segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Os Outros Árabes Loucos III - Feiticeiros do Mythos no Oriente Médio

O terceiro e último artigo sobre os outros feiticeiros do Oriente Médio além do celebre Abdul Al-Hazred, o árabe louco original.

UMAR BIN-YAKTHOOB


Umar Ibn-Yakthoob, conhecido em alguns círculos apenas como Velho Yakthoob teve a dúbia honra de ser o primeiro Mestre de Abdul Al-Hazred no início de seu treinamento místico. Pouco se sabe à respeito de sua vida pregressa, mas o autor do Necronomicom creditava a seu mentor parte de seu interesse pela feitiçaria, chegando a referenciá-lo como o professor que instilou em sua alma o desejo pelo aprendizado das artes negras.

Supõe-se que Ibn-Yakthoob nasceu em Memphis no Egito e que pode ter sido um membro da infame Irmandade do Faraó Negro, um culto devotado a Nyarlathotep e mais especificamente ao seu avatar egípcio. Cronistas mencionam o feiticeiro como um favorito de Nitocris de quem ele teria obtido parte de sua instrução arcana. Verdade ou não, Yakthoob tinha grande influência e era tido como um dos feiticeiros mais poderosos do Egito. Em dado momento ele se retirou ou mais provavelmente, foi expulso da Irmandade por perseguir fontes de poder vedadas aos devotos do Faraó Negro. É possível que essa separação não tenha sido amistosa já que Al-Hazred afirmava que seu mentor sofria ameaças constantes de seus antigos companheiros e que temia sofrer atentados contra sua vida.

Ele se exilou no Vale de Hadoth, próximo das Colinas de Neb, possivelmente a leste da cidade de Tel el-Amarna. Com aproximadamente 50 anos ele aceitou instruir dois aprendizes o devasso Ibn-Ghazoul e o o prodigioso iemenita Abdul Al-Hazred, então com apenas 15 anos. Yakthoob ensinou aos seus dois aprendizes a base do estudo arcano, bem como a "invocar entidades malignas". 

O período de estudos de Al-Hazred com Yakthoob durou dois anos e se encerrou abruptamente quando o feiticeiro foi devorado por um demônio que ele próprio invocou. A entidade deveria ter sido controlada graças a uma poção mágica obtida na Babilônia pelos aprendizes. Contudo, Ibn-Ghazoul forneceu a seu mestre um elixir falso uma vez que gastou o dinheiro dado para comprá-lo em um bordel. A morte de seu mestre foi um choque para o jovem Al-Hazred que rompeu sua amizade com Ibn-Ghazoul depois do ocorrido. Ele prometeu que jamais tomaria para si próprio a responsabilidade de instruir discípulos após o trágico destino de seu Yakthoob. Ironicamente, o próprio Hazred teria uma morte que espelhou a de seu mestre, despedaçado por uma entidade invisível em Damasco.

O nome de Yakthoob é mencionado várias vezes nas páginas do Al-Azif, inclusive em um capítulo que narra sua horrível morte. Ele também é citado como um dos mais experientes feiticeiros na arte da invocação de entidades de planos distantes - dimensões. 

XUTHLTAN


Dos Feiticeiros do Oriente Médio que se destacaram em seu envolvimento com o Mythos de Cthulhu, talvez Xuthltan seja o mais abominável. Não se sabe muito sobre seu passado, mas supõe-se que ele tenha nascido em Gandara, no atual oeste do Paquistão, à época parte do vasto Império Persa

Há boatos de que Xuthltan se envolveu com o Culto Bestial de Carniçais que operava no submundo do Império e que gozava de enorme influência entre alguns aristocratas entediados. Ele teria partilhado dos rituais desses seres e se envolvido em atos de necrofilia e canibalismo. O contato íntimo com tais criaturas e suas práticas iniciou em seu corpo a transformação profana que eventualmente faria dele um Carniçal.

Xuthltan foi um hábil feiticeiro, supostamente um dos favoritos do infame Pai dos Carniçais, Naggoob que lhe agraciou com vários presentes e conhecimento. Em dado momento de sua vida, já quase inteiramente transformado, ele empreendeu uma jornada aos recessos de um complexo subterrâneo de onde retornou com um importante artefato, a joia mística conhecida como Fogo de Asshurbanipal. O feiticeiro deveria ter entregue o artefato ao seu benfeitor Naggoob, mas ao invés disso decidiu tomar a pedra para si próprio. 

Ele fugiu para a cidade de Kara-Shehr onde ofereceu suas habilidades ao Rei daquela terra que se impressionou com as suas proezas mágicas. Por muitos anos ele foi um conselheiro místico e vizir na corte usando uma máscara que disfarçava sua terrível aparência. Contudo, o Rei foi consumido pela cobiça que o levou a ordenar a prisão do Feiticeiro afim de se apoderar da magnífica joia. Xuthltan foi torturado na masmorra e acabou revelando a localização do Fogo de Asshurbanipal pouco antes de ser esquartejado.

Diz a lenda que em seu último fôlego o Feiticeiro lançou uma maldição sobre Kara-Shehr, seu povo e seu Rei. A cidade foi varrida pela doença, pela loucura e finalmente pela morte. Os poucos sobreviventes que escaparam dessa calamidade abandonaram a cidade que foi coberta pelas inexoráveis areias do deserto.

O FOGO DE ASSHURBANIPAL


Descrita como uma das mais formidáveis gemas de que se tem notícia, o Fogo de Asshurbanipal tem fascinado e atraído homens para sua perdição há milênios.

A origem da gema é obscurecida por lendas, mas supõe-se que ela teria sido criada por um poderoso feiticeiro da mítica Atlântida que extraiu da Terra dos Sonhos a matéria prima para sua construção. Fisicamente a pedra é uma gema do tamanho de um ovo de galinha com coloração vermelho alaranjada com raias amarelas. Ela parece emanar um brilho próprio que reflete a luminosidade criando um efeito hipnótico similar a chamas dançando. Aqueles que contemplam a joia acabam desenvolvendo um incontrolável desejo de tê-la apenas para si.

A pedra teria sido perdida milênios atrás em um complexo subterrâneo onde ficou sob os cuidados de  uma entidade diabólica devotada a ela. Quando o Feiticeiro Carniçal Xuthltan conseguiu reavê-la precisou enfrentar e derrotar esse guardião, uma notável façanha.

O artefato é obviamente mágico e possui vários poderes sobrenaturais. O maior deles diz respeito ao prolongamento da vida. Ela também poderia ser usada para estabelecer conversa com os Espíritos Flamejantes dos Efreet (possivelmente uma alegoria para as criaturas conhecidas como Vampiros de Fogo). Finalmente, concentrando-se sobre a superfície cristalina da gema um feiticeiro pode observar outros lugares, planos e dimensões, tendo um vislumbre da grandeza do universo.

Após a devastação de Kara-Shehr a pedra se perdeu uma vez mais. Ela supostamente foi enterrada com seu último detentor um Rei maldito cuja cobiça condenou sua nação. Nômades que exploraram a cidade perdida afirmavam que na tumba real havia uma múmia com uma joia de rara beleza. Ela teria sido roubada, mas repetidas vezes retornou a esse local. Nos anos 1930, um explorador americano e seu associado chegaram a relatar a descoberta do Fogo de Asshurbanipal nessa exata câmara funerária. Apesar da tentação de tomar para si o artefato, ele teria resistido e deixado a pedra naquele local.

Seu paradeiro atual é desconhecido.

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