Não existe uma comprovação científica a respeito da existência factual desse misterioso animal. Existem entretanto, vários rumores que afirmam ser o Rato Macaco (Simian Raticus) da Ilha da Caveira, ou Sengaya, um dos mais letais roedores do mundo.
Conta-se que no século XIX, uma Expedição do Museu Britânico viajou para a Indonésia com o intuito de comprovar a existência do Rato Gigante do Sumatra. A jornada teve sucesso. Explorando as selvas inóspitas da ilha, retornaram com 22 espécimes capturados. Os animais foram colocados em jaulas e estas cuidadosamente acondicionadas no porão do Mathilda Biggs, o navio da expedição.
Durante a viagem de volta, a embarcação foi colhida por uma violenta tempestade no Pacífico Sul que tirou o navio da rota, deixando-o em péssimas condições. Temendo o naufrágio, os tripulantes buscaram por uma ilha onde pudessem desembarcar e obter recursos para executar reparos. Avistaram uma ilha desconhecida onde lançaram âncora em uma enseada repleta de formações rochosas que impediam a aproximação do navio. Alguns tripulantes se organizaram e foram à terra em botes para fazer o reconhecimento. Mas a medida que o tempo passava e não chegavam notícias, a preocupação tomou conta da tripulação que ficou no navio. Alguns marinheiros olhavam apreensivos para a praia rochosa e a selva fechada mais adiante, de onde vinham rugidos de animais desconhecidos e por vezes se divisavam entre a vegetação selvagem alguma sombra ameaçadora.
Os marinheiros começaram a temer que haviam aportado em uma ilha lendária cujo nome era sussurrado por homens do mar desde que os primeiros navios se lançaram na exploração desse canto distante do mundo. Falavam da aterrorizante Ilha da Caveira com um misto de temor e excitação. Diziam que ninguém conseguia sobreviver a esse inferno selvagem com perigos tão colossais que homem algum havia retornado incólume depois de pisar em seu solo. Tudo na Ilha da Caveira parecia conspirar para causar a morte: a natureza selvagem e onipresente, fervilhava com animais grotescos e ferozes, sempre famintos e propensos a devorar invasores, e mesmo as plantas desabrochavam em espécimes carnívoras e venenosas dotadas de um ímpeto homicida beirando o sobrenatural.
Três dias se passaram sem sinal do grupo que adentrou a mata, o imediato então, deu ordens para que os homens formassem um grupo de resgate. Os marinheiros trocaram olhares furtivos e mesmo em silêncio começaram a tramar um plano para tomar o Mathilda Briggs e fugir.
Mas naquela noite, antes que pudessem iniciar o motim, a morte visitou a embarcação. Muito se fala da fauna e flora mortíferas da Ilha da Caveira, mas esquecem que dentre os mais perigosos habitantes desse lugar, encontram-se tribos hostis que habitam as cidadelas arruinadas, cercadas com altos muros de pedra. Esses descendentes dos melanésios, com pele escura, cabelos lisos e olhos azuis, vivem em uma sociedade primitiva, idolatrando sabe-se lá que deuses pagãos, apaziguados somente por inenarráveis sacrifícios de sangue. Os nativos chegaram silenciosamente em barcos à remo, e subiram à bordo usando cordas de cipó. Antes que o guarda pudesse dar o alerta, já estavam correndo pelo tombadilho, armados com machadinhas afiadas, facas serrilhadas e zarabatanas cujos dardos embebidos na seiva de plantas tóxicas matavam ao mero contato. Segundo a descrição dos homens que participaram da luta, as coisas rapidamente fugiram do controle e o sangue cobriu cada deck do Mathilda Briggs. Finalmente, os poucos sobreviventes, feridos e apavorados, conseguiram repelir os invasores pintados. Sabendo que seria questão de tempo até que eles retornassem em maior número, o imediato, que estava entre os sobreviventes, mandou que descessem dois botes salva-vidas a fim de remar para o mar aberto. Reuniram todos os suprimentos que podiam carregar, e partiram sabendo que melhor definhar no mar do que cair nas mãos dos selvagens.
O destino final dos homens do Mathilda Briggs é conhecido por marinheiros que erguem brindes em homenagem a eles. Nenhum dos homens que partiu para o mar nos pequenos botes viveu para contar a história com a clareza de seus próprios detalhes. Um único bote foi achado à deriva por um mercante de bandeira holandesa numa rota a Oeste da Batávia. Os cadáveres estavam ressequidos, nada mais que pele e ossos, consumidos, na tentativa vã de atingir a civilização. Sabe-se de sua sina graças ao diário do imediato, sobre o qual ele deitou a pena contanto a atribulada viagem.
É nesse ponto que a história se torna ainda mais estranha. Os Ratos de Sumatra que se encontravam no porão do Mathilda Briggs foram achados pelos nativos que retornaram para extrair sua vingança. Eles pilharam tudo que podiam da embarcação e ao se deparar com os medonhos roedores se encantaram pela ferocidade dos animais. Pois aquela tribo bárbara não respeitava nada nesse mundo, exceto a fúria e seres que assim como eles próprios, a natureza transformara em sobreviventes. Eles levaram as gaiolas para terra onde o feiticeiro matou um dos animais em uma cerimônia nada menos que sagrada. A seguir, abriram as jaulas e permitiram que os ratos fugissem para a selva exuberante da Ilha da Caveira. A partir de então, os selvagens incorporaram o Rato Gigante como animal totêmico.
Mas mesmo os nativos, acostumados aos horrores da Ilha da Caveira não podiam imaginar o que haviam libertado na natureza e quais os efeitos imprevisíveis seriam desencadeados. Os Ratos Gigantes do Sumatra rapidamente desenvolveram uma afinidade com uma espécie de Gálago (pequenos primatas) abundante na Ilha. O resultado dessa miscigenação desnaturada e anormal foi uma aberração que os nativos chamavam de Sengaya (mordida).
O Sengaya é um roedor com cerca de 30 centímetros de comprimento e mais vinte de cauda, com uma pelagem rala de coloração castanha clara ou amarelada. O animal possui características mistas de roedor e símio, podendo se deslocar como um bípede ou nas quatro patas. São animais noturnos que vivem em pequenos grupos de caçadores, alimentando-se de pássaros, invertebrados, insetos e pequenos mamíferos. Apesar do seu tamanho, os Sengaya não se intimidam diante de oponentes maiores, atacando com suas garras e dentes afiados. Apesar do seu ímpeto, dificilmente um espécime seria capaz de subjugar um homem adulto.
O grande perigo do Sengaya, no entanto, é outro.
Talvez em virtude de sua origem híbrida anômala, dos bizarros rituais de magia negra e feitiçaria praticados pelos selvagens usando seu totem, ou ainda por qualquer outra razão ainda desconhecida; os Sengaya são capazes de transmitir um tipo de patógeno virulento que resulta numa degradação progressiva acelerada em suas vítimas. Há conjecturas que essa doença seria um tipo de hiper hidrofobia (raiva) que se alastra com extrema agressividade e rapidez. Seres humanos parecem ser os únicos afetados por essa doença macabra, propagada pela saliva do rato macaco em sua mordedura. Em contato com a corrente sanguínea da vítima a doença se instala em poucos minutos.
O primeiro efeito da condição, também chamada de Sengaya, é uma febre alta, seguido de rigidez muscular, alucinações, confusão mental, necrose da área onde houve a contaminação - que se estende para o resto do corpo e finalmente o óbito. O real horror dessa contaminação se manifesta pouco depois da morte, quando o sistema nervoso central entra em convulsão e o corpo se ergue animado por uma determinação grotesca de satisfazer uma "fome animal" por carne e sangue. As vítimas originais do Sengaya se tornam vetores de transmissão, aumentando o ciclo de propagação. A medida que a doença se espalha de um indivíduo para o outro, ela perde a sua potência reduzindo o risco de contágio.
Não há cura conhecida para essa condição. Os nativos da Ilha da Caveira contudo, acreditavam que, se a parte mordida pelo rato macaco fosse secionada rapidamente, a doença não se espalharia para o restante do organismo. Dessa forma, vítimas mordidas no braço, ou na perna tinham o membro imediatamente amputado e queimado. Se existe algum fundamento nessa crença é difícil dizer, visto que jamais foram realizadas pesquisas sobre o tema.
As tribos primitivas da Ilha da Caveira conhecem bem as depredações causadas pelo macaco rato. A tribo que originalmente adotou a representação totêmica do Sengaya, foi erradicada em menos de uma geração pela infecção. Da cidadela de pedra não restou nada, exceto ruínas devastadas. Há rumores que os Sengaya ainda habitam esse lugar abandonado e evitado por todas as outras tribos.
Em 1957 uma expedição neo-zelandesa conseguiu determinar a localização de pequenas ilhotas que se formaram após o afundamento da Ilha da Caveira, em decorrência da erupção de um vulcão. Em uma dessas massas de terra, cientistas capturaram um rato macaco que foi levado para o zoológico de Wellington. No mesmo ano, o animal mordeu uma vítima dando início a um contágio em larga escala e uma onda interminável de violência no subúrbio da cidade. Em uma única casa foram encontrados os restos retalhados de mais de 50 corpos dilacerados pelo que parece ter sido a lâmina de um cortador de grama (!!!) O resultado foi tão dramático que toda área foi declarada como zona de perigo biológico e isolada pelos militares. As autoridades ainda estudam a extensão dos danos biológicos e temem que uma epidemia venha a se instalar novamente.
Não se tem notícia de mais nenhum espécime de Rato Macaco desde então.
E um dos motivos para o Sengaya ser tão perigoso:
E um dos motivos para o Sengaya ser tão perigoso:
Trecho do filme Brain Dead (1992) de Peter "Oscar de Melhor Diretor" Jackson.
"Fome Animal" realmente é um crássico do Senhor Peter Jackson, rss....
ResponderExcluir