No Universo do Mythos há uma triste verdade: Não existem tesouros ou recompensas materiais para os que empreendem buscas nesses tortuosos caminhos.
Os raros artefatos obtidos nestas jornadas e que tem ligação com entidades malignas, seus cultos apocalípticos ou passado profano, na maioria das vezes, são tão poderosos e perigosos que a mera proximidade deles condenaria o mais astuto dos investigadores à insanidade, morte e esquecimento. Mesmo assim, muitos tentam obter esses itens, acreditando serem capazes de controlar e se beneficiar com seus poderes.
Aqui está um enigmático Artefato Arcano, conhecido entre ocultistas e estudiosos do Mythos, que possui uma história igualmente rica em loucura e mistério.
Histórico
Quem esculpiu a estatueta conhecida como "A Mão de Y'Golonac", quando e com que propósito são perguntas que provavelmente jamais serão respondidas. Essas são questões que o tempo tratou de apagar sem deixar pistas.
A primeira citação a existência desse artefato data do século XV, quando ela é mencionada em um documento escrito por um conselheiro da corte do Czar Ivan IV (conhecido como o Terrível) no ano de 1541. O documento, uma espécie de registro de tesouros pertencentes ao espólio de um nobre, se encontra no Museu do Krenlim, e diz:
"... dentre os tesouros encontra-se um artefato de pedra esculpida na forma da mão do obeso lorde da danação, cuja perversidade transborda e é capaz de preencher os homens que cedem aos seus caprichos".
Alguns pesquisadores acreditam, entretanto, que o artefato seja bem mais antigo. Fontes não confirmadas mencionam que ele já seria usado em cerimônias do infame "Culto das Mãos Famintas" que existiu na Pérsia até o século XI. Se este é o mesmo item, ninguém foi até o momento capaz de oferecer uma explicação sobre como ele teria chegado a Rússia Imperial.
Sabe-se que posteriormente ele teria sido vendido e passando de mão em mão, transitou pela Europa Oriental, até ser transportado, possivelmente como contrabando para o Norte da Itália. A Mão teria sido comprada por um sacerdote, ludibriado a acreditar que se tratava de uma relíquia sagrada cristã. Incapaz de destruir o item, o sacerdote resolveu escondê-lo em um nicho secreto na sacristia da Catedral de Verona. Lá ele permaneceu por décadas, até ser reencontrado por outro vigário no início do século XVIII. Segundo boatos, esse vigário "manteve o artefato escondido em seu aposento privado fazendo uso de suas propriedades demoníacas". Sabe-se que em meados de 1710, um sacerdote de Verona chamado Ubertino Franco foi acusado de heresia, depravação e práticas demoníacas. O religioso foi excomungado e depois de ser considerado um demente perigoso, conduzido a um calabouço onde morreu anos mais tarde.
Em 1780, a "Mão" ressurgiu na França. Ele era uma das principais atrações na infame Maison Noir (Casa Negra) um bordel que funcionava em Paris e atraia uma seleta clientela de nobres sibaritas e burgueses abastados. A Mão de Y'Golonac era mantida em um aposento especial chamado "Le Secret Boudouir" onde repousava em almofadas de cetim. Ela só podia ser contemplada por fregueses especiais que pagavam uma soma considerável para desfrutar dos prazeres oferecidos pela casa na distinta presença do item. Alguns acreditava que ele era capaz de realçar as sensações, causar alucinações e invocar uma aura de total perversidade.
Por ocasião da Revolução de 1789, a Maison Noir foi destruída e incendiada por uma turba furiosa que sabia ser aquele um lugar frequentado por cortesãos. A maior parte dos objetos de valor foram saqueados e é provável que o artefato tenha sido carregado em meio ao caos que se seguiu.
Depois disso, a "Mão" desapareceu por algum tempo. Ressurgindo no século XIX nas mãos de ocultistas conceituados que ainda tentavam compreender seus poderes e tirar proveito das suas faculdades. Dizem que o próprio Aleister Crowley teve a posse da mão por um curto tempo e conduziu experimentos com magia tântrica na sua presença. O ocultista inglês acreditava ser capaz de concentrar enorme energia mística usando a Mão como catalizador nos seus experimentos. Infelizmente (ou não!) Crowley não teve tempo de realizar todas as pesquisas que planejava, já que uma de suas inúmeras amantes teria em algum momento fugido da "Grande Besta" carregando consigo o tesouro místico.
Em 1960 a Mão reapareceu na coleção de objetos de arte pertencentes ao "papa" do LSD, o psicólogo americano Timothy Leary que defendia o uso da droga sintética para abrir a mente humana ao seu pleno potencial sensorial. Em 1967, a estatueta foi roubada por membros de uma Seita que profetizava o fim dos tempos nas mãos de deuses e entidades inumanas. A seita foi acusada posteriormente de envolvimento em assassinatos durante rituais conduzidos no deserto da Califórnia. Seus membros foram presos e alguns se encontram ainda cumprindo penas de prisão perpétua.
O paradeiro atual da "Mão de Y'Golonac" é desconhecido.
A Mão de
Y'golonac é construída a partir de um único pedaço de pedra cinza-esverdeada, cuja
composição exata é desconhecida. Sabe-se que se trata de um tipo de rocha maciça: resistente, lisa e polida. Suave ao toque, muitos afirmam que ela é fria e mais leve do que se poderia supor à primeira vista.
A estatueta foi esculpida para parecer com o braço e mão de um homem adulto do cotovelo para baixo. Onde a articulação do cotovelo deveria estar, surge abruptamente a base da estatueta. A mão é inclinada para trás e os dedos afastados, com as pontas ligeiramente curvadas para dentro em forma de garra. É possível que o artista tenha construído a estatueta para servir como suporte de algum objeto não identificado que ficava posicionado na mão.
A estatueta foi esculpida para parecer com o braço e mão de um homem adulto do cotovelo para baixo. Onde a articulação do cotovelo deveria estar, surge abruptamente a base da estatueta. A mão é inclinada para trás e os dedos afastados, com as pontas ligeiramente curvadas para dentro em forma de garra. É possível que o artista tenha construído a estatueta para servir como suporte de algum objeto não identificado que ficava posicionado na mão.
Há duas
características
distintivas que
identificam a mão. Em primeiro lugar, há uma boca na palma aberta. Os lábios grossos retesados para trás revelando dentes perversamente afiados que aparecem mais com os de um predador selvagem do que com os de um homem.
A segunda
característica está na base da estatueta. Trata-se de um retângulo feito do mesmo material com uma polegada de altura e 30 centímetros de comprimento. A porção esculpida parece "brotar" dessa base sólida e ao que tudo indica toda a estatueta deriva originalmente dessa única peça. Na base duas fileiras de estranhos símbolos gravados em toda superfície. Os glifos são pequenos e totalizam 35 caracteres que não se repetem em momento algum. Não se sabe o que eles representam ou mesmo o que significam, embora alguns criptógrafos tenham comentado que alguns símbolos são similares aos que se encontram no Manuscrito Voynich.
A Mão de Y'Golonac é uma peça que projeta uma constante aura de inquietação em todos que a vêem pela primeira vez. É impossível não sentir alguma reação na presença do objeto seja repulsa, fascinação, medo ou desconforto. Sensitivos acreditam que o objeto irradia algum tipo de energia mística capaz de ativar receptores sensoriais na mente humana e fazer com que o indivíduo exposto a ele possa ver além dos meros sentidos. A verdade é muito mais terrível...
A Mão de Y'Golonac é uma peça que projeta uma constante aura de inquietação em todos que a vêem pela primeira vez. É impossível não sentir alguma reação na presença do objeto seja repulsa, fascinação, medo ou desconforto. Sensitivos acreditam que o objeto irradia algum tipo de energia mística capaz de ativar receptores sensoriais na mente humana e fazer com que o indivíduo exposto a ele possa ver além dos meros sentidos. A verdade é muito mais terrível...
Poderes
A Mão é um artefato de poder considerável, criado por um Alto-Sacerdote do "Culto das Mãos Famintas" que existiu na Pérsia e que atualmente está extinto.
Seu poder principal é permitir o estabelecimento de um elo de comunicação com Y'Golonac, o Impuro. O Grande Antigo habita uma prisão inexpugnável atrás de um enorme muro de tijolos em algum recesso dimensional que priva seus sentidos e nubla sua capacidade de interagir com o nosso mundo. Normalmente é impossível para a entidade estabelecer contato com humanos, exceto quando ele consegue possuir um corpo com sua essência blasfema. Entretanto, um indivíduo exposto repetidas vezes ao artefato começa a desenvolver uma sensibilidade sobrenatural que o torna suscetível à receber projeções mentais vindas diretamente de Y'Golonac.
Em um primeiro momento, essas emanações psíquicas aumentam as sensações do indivíduo ampliando seus sentidos e a intensidade de tudo que ele experimenta. Todos os prazeres são ampliados a um nível indescritível. Mas essa é a armadilha urdida por de Y'Golonac, criada para causar uma dependência da qual é impossível escapar. As projeções por enfim acabam pervertendo a mente do indivíduo, transformando-o gradualmente em um sátiro degenerado cujo comportamento lascivo se torna irrefreável. A medida que pensamentos cada vez mais pérfidos corrompem cada fibra de sua humanidade, o indivíduo perde totalmente o controle e deixa de ser uma pessoa para se tornar uma fera cheia de desejos e vontades.
Quanto tempo o artefato demora para agir na mente de um indivíduo depende de quanta exposição a pessoa tem a ele e de sua própria fibra moral. Algumas pessoas, ao longo dos tempos voluntariamente se entregaram a corrupção procurando, na verdade ansiando, por essa "liberdade total".
A mão também possui outro propósito, tão sinistro quanto o primeiro e descrito exclusivamente no tomo "Unausprachlichen Kulten". Diz-se que o detentor desse artefato pode, empregando o método adequado, conjurar uma terrível maldição sobre um inimigo de sua escolha.
Este horrível ataque místico não pode ser detectado e afeta o alvo escolhido onde quer que ele esteja.
Segundo o livro, para invocar esse efeito nefasto, o nome da vítima pretendida deve ser escrito com sangue em um papiro. O místico deve, em seguida, oferecer um sacrifício em nome de Y'Golonac. Esse sacrifício envolve a realização de um ato moralmente repugnante; algo que seja tão ofensivo que a mera menção causa profundo asco e consternação. A conotação dessa ato é deixada em aberto, mas por algum motivo, ele tende a ser, na maioria das vezes, de natureza sexual.
Quando a ação é perpetrada, o autor deve carregar consigo algum pequeno item que representa o ato em si e envolvê-lo com o papiro preparado previamente. Este
troféu é então depositado na mão de pedra de Y'Golonac, que se fecha em um punho caso o sacrifício seja aceitável. A estatueta arcana então desencadeia um poder terrível, enigmaticamente referido no tomo como "O Toque de Y'Golonac".
O infeliz cujo nome foi escrito começa a ter estranhos sonhos. Absurdos e enevoados num primeiro momento, os sonhos tornam-se cada vez mais claros até que começam a afetar sua vida. Alucinações insalubres e pensamentos depravados afetam o alvo noite e dia. Logo ele passa a ser acometido de um desejo incontrolável de cometer o mesmo ato praticado pelo místico que ativou a magia. Eventualmente, a força de vontade do indivíduo irá falhar diante do impulso implacável. Uma vez que o desejo é saciado, a mão se abre novamente. O item colocado em sua palma é consumido, e ela estará pronto para ser usado uma vez mais.
Na maioria das vezes, a vítima do uso repetido dessa maldição acaba por cometer suicídio para dar um fim ao seu sofrimento. Em outros casos, o detentor da mão pode parar o ataque ou ser impedido de continua-lo. De qualquer maneira, aqueles afetados pelo Toque de Y'Golonac acabam tendo a vida conspurcada para sempre, uma vez que pensamentos doentios e desejos obscenos, continuam a atormentá-lo para o resto de sua existência.
TOQUE DE
Y'GOLONAC:
O feitiço requer que o realizador tenha em seu poder a Mão de Y'Golonac. Para executar a magia, o usuário deve cometer um
ato doloroso e malévolo contra outra pessoa e obter um pequeno item relacionado ao evento, talvez um botão de camisa de uma vítima de assassinato, por exemplo. (o custo de Sanidade para a realização do ato é ajustado pelo Guardião.) O realizador escreve o nome do alvo com sangue em um pedaço de papiro que é enrolado no item que simboliza a oferenda. Os itens são depositados na palma da mão de Y'Golonac. O realizador gasta 10 Pontos de Magia, e perde 1D8 Pontos de Sanidade.
O
alvo da magia experimenta um período de sonhos estranhos e impulsos, culminando em uma compulsão poderosa para cometer o mesmo crime que o realizador perpetrou no momento que ativou a magia. O alvo só pode resistir a essa compulsão com um teste na Tabela de Resistência de POW vs POW contra o artefato.
A primeira vez que isso ocorre, o POW do artefato é 15; cada
uso bem
sucedido contra o
mesmo alvo aumenta o POW da
mão em um ponto, mas apenas contra o alvo. No momento do Teste de Resistência o alvo perde 1D6 Pontos de sanidade, além de um montante igual ao que o realizador tiver perdido na realização do ato vil escolhido. A vítima escolhida não precisa ser a mesma
pessoa que sofreu o atentado da parte do realizador , mas é geralmente alguém do mesmo sexo, idade, raça e classe social. Se a
vítima vence a disputa de POW, ele sofre os efeitos dos pesadelos, mas consegue suportar a compulsão.
Fantástico, Luciano!!! Esse artefato tem tudo a ver com a Configuração do Lamento! A temática da loucura e a perversão da sexualidade. O Campbell realmente atualizou os Mythos!
ResponderExcluirMas, por favor, tire o "rocha sólida" da descrição, eu acho que vc quis dizer "rocha maciça", ou seja, uma pedra única...
Grande abraço!
hehehe... Rocha sólida não dá né. Isso que acontece quando a gente escreve de madrugada.
ResponderExcluirEu odeio ler meus textos, sempre acho milhões de erros. Você escreve muito bem e não sei como acha disposição para produzir tantos textos de qualidade!
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