domingo, 20 de abril de 2025

Dicionário do Mythos de Cthulhu: LETRA A de "ADUMBRALI"

ADUMBRALI

No universo do Mythos existem realidades, planos e dimensões que se justapõem aquilo que entendemos de modo muito simplório como "o mundo real". Por intermédio de rituais arcanos, pela vontade de algum Deus ou por incidência de fenômenos não inteiramente compreendidos, incidentalmente ocorre um estreitamento ou rompimento no tecido que separa as realidades. O resultado pode ser uma incursão de entidades e seres que habitam esses outros planos e que transacionam para o nosso lado.

O incrivelmente raro Cântico de Yste, uma compilação de tradições ancestrais da África setentrional fala à respeito de uma dessas espécies, os Adumbrali. Esses seres obscuros são atraídos por fraturas dimensionais e não raramente se dedicam a explorar nossa realidade, por vezes, interagindo com o mundo natural. Essa interação tende a ser desastrosa uma vez que os Adumbrali são predadores contumazes que buscam satisfazer seus instintos de caça. Eles costumam perseguir animais e humanos sem distinção, arregimentando, torturando e depois matando suas presas. Não é claro se eles se alimentam de suas vítimas, mas acredita-se que o processo envolve a absorção de energia vital. Algumas tribos subsaarianas mencionam os Adumbrali como demônios de sombras que se deliciam com a crueldade e massacre. Eles são vistos como uma presença aterrorizante.

O método preferido de caça dos Adumbrali envolve mesmerismo. Eles são adeptos de uma forma de hipnose utilizada para confundir e nublar a percepção das vítimas. Não se sabe exatamente como opera essa sugestão hipnótica, mas há suspeitas de que ela é estabelecida por intermédio de feromônios incidindo sobre o sistema límbico, gerando uma resposta fisiológica. A vítima se sente tranquila e é atraída para perto do Adumbrali sem perceber qualquer perigo iminente. Quando está ao seu alcance, o predador estende uma série de gavinhas fluidas que agarram e puxam até sua massa insubstancial. Essas gavinhas finas se assemelham a um emaranhado de cabelo trançado e são a única parte substancial dos Adumbrali.

Os nativos se referiam a essas criaturas nas suas lendas como "sombras vivas" e a descrição é bastante adequada. 

Os Adumbrali se assemelham a glóbulos de escuridão perene que flutuam graciosamente no ar. Eles se movem horizontalmente, mas por vezes rastejam, escalam ou se fixam em superfícies verticais onde encontram proteção do sol. Ravinas, fossos ou rochas são lugares adequados para se proteger da luz que lhes causa incômodo. Um espécime típico mede algo entre 1,80 e 2,30 metros e parece uma sombra disforme ou uma mancha não reflexiva de negrume uniforme. Outra particularidade é que a área imediatamente próxima a eles se torna fria. Como sombras que são, eles não podem ser tocados e portanto são impérvios a qualquer contato físico não podendo ser feridos. Para afastá-los o Cântico de Yste menciona o uso de fogo, mas tal método não é garantido. Quando agarra uma presa e a puxa para si, o Adumbrali a absorve causando severas queimaduras semelhantes às de congelamento. Os cadáveres são encontrados com ulcerações arroxeadas de formato arredondado, tratadas como "mordidas".

Felizmente as condições de nossa realidade não são as ideais para os Adumbrali que depois de algumas semanas experimentam desconforto. Isso os motiva a retornar para sua dimensão à despeito de seu interesse por continuar caçando. Se impossibilitados de regressar eles sofrem progressiva degeneração que termina por consumi-los. Um Abrundali "morto" não deixa qualquer resquício ou marca, simplesmente desaparecendo.

Um Adumbrali fixado em uma superfície vertical se assemelha a uma sombra deslocada. Na imagem é possível ver o movimento de suas gavinhas tentaculares.  

A presença de um Adumbrali registrada em fotografia.

Três Adumbrali se alimentando de uma mesma presa.

Uma representação simples de um Adumbrali 


Bônus:

CÂNTICO DE YSTE

“... E estes não são outros senão os Adumbrali, as sombras vivas, seres de incrível poder e malignidade, que habitam fora dos véus do espaço e do tempo como os conhecemos. 
Sua diversão é caçar e atormentar os habitantes de outras dimensões, sobre os quais praticam atos horríveis e múltiplas ilusões...”

Um coleção alegórica de músicas, versos e costumes de tribos subsaarianas. Em geral o Cântico não é registrado, sendo uma tradição oral passada através das gerações. Entretanto, trechos do Cântico de Yste no idioma Seduu e benuê, podem ser encontrados em rochas e estruturas pictóricas no Mali, na Costa do Marfim e no norte do Congo.

A primeira vez que esses símbolos etnográficos foram reconhecidos eles foram categorizados pelo pesquisador belga Henry Bertrand Duamis no século XIX. Posteriormente Duamis buscou compilar as histórias orais dos povos congoleses, interessado em publicá-los em um livro. Seu projeto jamais foi concluído, mas o que se sabe é resultado de fragmentos de sua pesquisa.

Segundo Duamis, os textos foram criados por um povo ou clã antediluviano chamado Dirka cuja ancestralidade pode ser traçada aos primeiros homens. Os Dirka possuíam extenso conhecimento místico e dominavam a feitiçaria do Mythos. É possível que tenham estabelecido um ou mais cultos devotados a entidades primais como Tsathoggua.

O Cântico de Yste é famoso por relatar incursões de criaturas interdimensionais conhecidas como Adumbrali que atuam como predadores. Além de nomear tais criaturas ele cita como eles agem e como elas devem ser evitadas.

Parte dos escritos de Duamis se encontram no arquivo do Museu Etnográfico da cidade de Lyon, na França. Eles também podem ser achados em fac-símile na Biblioteca do Louvre, na Universidade de Bruxelas e outras instituições com interesse antropológico. É possível que anotações também estejam com descendentes da família Duamis que guardaram o trabalho de seu antepassado.         

Henry Bertrand Duamis (c.1878)

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