O Triângulo de Bennington se localiza no estado americano de Vermont, próximo da majestosa Montanha Glestonbury. Nesse lugar coberto por uma densa floresta quase invocada pelo homem, algo entre cinco e dez pessoas desapareceram misteriosamente. A maioria desses desaparecimentos ocorreu sem que uma única pista fosse deixada para trás. As vítimas eram pessoas de diferentes idades e de ambos os sexos. Noventa por cento dos desaparecimentos ocorreram num período de cinco anos entre 1945 e 1950. Todos aconteceram nos meses de outubro, novembro e dezembro. Além dessas diferenças e semelhanças, pouco se sabe sobre a natureza dos estranhos incidentes no Triângulo Bennington.
O primeiro caso registrado e conhecido de desaparecimento envolve um homem chamado Henry MacDowell que nasceu nessa mesma região. Um veterano da Segunda Guerra, Henry retornou do conflito com graves problemas mentais e profundamente traumatizado pelos horrores que testemunhou. Em teoria sua condição mental foi agravada pelo fato dele ter participado da liberação do Campo de concentração de Mauthausen. A visão daquele inferno vivido pelos prisioneiros e a visão dos fornos crematório foi demais para o soldado MacDowell que surtou. Ainda na Europa ele teria supostamente matado três soldados alemães à sangue frio usando uma baioneta, o que lhe valeu um processo de corte marcial. Ao retornar para a América, ele recebeu dispensa desonrosa, mas só foi enviado para um manicômio depois de assassinar um vizinho chamado Jim Crowley. Segundo as histórias, MacDowel recebeu treinamento como comando e dominava técnicas de assassinato com faca, um talento muito perigoso para alguém instável como ele.
Conta-se que certo dia MacDowel escapou do asilo onde estava preso, matando dois enfermeiros no processo e se embrenhando nas florestas da região. Tudo leva a crer que ele sumiu por vontade própria escondido nas profundezas da mata. A equipes de apreensão se concentraram no Triângulo Bennington, onde uma jaqueta pertencente ao paciente fugitivo foi achada, mas de MacDowell, não havia qualquer sinal. Após uma criteriosa busca sem qualquer resultado, as autoridades consideraram que o veterano teria simplesmente fugido para uma outra área ou morrido sem que seu corpo fosse localizado.
Esse incidente é frequentemente citado como um dos primeiros desaparecimentos naquela área, contudo, não demorou para que outros ocorressem.
Middie Rivers era um guia de montanha que conhecia a região com a palma de sua mão e que vivia na região há mais de 50 anos. Em 12 de novembro de 1945, Rivers foi contratado para levar um grupo de campistas até uma área de caça e pesca no coração do Triângulo. Em uma estradinha conhecida como Long Trail ele deixou o grupo com um ajudante e tomou a dianteira para se certificar que o trecho adiante estava seguro. Essa foi a última vez que ele foi visto com vida. A polícia e voluntários procuraram pelo homem em toda região, mas nenhuma pista de seu destino foi encontrada. Era como se Middie Rivers tivesse sido engolido pela terra.
Pouco mais de um ano depois, em primeiro de dezembro de 1946, uma estudante de 19 anos chamada Paula Welden fazia uma caminhada próximo da área de Long Trail. Ela recebeu uma carona até lá, mas estava sozinha em sua caminhada pela floresta. Welden conhecia bem a região, fazia trilha por ali ao menos uma vez por semana e era uma campista experiente, ironicamente treinada por Middie Rivers. Paula desapareceu e nenhum vestígio dela jamais foi encontrado a despeito de grupos de resgate usando cães farejadores terem procurado por ela exaustivamente. Uma recompensa de 5 mil dólares foi oferecida para qualquer um que pudesse oferecer informações sobre seu paradeiro. Muitas pessoas foram atraídas pela recompensa e vasculharam a floresta, mas novamente, nada foi descoberto.
Em Outubro de 1948, três caçadores vindos de Connecticut sumiram na mesma região. Eles foram vistos seguindo pela Long Trail levando armas, equipamento e material para acampar. Segundo amigos e parentes, eles tencionavam montar acampamento e passar três dias na área caçando. Um guia florestal contou ter ouvido repetidos disparos numa noite e quando amanheceu decidiu ir até a área e saber oq ue estava acontecendo. Lá encontrou o campo abandonado, as barracas desfeitas às pressas, mas nenhum sinal do trio. O desparecimento foi comunicado e buscas organizadas para localizá-los, porém, mais uma vez nada foi encontrado.
Dois meses depois, em dezembro, ocorreu um caso muito estranho envolvendo um homem chamado James E. Tetford que sumiu perto da Rota 7 que cruzava a Floresta. Ele teria descido de um ônibus numa parada programada. O sujeito era um vendedor itinerante de 62 anos à caminho de St. Albany onde pretendia encontrar a irmã. Tetford desembarcou afirmando que pretendia apenas "fumar um cigarro e esticar as pernas", no entanto, quando o motorista anunciou que o ônibus estava partindo James não foi mais visto.
Testemunhas se recordam de ver o sujeito se afastando do ônibus, supostamente para aliviar a bexiga na mata, conforme relataram mais tarde. Ninguém se lembrava de vê-lo retornando ou de alguém perto dele na ocasião. A bagagem e valise contendo objetos pessoais de Tetford ficaram no veículo evidenciando que ele não pretendia ir embora à pé. A polícia foi chamada e novamente voluntários buscaram pelo homem, mas ele simplesmente sumiu no ar.
No ano seguinte, em 12 de outubro, um menino de 8 anos chamado Paul Jepson juntou-se a lista de desaparecidos. Os pais de Paul, um casal de fazendeiros havia ido até a Floresta de Bennington para um passeio e piquenique em família na véspera do Dia de Ação de Graças. O pequeno Paul estava brincando alegremente com o irmão mais velho em uma área de lazer quando sumiu. O irmão que estava com ele contou que um homem barbado parecendo um vagabundo saiu da mata e agarrou o menino carregando ele para a floresta. A polícia foi chamada e eles trouxeram cães farejadores que encontraram uma trilha, mas esta se perdeu próximo de uma rodovia. Com a suspeita de que teria havido um sequestro, o FBI foi chamado para auxiliar nas buscas, mas o paradeiro do menino nunca foi descoberto.
À medida que o caso se arrastava sem resolução, alguns sugeriram que Jepson conheceu sua morte prematura nas mãos dos próprios pais e seu cadáver foi servido para os porcos que a família criava. Mas, de acordo com a estranha sensação do Triângulo de Bennington, o pai do menino disse ao Albany Times que ele talvez tenha sido "atraído pelas montanhas", já que o menino "não falava de outra coisa" antes de desaparecer.
O último sumiço registrado na área do Triângulo Bennington foi o de uma mulher de 25 anos chamada Frieda Langer, filha de um popular Congressista de Vermont. Ela estava fazendo camping com seu primo e alguns amigos no dia 28 de outubro de 1950 quando decidiu voltar ao acampamento que eles haviam montado para se trocar depois de cair na água. Frieda nunca chegou ao acampamento.
Sua prima entrou em contato com as autoridades e uma imensa operação de resgate foi montada no solo e no ar. Policiais, voluntários, bombeiros e militares se juntaram na procura pela mulher, determinados a procurar em todo canto e não deixar nenhuma pedra sem ser virada.
Esse foi o primeiro caso em que helicópteros da Guarda Costeira e do Exército dos EUA em Massachusetts, bem como aeronaves locais de cidadãos e da Comissão Aeronáutica de Vermont ajudaram nas buscas. Cerca de 400 pessoas, incluindo membros da Guarda Nacional de Massachusetts, vasculharam meticulosamente as áreas ao redor, mas não encontraram nada. A prima de Frieda contaria mais tarde que teve a sensação de que ela e a prima estivessem sendo vigiadas, mas ela não foi capaz de ver nenhum suspeito.
Sete meses após seu desaparecimento, em meados de maio do ano seguinte, um caçador chegou até o posto da guarda florestal dizendo ter achado um cadáver próximo do Reservatório de Sommerset que fica a 12 quilômetros de onde ela desapareceu. O corpo identificado como pertencente a Frieda Langer foi encontrado em uma área que havia sido extensivamente revistada nos meses anteriores. Não havia como ela estar lá o tempo todo e um legista supôs que o cadáver provavelmente havia sido movido para aquela localização por razões desconhecidas. A causa da morte não pôde ser determinada uma vez que o corpo estava muito deteriorado, deixado à mercê dos elementos e de animais selvagens.
Estranhamente, depois do caso de Frieda Langer que causou comoção nacional, nenhum outro desaparecimento foi registrado no Triângulo Bennington criando a suspeita de que seja lá quem ou o que estivesse atacando na área, morreu ou se moveu para outra região.
Com tudo isso, existem várias teorias sobre a natureza desses desaparecimentos no Triângulo Bennington, mas nenhuma delas se sustenta a uma análise mais cuidadosa. A primeira hipótese e a mais defendida pelos pesquisadores que se devotam a investigar os mistérios da área é que um serial killer estaria à solta na região. Um matador seria então o responsável pelas mortes e em algum momento ele teria morrido, sido capturado ou se movido para outra localidade.
A teoria é plausível, não fossem alguns detalhes. É extremamente raro encontrar um assassino que ataca pessoas de todas as idades e de ambos os sexos indiscriminadamente. Um maníaco homicida costuma escolher vítimas que por alguma razão o incomodam e se concentra naquele grupo conforme define o estudo da vitimologia. Um homicida que se devota a qualquer tipo de vítima é extremamente raro, ainda que sociopatas contumazes dessa natureza existam.
Também é muito estranho que um matador seja tão criterioso quanto a datas. Devemos lembrar que os desaparecimentos na Floresta de Bennington ocorreram invariavelmente entre os meses de outubro e dezembro. Qual razão faria com que um maníaco atacasse apenas nessas datas específicas deixando de lado qualquer vítima em potencial no restante do ano?
Finalmente, por mais meticuloso e detalhista que seja um assassino, é difícil imaginar alguém com o grau de controle desse suposto indivíduo que não deixou sequer uma pegada em nenhum dos crimes por ele cometido. E o que dizer da ausência de arma, sinais de luta ou indícios de crime? As buscas massivas conduzidas na floresta foram realizadas por guardas florestais e guias experientes que não acharam absolutamente nada. Eles tentaram ainda encontrar qualquer possível esconderijo que pudesse ser usado, o que incluía velhas cabanas de caça abandonadas, abrigos temporários e cavernas. Tudo foi revistado e nada foi descoberto.
Para aumentar ainda mais o mistério, nenhum corpo, com exceção o de Frieda Langer foi achado. Como o assassino faria para se livrar dos cadáveres e onde ele os manteria ocultos? Em uma floresta fechada como a de Bennington, onde há predadores como ursos negros, seria extremamente difícil ocultar um cadáver em decomposição sem atrair a atenção de animais. Animais selvagens costumam perceber a presença de cadáveres e sem dúvida os escavariam se estes tivessem sido enterrados. Outra opção, queimá-los, deixaria sinais, mas este não é o caso.
Em face da história da região, muitos suspeitavam do veterano insano Henry MacDowell que supostamente se refugiou na floresta após sua fuga. Por muito tempo acreditou-se que ele ainda pudesse estar escondido na floresta, protegido em algum covil, caçando e vivendo do que conseguia obter na natureza. Seria possível que MacDowell tivesse se tornado uma espécie de animal selvagem que caçava e matava as pessoas? Para tanto, teríamos de acreditar que ele continuava vivendo na Floresta sozinho por cinco anos sem que ninguém jamais o visse. Por mais que se quisesse assumir que MacDowell era uma boa opção para ser o culpado, não haviam muitas provas para sustentar essa suspeita.
Além da teoria do assassino em série, havia outra hipótese defendida por alguns pesquisadores. Uma vez que todos os desaparecimentos aconteceram no outono ou no inverno, era possível que as pessoas tivessem sido vítimas de um fenômeno conhecido como seripalheira que se caracteriza pelo surgimento de fissuras decorrentes de erosão natural do solo. As vítimas poderiam simplesmente ter caído em poços profundos cobertos por vegetação e que se tornam verdadeiras armadilhas naturais. Desde a década de 1940 mais de vinte acidentes foram registrados na Floresta de Bennington envolvendo seripalheira, nenhum, entretanto, fatal.
Essa hipótese, contudo esbarra em questões práticas. Durante as buscas, vários poços de seripalheira foram achados, mas nenhum deles revelou a presença de vítimas fatais. Além disso, como explicar as datas e a sucessão de desaparecimentos se concentrando apenas entre os anos de 1945 e 1950? Não faria sentido que posteriormente novos casos simplesmente não acontecessem. Além disso, na década de 1980, uma companhia de análises de solo ofereceu um equipamento de sonar que foi utilizado para vasculhar a área em busca de poços onde as pessoas desaparecidas pudessem ter se acidentado. A despeito de terem sido descobertas dezenas destas fissuras, nenhuma continha os restos de pessoas que sofreram acidentes mortais.
Outros pessoas afirmam ainda que os desaparecidos encontraram sua morte nas garras de um animal de grande porte, como um lince, puma ou leão da montanha. No entanto, tais animais não são conhecidos por serem particularmente agressivos aos seres humanos. Além disso, nenhum desses animais foi avistado com credibilidade desde antes de 1940, sendo declarados extintos. A possibilidade então seria de se tratar de um animal solitário, talvez o último de sua espécie, conforme defendem alguns. A possibilidade existe, mas novamente, parece ínfima.
Na ausência de qualquer explicação razoável capaz de explicar a sucessão de desaparecimentos ocorridos na área do Triângulo de Bennington, algumas conjecturas envolvendo elementos do paranormal começaram a ser trazidas à superfície.
Conhecedores do folclore nativo-americano certamente estão familiarizados com essa área, tratada como o epicentro de várias lendas tribais. Algumas destas mencionam espíritos da floresta que habitam os recessos mais profundos da mata e que se ressentem da invasão de seus domínios por seres humanos. Um dos espíritos mais temidos da região não é outro senão o Wendigo, uma entidade monstruosa dada a atos de canibalismo e famosa por disseminar loucura e morte por onde passa. O Wendigo por si só é uma lenda assustadora, mas há muitas outras difundidas entre os povos que conheciam a região muito antes dos primeiros colonos brancos lá tentarem se estabelecer.
Há muitas lendas à respeito de tribos que tentaram afastar os primeiros posseiros que ali se fixaram. Uma das principais razões para seu desgosto com a presença de forasteiros é que a região sempre foi considerada terreno sagrado, reservado para espíritos da natureza. Um dos tabus entre os nativos era justamente se fixar nessa terra habitada por criaturas dos seus mitos.
Além do Wendigo, as tribos sempre tiveram lendas sobre uma raça de humanoides selvagens comumente conhecidos como sasquatch ou pé-grande. Uma das lendas mais difundidas diz respeito a seres semelhantes a humanos primitivos, cobertos por uma densa pelagem castanha avermelhada que habitam a floresta. O Pé-Grande é uma lenda muito antiga disseminada entre a maioria das tribos locais. Para os nativos, os pé-grande eram seres espirituais, avós ou antepassados dos primeiros homens, que deveriam ser respeitados e deixados em paz. A visão de um pé-grande era considerada como um mau agouro e por isso a região inteira era evitada pelas tribos.
A área definida como Triângulo de Bennington originalmente tinha como centro a Cidade de Glastenbury, que foi uma pequena comunidade madeireira encravada em um vale cercado pela montanha de mesmo nome. A fundação de Glastenbury foi combatida por várias tribos o que produziu vários enfrentamentos entre nativos e brancos. O mais grave deles ocorreu em 1836 e resultou no massacre de quatro membros de uma mesma família, supostamente atacados por guerreiros da tribo Scowe. Como retaliação um grupo de brancos conduziu uma matança que vitimou outras doze pessoas, inclusive mulheres e crianças, numa aldeia dessa tribo. O episódio é um capítulo especialmente sangrento da história de Vermont.
Abandonada no final do século XIX, depois que a febre da exploração madeireira arrefeceu, a maior parte de Glastenbury hoje não passa de ruínas consideradas remota até mesmo para os padrões do estado de Vermont, um dos mais isolados do país. Em 1982 um grupo de busca conseguiu encontrar os restos da comunidade que havia sido reclamada pela floresta e totalmente coberta pela vegetação.
Na esperança de encontrar uma solução para os muitos mistérios que cercam esse lugar, exploradores costumam se embrenhar nessas matas em busca de respostas para suas perguntas particulares. O Triângulo de Bennington é como um enorme imã atraindo estudiosos do paranormal e caçadores de mistérios que veem nele uma região incrivelmente peculiar.
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