terça-feira, 10 de abril de 2012

Horrível Sincretismo (Parte II) - O Divino e o Mythos lado a lado

Para fechar o tema, aqui estão mais alguns objetos e artefatos inspirados em elementos das Religiões formais com um perverso twist do Mythos de Cthulhu.

Os dois primeiros foram criados por Bobby Derries, os dois últimos são criações minhas.

O Apocalypse de R'leyh

Os apócrifos Cristãos e Judaicos (textos não canônicos) relatam muitos apocalipses, sonhos e visões proféticas que revelam o destino da humanidade. Os mais famoso Apocalipse está contida a bíblia e lida com os últimos dias da Terra, o retorno do messias e o julgamento final de Deus sobre a humanidade.

O Apocalipse de R'Lyeh é um texto dessa mesma natureza, a transcrição das visões de um pescador judeu do Mar da Galileia chamado Yigael ben Yeshua. Escrito em aramaico por volta de 50 dC. o livro descreve o fim do mundo, causado por um segundo dilúvio, o resultado do despertar de um Leviatã, que dormia nas profundezas do mar aguardando um alinhamento das estrelas. A maior parte das visões de Yigael são uma tentativa de compreender os acontecimentos dentro do contexto de suas crenças, o que leva a várias contradições.

Para a maioria dos estudiosos que tiveram a oportunidade de examinar o documento, o Apocalipse de R'Lyeh não passa de um trabalho absurdo relatando os devaneios de uma mente perturbada. Notavelmente intrincado, muitos especialistas o desqualificam como uma obra digna de atenção acadêmica. Indivíduos com conhecimento do Mythos de Cthulhu, entretanto são capazes de reconhecer no confuso texto referências óbvias a Abissais, a Raça Anciões, Dagon, Hydra e outras entidades. O livro também se mostra acurado sobre alinhamentos cósmicos e fornece magias de contato e invocação.

O documento foi encontrado por pastores de ovelhas em 1939 no interior de uma caverna na Palestina. Os manuscritos em pele de carneiro estavam acondicionados em um grande jarro de cobre. Seus descobridores, venderam os rolos que acabaram parando nas mãos de estudiosos na Universidade do Cairo. Quando a Segunda Guerra teve início, agentes alemães no Egito foram incumbidos de saquear a biblioteca da universidade em busca de artefatos religiosos e ocultos.

Supõe-se que o manuscrito tenha sido removido nessa ocasião e contrabandeado para a Europa. A tradução teria sido realizada em meados de 1942 pelo ocultista Karl Hans Dietrich, membro proeminente da Sociedade Thulegesselshaft. Durante a guerra, trechos do documento que ensinavam a magia para contatar os Abissais foi usada pelos nazistas para tentar uma aliança com o povo das profundezas. Com o fim do conflito, o documento foi recuperado em um bunker junto com outros importantes documentos saqueados ao redor do mundo. A Operação de reintegração desse material foi supervisionada pela divisão conhecida como Delta Green. É provável que os documentos originais ainda estejam em poder dos americanos, não se sabe quantas cópias desse documento foram feitas no período em que ele esteve em poder dos alemães.

A Genizah de Salamanca

Na tradição judaica, nenhum texto que comtém o nome sagrado de Deus pode ser destruído. Muitos documentos religiosos, bem como arquivos e contratos que são jurados em nome de Deus, são dessa forma preservados. As sinagogas possuem um aposento especial onde tais documentos são armazenados, as genizah. Não por acaso esses arquivos se tornaram com o passar dos séculos depositários de conhecimento para arqueólogos, historiadores e caçadores de tesouros.

A prática de manter a genizah persistiu até os tempos medievais, inclusive na próspera comunidade judaica estabelecida na cidade espanhola de Salamanca. Salamanca era uma cidade antiga, fundada pelos romanos e conquistada pelos mouros durante o período de ocupação islâmica na Península Ibérica. A cidade foi um dos centros de comércio e cultura mais importantes da Europa, sendo que a fabulosa universidade era uma das mais antigas e prestigiadas instituições da Idade Média.

Em parte pela universidade, em parte pela presença de muçulmanos e judeus, Salamanca sempre teve uma reputação de misticismo e religiosidade. Rumores abundavam sobre depósitos secretos abaixo da cidade, onde estudantes da universidade se reuniam secretamente para realizar experimentos ocultos. A população ignorante falava de pactos com o diabo, feitiçaria e consórcio com as forças mais negras ocorrendo no submundo.

De fato, tais boatos se originaram a partir da existência da Genizah de Salamanca - um depósito subterrâneo de textos judaicos que reunia entre outras coisas um extenso acervo de tomos ligados ao Mythos. A Genizah era fechada e só podia ser consultada por rabinos confiáveis, capazes de manter a discrição à respeito do conteúdo de alguns desses trabalhos blasfemos. Muitos dos livros escritos em árabe e em hieroglifos egípcios eram criteriosamente traduzidos pelos rabinos e estudiosos. Muitos acreditam que uma facção judaica usava esse conhecimento adquirido para confrontar as forças do Mythos.

A Genizah de Salamanca se manteve até a fatídica ordem de expulsão dos judeus da Espanha decretada pela Rainha Isabel I no final de 1400. Impossibilitados de remover o vasto conteúdo da Genizah, um rabino tentou incendiar o acervo para que ele não caísse em mãos erradas. O homem foi detido tendo destruído apenas parcialmente o depósito que foi saqueado no caos que se seguiu à fuga dos judeus.

A maior parte do material se perdeu, anos e anos de conhecimento, mas dentre os saqueadores haviam alguns que conheciam o valor de papéis antigos. Estudiosos do Mythos cogitam que entre os tesouros mais valiosos contidos na coleção encontrava-se um volume do Al-Azif em árabe, possivelmente a última cópia conhecida do tratado escrito por Al-Hazred.

O Sudário Negro

Um dos maiores mistérios da cristandade diz respeito ao Sudário de Turim, o pano que supostamete teria coberto o corpo de Jesus Cristo após sua morte no calvário. O pano, um simples tecido de linho é considerado pela Igreja Católica como uma de suas mais importantes relíquias. O Sudário que acredita-se tem as marcas do corpo no qual ele esteve envolvido teria sido protegido por cultos cristãos e levado até a cidade de Constantinopla onde ficou em poder de uma família que realizava negócios com autoridades em Jerusalém. Quando a terceira cruzada destruiu a Capital Bizantina, o Sudário foi roubado e levado para a França. Séculos mais tarde ele foi ofertado à Igreja tornando-se a mais valiosa relíquia adornando a Catedral de Turim.

Para alguns, a importância do Sudário está acima das incertezas sobre a sua autenticidade. A Igreja submeteu o Sudário a perícia científica que atestou se tratar de um tecido contemporâneo a época medieval. Suspeitas de erro na datação por carbono 14 sempre foram levantadas e muitos cientistas se dividem à respeito.

O que poucas pessoas sabem é que outros sudários apareceram ao longo da história. Um dos tecidos mortuários mais notórios esteve em poder da Catedral da cidade de Düsseldorf na Alemanha. Ao contrário dos outros sudários, este não era exposto como relíquia embora sua importância fosse incontestável para a história do catolicismo. Tratava-se do alegado Sudário que recobriu o corpo de Judas Iscariotes, aquele que traiu Cristo por 30 moedas de prata.

A história de Judas nos textos bíblicos se encerra quando ele, corroído pelo remorso comete suicídio enforcando a si mesmo. Pouco se sabe à respeito do destino de seu corpo, mas supõe-se que ele tenha sido recolhido e depositado em uma cripta. No século VIII, ladrões de sepultura invadiram um lugar nos arredores de Jerusalém de onde extraíram um sudário que recobria um corpo horrivelmente deformado. Tendo encontrado uma placa com o nome Judas, acreditaram que a cripta encerrava os restos do traidor, punido pelo seu crime com a deformidade dos seus restos mortais. Os ladrões recolheram o tecido negro e o venderam. Ao longo dos séculos, o sudário, doravante chamado de "O Sudário Negro" passou por famílias nobres, segundo as lendas trazendo tragédias e amargor. Tamanha a sina dos que o possuíram, acreditava-se pesar sobre ele uma maldição.

No século XVIII ele foi ofertado a Igreja e recolhido a um aposento na Catedral de Düsseldorf. Em 1944, um pesado bombardeio aliado destruiu a Catedral e o misterioso tecido se perdeu nos destroços.

O Sudário Negro não foi o pano que recobriu Judas Iscariotes. No passado ele foi usado para proteger o cadáver de um feiticeiro devotado aos Mythos. Esse feiticeiro também chamado Judas (um nome comum na Judéia), havia se aliado a raça dos ghouls, os abutres de homens. Por muito tempo ele andou na companhia dessas criaturas imundas partilhando de seus costumes medonhos, saciando sua fome com o fruto proibido do canibalismo. O feiticeiro ambicionava se tornar líder dos ghouls comandando um culto devotado ao Grande Antigo, Mordiggian. As horríveis deformidades em seus restos evidenciavam que ele estava em processo de se transformar em um ghoul.

Ignorado por todos, o tecido não foi destruído no bombardeio. Farejando a importância do pedaço de tecido, ghouls abriram caminho nos restos fumegantes da Catedral e recolheram o tecido carregando-o consigo para os subterrâneos. Um culto de ghouls se formou ao redor desse macabro artefato e a raça de escavadores espera um dia, com a benção de Mordiggian, conseguir trazer de volta à vida o poderoso feiticeiro que usou esse tecido maldito.

O Selo de Babel

A história da Torre de Babel, palavra que em hebráico significa "muitas línguas" é bem conhecida. Ela narra uma história de orgulho na qual os homens desejavam construir uma torre tão alta e magnífica que seria possível através dela ascender aos céus e encontrar Deus.

A torre é uma metáfora sobre os perigos da obstinação humana e da sede do homem em revelar os segredos do divino e sondar os mistérios de Deus. Para punir os homens pela sua ousadia, Deus fez com que se os trabalhadores da torre de uma hora falassem línguas diferentes. Com cada grupo falando um idioma distinto, os homens não conseguiam mais se entender e a colossal obra foi gradualmente abandonada caíndo no esquecimento.

Apesar de parecer apenas uma parábola, a Torre de Babel é mais verdadeira do que se pode imaginar e tal construção chegou a ser edificada na antiga Babilônia.

No idioma de Yith, "babel" significa "Portal Infinito" e era esse o objetivo da construção comandada ao longo de gerações por engenheiros que dominavam notável conhecimento matemático. Os responsáveis pela construção, embora parecessem humanos, eram controlados pelas poderosas mentes da Grande Raça de Yith, uma forma de vida que habitava o passado ancestral da Terra. O plano da Grande Raça era construir um monumento maior do que qualquer coisa já feita pelas mãos do homem. Através dessa construção tencionavam abrir um portal cósmico que lhes permitiria migrar fisicamente do passado da Terra para aquela época em especial. Com isso, poderiam escapar do destino apocalíptico que havia extinguido sua raça quando invasores espaciais, os Pólipos vieram do espaço (todos leram "Shadow out of Time"?)

A Torre com fundações gigantescas e blocos de pedra ciclópicos, começou a ser construída e levou gerações para que se erguer do chão. Logo tornou-se uma enorme empreitada atraíndo milhares de operários em um esforço coletivo que só podia ser equiparado a construção das Pirâmides do Egito.

Na ocasião em que a Torre foi concluída, selos cristalinos projetados com a avançada ciência de Yith foram posicionados no alto da construção para acionar o portal. Mas o plano da Grande Raça, cuidadosamente urdido ao longo de gerações, estava fadado ao fracasso. Não se sabe ao certo o que ocasionou o efeito inesperado: a sabotagem deliberada de algum culto (Hastur é um inimigo mortal dos Yithianos!), o envolvimento de alguma sociedade secreta ou mesmo um erro de cálculo.

Quando o último selo cristalino foi acionado, uma explosão devastou toda a região matando imediatamente quem estava num raio de 25 quilômetros e condenando outros tantos a uma lenta morte por envenenamento radioativo. A Torre de Babel foi colhida por uma explosão nuclear de 50 megatons (só para constar a bomba de Hiroshina registrou 15!) que destruiu totalmente a construção em um flash de 6.500 graus célsius. Tamanho poder desencadeado foi comparado a Ira de Deus.

A história real da Torre de Babel foi esquecida pelos cronistas e a lenda incorporada à parábola bíblica. Mas ignorado por todos, a tecnologia cristalina de Yith não foi destruída na explosão e um dos Selos que desencadeou a explosão sobreviveu arremessado à quilômetros de distância aterrizando na fronteira do atual Irã.

Arqueólogos do Instituto de História Nacional encontraram em 1982 fragmentos radioativos cristalinos no deserto ao norte do Irã. Esses fragmentos vem sendo estudados com interesse pela Comissão de Energia do Governo de Teerã que pretende usá-los para fins pacíficos de geração de energia e para o programa secreto de construção de armas nucleares.

8 comentários:

  1. O Sudário Negro era um dos itens que usamos no Live Action de Call of Cthulhu. Era um dos objetos do Leilão.

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  2. Olá, muito bom seu blog. Eu o acompanho desde o inicio mas nunca comentei, mas agora me vi obrigado a fazer uma pergunta:

    Essa sua idéia sobre a torre de Babel ficou muito boa, você nunca pensou em escrever contos?

    Abraços!

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  3. Ola, acabei de encontrar seu blog e o achei magnífico!!! Muito legais suas postagens...
    Já estou seguindo, Parabéns ^^

    http://therevolucaonerd.blogspot.com.br/
    Visita???

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  4. Os Yithianos eram mesmo inimigos de Hastur?
    Pensei que eram os mi-go...
    Embora nada impeça a gente assumir isso também, e uma Fraternidade do Símbolo Amarelo nas profundezas da história...

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  5. Navegante: Valeu pelos comentários.

    Cara, já escrevi alguma coisa, mas nunca cheguei a colocar nada aqui.

    Arthur: Eu li em algum lugar que agentes Yithianos e indivíduos que tiveram o corpo abduzido pela mente alienígena haviam sido raptados e torturadcos pelo Culto de Símbolo Amarelo.

    O objetivo dos cultistas era extrair deles conhecimento e informações sobre a avançada tecnologia dos Yithianos. Os Mi-Go faziam o mesmo. Pensando bem, o culto de Hastur parece ser dos mais beligerantes. Eles arranjam disputas com vários outros cultos, o de cthulhu inclusive.

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