terça-feira, 27 de agosto de 2024

Montanhas Sinistras - As lendas mais macabras sobre montanhas na África

Uma das montanhas mais sinistras do continente e africano se encontra no Zimbábue

Localizada em meio a uma natureza de tirar o fôlego nas Terras Altas Orientais fica o Parque Nacional Nyanga. Esse e um dos maiores e mais antigos parques nacionais do país. Uma terra de colinas verdes onduladas, vastas charnecas e extensões arborizadas, habitadas por uma grande variedade de animais selvagens, onde riachos serpenteiam território adentro. O parque é uma das principais atrações turísticas do Zimbábue, e ocupando o centro desse esplendor natural está o majestoso Monte Nyangani. Com 2.592 metros, o ponto mais alto de Zimbabwe, e seu cume se encontra eternamente coberto por névoa tão espessa que parecem impenetráveis.

Segundo o folclore local, o Monte Nyangani é habitado por poderosos espíritos ancestrais e é um lugar sagrado. Também é dito ser o refúgio de espíritos malignos ou vingativos e todos os tipos de entidades e criaturas sobrenaturais. A montanha é temida há muito tempo pelo povo da região, um lugar a ser abordado com cautela, pois há inúmeras regras que, de acordo com a tradição, devem ser seguidas ao se aventurar lá. Não se deve aproximar ou entrar em locais sagrados na montanha, pois diz-se que isso resultará na ira dos espíritos. Aqueles que adentram o território sagrado são perseguidos e caçados por feras invisíveis e monstros que vagam nas encostas. Tribos de homens serpentes, anões de pele cobreada e feras com seis patas são apenas alguns dos terrores que espreitam nesse lugar.

Também é dito que se alguém se deparar com uma cobra colorida, uma panela de comida ou um tijolo de ouro, são os espíritos enganando você, e que é melhor ignorá-los e seguir em frente rapidamente. Dizem que os mesmos espíritos gostam de empurrar as pessoas de saliências íngremes e fazer com que elas despenquem nas ravinas obre pedras afiadas como navalha. É recomendado aos visitantes se abster de acender fogueiras e não usar roupas vermelhas sob hipótese nenhuma pois isso irritaria os espíritos. Mesmo que alguém planeje seguir essas regras definidas, os visitantes são fortemente aconselhados a pedir permissão aos anciãos da aldeia para escalar a montanha.


Há lendas obscuras que têm sido sussurradas entre as tribos locais desde tempos imemoriais. Visitantes e moradores que visitaram a misteriosa montanha relatam uma ampla gama de estranheza ocorrendo ali. Dizem que bússolas e equipamentos elétricos às vezes enlouquecem ou quebram completamente, que fotos tiradas não revelam corretamente. O clima não obedece a nenhuma previsão racional, com rajadas de vento parecendo rugir nos momentos mais inoportunos e neblinas espessas se materializando do nada. Também há vários relatos de visitantes ficando atordoados, confusos ou desorientados sem motivo aparente, com até mesmo exploradores experientes sentindo uma inexplicável tontura e náusea. Outras estranhezas incluem sons não identificáveis, luzes bizarras e animais que parecem se comportar de maneira incomum. Há relatos de árvores distorcidas com o rosto de pessoas se formando em seus troncos e vozes incorpóreas que sussurram. Isso sem falar de riachos que adquirem uma cor vermelho sangue.

A área ao redor da montanha é repleta de histórias assustadoras sobre locais mágicos e feras bizarras. Por exemplo, duas represas que estavam em construção na área nos anos 60 foram supostamente amaldiçoadas, enfrentando problemas com acontecimentos inexplicáveis. Os moradores locais culpavam os espíritos por essas ocorrências estranhas. Além de bizarros acidentes de construção, mau funcionamento de equipamentos e súbitas mudanças de tempo, havia ainda desaparecimentos de pessoal. Gente que sumia sem deixar vestígios! As coisas ficaram tão tensas que sacerdotes tribais foram convocados para conduzir rituais que visavam apaziguar os espíritos furiosos.

O Monte Nyangani tem a fama de engolir viajantes incautos e fazer com que eles vaguem pela eternidade como fantasma. Embora não se saiba quantas pessoas realmente desapareceram nos arredores do Monte Nyangani, há casos recentes de desaparecimentos que permanecem sem solução. Uma onda de tais desaparecimentos ocorreu na década de 1980. Em 1981, duas jovens filhas adolescentes de um ex-funcionário do governo chamado Tichaendepi Masaya desapareceram sem deixar vestígios na montanha, e uma busca massiva por ar e terra não revelou um único fragmento de evidência do que havia acontecido com elas. O desaparecimento continua sendo um mistério completo. Alguns anos depois, houve o misterioso desaparecimento de um estudante de 12 anos chamado Robert Ackhurst, que se afastou de um grupo em uma excursão escolar e desapareceu da face da terra. O professor de Robert supostamente ficou tão perturbado por ter perdido uma criança sob seus cuidados que cometeu suicídio no ano seguinte. A década de 80 veria pelo menos mais três desaparecimentos inexplicáveis ​​na montanha, e em todos os casos nenhum vestígio das vítimas foi encontrado.


Um caso mais recente envolve Zayd Dada, de 31 anos, que era um turista zimbabuense de ascendência indiana. Em 4 de janeiro de 2014, Dada fez uma caminhada montanha acima com sua esposa e outro casal da qual ele nunca voltaria. Supostamente, quando o grupo chegou na metade da montanha, Dada se afastou por um momento para observar a paisagem. Quando ele não retornou, seus amigos o procuraram, mas não o encontraram em lugar nenhum. Uma busca extensiva foi lançada envolvendo o Exército Nacional e a Força Aérea do Zimbábue, além da polícia e bombeiros, que varreram a paisagem usando tecnologia avançada, como mapas de satélite 3D e scanners infravermelhos. Todas as rotas possíveis para escalar a montanha foram meticulosamente vasculhadas, sem sucesso, e a história virou notícia no país. Mesmo depois que a busca oficial não encontrou nenhum sinal do turista desaparecido, a família distribuiu panfletos em vários idiomas. Os amigos e a família de Dada estavam tão desesperados para encontrá-lo que até buscaram conselho de chefes tribais locais, que organizaram rituais para apaziguar os espíritos da montanha, mas isso também se mostrou inútil.

Talvez ainda mais estranho do que aqueles que desapareceram sem deixar vestígios no misterioso Monte Nyangani são aqueles que desapareceram apenas para reaparecer mais tarde com histórias bizarras para contar. Um desses relatos diz respeito a um alto funcionário do governo que desapareceu na montanha no início dos anos 1980 durante uma excursão com dois companheiros. O grupo ficou desaparecido por um total de 4 dias, durante os quais as operações de busca não conseguiram encontrar nenhum vestígio deles. Durante esse tempo, o grupo alegou mais tarde que havia vagado sem rumo em um estado confuso e que não se sentia cansado, desidratado ou com fome o tempo todo. Eles também relataram que viram equipes de resgate procurando por eles, mas que eles próprios pareciam estar invisíveis, não sendo vistos nem ouvidos quando chamaram seus possíveis socorristas.

Dizem que foi somente quando os líderes tribais da área fizeram um sacrifício de sangue desesperado aos espíritos da montanha que o oficial desaparecido e seus companheiros foram milagrosamente encontrados novamente, e embora estivessem desaparecidos por 4 dias, eles próprios acreditavam que estavam desaparecidos há apenas algumas horas. Foi alegado na época que eles estavam presos em uma espécie de reino intermediário entre realidades, mantidos pelos espíritos da montanha até que fossem apaziguados, presos em uma espécie de estado de suspensão ou limbo chamado chimidza pelos nativos. De fato, outros que desapareceram no Monte Nyangani e voltaram vivos relataram uma espécie de estado de transe. Mesmo quando encontrados foram incapazes de lembrar onde estavam ou o que exatamente aconteceu com eles. Seria possível que essas pessoas estivessem escravizadas por forças obscuras capazes de prendê-los em outra realidade?

Ainda mais recentemente é o caso de um turista britânico de 20 anos chamado Thomas Gaisford, que corajosamente saiu para explorar o Monte Nyangani em novembro de 2016. Um estudante universitário do segundo ano, Gaisford era um experiente explorador. O jovem aventureiro embarcou em uma viagem ao cume da montanha sozinho, mas estava entusiasmado e otimista sobre a provação. No entanto, as coisas tomariam um rumo estranho bem rápido.


Por volta das 15h, Gaisford contou que uma neblina anormalmente espessa desceu da montanha para envolvê-lo completamente. Desorientado e incapaz de encontrar seu caminho através do nevoeiro que o cercava, ele decidiu montar acampamento e armar uma barraca para esperar o tempo amainar. Logo depois uma chuva forte e abrupta começou a cair sobre ele. O rapaz acabaria ficando lá durante a noite, e na escuridão crescente relatou que observou formas estranhas que mantiveram sobre ele uma vigília incômoda. Ele seguiu os conselhos e advertências dos moradores locais que lhe disseram para ignorar qualquer presença fantasmagórica e não acender fogueiras. Mais tarde ele contaria sobre a experiência bizarra e perturbadora:

"Eu fiquei lá por 12 horas, sozinho e no escuro. Eu rezei e pedi proteção. Várias cobras assustadoras se aproximaram de mim. Eu nunca as perturbei. Eu percebi sombras ameaçadoras e vultos gigantescos ocultos no nevoeiro. Eu me mantive imóvel, como se não estivesse vendo nada, apesar de perceber as formas medonhas que me observavam. Vi ainda olhos vermelhos brilhantes me encarando. Eu sei que fui testado, mas permaneci firme. Acordei na manhã seguinte depois que a neblina se dissipou e parti sem olhar para trás. Foi a experiência mais aterrorizante da minha vida".

Seria esse o relato de um homem assustado e sozinho em uma montanha famosa por seu clima imprevisível ou haveria algo mais, como ele próprio disse. Talvez as lendas sinistras tenham reverberado no fundo de sua mente para amplificar o terror da situação, mas quem pode saber ao certo? Se Gaisford não tivesse montado acampamento e esperado a névoa misteriosa que o envolvia, ele também teria se tornado mais uma das vítimas da montanha, condenado a desaparecer da face da terra como os outros? O próprio Gaisford era cético sobre a tradição assustadora que cercava a montanha antes de sua jornada, mas lá em cima, sozinho, ele obedeceu aos conselhos dos líderes tribais sobre como se comportar. Ele refletiria sobre a experiência, dizendo:

"Eu tinha ouvido muitas histórias estranhas sobre essa montanha, mas nunca acreditei nelas. Tentei colocar isso no fundo da minha mente. Nunca levei à sério as lendas, mas depois percebi que deveria ter feito isso. Estou feliz por estar vivo. Há mais para vivenciar. Aprendi muito sobre o Zimbábue e sobre mim mesmo sozinho naquele lugar assustador".


Se você perguntar às tribos da área, elas contarão histórias fabulosas sobre espíritos errantes raivosos, magia negra e zonas proibidas entre dimensões que prendem almas. Os anciãos tribais há muito alertam que é absolutamente necessário seguir as regras da montanha e não irritar os muitos espíritos errantes que a guardam eternamente. De acordo com os moradores locais, as pessoas desaparecidas estão sendo mantidas em cativeiro pelos espíritos da montanha e, se tivessem seguido as regras estariam bem. Eles também afirmam que a única possibilidade de trazer essas pessoas perdidas de volta é por meio de rituais intensos para pedir perdão a esses espíritos. Um morador local chamado Sekuru Nhando relembrou uma das buscas e como ela se relacionava com essas regras:

"A busca foi cancelada devido aos ventos fortes e a mudança abrupta no clima. Apenas quando os sacerdotes tribais se reuniram e fizeram uma oração para apaziguar os espíritos a ventania diminuiu. Antes ela era tão forte que nem os helicópteros eram capazes de voar em segurança. Havia homens temendo serem empurrados lá do alto ou ficarem cercados pelas névoas espessas. Alguns deles ficaram tão apavorados com o avanço do nevoeiro sobre eles e com coisas que disseram ter visto parcialmente que não queriam seguir adiante. Voltaram para suas casas com olhares assombrados".

Montanhas, não apenas da África, mas do mundo inteiro, são propícias a estranhezas, e não se sabe exatamente o que acontece nesses lugares ou sobre a influência que elas exercem sobre as pessoas. De fato, não há como precisar o que aconteceu nos casos apresentados. Haveriam poderes além da nossa compreensão se reunindo em torno desses montes? Ou é tudo simples folclore e mito propagados pelos habitantes supersticiosos? Seja qual for o caso, as montanhas provavelmente continuarão a atrair histórias estranhas sobre o paranormal e continuarão a exercer sobre nós eterno fascínio.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Montanhas Malditas - Lendas e superstições dos Montes mais assombrados da África


Ao longo da história humana, as montanhas sempre exerceram enorme fascínio e admiração nas pessoas. Pairando sobre a paisagem, elas deram origem a lendas, mitos e histórias estranhas gravitando ao seu redor. Para alguns, elas são a morada de Deuses e espíritos, para outros, elas próprias seriam divindades gigantescas adormecidas. Há picos desolados guardando segredos, eles constituem uma presença intimidadora que alcança os céus. As montanhas são o palco perfeito para o mundo do estranho, e aqui veremos uma seleção de montanhas na África consideradas amaldiçoadas, assombradas ou ambas as coisas.

Localizada no norte de Kwa Zulu, África do Sul, fica a Reserva de Caça Mkuze, que abrange uma vasta faixa de savana de acácias, pântanos e uma variedade de bosques e florestas ribeirinhas povoadas por muitos animais e mais de 420 espécies diferentes de pássaros. Pairando sobre esta majestosa região selvagem está a assustadora Montanha Fantasma, que se projeta da cordilheira Ubombo. Ela é figura imponente na paisagem selvagem, com um pico cinza que dizem ter o formato da cabeça de uma velha. Este é um lugar que há muito tempo está impregnado de lendas e manteve os nativos em um estado de admiração e medo. Ele possui uma história turbulenta e sangrenta marcada por batalhas e contos de assombrações.

A montanha foi o local de uma violenta invasão da tribo Ndwandwe, liderada pela família Gaza. Eles foram dizimados pelo Rei zulu Shaka e seus guerreiros em 1819, forçando-os a recuar para Moçambique. Depois disso, houve a Guerra Anglo-Zulu de 1879 quando os britânicos tentaram governar a Zululândia dividindo-a em 13 estados. Houve rivalidade feroz e lutas entre diferentes facções da outrora grande nação zulu. Em 1884, esses ferozes guerreiros lutaram contra um exército de guerreiros usuthu e colonos holandeses bôeres na sangrenta Batalha de Tshaneni. Após essa carnificina, o campo de batalha ficou coberto com milhares de corpos de guerreiros mortos. O coronel bôer Reitz mencionaria que quando viajou pela região na década de 1920, haviam inúmeros esqueletos espalhados nas encostas da Montanha Fantasma.


De fato, com tantas tragédias, a montanha parece ter bebido o sangue de muitos homens e desde tempos imemoriais sempre foi relacionada com a morte e o mundo espiritual. Há relatos de sussurros e gemidos típicos de um campo de batalha ouvidos décadas depois da batalha ter sido travada. O som dos feridos e moribundos agonizando sob o sol abrasante é carregado pelo vento. Também se fala de brados de guerra e de gritos de gelar o sangue que parecem reverberar nos campos como se a batalha continuasse ao longo dos séculos. Alguns descrevem ainda um fedor nauseante de sangue, morte e corrupção emergindo do próprio solo.  

Certamente essa longa história de batalha transformou a Montanha Fantasma num lugar ligado a Fenômenos sobrenaturais de toda ordem. Além de luzes estranhas vistas na encosta íngreme, há explosões subterrâneas misteriosas que fazem o chão tremer e  aparições sombrias que espreitam entre as árvores antigas. As lendas dão conta de que um número anormal de pessoas desaparece aqui, supostamente vítimas de espíritos famintos que os agarram e levam para seu reino sombrio. 

Diz a lenda que a Montanha Fantasma por algum tempo foi considerada sagrada pois era lá que ocorria o sepultamento de chefes tribais do Clã Gaza. Os súditos realizavam uma longa peregrinação levando os corpos mumificados de seus reis em liteiras carregadas pela selva. Os corpos envolvidos em linho eram então sepultados em cavernas profundas escavadas na encosta da montanha. No século XIX, os Zulu dominaram a região e passaram a impedir esse costume. As rotas que levavam ao topo da Montanha foram fechadas. Há uma história sombria sobre uma comitiva que levava o cadáver de um Rei morto e que foi atacada implacavelmente pelos Zulus. Os peregrinos foram emboscados e massacrados com golpes de facão e machado. A seguir, seus cadáveres foram pendurados pelos pés no alto de árvores em um espetáculo macabro.  


Também na África do Sul encontra-se a cordilheira conhecida como Drakensberg que se eleva a mais de 3400 metros e se estende de nordeste a sudoeste por 1150 quilômetros. Nomeadas como Patrimônio Mundial da UNESCO, as montanhas são conhecidas por sua ancestral arte rupestre e história humana. Há fósseis que remontam a milhares de anos tanto de animais pré-históricos, quanto de homens primitivos. Seus picos altos justificam o apelido de "Reino no Céu". O trecho mais elevado das Drakensberg está localizado no Lesoto, em uma região há muito marcada por guerras sangrentas, bem como vários mitos, lendas e tradições tribais.

Uma lenda muito difundida dá conta de que essas montanhas foram um dia habitadas por uma raça de lagartos gigantes que aterrorizavam a região. Há arte rupestre retratando essas bestas reptilianas gigantes e serpentes colossais adornando as paredes de cavernas e rochas sagradas. Essas histórias eram tão comuns que os colonos holandeses que ali se estabeleceram nomearam a montanha Drakensberg, que significa no dialeto afrikaner "Montanha do Dragão”. Os dragões ou lagartos gigantes figuram em incontáveis lendas, como monstros terríveis que perseguiam, atacavam e devoravam pessoas que invadissem seu território de caça. O medo era tamanho que quando os colonos se exploraram a região, a encontraram desabitada e os nativos se negavam a acompanhá-los por temer a presença dos monstros.

As lendas sobre lagartos monstruosos vivendo nas Drakensberg alimentou todo tipo de lenda e fantasia sobre uma "terra que o tempo esqueceu", onde possivelmente viveriam os últimos remanescentes dos dinossauros. De fato, foi encontrada uma quantidade notável de fósseis de grandes sáurios do jurássico, o que evidencia que as montanhas serviram de habitat para essas criaturas. É possível que a descoberta de ossadas ancestrais tenham contribuído para a criação do mito de que ali viviam répteis gigantes.


Outro tipo de criatura sobrenatural encontrado nessas montanhas era uma raça de criaturas meio-humanas dotadas de enormes chifres recurvos conhecidos como "Homens de Eland". Estes seres de pele cinza-azulada eram considerados ferozes e altamente territoriais atacando quaisquer invasores em suas terras. As histórias davam conta de que eles também caçavam e escravizavam as tribos vizinhas, obtendo prisioneiros que eram levados para as aldeias e devorados em orgias de canibalismo.

Relatos envolvendo tribos canibais cruéis na região eram tão difundidos que colonos e exploradores evitaram a Drakensberg por décadas. É possível que os boatos sobre canibalismo tenham origem no fato de que quando o povo Sotho estava fugindo de guerreiros Zulu, se barricaram nas montanhas e recorreram ao canibalismo quando a fome desceu sobre eles. Diz-se que os Sotho se tornaram canibais e que devoraram cerca de 300.000 pessoas durante um período de 25 anos. Esse número de vítimas também explicaria as histórias de espíritos inquietos, muitos deles mutilados, vagando pelas montanhas como almas penadas.

Outra montanha mística assombrada fica na moderna nação do Malawi, onde se ergue o pico envolto em névoa chamado Monte Mulanje. Elevando-se abruptamente das pradarias circundantes com uma elevação de 3000 metros, o maciço é o planalto mais alto do país. Conhecido desde tempos imemoriais como "Chilumba mu mlengalenga", que significa "Ilha dos Deuses no Céu" ele atraiu para si todo tipo de lenda sobrenatural.


Grande parte do folclore local gira em torno do Pico Sapitwa, há muito conhecido como um refúgio para espíritos perversos que são considerados uma ameaça a qualquer um que ouse entrar em seus domínios. De fato, o nome “Sapitwa” se traduz literalmente como "lugar onde as pessoas não vão". Há muito tempo ele é visto como um lugar onde as pessoas que entram, não retornam. Dizem que dezenas de pessoas desaparecem nessa montanha todos os anos, e se os rumores forem levados à sério, isso se deve à ira dos espíritos. Estes arrastam suas vítimas aos gritos para recessos profundos onde os devoram por inteiro.

As lendas falam sobre os Wanziih um tipo de espírito aterrorizante que espreita pelas escarpas íngremes e que se esconde em túneis durante o dia para caçar à noite. Esses seres sobrenaturais, muito altos e magros caminham ser deixar rastro e se aproximam sem fazer qualquer barulho. Suas garras longas pendem nos dedos compridos como lâminas afiadas. Eles não possuem feições, tem o corpo andrógino cinzento e com músculos estriados colados aos ossos que aparecem sob a pele esticada. O horror de ver um Wanziih é tamanho que segundo as lendas a vítima fica paralisada e não consegue se mover enquanto a criatura usa suas garras para estripá-la.  


Contudo, nem todos os espíritos da montanha são malévolos. Há um lugar idílico chamado Dziwe la Nkhalamba, onde espíritos se banham em lagos cristalinos que formam piscinas naturais na encosta. As testemunhas que tem a sorte de ver tal coisa são abençoadas com boa sorte e uma vida longa. Há vários relatos de pessoas perdidas na natureza selvagem que encontraram comida cuidadosamente preparada e disposta para elas no meio do nada. Contudo, existe um porém. De acordo com as lendas locais, se alguém não aceitar essa ceia ou levar consigo o que sobrar depois de comer, será alvo da fúria dos espíritos. 

Outras histórias sobrenaturais abundam, e o explorador e escritor de viagens Mark Horrell, que viajou extensivamente pela montanha, conta algumas delas:

"Muitas das histórias de Mulanje são tão nebulosas quanto as lendárias névoas que cercam seu cume superior e escondem os picos por dias a fio. Quando visitei Mulanje coletei algumas delas. Conta-se que o pico mais alto foi conquistado apenas em 1894, mas não há como confirmar essa informação ou quem empreendeu a escalada. Muitos nativos afirmam que ninguém jamais esteve no topo do monte e que ele é a morada de deuses. Descobri que o escritor Laurens van der Post empreendeu uma expedição trágica em 1916, na qual parte de seu grupo pereceu em um deslizamento. Os nativos afirmam que viajantes desaparecem sem explicação nesse lugar desde o início dos tempos. Havia rumores sobre espíritos famintos que possuíam os vivos e os obrigavam a saltar das ravinas. De monstros canibais como os Wanziih e também sobre uma serpente voadora chamada Napolo que é responsável por soprar as névoas espessas que sobrem o cume."

Nossa viagem pelas Montanhas Malditas da África está apenas começando. Acompanhe-nos na continuação dessa postagem.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Resenha "Nas Montanhas da Loucura" vol 2 - Gelo, loucura e morte num clássico de H.P. Lovecraft com arte de François Baranger


Quando se fala na obra de H.P. Lovecraft, sua novela mais famosa "Nas Montanhas da Loucura" (At the Mountains of Madness) sempre se destaca.

Escrita em 1931, Montanhas é um épico de suspense, ficção e terror. Lovecraft utilizou de expedientes que na época eram novidade: utilizar lugares e fatos do mundo real, buscar fontes jornalísticas para emoldurar sua trama e principalmente, se valer da ciência e tecnologia para embasar sua história. O resultado é uma narrativa repleta de dados tão fieis que tudo soa incrivelmente fidedigno. Da maneira como foi escrito, Montanhas soa como um relato real escrito por um cientista ou explorador, dando conta de acontecimentos ocorridos durante uma dramática expedição a um dos lugares mais inóspitos e perigosos do planeta - o Continente gelado da Antártida.

Para quem não está familiarizado com a literatura lovecraftiana e caiu de paraquedas nessa resenha, cabe falar um pouco do sujeito. 

H.P. Lovecraft é um dos maiores (para alguns o maior) expoente da literatura de Horror nos EUA no século XX. Seus textos macabros englobam diferentes gêneros do horror clássico, do terror gótico passando para o folk horror, transitando pela ficção científica, sempre com enorme competência e um estilo inconfundível. O Horror Cósmico é sua criação mais significativa e contribuição marcante ao terror. O gênero se refere a um horror tão profundo e desconhecido, absurdamente alienígena para a humanidade que a exposição prolongada a ele causa a loucura. No cânon de Lovecraft, entidades ancestrais vindas das estrelas distantes se principiaram sobre a Terra no inícios dos tempos e se tornaram Deuses que influenciaram cultos e seitas macabras. Estas aguardam ansiosas pelo dia em que estes deuses despertarão. Lovecraft explora o pessimismo nihilista ao máximo, apresentando uma visão perturbadora de um mundo à beira da devastação e de uma humanidade esmagada por forças que ela é incapaz de compreender.



O valor da obra de Lovecraft só foi reconhecido muito depois de sua morte, graças ao resgate de seus escritos por amigos e admiradores que foram os primeiros a perceber a genialidade do seu trabalho. Desse momento em diante, a redescoberta de Lovecraft foi radical. Ele não apenas se tornou famoso na literatura, mas sua obra inspirou filmes, séries, jogos de computador, games, cards, RPG e muito, muito mais.

Na literatura, os contos de Lovecraft foram reunidos em antologias que reúnem suas histórias mais famosas. De edições simples a volumes de luxo que mais parecem tomos como o célebre Necronomicon, é possível achar Lovecraft em diversos formatos.

Isso nos leva ao artigo e resenha que você está lendo nesse momento.

Seria a combinação de texto e imagem a melhor forma de apreciar os contos de Lovecraft?

Ao folhear o segundo volume de "Nas Montanhas da Loucura" belissimamente ilustrado pelo talentoso artista francês François Baranger, é difícil não dizer que sim.

Lovecraft é, em grande parte, um escritor que aproveita as paisagens que está descrevendo, sejam elas físicas ou emocionais. Suas visões são viscerais exatamente porque seu vocabulário é avançado e cheio de detalhes intrincados. As imagens imponentes no livro permitem que o leitor se concentre e não se distraia com uma palavra com a qual não esteja intimamente familiarizado. E isso é algo que percebi lendo o primeiro volume da novela. Talvez esta tenha sido minha experiência mais agradável ao ler Montanhas da Loucura, que alguns consideram demasiado rebuscado. O texto flui mais fácil, em comunhão com as imagens. A grandiosidade das descrições se encaixa perfeitamente com o visual geral. Os desenhos têm espaço para respirar acompanhando a prosa do texto.

A Darkside oferece esse pôster incrível como brinde para quem comprar na loja online

A arte de Baranger é tão complexa e elaborada quanto a escrita de Lovecraft. Ela complementa o texto, dando margem a interpretações fantásticas de paisagens ermas e de um ambiente selvagem. A maioria das ilustrações se debruça sobre paisagens impossíveis e a insignificância da presença humana em lugares onde o homem nunca deveria estar. Mas há cenas mais intimistas evocando descobertas que drenam a sanidade, arqueologia e astronomia que nunca deveriam ter existido, silhuetas de criaturas estranhas ao nosso mundo, cenas de ação e muito mais. Cada desenho é diretamente relevante para o texto que é sobreposto acima dele.

O artista equilibra cenas de ação, imagens do passado e imagens propositalmente nebulosas ao longo das página. Baranger tem um olho clínico para extrair da narrativa as cenas mais marcantes, sem jamais, no entanto, ser óbvio. Suas cenas de horror são aterrorizantes bem dentro da proposta do impensável e imponderável. É uma façanha considerável dar forma a coisas que Lovecraft não se furta em dizer que são por demais bizarras para serem descritas adequadamente.

O livro é apresentado em uma versão luxuosa, com capa dura e páginas em papel de altíssima qualidade. Visualmente o livro segue o padrão da primeira parte, o que faz todo sentido. O tamanho das páginas fornece uma tela ampla para o artista, que oferece imagens que poderiam facilmente se tornar pôsteres. Não há molduras ou espaços em branco, o texto é colocado dentro das imagens para total impacto das cenas. A Darkside Books se esmerou em fazer o material o mais fiel possível à edição americana e, de fato, comparando as duas, eu até acho que a edição brasileira tem cores mais vivas que sua contraparte estrangeira.

Para quem adquiriu a primeira parte de Nas Montanhas da Loucura, esse Volume II é praticamente obrigatório. Não apenas por se tratar da conclusão da história (aqui temos os capítulo 6 a 12), mas por ser uma continuação que sustenta a mesma proposta. Com imagens deslumbrantes que acentuam a narração ao máximo, essa é possivelmente a versão definitiva da novela. Dificilmente alguém conseguirá fazer algo melhor e mais evocativo.

Aos fãs do Horror Cósmico e de arte, esse livro é simplesmente imperdível.

Leia aqui a resenha da primeira parte: 

E aqui está o link para a Editora Darkside.


sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Diário Perdido - O sinistro relato do que aconteceu na Floresta de Pittsfield


Pesquisadores e estudiosos dos fenômenos paranormais frequentemente se deparam com casos que realmente se destacam e que impressionam até o mais calejado investigador. Alguns levantam uma sobrancelha de ceticismo quando as coisas são realmente desconcertantes. Certos casos são fraudes óbvias, mas há outros que desafiam as convenções e colocam em cheque nossas crenças mais profundas.  

Recentemente, um caso muito estranho chamou a atenção na internet. Ele envolve um galpão abandonado, um caderno descartado repleto de anotações misteriosas, uma série de desaparecimentos bizarros e todo tipo de ocorrência estranha numa floresta considerada mal-assombrada. 

É difícil determinar quanto dessa história é verdade, ou mesmo quanto realmente aconteceu. Contudo é sem dúvida uma narrativa perturbadora que vale a pena conhecer. Continue lendo, caro leitor e decida por si mesmo no que acreditar.

A série de eventos assustadores que se desenrolaram em nossa história foi trazida por um usuário do Reddit chamado "mikamagika". Ela diz que seu nome verdadeiro é Hannah e que na época dos acontecimentos, ela era uma estudante de 19 anos vivendo em Massachusetts nos Estados Unidos. Em um verão, ela e alguns amigos decidiram tirar uma semana para desfrutar de um acampamento isolado localizado a apenas 40 minutos de Pittsfield bem no coração de Berkshires. Era um lugar onde ela afirmava ter acampado desde os 8 anos de idade sem incidentes e onde sempre se sentiu em paz. Todos embarcaram na viagem com entusiasmo, prontos para aproveitar a calma serena da floresta e nadar no lago. Mas o que aconteceu se mostrou muito distante de uma viagem tranquila e sem incidentes.

Nos primeiros três dias de camping, o grupo de seis aproveitou sua estadia, conversando ao redor da fogueira, nadando no lago, fazendo caminhadas e, em geral, se divertindo muito. No quarto dia, eles decidiram explorar as trilhas de caminhada para seguir uma rota mais aventureira na floresta. Eles levaram um mapa e um dispositivo GPS. O grupo não estava particularmente preocupado em se perder porque a área era cercada por uma cerca que a delimitava com um parque nacional. Todos iriam nessa excursão, exceto um dos membros, conhecido apenas como Ben, que decidiu ficar para trás por causa de uma violenta dor de estômago. Eles encheram suas mochilas com água, lanches e suprimentos de emergência, se despediram de Ben e seguiram por uma das trilhas em direção à natureza. De início foi tudo muito divertido, mas as coisas ficariam assustadoras muito rapidamente a partir daí.


No começo, as coisas correram normalmente, mas conforme eles se aprofundavam na floresta, uma das integrantes do grupo, Eileen, afirmou ouvir alguém sussurrar seu nome, o que compreensivelmente a assustou. Enquanto eles continuaram outro membro do grupo chamado Tyler afirmou ter visto uma sombra através das árvores, como se fosse alguém espreitando. O grupo inteiro estava ficando assustado, mas eles acabaram rindo da situação e seguiram adiante. A certa altura ouviram o som de sinos distantes, o que era estranho já que estavam afastados de tudo. Por mais assustadora que fosse a situação, isso meio que contribuiu para aumentar a sensação de aventura entre os amigos. 

Mas eles não esperavam pelo que viria a seguir, algo que os pegou de surpresa. Hannah conta:

“Por volta das 15h, encontramos algo interessante na mata. Eram guirlandas feitas de gravetos dobrados dispostos em círculos, com um metro a um metro e meio de diâmetro. estavam colocados no chão ou penduradas em árvores. Também encontramos alguns desses galhos trançados ao redor das árvores. Eileen, é claro, estava assustada e queria voltar, mas Jacob e Tyler encontraram alguns totens esculpidos em pedra e ficaram interessados naquilo. Também achamos postes de madeira antiga fincados no solo com estranhos símbolos talhados em toda circunferência. Imaginamos que talvez fosse algo feito por tribos nativas, mas não tínhamos certeza. Era simplesmente estranho."

Pouco mais adiante o grupo avistou um galpão velho e dilapidado literalmente no meio do nada. O lugar obviamente não era usado há algum tempo, ainda que estivesse relativamente em boas condições. Os amigos ficaram curiosos sobre a estrutura e decidiram bisbilhotar. Acharam o galpão bem trancado com cadeado e as janelas firmemente pregadas. Havia entretanto uma janela que tinha apenas um prego mantendo-a fechada. Com um pouco de esforço, eles conseguiram abrir e entrar. Começaram a explorar o interior. 

Hannah conta o que aconteceu depois:

“O cheiro era horrível lá dentro. Uma mistura de ferrugem, folhas mortas e algo azedo suspenso no ar. Olhamos ao redor e os meninos acenderam suas lanternas, pois as janelas não forneciam muita luz. Lá dentro, havia uma cadeira de madeira, uma pilha de cobertores empoeirados de aparência desagradável, uma mesa de madeira virada de lado, alguns ossos pequenos (pensamos que fossem de animais) e toneladas de folhas e sujeira no chão. Havia marcas de mãos e pegadas por toda parte, então definitivamente pensamos que algum vagabundo estivesse vivendo ali.

Tyler sugeriu que alguém usava o lugar como cabana de caça ou talvez fosse o esconderijo de um assassino em série. Eileen sequer entrou no galpão, estava apavorada demais e preferiu esperar na porta. Tyler continuou dizendo que não estava brincando e apontou para os ossos. Ele salientou que as esculturas de gravetos eram estranhas, quase como um aviso para manter curiosos afastados. Nós rimos de forma nervosa, mas confesso que aquele lugar começou a me causar arrepios. 


Continuamos a explorar e vasculhamos os cobertores encontrando algumas velas meio queimadas, um sinalizador de emergência usado e alguns fósforos. Foi então que encontrei o caderno."

O caderno em questão é descrito como "um daqueles pequenos cadernos de composição que você pode encontrar em corredores de lojas com material de escritório", ele estava sujo e amarrotado. Suas páginas estavam rabiscadas com uma escrita frenética. Hannah relata:

"Estava sujo e borrado pela umidade que manchou a tinta. As palavras haviam sido escritas por alguém com pressa com tanta força que o papel quase rasgou em alguns pontos. Chamei meus amigos e folheamos o arremedo de páginas. Era assustador pra caramba e parecia um diário de filme de terror. Ficamos todos super assustados! Jacob disse que seria melhor levar de volta para o acampamento. Não nos sentíamos seguros para ler lá.”

Mais tarde, após voltarem ao acampamento, os amigos decidiram ler o que parecia ser um diário.

Ele se iniciava de forma bastante inócua, com o autor alegando ser uma garota de 14 anos chamada Cassie, que tinha vindo até o lugar acampar com sua família. Nas primeiras páginas ela detalha algumas atividades mundanas de acampamento na companhia de seus pais e irmão, mas então a coisa toma um rumo brusco para o bizarro. "Cassie" escreve no final de sua narrativa: 

"Eu me perdi deles ontem. Não sei o que fazer. Não sei se alguém vai me encontrar. Não sei onde estou ou para onde ir. Estou com medo e não sei o que fazer. Se alguém encontrar isso, você tem que saber o que aconteceu.


A menina relata que ela e sua família encontraram "estranhas coisas feitas de gravetos em todo canto. Gravetos colocados ao redor das árvores", depois disso começou a sentir alguém espreitando na mata e ouviram o som de gravetos estalando na floresta. Levi (o irmão mais velho de Cassie) tocou uma das rodas de gravetos e teve uma erupção cutânea alguns minutos depois. Eles encontraram aquele mesmo galpão, mas o pai achou que poderia ser perigoso ir até lá sem saber quem era o dono. A família montou então um acampamento temendo que chovesse naquela noite. 

Cassie escreve então:

"Ficou muito, muito escuro depois do sol se esconder. Não conseguíamos ver nem estrelas nem a lua. Papai disse que vinha chuva pesada. Fomos dormir. Ouvimos passos fora da barraca, mas mamãe e papai não viram ninguém. A alergia de Levi piorou e mamãe passou pomada em sua mão. Ouvimos passos à noite. Ficamos todos juntos. Algumas vezes, ouvi o som de sinos. Toques distantes e curtos. Fiquei com muito medo. Papai saiu para dar uma olhada com a lanterna na mão, mas ele disse não ter visto nada.  

A noite durou tanto que nenhum de nós dormiu. O sol finalmente nasceu e nos levantamos para arrumar nossas coisas. Papai achou pegadas por todo o acampamento no cascalho e na terra. Havia mais coisas de graveto. Mamãe começou a chorar e disse que queria ir embora. Estava nublado lá fora. Demoramos um pouco para desfazer o acampamento, estávamos muito cansados. Quando fechamos as mochilas, voltamos à trilha.

Andamos muito, não sei por quanto tempo. Estava escuro e nublado. Uma chuva fina começou a cair. De repente, não vimos mais Levi! Ele sumiu. Estava ali um minuto antes e depois não estava mais! Para onde ele foi? Papai chamou por ele, gritou seu nome e mandou ele aparecer. Não ouvimos nada! Ele disse que ia procurar na mata, que ele não podia ter ido muito longe.

Papai demorou, demorou tanto que mamãe ficou assustada e começou a chorar. Ela gritou várias vezes e xingou. Esperamos por horas, mas nenhum deles voltou. Mamãe disse que teríamos de seguir em frente, que não podíamos ficar ali paradas e que a área de camping não deveria estar muito distante. 

 
Caminhamos mais uma hora e vimos o local onde estava o carro. Minha mãe ficou mais aliviada. Ela abriu o carro e buzinou várias vezes esperando que meu pai pudesse ouvir. Ficamos bem quietas ouvindo e de repente escutamos a voz de meu pai (ou de Levi) chamando bem longe. Minha mãe tocou a buzina de novo. Ela decidiu ir atrás deles, e disse que eu deveria buzinar a cada dois minutos para ela encontrar o caminho de volta até o estacionamento. 

Ela entrou na mata, eu toquei a buzina como ela mandou. Mas ela entrou na mata e sumiu. Não voltou. Nem ela, nem papai e nem Levi."

A páginas seguintes do diário foram arrancadas. Três sou quatro páginas estavam faltando e quando ele recomeçava a caligrafia parecia mais frenética.

"Quando amanheceu eu voltei para a floresta para tentar achar meus pais. Depois da noite passada eu não quero ficar no carro sozinha. Não com o homem andando ao redor dele. Caiu uma chuva forte de madrugada. Chorei e rezei a Deus para que alguém me encontrasse. Mas ninguém veio".

Após mais duas páginas rasgadas, o diário prossegue com a mesma caligrafia apressada arranhando o papel desesperadamente. Estranhamente o irmão dela, Levi, parece ter reaparecido sem que se explique como ele retornou. O trecho solto segue assim: 

"(...) o cheiro era muito ruim lá fora e os passos ficaram mais altos. Chamei Levi e pedi para ele não sair de perto de mim. Tinha aquele barulho de novo - de sinos e assobios. Parecia o som que as baleias fazem debaixo d'água, mas muito longe. Levi disse que podiam ser coiotes ou algo assim. O sol finalmente nasceu, e quando saímos do galpão estava frio e úmido. O cheiro era horrível! Uma mistura de lixo podre e sujeira. E folhas mortas e terra. A neblina ainda estava por toda parte, não conseguíamos ver além da linha das árvores a apenas alguns metros de distância."

De manhã continuamos a procurar o carro, Levi disse que poderia dirigir ele. Eu estava com medo de voltar até o estacionamento depois daquela noite. Nós achamos o lugar, mas o carro estava todo destruído. Tinha mais pegadas no cascalho e a terra estava remexida do lado de fora. Levi tentou mexer no carro, mas ele não funcionava. Vestimos nossas jaquetas e colocamos algumas coisas em nossas mochilas. Ele disse que devíamos descer a trilha, caminhar 5 quilômetros até a entrada do parque. Andamos e andamos. Levi parecia estar chorando e eu chorei também. Eu estava com muito medo e fome, não queria que anoitecesse. Gritamos por nossa mãe e nosso pai. Gritamos por ajuda. Ninguém nos ouviu ou disse nada. Começou a ficar escuro de novo. Não conseguíamos enxergar nada. Eu disse a Levi que a gente devia (...)


Mais algumas páginas estavam arrancadas violentamente do caderno e então um trecho concluía o diário de maneira abrupta:

“Eu não aguento mais caminhar. Estou com fome e frio demais. Meus pés estavam machucados e com bolhas, as meias molharam. Não aguento mais ficar na floresta, não suporto ficar sozinha. O galpão era o único lugar onde eu poderia passar a noite. Eu fiquei com medo de voltar aqui, mas não posso ficar na mata com o homem ruim.

Eu chamei Levi, chamei Mamãe e Papai até ficar sem voz. 

Não tem o que comer no galpão, mas pelo menos é protegido. Eu queria que alguém me encontrasse, qualquer um menos o homem que caminha quebrando os gravetos. Eu sei que ele está aí fora. 
 
Eu dormi e quando acordei o céu estava roxo, com o pôr do sol atrás das nuvens. Eu ouvi os gravetos estalando novamente. O ar está frio e molhado. Vai anoitecer daqui a pouco. 

Eu quero meu pai. Não é justo!"

Em seguida, o diário termina de uma maneira lacônica e desesperançosa com letras em forma ocupando duas linhas:

MEU NOME É CASSANDRA RUPERT TENHO 14 ANOS

MINHA MÃE É ELAINE RUPERT MEU PAI É KEVIN RUPERT

MEU IRMÃO É LEVI RUPERT, ELE TEM 16 ANOS

NÓS FOMOS ACAMPAR EM 27 DE JUNHO DE 2017, 

POR FAVOR, NOS ENCONTRE."


O restante do caderno estava em branco, embora algumas páginas tenham sido arrancadas no final. Quando concluíram a leitura os amigos estavam divididos sem saber se aquilo era verdade ou uma brincadeira. Na manhã seguinte, Hannah e seus amigos retornaram e contataram oficiais florestais para relatar o que tinham encontrado. Os policiais ficaram preocupados o suficiente para ligar para o xerife do condado e para o Departamento de Polícia de Pittsfield. Jacob, Tyler e Hannah concordaram em guiar os policiais até o galpão em veículos ATV. Eles desconheciam a existência do lugar escondido na mata. 

Hannah descreve em seguida:

“Demorou cerca de uma hora para chegar à trilha em que estivemos na noite passada. Chegamos à trilha por volta das 11 horas da manhã. Ficamos esperando com o policial T. Grady enquanto Jacob foi na frente, acompanhado de outros dois policiais florestais até o Galpão. O resto de nós relaxou e ficamos conversando com o policial que estava cético à respeito da nossa descoberta.

Grady, no entanto, mencionou: "Droga, isso é loucura! Quem dedicaria tanto tempo a fazer essas guirlandas de gravetos?" Uma hora depois, Grady recebeu uma chamada de rádio de seus colegas dizendo que poderíamos seguir em frente até o Galpão que ficava no final da trilha.  

Eu estava nervosa e meu coração batia forte o tempo todo. Tyler segurou minha mão enquanto nos aproximávamos, estávamos bem assustados, sobretudo depois de ler o diário. Quando chegamos um dos policiais, o mais velho chamado Skagway, disse que haviam revistado o interior do galpão e achado indícios de crime. Ele não disse o que haviam encontrado naquele momento, mas percebi que Tyler estava ali do lado, pálido e com uma expressão assustada. Os policiais passaram uma mensagem para a central passando a localização exata do galpão e como chegar lá. Então, ele nos disse que devíamos voltar para a central para prestar testemunho”.

Hannah explicou que ela e os amigos foram interrogados individualmente, e mais tarde descobriram que a família Rupert havia realmente desaparecido naquelas matas alguns anos antes. Uma grande busca foi organizada para procurar a família, mas nenhum sinal deles foi descoberto.

“Os policiais e os federais vasculharam cada centímetro quadrado daquela floresta em um raio de 40 quilômetros, encontraram algumas coisas perturbadoras mas nenhum sinal da família. Eles encontraram as guirlandas de gravetos e os restos de um carro incendiado, cerca de 4 milhas ao norte do local onde o carro dos Rupert teria sido estacionado segundo Cassie. Como ele chegou lá, ninguém sabia. Era um local bem distante da estrada e quase inacessível. Ele estava destruído e tinha uma árvore crescendo dentro dele, como se estivesse lá há tempo. O mais estranho é que ninguém sabia da existência do tal Galpão, embora eles tenham passado pela área repetidas vezes durante a busca pelos Rupert".


Os policiais não sabiam explicar a existência daquela estrutura que parecia ter simplesmente passado desapercebida. Para eles só poderia ter sido erguido nos últimos anos, embora estivesse claramente muito deteriorado para ser algo novo. 

A história envolvendo a descoberta do Galpão e do Diário de Cassie Rupert vazou nos jornais locais. Alguns sugeriam que era uma fraude e que o diário não poderia ser admitido como uma prova uma vez que não havia como creditar a autoria das anotações a menina desaparecida. Foram cedidos cadernos de colégio e anotações feitas pela menina e embora a letra fosse bastante semelhante os grafologistas contratados para atestar sua autenticidade se dividiram nesse pormenor. 

Após prestarem seu depoimento sobre o ocorrido e as circunstâncias da descoberta do diário supostamente pertencente a Cassie Rupert, o grupo de Hannah foi liberado e eles puderam retomar às suas vidas. Uma nova busca foi organizada pelas autoridades junto do Gabinete de Polícia Florestal contando com voluntários, mas a medida não trouxe nenhuma novidade ao caso.

Algumas semanas depois do ocorrido, Hannah relata que alguns garotos de uma cidade vizinha decidiram ir até a floresta para ver o galpão com os próprios olhos. Os três rapazes não retornaram! Seus pais ficaram apavorados e uma nova busca foi realizada vasculhando cada centímetro da floresta novamente. Não encontraram nada até chegarem ao raio de 4 milhas de onde os Rupert desapareceram originalmente. Lá encontraram mais daquelas malditas espirais, a maior delas com 3 metros de diâmetro. Nesta encontraram o que parecia ser cabelo humano trançado entre os galhos e ramos. Testes periciais testaram os cabelos e descobriram que eram de 5 pessoas diferentes — três desconhecidos e de dois dos meninos desaparecidos.

Houve pânico. As pessoas na região ficaram apavoradas pois não sabiam o que pensar. Uma grande busca com voluntários foi organizada e um toque de recolher foi estabelecido para pessoas com menos de 21 anos. Obviamente, o acampamento foi fechado, bem como o parque nacional até que a investigação pudesse ser concluída. Eles vasculharam a área cuidadosamente usando cães farejadores e homens treinados em seguir rastros na floresta.

No terceiro dia de busca, os Guardas Florestais retornaram da floresta trazendo consigo um dos rapazes que havia desaparecido. Ele estava esgotado e severamente desidratado, mas em condições físicas razoáveis. Mentalmente ele estava bastante perturbado e confuso. O rapaz, chamado P. Riley, de 15 anos foi admitido no Hospital local e recebeu tratamento. Ele não foi capaz de lembrar o que aconteceu e nem de revelar o paradeiro de seus colegas cujos cabelos foram achados na enorme guirlanda localizada alguns dias antes. Os especialistas concluíram que Riley havia sofrido um tipo de trauma severo que o fez enterrar as lembranças dos incidentes transcorridos após a sua entrada na floresta. De fato, ele não tinha lembranças de nada após sua entrada nas matas. Até o momento, os especialistas não tiveram sucesso em fazê-lo recordar do ocorrido.


A cidade natal dos rapazes fez uma vigília por eles e suas famílias. O relatório oficial atesta que os meninos provavelmente se perderam na floresta e foram vítimas de alguns acidente ainda não explicado. Esse mesmo acidente deve ter causado o profundo trauma no único sobrevivente.

As autoridades policiais negaram os rumores que surgiram que afirmavam terem sido descobertos indícios de violência nas imediações do Galpão que os rapazes procuravam. Uma testemunha teria revelado aos jornais que uma camisa suja de sangue foi descoberta pendurada em um galho de árvore. Outro boato dava conta de que marcas de arranhões e pegadas ensanguentadas teriam sido encontradas no misterioso galpão. 

Os guardas e policiais continuaram fazendo buscas naquela maldita floresta, mas nada mais de significativo foi encontrado. Eventualmente o parque e camping foi reaberto a visitantes com placas alertando para o risco de pessoas se perderem em seu interior.

Eventualmente pessoas visitando a região encontraram mais daquelas guirlandas, em tamanhos variados, algumas bastante pequenas e outras consideravelmente maiores. Quem as deixou lá e por qual motivo ninguém sabe. É claro, algumas pessoas relataram nos meses seguintes terem visto coisas estranhas nas profundezas da floresta de luzes estranhas tarde da noite a ruídos de murmúrio e gemidos. 

Mas, com o tempo, as coisas começaram a se acalmar sem que nada anormal tenha acontecido.


E esse é praticamente o fim da história de Hanna. É um relato intrigante e angustiante, apresentado como um relato factual sem nenhuma pista de que seja ficção. Contudo há muitos elementos sobre os quais cabe certo grau de ceticismo. O relato não apresenta nenhuma prova material do ocorrido e não identifica corretamente as testemunhas. Há também o fato de que nenhum local e nenhuma data são fornecidas. É difícil até mesmo saber se "Rupert" é o nome real da família, já que o autor várias vezes observa que os nomes foram alterados para fins de privacidade. Também não se menciona o que aconteceu com o diário de Cassie Rupert se é que ele realmente existiu.

É difícil dizer, e mais difícil ainda saber o que pensar dessa história bizarra. Se alguma parte dela realmente aconteceu ou se tudo não passa de invenção não é possível dizer. No entanto, o relato de Hannah no Redit é suficientemente assustador e perturbador para gerar discussão.