Não há dúvida de que o Egito seja uma terra de profundos mistérios, ocultos por um manto de segredos milenares. É uma terra de fascínio, repleta de magníficas ruínas, colossais monumentos, tumbas imersas em sussurros, maldições e encantamento. O Egito atrai a atenção de arqueólogos e desperta a curiosidade de pessoas comuns há séculos, mas se há uma grande verdade a respeito desse lugar, é que ainda existem muitos segredos enterrados nas areias do deserto esperando serem desvendados.
Um desses alegados segredos é uma vasta rede de túneis e passagens subterrâneas conectando câmaras e aposentos esquecidos há séculos. Citado em alguns textos antigos e outros modernos, ele guardaria em seu interior um tesouro de conhecimento milenar que, se de fato existir, poderia mudar para sempre a história da humanidade.
O quase mitológico complexo perdido é chamado simplesmente de "Labirinto". Batizado assim pelos antigos gregos. O local seria o equivalente à lendária construção idealizada por Dédalus para o Rei Minos de Creta com o intuito de hospedar o horrendo Minotauro. Composto por uma rede de túneis, salas, templos, prédios, capelas, passagens, acessos, pátios e câmaras que totalizam centenas de aposentos era fácil se perder nesse lugar. Mais do que um feito de engenharia e arquitetura, o Labirinto serviria a outra importante função: ser uma espécie de depósito para papiros, placas, pinturas, estátuas, objetos de arte e tesouros pertencentes aos antigos Faraós.
Esse fantástico lugar foi descrito pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, quem muito provavelmente deu ao lugar o nome Labirinto. Heródoto o cita no segundo volume de seu livro "Histórias", escrito no século V a.C. No texto, o grego afirma ter sido levado até esse palácio onde conheceu sua extensão e pode constatar sua grandeza.
Ele escreveu a respeito do Labirinto Egípcio:
"Os doze Reis do Nilo resolveram reunir todos seus maiores tesouros em um único lugar e criar um memorial para si próprios; e tendo decidido tal coisa, ordenaram a construção do monumento chamado Labirinto. Situado pouco acima do Lago Moiris, à sombra de uma pirâmide e na margem oposta ao local conhecido como Cidade dos Crocodilos. Eu o vi com meus próprios olhos e é difícil encontrar palavras capazes de descrevê-lo. Se todos os grandes trabalhos e prédios erguidos pelos helênicos fossem reunidos em um único lugar, ainda assim se mostrariam inferiores em trabalho e valor do que aquilo reunido no Labirinto. Seu tamanho e significado tornam qualquer outro monumento menos imponente.
As pirâmides são lembradas como a maior façanha do Egito, mas ainda que impressionantes, não se comparam ao magnífico Labirinto. Ele é formado por doze cortes acessadas através de enormes portões, seis voltados para o norte e seis para o sul. Estes conduzem até vastos salões abobadados, dotados de paredes esculpidas e ricamente adornadas. Elas se espalham por duas área distintas com câmaras superiores e um complexo subterrâneo conectado por escadas e rampas.
Conheci as câmaras superiores e exploramos o local sendo conduzidos através delas pelos nossos guias, mas não nos foi permitido ver os subterrâneos. Os egípcios disseram que era proibido visitar o complexo inferior e tudo que sabemos dele veio através de terceiros. Relataram que lá ficavam os sepulcros dos reis que construíram o Labirinto e seus crocodilos sagrados. Também ocorriam nessas câmaras reuniões políticas com dignatários e importantes rituais religiosos.
As passagens e câmaras superiores, levavam às cortes, que tinham admirável decoração com incontáveis maravilhas e elaboradas galerias de arte. O teto dessas câmaras era feito de pedra, assim como as paredes adornadas por figuras e o teto dotado de pinturas de rara beleza. Cada corte possuía pilares de granito branco reluzente e grandes estátuas talhadas diretamente na pedra. O que nos causou mais espanto foi a beleza do Lago Moiris, que ladeava a construção com suas águas azuladas".
Embora essa incrível descrição deita por Heródoto seja o relato mais conhecido e provavelmente o mais famoso, ele não é o único. Outros historiadores e autores ao longo das eras mencionam o complexo e rendem ele elogios. Acadêmicos ilustres como Manetho Aegyptiaca (do século III a.C), Diodorus Siculus (Século I aC), Strabo (64 aC – 19 dC), Plínio (23 – 79 dC), e Pomponius Mela (43 dC), estão entre os que teriam vistado o Labirinto. Muitos deles forneceram descrições detalhadas do complexo que colocam em cheque a noção de que ele não teria existido. Muitos destes autores fazem persistentes menções ao tamanho e extensão da construção, referindo-se ao Labirinto como uma das maiores obras de engenharia do período. Com incontáveis túneis, acessos, rampas e escadarias ele seria uma obra majestosa e impressionante.
Os tesouros do Labirinto também mereceram destaque na pena de autores que os descreveram como coleções riquíssimas de obras de arte, estatuário, peças de ouro e prata, além de um vasto acervo de papiros com conhecimento coletado ao longo de séculos pelos maiores sábios do Império A descrição do historiador grego Diodorus Siculus, dá o tom:
"Quando adentramos o recinto sagrado, descobrimos que o templo possuía nada menos do que 40 colunas de cada lado responsáveis por sustentar o teto entalhado. As paredes possuíam painéis onde brilhavam pinturas de excelente qualidade. Eles continham memoriais sobre os Faraós, destacando os maiores feitos de cada monarca em seu período de regência. As pinturas eram tão impressionantes que nos detivemos para admirar a habilidade dos artistas capazes de criar tamanha beleza".
À despeito de todos esses relatos feitos por historiadores ilustres, o Labirinto do Egito foi muitas vezes encarado como uma lenda ou mito sobretudo porque sua localização jamais foi determinada. Isso, contudo não impediu que muitas pessoas tenham procurado por ele ao longo dos séculos. O que torna tudo muito complicado é o fato de haver poucas informações sobre sua possível localização. Tudo o que se tem são indícios e pistas, muitas vezes dúbias.
Heródoto, o responsável pela descrição mais completa diz apenas que o Labirinto ficava próximo do Lago Moiris e oposto a Cidade dos Crocodilos à sombra de uma pirâmide, o que é deveras vago. O Lago Moiris é um antigo corpo de água potável localizado a aproximadamente 80 quilômetros ao sul do Cairo e que ocupa uma área de 1700 quilômetros quadrados. Hoje ele é chamado de Birket Qarum, e funciona como reservatório para abastecimento da capital do Egito, mas na época do Egito Antigo ele era muito maior. A mítica Cidade dos Crocodilos correspondia a uma área pantanosa que os répteis usavam como refúgio, sobretudo na época do acasalamento, sua localização exata é muito debatida. Com base nessas parcas informações determinar onde ficava o Labirinto é tarefa complexa, mas apesar dessas poucas informações, várias expedições foram organizadas com o objetivo de encontrar o Labirinto.
Uma das tentativas mais sérias já na Idade Moderna, ocorreu em 1842, com uma equipe de arqueólogos, exploradores e aventureiros reunidos pelo Rei Friedrich Wilhelm IV da Prussia. A equipe, liderada pelo arqueólogo Richard Lepsius, acreditava que a pirâmide mencionada por Herodoto poderia ser a Pirâmide de Amenemhat III localizada na região de Hawara, e que a Cidade dos Crocodilos poderia ser na cabeceira de um estuário do Oásis de Faiyum. Com essa teoria em mente, eles se concentraram em cobrir essa região.
A expedição afirmou ter tido sucesso depois de encontrar as ruínas de uma vasta estrutura com grandes colunas que poderia ser a entrada do Labirinto. As ruínas ficavam próximas dos restos de um lago artificial e que seria parte integrante do antigo Moiris. Infelizmente as escavações conduzidas por Lepsius não resultaram na descoberta de nenhum acesso subterrâneo. Curiosamente o sítio foi abandonado e esquecido por décadas, até que uma segunda expedição alemã em 1922 confirmou que as ruínas não se tratavam do mítico Labirinto, mas de um templo.
Em 1888, o famoso egiptólogo britânico Flinders Petrie conseguiu um mapa que supostamente mostrava a localização do Labirinto. O local era ironicamente bastante próxima a que foi escavada pelos alemães. A descoberta, no entanto, se provou ser um antigo assentamento romano do século primeiro. Petrie retornou ao Egito em 1893, concentrando seus esforços em uma área próxima onde afirmou ter encontrado um colossal complexo de pedra que ele julgou ser parte do Labirinto. De acordo com Petrie essa massiva construção media mais de 300 metros de comprimento por 250 de largura e estaria enterrada a 3 metros de profundidade. Infelizmente toda área fazia parte de uma antiga pedreira existente há pelo menos quatro séculos e que havia sido sistematicamente dilapidada. Após seis meses de escavações, os patrocinadores da expedição abandonaram a empreitada diante da ausência de descobertas expressivas.
Várias expedições internacionais tentaram buscar o Labirinto em outras áreas e sítios que foram escavados ao longo de todo o século XX. Infelizmente elas falharam em seu objetivo.
Várias expedições internacionais tentaram buscar o Labirinto em outras áreas e sítios que foram escavados ao longo de todo o século XX. Infelizmente elas falharam em seu objetivo.
Mais recentemente uma expedição lançada em 2008 por um grupo de pesquisadores belgas e egípcios, liderada pelo arqueólogo Louis de Cordier, viajou para a região com o objetivo de seguir as indicações de Petrie. Eles tinham como alvo o sítio descrito por Flinders Petrie. O esforço batizado de Mataha Expedition realizou escavações nas proximidades da Pirâmide de Harawa e alegou ter encontrado evidências de uma estrutura maior soterrada. Usando tecnologia geológica avançada eles localizaram sinais de câmaras, salas e túneis, além de paredes grossas que evidenciavam uma construção notável. Embora a existência de canais subterrâneos e corpos de água possam interferir nas leituras, muitos acreditavam que os radares de profundidade encontraram algo importante. Poderia ser o lendário Labirinto Egípcio?
Os resultados obtidos pela Expedição Mataha foram oficialmente divulgados e publicados em importantes jornais Científicos e chegaram ao meio acadêmico com grande entusiasmo. Foi então que a Secretaria-Geral do Conselho de Antiguidades, órgão máximo que fiscaliza as escavações no Egito, subitamente pôs fim às escavações. A medida arbitrária causou enorme estranhamento e protestos entre os acadêmicos, pois não foi dada uma explicação para a suspensão das operações. Toda a equipe envolvida foi dispensada e as licenças para escavação revogadas. O ato causou grande estranheza e deu início a uma série de teorias conspiratórias, algumas afirmando que o governo não desejava que estrangeiros fizessem a descoberta do Labirinto.
A área da escavação foi isolada e hoje permanece inacessível, sendo vigiada por militares que impedem a entrada de pessoal não-autorizado. Um protesto oficial foi feito em 2010, para que a área fosse aberta novamente para pesquisas, mas o Governo Egípcio negou todos os recursos. De fato, o único comunicado do governo foi emitido 2012, afirmando que nada de importante havia sido encontrado e que o sítio no entorno da Pirâmide seria fechado até segunda ordem.
Teóricos de Conspirações acreditam que o Egito confirmou a existência do Complexo e que pretende manter sua existência em segredo até ser capaz de realizar, por conta própria, escavações que os conduzam ao interior do Labirinto. Os tesouros inestimáveis e as revelações lá dentro justificariam essa medida protecionista.
Não ficou claro se algo realmente foi achado ou se a Expedição Mataha chegaria ao cerne da questão e encontraria a entrada do Complexo. Entretanto, o fechamento das operações e as severas medidas de segurança visando impedir todo e qualquer acesso, contribuem para a narrativa de que uma mega-operação governamental de acobertamento está em curso.
Enquanto isso, o Labirinto do Egito permanece como um mistério insondável. Em seu interior estariam segredos que supostamente mudariam nossa visão da história e do próprio mundo em que vivemos. O que estaria escondido nas câmaras enterradas e nos depósitos subterrâneos? Que descobertas foram preservadas ao longo das eras? Será que um dia teremos as respostas para essas perguntas? Será que ele de fato existe?
Por enquanto, ninguém é capaz de dizer...
As respostas estão enterradas nas Areias do Tempo.
artigo interresante. só uma coisa: "feita por Heródoto".
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