A seguir temos um dos sítios mais sinistros da Espanha, um lugar assustador cuja história chocante remonta ao conflito que dividiu o país na década de 1930.
A localidade assombrada chamada Belchite, se localiza na região de Zaragoza em uma área isolada do país. Ela é bastante conhecida por sua história de violência e brutalidade, tendo sido palco de uma das mais sangrentas batalhas travadas durante a Guerra Civil espanhola.
Tudo começou em 1937, quando o Exército Nacionalista, que controlava a cidade foi vítima de uma implacável ofensiva por parte dos Republicanos. Em maior número e mais bem equipados, estes marchavam para Zaragoza e a cidade de Belchite se tornou um dos últimos focos de resistência em seu avanço. Quando chegaram aos muros da cidade o comandante exigiu sua rendição imediata. Uma guarnição que controlava a cidade se negou a depor armas e se entrincheirou. A resistência foi brava, mas na mesma proporção que os defensores demonstraram grande coragem, também exigiram que a população ficasse ao lado deles. Nenhum civil tinha permissão de entrar ou sair, nem mesmo mulheres e crianças.
Logo a situação ficou insustentável!
Com a chegada de artilharia pesada e aviões a coisa piorou drasticamente. Projéteis eram disparados dia e noite para dentro de Belchite demolindo casas e fazendo muitas vítimas civis. Aviões faziam mergulhos rasantes sobre a cidade e despejavam uma chuva de bombas incendiárias. O bombardeio maciço durou nada menos do que 14 dias, deixando um saldo de 5 mil mortos, sendo que destes pelo menos 4 mil eram não combatentes. Um levante popular que tencionava se render foi duramente repelido e muitas pessoas foram executadas por pelotões de fuzilamento.
No fim, as defesas acabaram sendo rompidas e os atacantes entraram na cidade matando indiscriminadamente quem achavam pela frente, acreditando que a população era favorável aos Nacionalistas.
A cidade de Belchite foi reduzida a ruínas fumegantes com cadáveres insepultos em todo canto, um inferno devastado por artilharia pesada. Não é de se surpreender que ele tenha sido abandonado pelos sobreviventes que vivenciaram esse terror. De fato, o lugar foi evacuado e não foi permitido que as pessoas levassem nada, nem que enterrassem seus entes queridos ou carregassem os feridos. Muitos destes foram simplesmente fuzilados, os corpos atirados em fogueiras ou jogados em covas rasas. O massacre de Belchite se tornou um dos capítulos mais medonhos da Guerra Civil Espanhola, um conflito marcado por atrocidades chocantes praticadas por ambos os lados.
Posteriormente, alguns sobreviventes ou parentes receberam permissão de retornar às ruínas de Belchite para procurar os restos de algum ente querido, mas a tarefa foi no mínimo complicada. O governo decidiu simplesmente reunir todos os ossos espalhados pelo terreno, cavar uma vala e sepultar as ossadas juntas.
É surpreendente, mas ainda hoje, os prédios danificados pela guerra continuam de pé no mesmo local. A cidade é uma lembrança triste de um período em que a Espanha se viu dividida ideologicamente. Algumas edificações resistiram, pois foram erguidas com pedras e material resistente, mas não restava muito além de paredes arruinadas, pilhas de pedras, chaminés e tijolos desconjuntados. Ainda assim, é possível discernir os contornos da velha igreja, da praça e da prefeitura, além de muitas casas detonadas pelos projéteis.
A essa altura, você deve estar se perguntando porque esse lugar não foi simplesmente demolido e transformado em algo menos horrível. A resposta é simples: História. Belchite é um dos últimos marcos do período e embora muitos espanhóis queiram esquecer dessa guerra fratricida, existe o comprometimento com a história. Colocar abaixo Belchite seria acabar com uma lembrança que embora amarga era necessária para reconstruir o país.
Muito bem, a explicação é convincente, mas não causa nenhuma surpresa informar que a cidade é considerada incrivelmente assombrada. Todas as coisas horríveis que aconteceram aqui deixaram uma mácula no solo, no ar e nas ruínas como um todo, uma mácula que muitos afirmam se manifestar constantemente.
Um fenômeno comum relatado por visitantes diz respeito aos sons fantasmagóricos de batalha que continuam ecoando quase um século depois de silenciados. São ruídos de bombas, tiros, explosões abafadas e até de aviões. Também há o som de canções, gritos e gemidos de pessoas que teriam morrido no sítio. Esses sons são tão claros que as pessoas que os ouviram afirmam ser algo surreal, que causa arrepios e deixa uma sensação desconcertante.
Também são frequentemente avistados soldados espectrais em uniformes da década de 1930, bem como vários civis e figuras sombrias menos definidas. Há personagens conhecidos, como um soldado com uniforme rasgado e coberto de sangue que corre gritando "vamonos hombres!" para aliados invisíveis. Também há uma mulher espectral carregando uma criança em seus braços e pedindo socorro a todos que encontra, sem se dar conta de quem são seus interlocutores. Finalmente, existe um fantasma recorrentemente visto nos escombros que xinga, amaldiçoa e até investe contra as pessoas. Este é chamado "el Capitan", porque em teoria veste um uniforme de oficial e tem em suas mãos uma pistola Mauser. O capitan chegou a ser reconhecido como Esteban Aristo, um dos defensores da cidade que conduziu a defesa e que supostamente continua a fazê-lo pela eternidade apesar de estar morto.
Ocasionalmente são relatados fenômenos ainda mais sinistros no interior das ruínas. Muitas pessoas mencionam serem empurradas, esbofeteadas ou golpeadas por mãos invisíveis. Este contato espectral é geralmente descrito como algo desagradável e frio. Há aqueles que mencionam um fedor de carne queimada, de fumaça e de pólvora que pode ser sentido sempre que o vento sopra pelas ruas desertas.
Não são poucos os relatos de pessoas afirmando terem sido tomadas por um pavor incontrolável forte o bastante para fazer os visitantes fugirem aos gritos. Algumas pessoas contaram sentir como se seus corpos estivessem sendo puxados ou empurrados, ou ainda perdendo o controle de seus membros por algum tempo. Os fantasmas também tendem a falar através de pessoas sensitivas, que gritam, choram e se desesperam. Há casos de pessoas que embora desconhecessem o idioma local, misteriosamente gritavam em espanhol ou em dialetos que jamais haviam ouvido.
Um incidente como este foi relatado pelo jornalista e pesquisador Carlos Bogdanich, que visitou Belchite em 1986 junto com uma equipe de filmagem do programa de televisão Cuarta Dimensión. Ele afirmou que enquanto estavam lá, uma força desconhecida o dominou e falou através dele pedindo socorro e implorando para que membros de "sua família" fossem encontrados.
Ele diria sobre isso:
"Eu nunca pensei que algo assim pudesse acontecer. Foi algo inesperado! Eu perdi a consciência e não me recordava de nada, mas quando vi a filmagem na qual eu falava com uma voz que não era minha, fiquei muito assustado. Esse lugar causa uma sensação inenarrável de perda e assombro. Você sente o peso da tragédia e não tem como evitar a sensação esmagadora e deprimente que reina aqui. Belchite é um dos lugares mais tristes que eu já visitei... suponho que ninguém é capaz de ficar insensível a sua aura".
Várias equipes de televisão visitaram Belchite ao longo dos anos.
Uma destas obteve várias leituras de EVP (Electronic Voice Phenomena), que foram apresentados ao vivo em um programa de televisão. Os sons eram muito claros e perfeitamente compreensíveis, incluindo gritos, tiros e explosões. A Plaza de la Cruz, a vala comum que serviu para sepultar os ossos e as duas igrejas da cidade são consideradas particularmente assombradas, com a atividade mais intensa relatada a partir desses pontos.
Esses elementos fantasmagóricos tornaram Belchite um destino popular para pesquisadores paranormais e parapsicólogos do mundo inteiro. Ele era tão famoso por seus fantasmas quanto por seu cenário pitoresco e sua história sombria. Em 1998, a Secretaria de Resgate Histórico da Espanha passou a negar visitas ao local, alegando que visitantes estavam causando danos ao local. Também foi dito que algumas pessoas estavam se aproveitando da história local para obter lucro e fama. Hoje as ruínas são protegidas e a permissão para visitá-las passa por uma análise criteriosa.
O ambiente misterioso de Belchite atraiu o cineasta mexicano Guillermo del Toro que conseguiu autorização do governo espanhol para filmar algumas cenas de seu filme "O Labirinto do Fauno" (Pan´s Labyrinth) nas ruínas da cidade. Del Toro descreveu a experiência como assustadora e contou em entrevista que, embora não tenha visto ou ouvido nada sobrenatural, sentiu uma forte presença no ar - como se algo estivesse ali com a equipe de filmagem.
Com uma história dessas, difícil não sentir tal coisa...
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