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A matéria falava de uma infestação monstruosa de aranhas que havia tomado de assalto uma ilha na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. O artigo comentava que há exatos 50 anos a Força Aérea tivera de ser convocada às pressas para combater essa colônia de aranhas que ameaçava (pasmem!) a cidade inteira.
Curioso à respeito, dei uma pesquisada aqui e ali. O caso era mais estranho do que se poderia imaginar.
No início da década de 50, o Governo Federal decidiu iniciar a construção das instalações que deveriam hospedar o campus da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto contemplava a criação de uma ilha artificial criada a partir do aterro de um arquípélago composto de oito pequenas ilhotas. A medida que o aterro ia sendo transportado, a massa nomeada de Ilha do Fundão começava lentamente a tomar forma.
A ponta da ilha, que correspondedia a antiga Ilha do Catalão, era mais isolada e dominada por pântanos de água salgada, vegetação fechada e um mangue de lama preta sem fim, ideal para apanhar caranguejo. Hoje em dia ali fica uma reserva ambiental administrada pela UFRJ, mas na época tudo o que existia era um modesto vilarejo de pescadores localizado em um trecho ao longo da praia.
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Os especialistas que socorreram as vítimas analisaram algumas aranhas que haviam sido capturadas e concluíram que se tratava de uma espécie conhecida como Latrodectus curacaviensis, apelidada de "flamenguinha" (por ter as cores do time carioca de futebol, o rubro negro pintado em forma de ampulheta no abdomen). A flamenguinha é uma parente distante da Latrodectus mactans, a famosa viúva negra, mas nem de longe tão mortal quanto sua prima mais famosa. Não obstante esses aracnídeos têm realmente uma picada venenosa.
Na época houve pouca repercussão do ocorrido. Os pescadores foram simplesmente aconselhados a tomar cuidado e se manter atentos contra os aracnídeos: usar sapatos e verificar suas roupas antes de vesti-las. Não podiam imaginar o que viria a seguir.
Em meados de Julho, uma comissão do povoado pediu ajuda a um conhecido repórter que tinha um popular programa de rádio na capital. Eles afirmavam que a situação na Ilha era insustentável e que o lugar fervilhava com uma infestação de aranhas como jamais havia sido vista. Interessado no caso, e farejando uma estória, o jornalista aceitou acompanhá-los até o local e munido de um fotógrafo registrou a situação. Segundo consta, milhares de aranhas haviam deixado o pântano e ameaçavam a vida dos pescadores colocando-os para fora de suas casas. A população de aranhas havia explodido: "Um verdadeiro tapete ambulante de insetos se arrastava pelo chão, pela praia, pelos casebres, em todo canto..."
A notícia correu pela cidade e logo mereceu destaque nacional. O Rio de Janeiro estava ameaçado pelas aranhas! Os boatos afirmavam que os aracnídeos tinham um veneno mortal (capaz de matar em poucos minutos) e num misto de pânico muitas pessoas afirmavam que seria questão de tempo até elas atravessarem a Baía de Guanabara chegando à cidade.
O medo fez com que o governo prometesse cuidar da praga e o então presidente Jânio Quadros decretou Guerra às Aranhas.
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Com isso a batalha estava vencida... ou será que não?
Naquela época pouco se sabia dessa espécie de aranha. Mas uma peculiaridade curiosa a respeito das Latrodectus curacaviensis é que elas são capazes de se deslocar a grandes distâncias. Quando ameaçadas elas utilizam um método conhecido como balonismo que conciste de criar uma espécie de para-quedas feito de teia para flutuar usando correntes de ar. Uma aranha é capaz de usar uma corrente ascendente para flutuar e escapar de um perigo iminente. Quando o napalm caiu no solo matou milhares delas, mas também gerou um forte deslocamento de ar ascendente que carregou para o ar outras tantas aranhas em seus pequenos balões. O resultado foi que as flamenguinhas nativas daquela região se espalharam pela costa inteira, de Niterói até a Barra da Tijuca.
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O episódio bizarro nos faz ponderar sobre os efeitos que o pânico exerce sobre a população de grandes centros urbanos e como medidas impensadas podem causar enormes danos ao invés de trazer soluções.
Em termos de jogo, fico pensando em uma infestação de Crias de Atlach-Nacha (a deusa Aranha dos Mythos) ou de Aranhas de Leng (grandes aracnídeos azulados que habitam a Terra dos Sonhos). Quais seriam as medidas tomadas pelas autoridades nesse caso? Melhor nem pensar à respeito...
ótimo, vai pros meus indicados da semana.
ResponderExcluirExcelente artigo! Parabéns!
ResponderExcluirMano, que história surreal! E escrever esse comentário sentado num laboratório na Ilha do fundão é mais ainda!
ResponderExcluirAs viúvas negras tocaram o terror kk
ResponderExcluirMeu dedo de escritor tá coçando. . . Já tenho até um nome: "Pavor na Ilha das Aranhas" ou "Guerra das Aranhas" sei lá!
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