar saber desses fatos. Vamos falar a respeito dos Mitos Amarelos, a mitologia degenerada construída por Robert Chambers, Ambrose Bierce e é claro, H.P. Lovecraft.
Fato #1:
Provavelmente o mais comum dos factoides a respeito dos Mitos Amarelos é o significado da própria cor. O amarelo está associado a decadência, corrupção e degeneração. Durante o século XIX o amarelo servia para sinalizar os livros considerados "indesejados" e muitos destes eram identificados pela cor na capa. O amarelo era uma cor de alerta a respeito do conteúdo de uma determinada obra. A primeira edição de Drácula foi publicada nessa cor como um alerta aos leitores mais sensíveis.
Provavelmente o mais comum dos factoides a respeito dos Mitos Amarelos é o significado da própria cor. O amarelo está associado a decadência, corrupção e degeneração. Durante o século XIX o amarelo servia para sinalizar os livros considerados "indesejados" e muitos destes eram identificados pela cor na capa. O amarelo era uma cor de alerta a respeito do conteúdo de uma determinada obra. A primeira edição de Drácula foi publicada nessa cor como um alerta aos leitores mais sensíveis.
Outras obras igualmente decadentes e potencialmente capazes de causar choque aos leitores recebiam uma capa num tom amarelado que sinalizava seu teor degenerado. Alguns bibliotecários censuravam livros amarelos e por vezes se mostravam reticentes em ceder aos leitores esse material.
Essas obras eram geralmente ligados ao movimento romântico, envolvendo descrições floreadas, dramáticas e uma prosa emocional. Também eram características as histórias em que os protagonistas sofriam degeneração moral. Esse tipo de ficção, que contou com expoentes como Oscar Wilde, atingiu seu auge no final do século XIX, mas muitos de seus expoentes morreram antes de 1910.
Fato #2:
Os romanos que falavam latim, não faziam distinção entre certos tons da cor amarela e branca; a palavra "pallos" se refere a ambas. E dessa palavra que decorre o termo "pallor", significando um clareamento da pele a medida que o sangue se esvai do corpo, é a base para a palavra moderna "pálido", um embranquecimento não natural da aparência. Para os romanos o empalidecer era sinal de morte e decadência do corpo, e estava ligado não apenas ao branco, mas ao amarelo.
Os romanos que falavam latim, não faziam distinção entre certos tons da cor amarela e branca; a palavra "pallos" se refere a ambas. E dessa palavra que decorre o termo "pallor", significando um clareamento da pele a medida que o sangue se esvai do corpo, é a base para a palavra moderna "pálido", um embranquecimento não natural da aparência. Para os romanos o empalidecer era sinal de morte e decadência do corpo, e estava ligado não apenas ao branco, mas ao amarelo.
Um dos avatares de Hastur, o "Máscara Pálida" (Pale Mask) se refere justamente a palidez da pele que sugere uma máscara de corrupção, decadência e finalmente... morte.
Fato #3:
O poder das palavras é um tema recorrente nos Mitos Amarelos. Nas artes cênicas existe uma curiosa superstição a respeito da peça de Shakespeare, Macbeth. O nome, acreditam alguns é amaldiçoado e proferi-lo (mesmo durante a apresentação em voz alta) atrai má-sorte na forma de acidentes. Dessa forma, as companhias que trabalham essa montagem se referem a ela como "Aquela peça escocesa". O termo "quebre a perna" vem de uma superstição semelhante - desejar boa sorte a um ator antes de entrar no palco acaba trazendo má sorte.
O poder das palavras é um tema recorrente nos Mitos Amarelos. Nas artes cênicas existe uma curiosa superstição a respeito da peça de Shakespeare, Macbeth. O nome, acreditam alguns é amaldiçoado e proferi-lo (mesmo durante a apresentação em voz alta) atrai má-sorte na forma de acidentes. Dessa forma, as companhias que trabalham essa montagem se referem a ela como "Aquela peça escocesa". O termo "quebre a perna" vem de uma superstição semelhante - desejar boa sorte a um ator antes de entrar no palco acaba trazendo má sorte.
Em algumas culturas, existe a crença de que certos nomes são imbuídos de poder. Repetir esses nomes em voz alta traz consequências. Em algumas crenças proferir o nome sagrado de uma divindade atrai sua atenção. Mesmo no Cristianismo, um dos pecados é "tomar em vão o nome do senhor", pois seu nome é sagrado e não deve ser proferido em vão.
É possível que tenha sido dessas noções que os Mitos de Hastur tomaram emprestada a ideia de que repetir o nome "Hastur" é potencialmente perigoso a ponto de atrair de simples azar à completa ruína.
Fato #4:
A história do Rei Amarelo possui ligação com o Teatro Grego clássico. Nele uma pessoa ou grupo de pessoas participa da peça concedendo a ela um recurso vocal em momentos chave, sabendo de antemão o que irá acontecer. A prática é usada até hoje em muitas montagens teatrais em que um narrador explica o contexto da cena antes dela se iniciar.
A história do Rei Amarelo possui ligação com o Teatro Grego clássico. Nele uma pessoa ou grupo de pessoas participa da peça concedendo a ela um recurso vocal em momentos chave, sabendo de antemão o que irá acontecer. A prática é usada até hoje em muitas montagens teatrais em que um narrador explica o contexto da cena antes dela se iniciar.
O ditado "Ensinar o padre a rezar a missa" (em inglês "to preach to the choir" - rezar para o coral ou narrador) significa revelar a alguém detalhes sobre algo que ele já sabe de antemão intimamente. Um padre sabe os detalhes de seu evangelho, assim como o narrador de uma peça sabe o que irá acontecer - Não carece de explicações desnecessárias.
Na peça "O Rei Amarelo", o Estranho que chega à Cidade disposto a transformá-la em Carcosa age como um Narrador que sabe o que está para acontecer de antemão e manipula os acontecimentos de acordo com sua conveniência.
No Teatro Clássico, o Narrador era tratado como uma divindade que sabia todos os acontecimentos e para destacar seu papel onipresente usava uma máscara sem expressão ou ficava fora do palco, como uma presença invisível.
No Teatro Clássico, o Narrador era tratado como uma divindade que sabia todos os acontecimentos e para destacar seu papel onipresente usava uma máscara sem expressão ou ficava fora do palco, como uma presença invisível.
Fato #5:
O Símbolo Amarelo existe... ou quase.
O Símbolo Amarelo existe... ou quase.
Acredite ou não, o símbolo no alfabeto chinês para a palavra "Rei" é o mesmo que identifica a cor "Amarelo". Esse caractere também pode ser usado como uma gíria para "poder que corrompe", "poder superior" ou "poder de coerção".
Curiosamente Chambers nunca desenhou o Símbolo Amarelo e nunca disse como ele era, entretanto ele comentou que o Símbolo era vagamente oriental, possivelmente do extremo oriente. Coincidência? Talvez...
No "Reparador de Reputações", temos um ferreiro cujo sobrenome é Hawberk, que vem da palavra "hauberk", um tipo de armadura medieval. No conto "The Desdemoiselle d'Ys", a protagonista da trama é "Jeanne d'Ys" - ou "jaundice", que em francês se refere a cor amarela "Jeune" (amarelo em francês). Na mesma história há um falcoeiro chamado Hawkstur.
Fato #7:
O nome Carcosa provavelmente deriva de uma cidade medieval francesa, Carcassonne, considerada uma joia de comércio e desenvolvimento urbano no período. Na bandeira de Carcassone, que tremulava sobre o palácio da cidade predominava a cor amarela. A Cidade era conhecida pelas suas muitas torres e prédios de altura considerável para os padrões medievais.
Carcassone era uma cidade rica e próspera, com muros ao seu redor e que pelo seu isolamento se manteve imune às pragas que devastavam a Europa do período. No entanto, no século XIII, Carcassone foi devastada pela Peste Negra, verdadeiro flagelo medieval. Há lendas de que a pessoa que trouxe a doença para cidade vestia um manto longo e uma máscara que escondia sua face deteriorada pela doença.
O nome Carcosa provavelmente deriva de uma cidade medieval francesa, Carcassonne, considerada uma joia de comércio e desenvolvimento urbano no período. Na bandeira de Carcassone, que tremulava sobre o palácio da cidade predominava a cor amarela. A Cidade era conhecida pelas suas muitas torres e prédios de altura considerável para os padrões medievais.
Carcassone era uma cidade rica e próspera, com muros ao seu redor e que pelo seu isolamento se manteve imune às pragas que devastavam a Europa do período. No entanto, no século XIII, Carcassone foi devastada pela Peste Negra, verdadeiro flagelo medieval. Há lendas de que a pessoa que trouxe a doença para cidade vestia um manto longo e uma máscara que escondia sua face deteriorada pela doença.
Apenas à título de curiosidade, o famoso jogo de tabuleiro Carcassonne se baseia nessa mesma cidade, e um Financiamento Coletivo foi lançado com uma variante chamada Carcosa, onde o objetivo é justamente invocar o Rei Amarelo.
Fato #8:
O trecho "Songs that the Hyades shall sing" (Sons que as Hyades irão cantar) no poema Cassilda Song se refere a Constelação de Hyades em Touro. Muitas histórias que integram a Mitologia Amarela se referem a Estrela Aldebaran (que vem do árabe "O Seguidor").
O trecho "Songs that the Hyades shall sing" (Sons que as Hyades irão cantar) no poema Cassilda Song se refere a Constelação de Hyades em Touro. Muitas histórias que integram a Mitologia Amarela se referem a Estrela Aldebaran (que vem do árabe "O Seguidor").
Aldebaran é uma constelação de estrelas laranja-amareladas. Em muitas histórias, Carcosa ficaria na órbita de uma dessas estrelas, iluminada por luzes amarelas e doentias.
Fato #9:
Na Idade Média, na França, existia a crença de que os Reis podiam aliviar ou curar os sintomas de uma doença conhecida como "Mal dos Reis", ou "scrofula". Para tanto, era necessário pousar as mãos sobre o doente e impor sua vontade real para extinguir o mal.
Na Idade Média, na França, existia a crença de que os Reis podiam aliviar ou curar os sintomas de uma doença conhecida como "Mal dos Reis", ou "scrofula". Para tanto, era necessário pousar as mãos sobre o doente e impor sua vontade real para extinguir o mal.
Hoje sabemos que a "scrofula" (um inchaço nas glândulas) é um dos sintomas da tuberculose e que o toque de um indivíduo (Rei ou não) não causa qualquer efeito direto. O Rei Amarelo, segundo um esboço de Chambers, causaria um efeito inverso a cura da scrofula. Pela imposição de suas mãos ele CAUSARIA a doença, disseminando a corrupção e matando as pessoas.
O inchaço de glândulas, um dos sintomas da Peste era ido como a primeira degeneração corporal que sinalizava que a morte estava próxima. O Rei Amarelo como disseminador da degeneração é uma alegoria interessante sobre seu poder de corromper a humanidade.
O inchaço de glândulas, um dos sintomas da Peste era ido como a primeira degeneração corporal que sinalizava que a morte estava próxima. O Rei Amarelo como disseminador da degeneração é uma alegoria interessante sobre seu poder de corromper a humanidade.
Fato #10:
Carcosa possui dois sóis gêmeos gêmeos. Na realidade, sistemas com estrelas binárias de fato existem e são consideravelmente comuns.
Carcosa possui dois sóis gêmeos gêmeos. Na realidade, sistemas com estrelas binárias de fato existem e são consideravelmente comuns.
Chambers idealizou que Carcosa possuiria dois sóis que podem ser compreendidos como os Olhos de Hastur observando constantemente do alto, em eterna vigília dos seus domínios. "Olhos que jamais piscam, vigília que nunca cessa" é um dos trechos do Som de Cacilda que se refere aos sóis.
Fato #11:
Existe uma conexão entre Hastur e Nyarlathotep nos Mythos de Cthulhu no que diz respeito às histórias do Ciclo dos Sonhos. Há um personagem descrito como o sumo-sacerdote que habita uma Torre nos confins da Terra dos Sonhos. Ele é tido como um ancião, trajando um manto longo e uma máscara amarela. Na ausência de um nome, ele é chamado de "O sacerdote que não deve ser descrito".
Não se sabe ao certo a identidade dessa figura misteriosa, que pode ser tanto um Avatar de Nyarlathotep, quanto uma forma de Hastur habitando a Dimensão Onírica. Os leitores debatem a respeito desse personagem e sua identidade desde sua criação.
Para alguns Nyarlathotep está simplesmente usando uma máscara que se refere a Hastur, mas alguns acham que Hastur poderia ser, ele próprio, um Avatar de Nyarlathotep.
Fato #12:
Carcosa realmente existe... na Malásia. Nesse país do extremo Oriente existe um hotel luxuoso chamado Carcosa Seri Negara que e formado por duas enormes mansões coloniais chamadas Carcosa e Seri Negara. No idioma malaio Seri Negara significa "reino de beleza sem fim", um nome adequado para o lugar. Ele se localiza na capital, Kuala Lumpur, e pasme, fica as margens de um grande e plácido lago.
A Mansão Carcosa, o segundo prédio que compõe o Hotel tem o apelido de "Casa do Rei", pois, por um curto período de tempo serviu como residencia oficial da família real. Alem disso, a logomarca do hotel parece suspeitamente semelhante ao Simbolo Amarelo. Por sinal, o tal simbolo é amarelo, assim como a fachada da Mansão Carcosa.
Fato #13:
À despeito da cor amarela no ocidente ser considerada como doentia ou degenerada, no Oriente ela é considerada a cor da nobreza e da realeza. Assim como acontecia no ocidente, onde usar roxo, a cor da realeza, era proibido aos plebeus, o amarelo era exclusivo para os nobres orientais. Curiosamente, amarelo e o roxo ocupam posições exatamente opostas no circulo cromático.
O céu de Carcosa é descrito como branco, com estrelas negras. As estrelas negras fazem parte da poesia de Chambers, estrelas escuras em um céu pálido. Uma inversão do céu noturno negro com estrelas brancas que temos no mundo normal.
O tema "inversão " sugere um "mundo à parte" no qual a realidade é confrontada e pervertida por noções e conceitos que não são naturais ou que se mostram opostos ao senso de normalidade.
Fato #14:
"Coisa terrível é cair nas mãos de um Deus Vivo".
Essa frase está presente na Bíblia Sagrada (citada em Hebreus 10:31). Ela é repetida pelo Rei de Amarelo para o Protagonista no conto "A Corte do Dragão" no fim da história. A frase é muito associada aos Mitos Amarelos, mas não é a única ligação religiosa na obra. Alguns autores relacionam Hastur ao conceito filosófico de Satã (outra inversão, dessa vez de bem e mal). Chambers certa vez desenhou o Rei de Amarelo com asas angelicais, o que faz sentido, mesmo para um anjo caído.
Elementos da crença judaico-cristã estão presentes na obra de Chambers. O fato de que o nome de Deus não deve ser tomado em vão e que anjos podem ser enviados para evitar atitudes blasfemas também é condizente. É possível que o conceito de que dizer em voz alta o nome de Hastur atrai a ira divina, venha dessa mesma noção.
Há também o princípio cristão de que a Face de Deus não pode ser contemplada sem risco para a sanidade. A face de Deus só pode ser vista por aqueles que se mostram dignos, jamais pelos que estão afastados de sua graça.
Mais ainda, em "A Corte do Dragão", o protagonista temeroso procura proteção uma Igreja onde acredita estará em segurança. Ele acredita que o Deus Cristão o manterá à salvo, mas não é o que acontece.
Bem, aqui estão 14 pequenos fatos e curiosidades sobre os Mitos Amarelos e de quebra uma seleção de imagens (algumas das melhores que já vi) dessa entidade aterrorizante. Para saber mais a respeito de Hastur e do Rei de Amarelo, convido os leitores a ler os artigos sobre essas curiosas entidades dos Mythos.
O Rei Amarelo
Hastur, o Impronunciável
Primoroso como sempre.
ResponderExcluirÓtimo como sempre
ResponderExcluirEu sou suspeito... Porém, obrigado por mais um artigo primoroso! ^_^b
ResponderExcluirExcelente! Vai fomentar muitas aventuras!
ResponderExcluirFicou show de bola
ResponderExcluirÓtimo artigo, gostei muito das conexões de literatura, religião e história dentro da explicação sobre a cor amarela e seu significado nesseas três áreas.
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