sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Policiais Ocultistas - Investigadores devotados a combater crimes ocultos

 

Ainda sobre detetives de polícia dedicados a investigar e coibir crimes envolvendo o ocultismo temos Sandi Gallant. Ela teve uma iniciação sombria no ramo quando trabalhou no caso do assassinato em massa/suicídio ocorrido no Templo do Povo na Guiana em 1978. Na ocasião, mais de 900 pessoas morreram à mando de seu líder, Jim Jones. A experiência a deixou determinada a estudar cultos, o mecanismo de lavagem cerebral e sistemas de crenças alternativos, como bruxaria, santeria e satanismo.

Sandi sempre teve interesse no assunto. Ela se formou em História Antiga e estudou padrões comportamentais para compreender melhor as motivações por trás das pessoas que se envolvem com o oculto em busca de algum benefício pessoal. Ela definiu que a maioria das pessoas costuma ser atraída para esse tipo de atividade através de um líder carismático que se apresenta, à princípio como alguém capaz de aliviar os problemas e oferecer conforto para uma existência atribulada. Aos poucos, as pessoas começam a sofrer um tipo de lavagem cerebral, acreditando na santidade desse líder e em sua infalibilidade. Finalmente, no estágio final, a pessoa está tão condicionada que o o fator pessoal desaparece e ela se torna totalmente devotada ao culto, sem questionar nenhum dos seus dogmas.  

Gallant estudou vários cultos e chegou a se infiltrar em pelo menos três seitas verdadeiras para compreender melhor como ela funcionava e qual a estrutura utilizada pelos seus líderes. Em um desses casos ela chegou a viver por seis meses em meio a um culto apocalíptico que esperava o retorno do Messias e que flertava com noções de suicídio.

Ao longo do caminho ela se tornou conhecida como uma especialista no campo entre seus pares e foi frequentemente chamada para investigar crimes bizarros envolvendo rituais e o oculto.

Um dos casos mais horríveis envolvia um homem que foi encontrado assassinado em 1981 no Golden Gate Park de São Francisco. A cabeça do homem havia sido removida e estava ausente da cena do crime. Próximo do cadáver havia uma galinha também sem cabeça. Gallant sugeriu que aquele era um ritual envolvendo magia negra de Palo Mayombe, mas naquela época tais explicações ainda não eram amplamente aceitas. Ela contou à respeito:

"Os outros investigadores de homicídios designados riam dessas noções, chamavam tudo de mumbo-jumbo e descartavam qualquer ideia nesse sentido. Eles sugeriam que crimes de natureza oculta não aconteciam realmente, ou que eram um estereótipo. Isso só começou a mudar com o tempo, sobretudo porque esse tipo de crime se tornou cada vez mais frequente após os anos 1970".


Ainda sobre esse caso, usando seu conhecimento do ocultismo e de rituais, Sandi previu que a cabeça do homem morto seria devolvida perto do local onde o corpo foi encontrado 42 dias depois. Nos primeiros 21 dias os praticantes da religião usariam a cabeça colocada em um vaso de água, eles consumiriam o cérebro, o ouvido e olhos, fazendo com isso uma bebida ritual que seria compartilhada pelos membros da seita. Depois, quando a cabeça estivesse quase descarnada, o feiticeiro voltaria para devolve-la perto de onde estava o corpo. Apesar dessa dica potencialmente promissora, ninguém acreditou em Sandi. Quando as coisas aconteceram exatamente como ela havia dito, os policiais que cuidavam do caso ficaram impressionados. Ela explicou aos colegas:

"Ao final de 21 dias, se o sacerdote de Palo Mayombe julgar conveniente, ele passa mais 21 dias com a cabeça. Então, segundo as crenças, no 42º dia, a cabeça precisa ser descartada nas proximidades de onde ela foi obtida. Essa era uma forma correta de agir, conforme a crença. Se eles tivessem acreditado na projeção, o assassino teria sido preso em flagrante."

O caso bizarro nunca foi resolvido, mas com base em sua análise correta da cena, Gallant ganhou credibilidade para auxiliar em tais crimes e foi levada muito mais a sério depois disso. Desde então, ela foi chamada para todos os tipos de casos considerados bizarros para os investigadores tradicionais.

Outro caso macabro investigado por Sandi ocorreu em 1988, no Baldwin Park, nos limites de Los Angeles. Um rapaz de 18 anos, Mario de la Puente, foi encontrado morto em seu automóvel aparentemente após ter cometido suicídio com uma espingarda 22. No aparelho de som do carro havia uma fita do músico Ozzy Osbourne tocando sem parar. Ainda dentro do veículo foram achadas velas, símbolos desenhados com sangue e a cabeça de um bode. Apesar da cena do crime indicar suicídio, o corpo de de la Puente sofreu mutilações pós-mortem que deixaram os detetives presentes chocados. Os olhos, nariz, lábios e orelhas do rapaz haviam sido arrancados e levados da cena, o mesmo havia acontecido com alguns dentes, unhas e tufos de cabelo.


Ao ser chamada para examinar a cena, Sandi imediatamente reconheceu elementos ritualísticos embora concordasse que havia sido suicídio. Ela sugeriu que de la Puente havia aceitado morrer pelas suas próprias mãos e que partes de seu corpo haviam sido arrancadas e levadas por colegas que pretendiam usá-las em um ritual. 

A polícia acabou prendendo os outros envolvidos poucos dias depois, eles estavam de posse dos restos que haviam sido fervidos em uma chaleira e estavam sendo consumidos como uma bebida medicinal. De la Puente e seus colegas acreditavam que a ingestão de tal mistura poderia render a eles uma vida longa e saudável, mas para isso, um deles teria de se sacrificar para benefício dos demais. De la Puente foi o escolhido e aceitou seu destino, morrendo pelas próprias mãos. Após a morte, três de seus amigos, com idades entre 14 e 17 anos realizaram as mutilações usando facas de cozinha.

Sandi, que hoje tem 75 anos, ainda costuma ser chamada para auxiliar detetives e oferecer seu ponto de vista quando casos relacionados com o oculto surgem. Ela é uma espécie de consultora da polícia da Califórnia, condecorada pela sua ajuda em mais de uma dezena de casos. Ela também compartilhou seu conhecimento para o FBI, em especial a turmas do Departamento de Psicologia Comportamental

"Algumas semanas atrás recebi uma ligação da Costa Leste. O detetive está investigando o caso de uma cabeça humana que foi deixada debaixo da cama de uma um casal. A cabeça havia sido desenterrada de um cemitério e funcionava como um tipo de aviso macabro. Casos como esse são extremos, mas já tive vários em que pessoas se envolveram em atividades realmente bizarras, como mutilar animais e cadáveres obedecendo a algum ritual. Também já tive casos horríveis envolvendo sacrifícios. É um mundo muito sombrio esse".


Embora a maioria dos investigadores se dedique a analisar racionalmente as pistas ocultas como como símbolos, animais e parafernália, há casos em que eles precisam dedicar sua atenção a padrões de ferimento, mutilação excessiva, trauma incomum, evidências simbólicas como estilo de corte, marcação, consumo de sangue ou carne, mutilação corporal entre outros fatores, Sandi é uma especialista nesses procedimentos. Ela se orgulha de ter descoberto a identidade de um assassino verificando o padrão de corte realizado na garganta de uma vítima, demonstrando sem sombra de dúvida a responsabilidade do acusado.

Nos últimos anos Sandi Gallanti tem se dedicado a lidar com outra faceta medonha dos crimes ocultos, os abusos sexuais. Ela chama a atenção para a grande quantidade de crimes sexuais ocorridos em decorrência de rituais executados em templos e locais de adoração religiosa. Segundo uma estimativa desde 1995, mais de 100 mil casos dessa natureza podem ter ocorrido nos EUA, um número elevado ainda mais se consideramos que boa parte deles simplesmente são tratados como abuso simples.

"O abuso de mulheres e crianças, por seitas é algo surpreendente. Isso faz parte da mentalidade de certas crenças, sobretudo aqueles que creem em rituais nos quais espíritos ou entidades assumem simbolicamente o corpo dos sacerdotes. Não é raro que isso aconteça, sobretudo em seitas fechadas de caráter messiânico. Líderes religiosos por vezes comandam seus seguidores a obedecer, afirmando que essa é uma vontade divina e que não pode ser negada. O mais terrível é que se trata de um crime continuado, um abuso que por vezes ocorre ao longo de anos."

Os esforços de Sandi conseguiram revelar cultos onde abusos eram realizados habitualmente, e mais de duas dúzias de indivíduos envolvidos em tais atividades foram presos. Contudo ainda é pouco, considerando que nos EUA há milhares de cultos, todos apoiados pelo direito constitucional que garante liberdade religiosa.   

"Trata-se de uma luta inglória, às vezes. Você se sente frustrada em não poder fazer muito, já que as pessoas não tem forças para romper esse círculo vicioso de abuso e exploração no qual estão inseridas. Mas quando conseguimos provar o que está acontecendo e tirar de circulação um desses alegados religiosos é uma vitória". 


Para a maioria de nós, e posso me incluir, a tendência é desacreditar essas histórias como algo fantasioso e absurdo. Afinal, não vivemos em uma era racional? Contudo, não é essa era moderna e esclarecida que gerou casos chocantes envolvendo cultos e crenças homicidas? Não foi em nossa era de progresso que Charles Manson, Jim Jones e tantos outros surgiram? Cultos homicidas infelizmente são uma realidade e pessoas desesperadas estão dispostas a viver e morrer em nome deles.

A necessidade de conhecer esse tipo de crime e criminoso obriga a lei a adotar novos métodos para investigar os chamados crimes ocultos. Compreender e penetrar nesse submundo de magia, onde demônios e mistérios são reais, se faz necessário. O que esses investigadores encontrarão nas sombras, só eles saberão ao certo.

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