quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Superando Limites - Robert Falcon Scott e a primeira missão na Antártida


"A cada dia surge algum fato novo - algum novo obstáculo que ameaça se tornar intransponível. Suponho que essa é a razão pela qual esse jogo vale a pena ser jogado".


Robert Falcon Scott escreveu seu nome no rol dos grandes aventureiros e exploradores do século XX pela sua contribuição desbravando o território inóspito da Antártida e pela obstinada corrida pelo Pólo Sul. Embora tenha perdido a disputa e encontrado uma morte dramática, seu legado permanece como uma estória de bravura e superação diante das adversidades.  

Scott nasceu em uma família bem sucedida de Devon, no sul da Inglaterra no ano de 1868. A família sempre teve tradição náutica, tanto por parte de pai quanto de mãe e como não poderia deixar de ser, Robert foi criado nesse meio, indo ao mar pela primeira vez aos treze anos. Ele aprendeu as lições do mar e assim que possível se alistou na Marinha Real avançando de posto rapidamente.O destino colocou Scott e um geógrafo chamado Clements Markham lado a lado, enquanto viajavam pelas Indias Ocidentais. 

Os dois se tornaram amigos quase que imediatamente, compartilhando estórias sobre aventuras em alto mar e exploração. Markham ficou impressionado pela inteligência de Scott, entusiasmo e perícia náutica. Na visão do geógrafo, Scott era um candidato perfeito a se tornar um explorador da Royal Society. Ele escreveu em seu diário: "Minha conclusão é que o Sr. Scott possuía todas as qualificações necessárias para ser um explorador e que estava destinado a um dia comandar uma Expedição aos confins da Terra".


Alguns anos mais tarde, os dois homens se encontraram novamente dessa vez na Inglaterra. Na ocasião Markham estava preparando uma expedição científica patrocinada pela Royal Society com destino a Antártida, uma das últimas fronteiras da humanidade. Ele conseguiu persuadir Scott a tomar parte nessa empreitada. Após 18 anos servindo na Marinha Real, o experiente capitão estava se sentindo inquieto e desejava expandir seus horizontes. Filiando-se a Royal Geographical Society, Scott não apenas foi aceito, mas graças às suas qualificações, acabou alçado a posição de comandante da expedição. Em 1900, ele recebeu as instruções para partir na missão que ficaria conhecida como a "Expedição Discovery".
O navio a ser utilizado, o Discovery, foi construído especificamente para essa viagem. Era uma embarcação resistente de madeira, medindo 172 pés e pesando 485 toneladas. O Discovery deixou o atracadouro de Dundee já com todo o equipamento e tripulação em 31 de Julho de 1901, com destino a Antártida. Entre os membros da expedição estava Ernest Shackleton, na época um tenente responsável pelo compartimento de carga, provisões e análise de água.

Ao avistar o Continente Gelado e após conduzir algumas explorações iniciais ao longo da costa, o Discovery iniciou seu caminho até McMurdo Sound, local escolhido para erguer a base de operações em terra. Muitas viagens tiveram de ser feitas para que o equipamento fosse desembarcado do navio e montado antes da chegada do Inverno. Scott e seus homens tiveram de trabalhar duro para concluir todas as tarefas necessárias, lutando com um cronograma apertado e as dificuldades impostas pelo clima. "Foi um difícil aprendizado" ele escreveu no diário da expedição.


A expedição planejava realizar uma série de projetos científicos e exploratórios conduzidos pelos membros graduados que faziam parte dela. O objetivo principal, no entanto, era atingir o Polo Sul ou chegar o mais próximo dele, viajando por terra pelo território desconhecido. Fama e glória aguardava o explorador que realizasse essa conquista. A equipe principal formada por Scott, Wilson e Shackleton, conduziu os preparativos para a jornada em terra, escavando depósitos de suprimentos, que eram enterrados na neve, para que o grupo pudesse se abastecer na viagem de volta. Dessa forma, os trenós puxados por cães teriam de carregar apenas o material estritamente necessário em sua viagem e poderiam contar com uma linha segura de abastecimento ao retornar.  

A equipe de exploração partiu da base em McMurdo e nos primeiros dias realizou um avanço considerável pela paisagem perene e congelada. Mas embora a equipe tenha levado cães treinados, eles se mostraram intimidados pelo rigoroso ambiente. Em parte isso se deveu a comida oferecida aos animais que não era de boa qualidade. Os cães começaram a demonstrar fraqueza e irritação o que atrapalhou o avanço planejado. Para piorar, Shakleton começou a apresentar os efeitos de escorbuto decorrente da alimentação inadequada. O médico Wilson sofreu de cegueira de neve, e ficou desorientado de tal forma que teve de ser amarrado a um dos trenós.

Scott sabia que se forçasse a marcha poderia condenar a todos e acabou tendo de ordenar o retorno a base em 31 de dezembro de 1902. O grupo havia avançado até o paralelo 82°17'S, cerca de 300 milhas mais longe do que qualquer outra expedição anterior. Não havia como saber, mas eles estavam a "apenas" 480 milhas de seu objetivo final. Levou quase um mês para que eles chegassem a McMurdo, e quando avistaram a base, Scott escreveu: "Finalmente! Nós estávamos alcançando quase nosso limite físico e mental". O grupo havia partido há 93 dias e coberto uma distância total de 960 milhas.

No campo os trabalhos também haviam avançado. Um navio de suporte, o "Morning" havia chegado da Nova Zelândia trazendo suprimentos adicionais e substituindo o pessoal que apresentava ferimentos ou esgotamento. O Morning partiu em primeiro de Março de 1903, levando consigo os resultados do trabalho científico e exploratório obtidos, deixando em troca uma nova equipe disposta a enfrentar os rigores do inverno. Uma infinidade de fotografias, análises metereológicas, mapeamento e experiências haviam sido realizados e todo esse material era ansiosamente aguardado pela comunidade científica.

O Morning retornou apenas em 1904, dessa vez acompanhado de outra embarcação, o "Terra Nova". O governo da Inglaterra havia decidido que a equipe que já estava na Antártida há quase 3 anos e meio deveria retornar à civilização, uma vez que novos navios não seriam enviados com suprimentos. Os custos da viagem eram muito altos e se fazia necessário concluir a expedição.

Quando os preparativos de partida foram iniciados, cogitou-se por algum tempo que o Discovery teria de ser abandonado já que estava preso no gelo a uma distância de mais de 20 milhas do mar. Com muito trabalho e empregando explosivos o navio foi finalmente libertado de sua prisão gelada e as três embarcações fizeram seu caminho de volta rumo ao norte..

As grandes descobertas e a experiência obtida pela equipe em um dos ambientes mais inclementes do planeta fez com que o empreendimento tenha sido considerado um sucesso. Apesar de não ter atingido o Pólo, Scott foi coberto de honrarias e tratado como um herói em seu retorno triunfante.

Mas o explorador não estava satisfeito, em meados de 1907, ele já planejava seu retorno para uma segunda e mais ambiciosa expedição ao continente gelado.

(Cont...)

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