domingo, 12 de dezembro de 2010
Os Assustadores Segredos do Severn Valley Revelados
"No interior da Inglaterra, há um lugar amaldiçoado, onde a semente do mal floresce com tamanho ímpeto que nos leva a crer, que algo naquele solo negro conspira para insulflar os pesadelos desse mundo".
Revelations of Glaaki, Livro I
O Vale de Severn no oeste da Inglaterra é o lar de pelo menos quatro entidades do Mythos: os Grandes Antigos Byatis, Eihort, Glaaki e o Deus Verde.
A razão pela qual esse canto do mundo atrai tantos seres dos Mythos é desconhecida, mas há suposições.
Uma das hipóteses é que o Vale seja o ponto de convergência de ley lines que se interceptam exatamente nesse local gerando uma fonte inesgotável de energia psíquica e mística. Esse nódulo foi captado por entidades cósmicas que se viram atraídas para a Terra. A mudança das estrelas teria condenado esses seres a ficar presos na região que hoje chamamos Vale de Severn.
Outra possibilidade é que a região do Vale tenha sido de alguma forma "abençoada" pela passagem de um ou mais Deuses Exteriores. Alguns cultistas de Goatswood acreditam que Shub-Nigurath tenha consagrado o próprio solo com sua essência e que isso permite que Ela seja invocada de tempos em tempos. Alguns defendem a mesma teoria, mas acreditam que foi Yog-Sothoth quem, num passado neolítico, rompeu as barreiras entre as dimensões e surgiu no Severn Valley alterando a região para sempre. Os Insetos de Shaggai, seres foragidos de seu mundo, "naufragaram" na Terra, mais especificamente ao Vale de Severn, atraídos pelas energias latentes nessa região.
Há várias cidades na região do Vale de Severn, muitas das quais não passam de simples povoados com algumas casas e poucos habitantes. A maioria, no entanto, esconde horríveis segredos.
Berkeley parece um vilarejo saído da Idade Média. As casas humildes abrigam cidadãos supersticiosos que se trancam quando a noite chega. Eles se benzem para afastar a presença do mal na forma de uma espécie de demônio batráquio, para alguns uma manifestação do deus Byatis (na imagem ao lado). Segundo a lenda Gilbert Morley, um nobre que no século XVII conduzia sabás e missas negras no Castelo de Morley invocou Byatis em um de seus rituais. O demônio foi aprisionado na masmorra subterrânea do castelo até conseguir escapar massacrando os nobres e seus criados. Dali em diante ele passou a assombrar a região.
As pessoas nesse vilarejo são tão apavoradas dessa entidade que não se importavam de capturar forasteiros com o intuito de sacrificá-los em um altar de pedra perto do Castelo Morley. Eles acreditam que esses sacrifícios mantinham o monstro em seu covil e consequentemente afastado de Berkeley.
O desaparecimento de pessoas na região levou a polícia a investigar os acontecimentos. Em 1952, as autoridades prenderam vários moradores de Berkeley que foram acusados do assassinato de pelo menos 12 pessoas, todos forasteiros, no decorrer de uma década. É possível que o número fosse maior, uma vez que um dos acusados reconheceu que essa era uma prática muito antiga no vilarejo. Após o julgamento, 23 indivíduos foram condenados, sendo que apenas 6 foram considerados suficientemente sãos para enfrentar sua sentença. Os demais foram transferidos para instituições mentais.
A curiosa Planície do Som se localiza nos arredores do povoado de Severnford, outro local curioso do Vale de Severn. A Planície possui uma ligação com a dimensão conhecida como Golfo de S'Glhuo que é citado nas páginas do Necronomicon. Essa dimensão habitada por um povo humanóide de pele cor de cobalto já tentou estabelecer contato com seres humanos através de telepatia.
A Planície do Som é assim chamada em decorrência dos bizarros sons ouvidos por viajantes que cruzam os 8 quilômetros de sua extensão territorial. Testemunhas reportaram ter ouvido o som de explosões abafadas, gritos e o que parece ser estática. Esses sons não possuem nenhuma causa provável e vem de lugar nenhum sendo um enigma desconcertante.
Os já mencionados Insetos de Shaggai habitam as florestas ao leste do Vale de Severn em uma área de vegetação densa. A nave que transportava esses insetos inteligentes caiu em um barranco e se enterrou quase inteiramente no solo. Os insetos fizeram o máximo para ocultar o veículo piramidal que funciona como um templo dedicado a Azathoth. Eles cobriram a pirâmide com camadas de lama ao longo de séculos e ela se encontra totalmente oculta na paisagem embora emita um ruído de estática e emane radiação.
Esses insetos tem pouco contato com a humanidade, a maioria deles busca uma maneira de deixar de modo permanente nosso planeta. Alguns, entretanto cederam aos seus caprichos e tomaram a mente de humanos. Esses insetos vivem em cidades como Brichester saciando seus apetites por sadismo e tortura.
A pequena Camside com pouco mais de 100 habitantes é notável porque esconde um acesso subterrâneo aos intermináveis corredores habitados por Eihort, o Deus do Labirinto e sua interminável prole. Um culto se formou no século XIX, e estes cultistas capturavam indivíduos a fim de lançá-los no labirinto de pedra onde seu deus hediondo aguarda. Uma vez encontrados por Eihort vagando à esmo em seus domínios, as pobres vítimas tinham o direito de escolher seu destino. Eihort oferecia a morte ou a "honra" de se tornar o veículo para uma nova geração de sua prole. Se a segunda opção fosse escolhida, o Deus do Labirinto depositava milhares de larvas no corpo da vítima. No tempo certo, essas larvas eclodem em um frenesi de nascimento e sangue, espalhando assim a prole de Eihort pelo mundo.
No início do século XX, os cultistas de Camside conseguiram criar um portal que ligava o labirinto ao porão de uma mansão localizada nos arredores de Arkham. O culto esperava abduzir vítimas no lado americano sem despertar a atenção das autoridades. O plano funcionou até o portal ser lacrado em 1908 por investigadores do Mythos.
Clotton foi até meados dos anos 30 um dos únicos bastiões de sanidade e normalidade no Vale de Severn. A cidade cujo nome é uma junção das palavras Cloth Town (cidade dos tecidos) foi bastante próspera no passado com uma indústria têxtil em franco desenvolvimento. Em 1931 coisas estranhas começaram a acontecer nos arredores da cidade que foi inexoravelmente destruída pela atividade dos Mythos ancestrais.
Segundo as parcas informações existentes a respeito da tragédia de Clotton, Lionel Phillips, um residente local com fama de ser um estudioso das artes ocultas, conduziu uma série de rituais retirados das páginas do blasfemo Necronomicon. Os rituais enfraqueceram selos místicos que protegiam Clotton de criaturas que habitavam o rio que corta a cidade. Essas criaturas teriam emergido e atacado os residentes com terrível selvageria. Eventualmente os seres retornaram para as profundezas, deixando para trás um rastro de destruição e morte. Depois dessa noite fatídica, os sobreviventes teriam firmado um pacto de silêncio antes de abandonar Clotton para sempre.
A maior e mais importante cidade do Vale é sem dúvida Brichester que mesmo nos anos 20 já era um importante centro urbano com mais de 50 mil habitantes. A Universidade de Brichester, um respeitado centro de aprendizado, abriu as suas portas na virada do século e conquistou um papel vital no desenvolvimento da cidade. Nos anos 30, sucessivos escândalos quase encerraram as atividades da instituição que teve alunos e professores acusados de participar de sociedades e cultos secretos.
Nos arredores de Brichester existem certos lugares enigmáticos. Ao norte da cidade ergue-se e Escadaria do Diabo, uma formação rochosa natural que leva ao alto de um platô. No alto deste, testemunhas afirmaram haver três pedras negras cobertas de hieroglifos de origem desconhecida. Há também um acesso que conduz a um vasto complexo subterrâneo. Para alguns esse complexo estaria ligado a atividade mineradora empreendida pelos Fungos de Yuggoth. Indivíduos desapareceram misteriosamente explorando a área e é desaconselhado andar pelo lugar seja dia ou noite.
O Lago de Brichester também é digno de nota. Trata-se de um enorme lago com águas estagnadas e barrentas, cercado por um bosque de coníferas. O local possui uma aura latente de decadência que tem a estranha faculdade de atrair suicidas em potencial. Em 1790, um grupo de pessoas seguindo sonhos proféticos de seu líder messiânico, construiu um pequeno vilarejo às margens do lago. O local foi encontrado abandonado anos depois e nunca se soube o que aconteceu às pessoas que ali viviam. Os casebres de madeira ainda se encontram de pé e são uma curiosidade mórbida.
O lago é extremamente fundo e cientistas jamais conseguiram precisar sua profundidade total. A cratera onde ele se encontra é decorrente do impacto de um grande meteoro que transportava o Grande Antigo Glaaki. Esta entidade se alojou nas profundezas do Lago onde permance desde então.
Glaaki é capaz de enviar emanações psíquicas aos seus cultistas de um modo semelhante ao que Cthulhu utiliza para se comunicar. Os cultistas de Glaaki, contudo, são condicinados à servidão através de espinhos inseridos em seus corpos. Um servo de Glaaki deteriora com o passar do tempo tornando-se uma espécie de morto vivo sob o poder do deus. Nos estágios finais eles são compelidos a mergulhar nas águas turvas do Lago Brichester para ficar ao lado do Grande Antigo até o dia em que ele despertar.
A oeste de Brichester se localiza Temphill (Temple Hill) que segundo as lendas locais foi fundada por cavaleiros templários quando a ordem foi dissolvida em 1307. Os cavaleiros teriam trazido relíquias sagradas e objetos mágicos que estavam na posse dos mouros. Esses artefatos foram obtidos em suas viagens pela Palestina durante as Cruzadas. Nenhum destes tesouros jamais foi encontrado, mas alguns acreditam que entre eles estariam objetos místicos ligados ao seminal Culto de Yog-Sothoth que um dia deteve certa influência no Oriente Médio.
No século XIX um culto de necromantes atuou em Temphill presidindo rituais no complexo de cavernas abaixo do antigo cemitério da cidade. O culto desenterrava e reanimava cadáveres ali sepultados com objetivos pérfidos. Segundo rumores, disputas internas acabaram com a sociedade, mas alguns cidadãos ainda falam dessa época com receio, temendo que um dia esse cabal possa ser reunido novamente.
Warrendown é outro sentamento envolto em mistério. A cidade se mantém isolada e seus peculiares habitantes com característicos lábios leporinos raramente recebem visitantes. De fato, Warrendown não consta em mapas e as estradas que levam até o vilarejo passam por brejos e atoleiros quase intransponíveis.
Alguns tomos dos Mythos mencionam uma entidade criada a partir de matéria vegetal que seria reverenciado pelo povo dessa cidade. O Deus Verde é um horror botânico que domina plantas e cresce a medida que lança sua consciência em líquens, arbustos e folhas mortas.
Os cidadãos locais vivem da agricultura de subexistência e plantam curiosos tubérculos de odor e aparência nauseante. Há boatos de que seu sistema religioso inclui rituais presididos em uma igreja abandonada no centro da cidade e que o consumo dessas verduras faz parte dos ritos principais da congregação.
Mapa do Severn Valley:
Essas são algumas dos marcos do Vale de Severn, mas um local foi propositalmente ignorado nesse relato. Goatswood, merece ser vislumbrado isoladamente. Em uma região terrível como o Vale de Severn esse povoado consegue se destacar como o ponto mais tenebroso de todos e um dos lugares mais perigosos do mundo.
A seguir: "Made in Goatswood"
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Deus Verde é novidade para mim, gostaria que ele tivesse sido mais explicado no artigo...
ResponderExcluirMas fora isso ta otimo, é bom ver que existem lugares tão horrendos como Arkhan em outros paises
O Deus Verde é uma entidade extremamente obscura criada pelo Campbell especialmente para a estória "The Horror under Warrendown". Ele habita o subterrâneo do povoado.
ResponderExcluirSua forma se assemelha a uma grande massa amorfa de folhas apodrecidas, raízes e matéria vegetal em decomposição com o que parece ser uma face mais ou menos humana. As raízes de arrastam serpenteando pelo chão como tentáculos e ele exala um fedor de terra remexida.
Os cultistas de Warrendown recebem como dádiva um tipo de vegetal semelhante a uma batata que brota no corpo do Deus Verde e esse é consumido nos rituais.
O consumo desse tubérculo faz com que as pessoas comunguem com o Deus e aos poucos sofram mudanças corporais irreversíveis. Os cultistas mais antigos não podem sequer ser considerados como seres humanos.
Esse tubérculo brotado pelo Deus Verde lembra uma protusão similar que era liberada pelo Monstro do Pântano, na época em que esse personagem foi reformulado por Alan Moore. Consumir esses brotos causavam alucinações que na verdade eram comunhões com o "Verde", a consciência vegetal coletiva.
ResponderExcluirMaravilhoso post, extremamente útil e informativo. Keep going!
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