terça-feira, 1 de abril de 2014

O Ciclo de Pesadelos - Descobertas obras inéditas (e perturbadoras) de Francisco Goya


Essa notícia é notável, ela vem circulando por aí nas últimas semanas coincidindo com o aniversário de nascimento do artista Francisco Goya

Preferi reproduzir a reportagem traduzida a seguir na íntegra:

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[REUTERS] A curadoria do Museu des Beaux-Arts de Bordeaux (Museu de Belas Artes da Cidade de Bordeaux) anunciou no início dessa semana a surpreendente descoberta de três trabalhos até então desconhecidos assinados pelo genial pintor espanhol Francisco Goya (1746-1828).

As obras pinturas à óleo sobre tela, pertenciam ao acervo de um colecionador cujo nome foi mantido em segredo. Segundo a curadora do Museu, Isabelle Janeau as telas foram escondidas no correr da Segunda Guerra Mundial, quando várias obras de arte valiosas acabaram confiscadas pelos alemães. Era comum que marchands escondessem esses tesouros que ainda hoje são encontrados de tempos em tempos.

As pinturas de Goya estavam guardadas no cofre de uma galeria de arte e ficaram lacradas em uma gaveta por décadas, fora do alcance de todos. Elas sofreram pequenos danos, mas nenhuma avaria permanente que diminua a importância e impacto de tal achado. A descoberta se deu por acaso, quando um dos sócios da galeria, bisneto do dono original, decidiu realizar um inventário do que estava guardado no compartimento. Quando a gaveta secreta foi aberta, as obras apareceram após mais de 70 anos escondidas.

Francisco de Goya é considerado o último dos Grandes Mestres e o primeiro dos Mestres Modernos. Um dos maiores artistas espanhóis, suas obras retrataram a aristocracia da Espanha, inclusive a realeza em um dos períodos mais conturbados de sua história, marcado por guerras e disputas. A imaginação subversiva e seu estilo se tornaram referencial para vários artistas que o sucederam como Manet, Picasso e Francis Bacon.

Admirado em toda Europa, as exposições de obras de Goya ganharam notoriedade e atraíram inúmeros admiradores. Muitas de suas gravuras, em referência à moral, ao estranho e ao bizarro da alma humana, encontraram grande aceitação popular embora, em 1821, a Inquisição, ainda atuante na Espanha, tenha instaurado um processo contra o artista por considerar alguma de suas obras obscenas. 

Na última parte de sua vida, Goya produziu a famosa série conhecida como "Pinturas Negras", as mais estranhas e misteriosas de sua carreira que trata de temas como mitologia, bruxaria e o fantástico. Entre estas obras destaca-se "Saturno devorando seu filho" (1819-1823) atualmente exposta no Museu do Prado. Para alguns críticos essa coleção marca a degradação da saúde física e mental do artista. Até recentemente sabia-se da existência de 14 pinturas formando a Coleção Negra. Goya em vida raramente falava a respeito dessas obras e não tencionava expô-las. Ele afirmava que as telas que compõem essa série eram algo saído de seus sonhos e pesadelos, algo profundamente pessoal. Foi com base nelas que ele firmou a famosa frase "O sono da razão produz monstros". Em 1824, Goya, exilou-se em Bordeaux, na França onde veio a falecer quatro anos depois. 

As obras recém descobertas foram separadas do restante da coleção para serem descartadas. Biógrafos suspeitam que Goya não desejava que estas pinturas e ilustrações chegassem ao público, talvez por ele não ter ficado satisfeito com o resultado ou talvez por considerá-las excessivamente perturbadoras. Biógrafos do artista espanhol, sugerem que estas obras podem ser as que o artista se referiu como parte do "Ciclo de Pesadelos", uma série citada unicamente em uma carta enviada pelo artista a um colega. A existência destas pinturas era até recentemente contestada por estudiosos que também levantavam suspeitas sobre a legitimidade das cartas. Acredita-se que algum assistente ou pupilo do artista, tenha decidido preservar as telas e que depois elas foram vendidas ao colecionador que as guardou.

Várias instituições públicas e privadas manifestaram interesse em obter as obras para seus respectivos acervos. Por enquanto, o Museu do Prado e a Fundação Aragon tem maiores chances de expor o material que já vem sendo tratado como uma das mais significativas descobertas artísticas da década.

Veja a seguir as pinturas e ilustrações que compõem o "Ciclo de Pesadelos":

Pesadelo do Mar - Óleo sobre tela  (1822)
Homem diante do Pesadelo (1823) - Óleo sobre Tela 266 x 345 cm
Pesadelo das Profundezas (1823) - Óleo sobre Tela 240 x 320 cm

Durante a apresentação da obra no Museé de Beaux-Arts de Bordeaux em março de 2014.

Curiosamente durante a apresentação exclusiva para repórteres e personalidades ligadas às artes, registrou-se três desmaios. Uma pessoa também teve um princípio de infarto. 

Os organizadores da mostra não quiseram comentar esses estranhos incidentes.

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