quarta-feira, 14 de junho de 2023

A Casa, o Ator, o Culto e o Terror - Uma incrível história de Casa Assombrada e Fantasmas


Alguns lugares neste mundo parecem ser uma fonte inesgotável para o Paranormal.

São verdadeiros mananciais de Atividade Sobrenatural, gerando rumores duradores que através do tempo crescem como uma verdadeira bola de neve. Um destes lugares insalubres é o foco de nossa pequena exploração aos recessos profundos do Terror.

O ano era 1932 e o bem sucedido ator teatral Ian Davison estava farto dos palcos e holofotes. Ele era uma celebridade em Londres, conhecido e laureado como um dos maiores artistas de seu tempo e um dos maiores dramaturgos vivos. Entretanto, o estresse do trabalho estava ficando demais para ele. Davison estava cansado da carreira, dos contratos e da sua agitada vida social... em resumo, ele queria se distanciar de tudo e de todos. Para tanto, começou a contemplar a possibilidade de ter uma bela e tranquila casa isolada no campo. Acima de qualquer outra coisa, ele desejava ficar longe da cidade grande e das pressões constantes do teatro. Estabelecer uma sintonia com a natureza era algo com que ele sempre sonhou, para tanto, buscou uma propriedade na verdejante paisagem de Kent, onde planejava se aposentar. Ele conseguiu encontrar um lugar, mas suas esperanças de uma casa dos sonhos estavam prestes a se transformar em um pesadelo cercado por fenômenos sobrenaturais estranhos e incidentes aterrorizantes.

A propriedade que Davison adquiriu e onde decidiu se estabelecer era chamada Branden Hall.

O lugar, no entanto, demandava muitas obras e manutenção. A Mansão havia sido erguida há mais de 400 anos e ficava numa área isolada e selvagem coberta de mato. Ninguém habitava ali há décadas e o cenário era de completo abandono. Os amigos de Davison acharam que ele havia enlouquecido, contudo ele garantia que a Casa oferecia tudo aquilo que ele desejava e que torná-la habitável era parte da terapia que ele almejava. A estrutura também sinalizava com um grande desafio. Haviam tábuas podres, paredes desgastadas e um telhado com enormes goteiras. Não havia instalações elétricas ou de água e tudo ali era antigo e impróprio para a habitação humana. Os salões estavam cobertos de lixo e detritos, enquanto os quartos eram o lar de enormes ratos e insetos.

Ainda assim, Davison conseguia ver além daquela aparência decrépita de ruína. Na sua visão, Branden Hall ainda mostrava sinais fugazes de seu passado opulento e luxuoso, quando a mansão havia recebido a nata da sociedade de Kent em festas que entraram para a história local. Nos salões iluminados por lampiões haviam acontecido recitais, soirées e bailes. Nos jardins iluminados por tochas desfilaram indivíduos ilustres e carruagens despejaram visitantes maravilhados com os arredores. Branden Hall era famosa pelas suas belezas e o artista desejava trazer tudo aquilo de volta à tona - com pompa e circunstância.


Mas não seria tarefa simples; demandaria muito trabalho e gastos elevados. Felizmente, o ator tinha recursos suficientes e tempo para operar a transformação que almejava. Davison contratou empreiteiros e estes realizaram as obras preliminares que permitiram que ele se mudasse para o lugar que pretendia consertar, mas logo ele descobriria que ervas daninhas e ratos eram a menor de suas preocupações.

Quase imediatamente após se estabelecer, Davison experimentou várias esquisitices e anomalias bizarras que à princípio ele tentou relativizar. Um dos primeiros acontecimentos inexplicáveis foram as insistentes batidas nas paredes e janelas enquanto ele tentava dormir. Ele vasculhava a sala e olhava pelas janelas, mas nunca conseguia encontrar nenhuma explicação para aquelas batidas secas que ressoavam no meio da madrugada. Seu empreiteiro chefe explicou que podia ser o assentamento da velha casa ou apenas o vento e que eventualmente isso iria cessar. Entretanto, ao invés de diminuir os ruídos misteriosos apenas ganharam em intensidade, progredindo para sons de arranhar, estrondos e o que soava como passos fortes nas escadas, embora não houvesse mais ninguém na casa.

Em certa ocasião, Davison relatou o som do que parecia ser alguém correndo no pátio, seguido de um estrondo tão forte que a casa estremeceu. Pensando que o telhado havia desabado, ele foi ver o que havia acontecido, mas não encontrou nenhum sinal de dano ou qualquer coisa errada. Ele também passou a ouvir coisas mais ameaçadoras à noite: o som de respiração pesada ou ofegante, rosnados selvagens e até gritos, e muitas vezes tinha a impressão inabalável de estar sendo observado. Pior ainda era a sensação de que sua energia estava sendo drenada de seu corpo. Como se algo ali em Branden Hall estivesse se alimentando de suas forças, deixando-o em um estado cada vez mais de fadiga letárgica.

Davison tentava afastar conceitos absurdos sobre assombrações como meras superstições, mas logo ficou claro que ele não era o único incomodado pelos incidentes bizarros na Propriedade. Visitantes, empregados e hóspedes também relatavam ouvir os ruídos e experimentavam fenômenos estranhos. Alguns afirmaram ter pesadelos incrivelmente assustadores após dormir nas dependências, a maioria deles envolvendo estrangulamento e assassinato. Havia uma sala em particular que se dizia estar especialmente imbuída de algum tipo de energia paranormal sinistra. Este aposento, embora não parecesse diferente dos demais, sofreria flutuações extremas de temperatura, às vezes indo de um frio congelante a um calor escaldante em minutos, não importando a estação, e ninguém conseguia ficar na sala muito tempo. Um visitante que lá esteve, acabou perdendo os sentidos, tendo de ser levado para fora. Mais tarde ele contou que sentiu uma força invisível, como se mãos estivessem agarrando sua garganta e apertando com força.

Amigos próximos de Davison também diziam que um dos quartos era especialmente estranho. Nele, o sono não vinha facilmente, pois dizia-se que sopros espectrais, sussurros e odores nauseantes brotavam do nada. Também haviam supostas mãos gélidas que tocavam e empurravam qualquer um tolo o suficiente para tentar dormir naquele aposento. isso sem mencionar os relatos de mordidas que deixavam marcas horríveis na pele. Este quarto viria a ser conhecida como o "depósito", porque era apenas para isso que ele serviria, para o armazenamento de objetos, tão inadequado era para uma habitação real. E mesmo as caixas colocadas ali dentro teimavam em cair e de despedaçar.


Outras salas também tinham uma violenta atividade paranormal. Uma grande sala no andar térreo apresentava misteriosas marcas de pés descalços no assoalho empoeirado e de garras na madeira ou nos móveis que tombavam por conta própria. Esta sala também tinha o hábito de fazer as pessoas desmaiarem sem motivo aparente. O irmão de Davison, que havia vindo passar alguns dias em sua companhia sofreu um desses desmaios espontâneos e teve de ser levado às pressas para um hospital. Ele não se recordava do que havia ocasionado o desmaio, mas sentia que mãos espectrais apertavam seu pescoço. Um médico atônito apontou para marcas semelhantes a dedos na garganta do sujeito que se negou a voltar a Branden Hall e suplicou ao irmão que deixasse aquele lugar maldito o quanto antes.

Os fenômenos continuaram por algum tempo, mas as coisas estavam prestes a progredir para algo ainda mais assustador com o surgimento de aparições. Uma delas era de uma mulher de aparência desamparada em um vestido cinza, que vagava e parecia estar procurando por algo. Aparentemente alheia ao fato de que estava sendo observada, ela desapareceria no ar se alguém tentasse interagir com ela. Essa aparição em particular parecia deixar o ar espesso com desânimo ao seu redor, a ponto de aqueles que a viam serem tomados por uma tristeza repentina e irracional. O fantasma da Mulher Cinzenta (como ficou conhecida) não era, contudo, o único a espreitar pelos corredores sombrios. Havia também um homenzinho feio e atarracado que andava de um lado para o outro e parecia preocupado com alguma coisa e se irritava com facilidade. O sujeito por vezes interagia com os habitantes e perguntava quem eram eles e o que faziam acordados. Qualquer resposta que fosse dada recebia em contrapartida uma série de xingamentos e grosserias. Embora esses espíritos não fossem particularmente malignos, o mesmo não poderia ser dito de outro que dividia aquela velha mansão com eles.

O espectro mais assustador pertencia a um homem corpulento com "lábios grossos e sorridentes" sobre dentes amarelados e irregulares, descrito por Davison como "o homem de aparência mais desagradável sobre o qual pousei os olhos". A entidade usava um traje de cetim verde brilhante, marrom e vermelho, e normalmente aparecia na grande sala do andar de baixo. 

Sempre era anunciado pela aparição de um gato preto fantasmagórico, e quando esse gato aparecia, era um sinal claro de que o homem de aparência maníaca não estava muito longe. A entidade costumava flutuar pela sala e desaparecia na lareira deixando uma trilha de gosma limosa de aspecto e cheiro nauseantes. Também costumava fazer a temperatura da sala cair a níveis insuportáveis, compelindo os presentes a tremerem de frio. Ao contrário da mulher de cinza, essa monstruosidade ameaçadora interagia com testemunhas, como em uma ocasião em que Davison perguntou se ele era um "demônio do inferno". A resposta foi uma gargalhada sibilante e maligna, seguida de uma abrupta queda na temperatura que quase fez o artista desfalecer.

O "Homem Desagradável" como veio a ficar conhecido supostamente era o espectro de Lorde Marcus Cosgrove, um dos primeiros residentes de Branden Hall em meados do século XVI. Ele tinha fama de ser um sujeito intragável tanto em aspecto quanto em personalidade, notório por importunar as moças de um vilarejo próximo e de trazer para sua casa donzelas que eram raptadas e defloradas. Sua fama era tamanha que alguns o tinham como um verdadeiro ogro. Chegavam a cogitar que Cosgrove havia assassinado um bom número de vítimas inocentes e que se livrara de seus cadáveres ordenando que fossem emparedadas no salão. 


Os rumores nunca foram confirmados e as buscas de Davison por ossos misturados ao reboco das paredes não se traduziu em qualquer descoberta significativa. Ainda assim, as lendas davam conta de que Cosgrove pode ter sido um maníaco que supostamente terminou seus dias assassinado por um noivo em busca de vingança. Para tornar tudo ainda mais assustador, o espectro parecia reservar comentários especialmente repulsivos a testemunha do sexo feminino. Certa vez ele teria ameaçado esganar uma parente de Davison e "arrancar a vida de seu corpinho frágil", tudo isso com um sorriso maligno nos lábios. 

Além desse fantasma abjeto haviam outras figuras sombrias menos definíveis à espreita na extensa propriedade rural. Nos campos se ouvia o som de cães e de um misterioso Guarda-Caça conhecido como Robert Muncee que cavalgava um animal negro com olhos de fogo. Um jardineiro misterioso e com uma longa barba grisalha também vagava pelos jardins, deixando um rastro na relva queimada após a sua passagem. 

Tudo aquilo era perturbador demais e Davison decidiu trazer um renomado Investigador Psíquico chamado Ronald Kaulbeck para verificar o que se passava. O primeiro cômodo que Kaulbeck investigou foi o nefasto aposento no térreo, que o impressionou com a sensação pura e esmagadora de malevolência e "pavor em estado bruto" permeando o espaço e vazando dele. O investigador decidiu passar a noite lá, e como havia acontecido com aqueles que haviam tentado antes, ele foi atacado por mãos invisíveis que agarraram sua garganta e puxaram seu cabelo. Quando ele pediu ajuda, três outros vieram correndo, mas a entidade continuou a estrangulá-lo, mesmo quando os homens tentaram ajudá-lo. Ele foi quase morto antes que as mãos fantasmas abandonassem seu aperto para deixá-lo ali se contorcendo ofegante.

Kaulbeck recrutaria alguns outros médiuns para ajudá-lo, e eles chegariam à conclusão de que os espíritos que infestavam a casa faziam parte de um Culto Satânico devoto da Magia Negra que havia usado a casa para vários rituais ocultos. Os investigadores paranormais foram capazes de conjurar a informação de que Marcus Cosgrove não era o único maníaco a ter residido ali. A mansão, de fato, parecia atrair as piores pessoas.

Um destes infames residentes supostamente foi um ocultista famoso chamado George Tarver, que teria sido mestre de um cabala de bruxos e feiticeiras. Tarver ganhou notoriedade no século XVII por alegar controlar demônios e ser capaz de realizar alta feitiçaria. As pessoas não o levavam muito à sério, achando que ele era simplesmente um lunático, mas outros alegam que sua fama de bruxo tinha fundamento e que muitos em Kent o temiam. Havia o boato persistente de que Tarver havia oferecido seu próprio filho como sacrifício num ritual diabólico, o que deixou sua amante louca, após o que, ele a estrangulou até a morte. Essa amante seria a tal mulher cinzenta que buscava o filho oferecido para as forças das trevas. O homem atarracado foi identificado como um serviçal chamado Hunter, um dos seguidores de Tarver até que protestou contra a morte da amante e foi assassinado por estrangulamento também. 


Os investigadores acreditavam que esses espíritos, em particular o de Tarver, estavam zangados e inquietos porque Davison havia invadido seu covil e realizado reformas. Eles recomendaram fortemente que ele desistisse de viver em Branden Hall, mas surpreendentemente, em vez de sair, Davison continuou com seu trabalho de renovação, desafiador diante dos ataques sobrenaturais. 

Os fantasmas aparentemente não gostaram nada disso.

Uma tarde, Davison se retirou para o quarto quando a porta de um dos aposentos se abriu violentamente e revelou a presença de uma figura que até então não havia se manifestado. Era um homem alto e esguio, com cabelos longos grisalhos caindo sobre os ombros e olhos perversos faiscando. Ele não teve dúvida de que estava diante do espectro maligno de George Tarver que decidiu finalmente surgir para afugentá-lo. 

Davison queria correr, mas já estava farto de ser ameaçado pelos espíritos, então disse desafiadoramente à entidade: "Saia dessa casa! Esse lugar agora me pertence! Minha vontade é mais forte que a sua! Não importa o que te prende aqui! Tens de sair! Saia!". O fantasma rosnou e avançou contra ele tentando agarrar sua garganta para esganá-la, mas Davison conseguiu se esquivar, sentindo a presença gélida da assombração.

Na manhã seguinte ele reuniu o mesmo grupo de médiuns, reforçado por mais dois importantes espiritualistas muito recomendados para proceder em uma tentativa de exorcizar a presença maligna que dominava a Propriedade. Eles acreditavam que Tarver havia mantido todos os demais espíritos que estavam presos na casa escravizados e que extraía deles a energia para continuar atormentando o local. O plano seria, portanto, cortar essa influência, libertar os outros fantasmas e só então se voltar contra a aparição mais poderosa.

Segundo os relatos de Davison, o grupo começou a esconjurar os fantasmas do serviçal e do jardineiro, que já eram conhecidos deles. Estes deram pouco trabalho se comparados ao de Cosgrove e de Robert Muncee que ainda galopava seu alazão negro com olhos queimando pelos jardins da casa. Um a um, entretanto, eles foram senso expulsos por uma combinação de esconjuros e ordens que Ian Davison definiu como perfeitamente teatrais e impressionantes. Após dois dias consecutivos desta batalha psíquica, o grupo se voltou para o maior desafio que tinham pela frente, o maligno satanista George Tarver.


Segundo o relato de Davison, seguiu-se uma "batalha de vontades" em que os Investigadores Paranormais tentavam compelir o espírito a desistir da luta. Ao longo de um final de semana inteira, a disputa prosseguiu, com façanhas impressionantes de atividade paranormal, com estrondos, objetos sendo atirados e quebrados e variações drásticas de temperatura. Alguns dos envolvidos se sentiram tão esgotados física e emocionalmente que tiveram de ser substituídos para que pudesse recobrar suas forças antes de entrar novamente na contenda. Ao fim de quase 72 horas ininterruptas, que Ronald Kaulbeck descreveu como uma das mais assustadoras disputas místicas jamais ocorridas, o espírito atormentador acabou por ceder. Ele se manifestou uma última vez e então começou a se desfazer até desaparecer por completo. Imediatamente a forte sensação opressiva que reinava na casa se desanuviou e os presentes sentiram que aquela presença maligna havia enfim sido derrotada.

Nos dias que se seguiram, Davison alegou ter visto o fantasma da Mulher Cinzenta em pelo menos duas ocasiões, mas este não parecia mais atormentado. Parecia, outrossim, agradecido e a última vez que a aparição da mulher foi vista, ela simplesmente se desfazer. 

Depois desse embate, as aparições nunca mais seriam vistas na casa e os fenômenos paranormais cessaram de um todo. Davison continuaria suas reformas e, embora levasse vários anos, ele acabaria transformando Branden Hall em uma propriedade luxuosa e deslumbrante cercada por terras agrícolas, vastos jardins de flores e pomares extensos. De fato, tornou-se conhecida como uma das propriedades agrícolas mais rentáveis e grandiosas da região. Nada mal para uma mistura assustadora e decrépita de ervas daninhas outrora usadas por um culto satânico. 

A narrativa se mantém até os dias atuais como um dos mais incríveis embates entre espiritualistas e as  forças das trevas. Um acontecimento que foi registrado por Kaulbeck em um livro intitulado "A Assombração de Branden Hall - O relato do mais notável embate paranormal da Inglaterra", lançado em 1940.

No final das contas, o que teria ocorrido naquela propriedade isolada nas florestas de Kent? Branden Hall teria sido realmente assombrada pelas forças das trevas, ou tudo não passou de uma bem construída história de fantasmas? Apenas aqueles que estiveram lá, e participaram do evento, podem dizer com propriedade. Para nós, é uma questão de crer ou não. De acreditar ou desacreditar da existência de coisas que não estamos inteiramente preparados para aceitar.

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